PSICOLOGIA DIFERENCIAL - exame História e Contextualização

Propaganda
PSICOLOGIA DIFERENCIAL - exame
1. História e Contextualização
Francis Galton é considerado o “pai” da Psicologia Diferencial. Tal como muitos
pensadores da época, acreditava que a “raça” humana poderia ser melhorada caso fossem
evitados “cruzamentos indesejáveis”. Assim, o seu objectivo era incentivar o nascimento de
indivíduos mais notáveis ou mais aptos na sociedade e desencorajar o nascimento dos inaptos.
Galton foi influenciado por Charles Darwin, uma vez que acreditava que as características
mentais tinham uma base hereditária. Tentou quantificá-las como medidas de laboratório, que
construiu e dirigiu (Laboratório Antropométrico – 1884).
Foi ele que marcou o início da moderna psicometria (ciência de medição das faculdades
mentais), continuada por James Cattell. Ambos acreditavam que a inteligência teria a sua base
em actividades de discriminação sensorial, ou seja, a inteligência não era um produto da
relação do sujeito com o meio que o rodeia, mas sim algo que tinha uma base hereditária.
Portanto, o grande interesse de Galton dirigiu-se às “habilidades mentais”.
O contributo de Galton foi muito importante, podendo resumir-se:
1. Ao estudo das diferenças individuais
2. E à utilização e desenvolvimento da análise estatística, nomeadamente a ideia de
correlação.
Foi na viragem do século XIX, que a Psic Dif começou a ganhar uma forma definida. Em
1895, Alfred Binet e Henri Simon publicaram um livro intitulado “La psychologie individuelle”,
que representava uma 1ª análise dos objectivos, extensão e métodos da psic dif. Diziam que
iniciavam ali um tema novo, até então escassamente explorado.
Binet e Henri expuseram como um dos maiores problemas desta disciplina:
- primeiro, o estudo da natureza e extensão das diferenças individuais nos processos
psicológicos;
- segundo, a descoberta das inter-relações dos processos mentais do individuo, de modo a
chegar-se a uma classificação de traços e às funções básicas do funcionamento psicológico.
A grande preocupação de Binet foi a de identificar as grandes dimensões das diferenças,
isto é, dizer que se tem diferenças psicológicas, mas em relação a quê: em relação à
inteligência, em relação às aptidões, e não só.
Passados 5 anos, em 1990, William Stern publicou também um livro sobre Psic Diferencial.
A 1ª parte tratava da natureza, problemas e métodos desta. Os objectivos da Psicologia
Diferencial são:
 estudar qual a natureza e a extensão das diferenças na vida psicológica dos indivíduos
e dos grupos;
 estudar que factores determinam ou influenciam essas diferenças;
 e estudar como se manifestam essas diferenças e como podem ser avaliadas na
observação dos indivíduos.
No 1º objectivo a extensão refere-se até quando é que existem diferenças, e se estas são
acentuadas ou se são pequenas. A natureza é a variável psicológica e corresponde ao tipo de
diferenças existentes entre os indivíduos ou entre os grupos do ponto de vista psicológico.
No 2º objectivo, cabe à psicologia diferencial identificar não só o tipo de diferenças
psicológicas existentes e avaliar a sua extensão, mas também explicar essas diferenças
O 3º objectivo situa-se ao nível da medida psicológica (campo da Psicometria).
1
2. Definição e antecedentes da Psicologia Diferencial
A psicologia diferencial pode definir-se como o estudo empírico das diferenças entre
indivíduos, entre grupos e no próprio indivíduo. Por conseguinte, dirige-se ao estudo da
variabilidade psicológica. Tendo em conta que a estrutura física, bem como tantos outros
parâmetros somáticos, podem contribuir para esta variabilidade, estes são, também, domínios
de interesse para a psic dif.
Relativamente aos antecedentes, destacam-se os seguintes: filosofia, astrologia (fazia-se
através da leitura das cartas para os diferentes signos), quiromancia (leitura das mãos),
estatística e biologia.
a) Filosofia
O aparecimento da psic diferencial não é estranho, dada a existência das diferenças
individuais, pois desde sempre as pessoas diferiram.
Quanto aos antecedentes mais remotos da Psicologia Diferencial vai parar-se à GréciaAntiga e aos clássicos da psicologia diferencial que seriam as ideias de Platão sobre as
diferenças individuais.
Para Platão, as diferenças individuais são inatas e permitem aos indivíduos o desempenho
de algumas funções adaptadas ao seu modo de ser: “nenhuma pessoa nasce idêntica a outra
mas cada uma difere da outra em dotes naturais”.
A sociedade estava dividida em classes, que, por sua vez, estavam divididas de acordo com
as suas diferenças individuais. Os indivíduos pertencentes às classes mais altas possuíam
maiores capacidades. Platão defende que deve haver uma organização social muito rígida de
forma a que em cada classe social as pessoas sejam dotadas de determinadas capacidades
necessárias para poderem exercer determinadas funções sociais. Platão propõe o controlo da
reprodução, em determinadas classes, de maneira a que as pessoas não possam reproduzir
fora da sua classe, do seu nível social, e desta maneira, manter as características das classes
sociais.
Isto é importante, porque é a primeira vez na história da Filosofia que é a considerada a
utilidade social das diferenças individuais. Ou seja, as pessoas são diferentes porque as suas
funções são diferentes.
Também Aristóteles considera que as diferenças individuais são inatas e têm uma função
social. Falou sobre as diferenças entre os sexos e as raças, no que respeita à moral e às
características mentais.
Surge depois uma 1ª tentativa de classificação das diferenças individuais. Hipócrates e
Galeno propõem uma tipologia.
2
Hipócrates considerou que as pessoas são diferentes entre si quanto à sua constituição
física.
Galeno procurou uma tipologia para o temperamento onde distingue os indivíduos
consoante a dominância de vários humores.
No período da Idade Média o comportamento individual não era percebido enquanto tal,
mas sim ligado ao seu grupo social de referência, sendo visto como inseparável deste.
A pessoa, enquanto entidade autónoma, auto-determinada, com um princípio e um fim
em si mesma, era algo provavelmente só acessível a elites de pensadores.
b) Biologia - o nome de destaque aqui é Darwin, em cuja teoria da evolução das espécies
estão as diferenças individuais. Estas determinam diferentes probabilidades de sobrevivência
dos indivíduos em determinados meios.
3. As duas disciplinas da Psicologia Científica
Ao longo da primeira metade do séc. XIX, vai assistir-se à separação de uma disciplina em
duas dentro da Psicologia.
1) A Psicologia Experimental com raízes no laboratório, com objectivos de generalização
e com o desejo de formular leis gerais
2) A Psicologia Diferencial, centrada nas diferenças, e utilizando estas como objecto de
estudo.
A bem ver, sempre existiram estas duas tendências quanto à consideração do
comportamento humano: aquela que pretende estabelecer leis gerais psicológicas, ignorando
a variabilidade individual, e uma outra que se interessa pelas excepções à regra.
E, realmente, não poderia ser de outra maneira: a simples observação revela estas duas
facetas da realidade: as semelhanças e as diferenças entre as pessoas.
A psicologia experimental nasceu em 1879 com a fundação por Wundt do 1º laboratório
de Psicologia em Leipzig. Wundt tentava descrever todos os conteúdos possíveis da
consciência humana e por isso utilizava sujeitos nas suas experiências, os quais eram levados a
relatar as mesmas, isto é, a descrever o conteúdo da sua consciência.
Na psicologia experimental, as diferenças individuais eram propositadamente ignoradas,
considerando-as erros dos experimentadores, pois pretendiam-se leis gerais sobre o
comportamento humano.
No séc. XX ocorreram avanços importantes no campo da psicologia experimental, devido
às experiências de Ivan Pavlov e John Watson. Generalizou-se, então, a chamada metodologia
experimental, baseada no estudo das relações entre variáveis independentes e dependentes.
3
A psicologia diferencial, pelo contrário, tem como grande preocupação a diferença entre
os indivíduos. Não lhe interessa tomar cada indivíduo como uma amostra da população, mas
sim observar as diferenças nas respostas dos indivíduos.
O estudo das diferenças individuais utilizava o método correlacional – baseado no grau de
ralação entre variáveis, ocorrendo naturalmente. Ex: diferenças entre sexos.
Em síntese, os primeiros tendiam a acreditar numa natureza aprendida do
comportamento (behavioristas/comportamentalistas). Os segundos numa base hereditária
para os factos psicológicos que observavam.
Por influência de Lee Cronbach, no séc XX, deu-se uma aproximação entre as duas
tendências: o método experimental podia, afinal, ser utilizado tomando em conta variáveis
individuais. Nesta aproximação é importante considerar a relação estreita entre o estudo das
diferenças individuais e a chamada “psicologia dos traços”.
4. Traço e Estado
Com o intuito de classificar certas diferenças individuais, as várias gerações de psicólogos
organizaram-se, digamos, segundo duas grandes tradições: a mais antiga, a tipológica, e a mais
recente, a dos traços.
As tipologias remontam a tempos distantes (Hipócrates), e a ideia era sistematizar
características comuns a grupos de pessoas, os tipos, e depois partindo destes para a
explicação das diferenças individuais. Os tipos, baseavam-se no estudo de certas
características físicas, depois consequentes características temperamentais e psicológicas. Para
além disto, as tipologias assumem, como pressuposto, que as diferenças individuais são de
natureza qualitativa.
O estudo dos traços é uma abordagem mais psicológica e assume como pressuposto uma
natureza quantitativa das diferenças individuais.
Pode dizer-se que grande parte da psicologia actual assenta numa ideia do
comportamento humano como traço.
o Definições
Allport e Odbert definiram “traço” como: padrões globais de comportamento resultantes
de tendências que conferem à personalidade consistência e esquemas estáveis de
ajustamento individual ao seu meio.
Estado  actividade/comportamento actual, estados mentais e de humor variáveis.
Problemas teóricos e psicométricos associados:
1) Uma dada variável é traço ou estado consoante se encontra num instrumento
medindo traço ou estado.
2) O instrumento mede traço ou estado conforme as instruções que o acompanham.
4
3) Uma medida de estado pode originar uma medida de traço
Concluindo, existe uma notória arbitrariedade neste campo.
Mas podemos colocar uma outra questão: o que ocorre quando uma pessoa é
questionada, por exemplo assim: “Durante a última semana sentiu que valia menos que as
outras pessoas”?
A questão da Auto-percepção (olhemos para o nosso dia a
dia)/ Auto-consciência
o Estudo de Schachter e Singer: contextos de irritação e de alegria
As pessoas usam indícios disponíveis para “saberem” o que sentem, e não apenas os
indícios internos/interoceptivos.
Diferenças individuais em auto-consciência: as pessoas consistentes e as pessoas
inconsistentes quanto às situações.
As pessoas consistentes coincide com o modelo dos traços, e as pessoas inconsistentes
com o modelo situacional.
A consistência: regularidade entre as situações
Estabilidade: regularidade ao longo do tempo
A experiência da auto-consciência (auto-atenção) é geralmente negativa, já que ao
prestarmos atenção a nós mesmos tende a aumentar a discrepância entre o que nos parece
que somos e como gostaríamos de ser.
Mas nem sempre …
Como se poderá manipular a auto-consciência em alguém? – Espelhos, vídeos,
audiências
Um investigador chamado Mark Syder refere que existem pessoas mais auto-conscientes
do que outras e que tendem a ser diferentes na variabilidade.
Ex: se estivermos sentados numa plateia e formos lá para a frente, o que muda?? O facto
de todas as atenções se centrarem em nós.
Situação A – vemos a nossa mão reflectida no espelho
Situação B – não há espelho. Simplesmente olhamos para a nossa mão
O que muda? Na situação A provoca-se um sentimento de que estamos a ser observados.
E quem está a observar? Nós próprios!
5. Estudo das diferenças individuais
o
Áreas da Psicologia em que se estudam diferenças individuais:
Segundo M. Eysenck, e muitos outros:
 Inteligência
 Personalidade
5
 Psicopatologia
 Métodos terapêuticos
o
Níveis de análise das diferenças individuais:
- Nível traço
o
FACTORES (teorias factoriais) – Medidas de traços (Testes psicológicos)
- Nível cognitivo
PROCESSOS (teorias cognitivas) – Medidas cognitivas (Experiências)
- Nível biológico
ORGANISMO (teorias biológicas) – Medidas biológicas
Características dos traços:
O estudo dos traços é diferente do estudo dos comportamentos ou hábitos definidos
como execuções, já que nos oferece uma informação diferente da que obtivemos a partir da
observação da execução. O estudo dos traços permite conhecer diferentes formas de levar a
cabo diferentes execuções e até mesmo conhecer formas diferentes de levar a cabo a mesma
execução. Poderíamos mostrar que o grito nem sempre é de tristeza, também pode manifestar
felicidade, e não só.
Na psicologia a diferença entre a maioria das pessoas está baseada na versatilidade
presente em algumas delas e a rigidez presente em outras.
Quanto mais processos (traços) diferentes estão disponíveis para cada pessoa, mais
adaptativo será o seu comportamento e mais uniforme será com diferentes pessoas.
Dado a maior diversidade de processos levada a cabo competentemente, maior
quantidade de situações diferentes a pessoa poderá confrontar de um modo efectivo
(processos que façam as pessoas mais versáteis e mais competentes).
Em suma, os traços são conceitos científicos que permitem descrever as diferenças
individuais e, quando é consistente, pode usar-se para predizer o comportamento das pessoas.
São mais ou menos determinamos por hereditariedade e pelo meio ambiente.
As interacções entre os traços pessoais e as situações produz estados mentais.
o Tipos de traços:
Em geral, a investigação psicológica tem estudado 3 tipos de traços:
 Traços intelectuais (raciocínio, memória)
 Traços temperamentais (extroversão e estabilidade emocional)
 Traços motivacionais (atitudes, valores e interesses)
6. Teorias cognitivas da inteligência
A definição de inteligência como uma variável global, uma variável de diferenciação dos
indivíduos e uma variável cognitiva que permite diferenciar os indivíduos quanto ao grau da
mesma que estes possuem, está subjacente a toda a teoria de Binet.
6
Wechsler dizia que esta capacidade mental era uma capacidade do indivíduo para actuar
finalizadamente, pensar racionalmente e proceder com eficiência ao meio. Sternberg defende
que a inteligência é um comportamento adaptado dirigido a um fim.
Em suma, fica a ideia da inteligência como sendo uma variável global cognitiva que
influência os indivíduos na maneira como estes se adaptam ao meio e como visionam o seu
comportamento.
Por que se tornam necessárias e importantes as teorias cognitivas da inteligência?
 Elas expõem minuciosamente (esmiúçam) a estrutura da inteligência, os elementos que
a constituem e a relação entre estes.
Por exemplo: a descrição de um motor de um carro não nos diz como este funciona,
embora possamos avaliar a sua performance.
 As teorias cognitivas descrevem a dinâmica da inteligência, tal como é reconhecida
pelas teorias factoriais. Para realizar este trabalho, os psicólogos recorrem a
investigações experimentais. Nesta base pode dar-se o exemplo da teoria de Vernon,
que é a mais completa e mais aceite estrutura hierárquica de aptidões, composta por 4
níveis decrescentes de generalidade.
6.1. Quais são os processos mentais e cognitivos importantes para a inteligência?
Os processos mentais que são explorados são aqueles que as pessoas recorrem ao
realizarem tarefas perceptivas, de aprendizagem, de memorização, de raciocínio ou de
resolução de problemas.
Averiguam como podem categorizar-se os processos cognitivos: há grandes diferenças
individuais quanto à disponibilidade, acessibilidade e eficiência no emprego das diferentes
funções cognitivas.
6.2. Quais são os meios que as pessoas empregam para representar mentalmente a
informação que precisam processar?
Ao que parece, as pessoas mais inteligentes usam o que conhecem, e o que sabem fazer,
para realizar eficazmente um problema intelectualmente exigente.
6.3. Que estratégias cognitivas são empregues pelas diferentes pessoas?
Estas estratégias dizem respeito ao modo como se combinam os processos cognitivos com
as representações mentais:
 Acessibilidade e disponibilidade destas estratégias
 Relação entre estilos cognitivos e as estratégias cognitivas a que recorre e emprega.
6.4.Proveniência das diferenças individuais em inteligência segundo uma perspectiva
cognitiva:
 Funções cognitivas básicas
 Selecção de estratégias cognitivas básicas
7
 Recursos cognitivos
Que elemento nos poderá permitir estudar as relações entre as estratégias cognitivas
empregues pelas diferentes pessoas?...
7. Representações mentais
Ao passo que os processos cognitivos são múltiplos, as representações mentais são menos.
Existem 2 tipos de representações mentais:
 Material verbal, isto é, a pessoa descreve através da linguagem a informação sobre a
qual vai aplicar os processos mentais – ex: utilizando nomes
 Material visuo-espacial, em que a pessoa imagina na sua “cabeça” a informação sobre
a qual vai aplicar os processos mentais – ex: a pessoa faz uma espécie de filme na
cabeça: para ir para a portagem, siga em frente, depois vire à esquerda, desça 100
metros, etc.
O tipo de processos cognitivos que as pessoas irão utilizar vai depender fortemente do tipo de
representação mental empregue!
Surgem outras questões… a pessoa, ao reter informação nova, vai criar memórias. Então,
que tipo de representação mental é que a pessoa usa para conservar essa mesma informação?
E qual é o tipo de representação mental ao qual a pessoa recorrerá para codificar os símbolos
referentes a nova informação de modo a poder compará-los com uma informação
previamente retida?
Existem, pois, 2 estratégias gerais para processar a informação e decidir: uma de natureza
verbal e linguística, e uma outra de natureza pictórica e imagénita.
Na 1ª fase, correspondente à compreensão, uma parte das pessoas recorrem a uma
estratégia linguística para guardar a informação, ou seja, para memorizar. Uma outra parte das
pessoas transforma a frase linguística num desenho mental, de natureza pictórica e imagética.
Na 2ª fase, a de verificação, observa-se que as pessoas que utilizaram a estratégia
linguística, agora transformam o desenho numa frase, e é esta frase que irão comparar com
aquela que tinham guardada na memória.
Em contrapartida, aquelas pessoas que usam uma estratégia pictórica comparam o
desenho que agora observam com o que guardaram na memória. Este vai ser o “fruto”, diga-se
assim, de uma tradução.
Levanta-se uma questão: o QI terá implicações nestes processos?
Investigações mostraram que as pessoas com elevadas pontuações nas provas factoriais
de aptidão verbal, eram aquelas que tendiam a usar uma estratégia linguística, ao passo que as
pessoas com pontuações elevadas nas provas factoriais de aptidão espacial, tendiam a
recorrer a uma estratégia pictórica.
8
… Teoria triárquica da inteligência de R. J. Sternberg
Esta teoria pretende explicar as relações entre o “mundo interno”, “a experiência” e o
“mundo externo”.
o A inteligência e o mundo interno da pessoa ou os mecanismos mentais responsáveis
pelo comportamento inteligente. Metacomponentes (planear, valorar), Componentes
de execução (aplicar, inferir, comparar, codificar), Componentes de aquisição de
conhecimento (codificação, combinação e comparação selectivas).
o A inteligência e o mundo externo da pessoa, ou o uso dos mecanismos mentais na
vida diária, de modo a chegar-se a um ajustamento inteligente no mundo. Adaptação,
Modificação, Selecção.
o A inteligência e a experiência, ou o papel mediador que a vida supões na ligação dos
mundos interno e externo da pessoa. Novidade (decidir, combinar, explorar),
automatização.
8. Grupos Humanos
Outra dimensão a ser analisada quando se estuda as diferenças individuais é os grupos
humanos:
1) Diferenças entre homens e mulheres
2) Diferenças em função da idade
3) Diferenças em função da classe social
4) Diferenças entre grupos étnicos
8.1. Diferenças entre sexos em competências intelectuais - (QI)
1. Estudos anteriores a 1980
2. Estudos a partir desta época
Estudos de Anne Anastasi (1958) concluíram que os rapazes são superiores em tarefas:
informação geral, raciocínio aritmético e aptidão espacial. As raparigas em: aptidão verbal,
leitura, uso gramatical da linguagem, memória de rotina e velocidade perceptiva.
Estudos de Leona Tyler (1965) tiveram resultados idênticos aos de Anastasi, mas os
rapazes estiveram superiores em raciocínio mecânico e as raparigas em fluidez mecânica.
Estudos de Eleanor Maccoby (1966): concluiu que os rapazes são superiores em tarefas de
informação geral, e as raparigas em tarefas de velocidade perceptiva e memória de rotina/
mecânica para material verbal, mas não em memória para números e objectos.
9
- As diferenças entre os sexos nas competências verabal, matemática e espacial são
moderadas pela idade.

Meta-análise
Na década de 80 começaram os estudos usando meta-análise. O que é?
O termos meta surge porque a análise baseia-se num alargamento da análise em estudos
diferentes (de anos diferentes, etc). Ex: pegamos nos dados quantitativos estatísticos dos 15
estudos, e tratamo-los como se fosse um método único. Permite tirar conclusões em análise
estatística.
Estes estudos também incluíram mudanças relativamente às competências intelectuais:
1) Capacidades cristalizadas (Cc): tarefas de natureza verbal (vocabulário) e numérica
(cálculos de somar, subtrair,…)
2) Visualização geral (vg): tarefas referentes a relações espaciais, rotação mental e
visualização
3) Capacidades fluidas (cf): indução de relações e associações
Síntese dos resultados obtidos (Marañón, 1998):
- os homens têm mais pontos que as mulheres em capacidades cristalizadas (valor não
significativo, nas capacidades de visualização geral (valor moderadamente significativo) e nas
capacidades fluidas (valor não significativo). Na componente verbal, as mulheres são
superiores, mas não de modo significativo.
Nota: a idade não influencia as diferenças de género em vocabulário e raciocínio. Influencia a
leitura, o uso da linguagem, as relações espaciais e o raciocínio mecânico.
Halpern (1997) referiu que, realmente existem algumas diferenças médias entre os sexos, e
que estas diferenças variam de acordo com:
1) Tipo de código mental (espacial ou verbal)
2) Tipo de tarefa (reconhecimento e geração de uma resposta)
3) Domínio de conhecimento (ciência ou linguagem)
4) Tipo de resposta (motricidade fina ou grossa) – a motricidade é a habilidade motora: a
fina está relacionada com a destreza das mãos e ponta dos dedos, e a grossa é relativa
ao corpo todo.
 Implicações educativas:
a) Há que separar o facto de existirem diferentes médias em algumas competências
cognitivas entre os géneros, de tendência a valorizar essas diferenças;
b) Ninguém é uma média e, por conseguinte, os resultados não se podem aplicar a uma
pessoa em particular;
10
c) Os rapazes amadurecem mais tarde que as raparigas, e isso deveria ser levado em
conta pelas escolas
d) Não existe qualquer razão cognitiva para apoiar uma educação distinta para os dois
géneros.
8.2. O ciclo vital
Mencionam-se dois grandes aspectos:
1) As mudanças que decorrem do envelhecimento (desenvolvimento ao longo da vida)
2) Diferenças entre idades
Para além da cronologia (“idade”), há que referir:
 Idade biológica: posição da pessoa em relação às suas possibilidades vitais
determinadas, por exemplo, pela qualidade dos seus órgãos vitais.
 Idade psicológica: competência da pessoa para se adaptar às exigências do seu meio
nos diversos períodos do seu desenvolvimento.
 Idade social: a medida com que a pessoa evidencia comportamentos e papéis sociais
adequados às expectativas do seu grupo de idade cronológica.
Importante ter em conta que a idade em si mesma, não produz as mudanças que ocorrem
durante a vida da pessoa. Estas resultam dos efeitos das mudanças biológicas e sociais que,
naturalmente, acontecem ao longo da variável tempo.
No entanto, e apesar de tudo o que se possa dizer, a variabilidade entre as pessoas mais
idosas (“os velhos”) é tão grande como noutras idades.
 Competências intelectuais
Podem ser averiguadas através de Desenhos Transversais e Desenhos Longitudinais
o
Desenho transversal: permite comparar grupos de pessoas de idades distintas, quanto a
uma determinada variável. Um grupo de pessoas nascidas num dado período de tempo
designa-se por “cohorte”.
o
Desenho longitudinal: estudo das mesmas pessoas nas mesmas variáveis. (seria o melhor
método, mas tem desvantagens: é preciso muito tempo para obter resultados viáveis, é
dispendioso). Obviamente, que estes estudos também são sujeitos a problemas. O ideal
era mesmo a integração dos resultados de ambos os tipos de investigação.
Um estudo transversal de Bickley, Keith e Wolfle, revelou que não existem mudanças com
o aumento da idade na estrutura factorial da inteligência.
11
O estudo longitudinal de Seatle:
Nesta pesquisa tem-se estudado uma série de competências mentais básicas numa
amostra superior a 5000 adultos, durante 35 anos.
Confirmou-se a inexistência de mudanças na estrutura factorial da inteligência em função
da idade (confirmando os resultados transversais)
Vejamos algumas conclusões mais relevantes deste estudo…
Ao passo que os estudos tendem a mostrar claros declives em: raciocínio indutivo,
orientação espacial, velocidade perceptiva e memória verbal, sendo menos claro para as
capacidades verbal e numérica, no estudo de Seatle só se detecta um claro declive na
velocidade perceptiva a partir do período adulto dos 50 anos. A capacidade numérica começa
a declinar pelos 60 anos. As outras capacidades atingem o nível máximo de rendimento pelos
53 anos e depois começam a decair.
Como refere Simões (2006), as diferenças individuais são muito grandes. Ou seja, existem
pessoas de 70 anos que não evidenciam qualquer declive. E , entre as pessoas de 81 anos, mais
de 70% mantiveram ou aumentaram o seu desempenho em raciocínio indutivo.
O estudo de Seatle sugeriu, também, a existência de efeitos geracionais, eventualmente
resultantes de efeitos culturais, educativos.
 Diferentes modos de envelhecer
Os resultados encontrados também reflectem, provavelmente, diferenças no modo como
as pessoas vão envelhecendo. O estudo de Seatle sugere alguns pontos para um
envelhecimento saudável: ausência de doenças cardiovasculares, envolvimento em
actividades intelectualmente estimulantes, estilo de personalidade flexível, viver com uma
pessoa de elevado estatuto cognitivo, estar satisfeito com a sua vida.
E pode prevenir-se o declínio intelectual?
Uma pesquisa feita por Willis e Schaie mostrou que SIM!
Seleccionaram um grupo de pessoas idosas e estas foram treinadas na melhoria de
competências que as pesquisas evidenciaram ser as que mais decaem com a idade: as
capacidades fluidas (raciocínio indutivo e orientação espacial). O treino realizou-se durante um
ano e houve aumentos muito significativos que, 7 anos depois, ainda se mantinham.
12
9. Diferenças individuais em Psicopatologia
1.
2.
3.
4.
Em que diferem as pessoas ditas normais das outras?
São diferenças de natureza qualitativa ou quantitativa?
Deve falar-se em “doença” ou em “perturbação”?
Qual o grau de herança destas características?
 A questão da “doença” – o modelo biomédico
1. O que é uma doença?
2. Falando de distúrbios
3. É tudo a mesma coisa
Seligman e Al acrescentam mais 3 outros critérios: irracionalidade (lavar as mãos antes das
refeições é racional e lógico, mas fazê-lo sempre que se toca em alguma coisa já poderá não o
ser); impredicabilidade ou perda de controlo (tanto do ponto de vista do sujeito, que perde o
controlo sobre a sua vida, como daqueles que lidam com a pessoa e que podem deixar de
conseguir prever o seu comportamento); desconforto por parte daqueles que observam a
pessoa perturbada (por exemplo, uma pessoa despir-se na rua).
O conjunto destes critérios pode ser formulado numa única definição de psicopatológico:
disfunções comportamentais, emocionais e cognitivas que são inesperadas quanto ao seu
contexto cultural, associando-se a mal estar (distress) pessoal ou a perturbação significativa no
funcionamento profissional, laboral ou social.
 Bases psicológicas das terapias psicológicas
1. As terapias psicológicas baseiam-se na psicologia em geral (ex. psicologia social)
2. Os problemas que pretendem tratar são igualmente descritos e explicados dentro do
seu campo epistemológico.
Existem alternativas saudáveis? …
Estas passam por criar, implementar ou desenvolver actividades e competências pessoais
saudáveis. Por exemplo, suscitando emoções/sentimentos positivos: alegria, contentamento,
interesse, amor, abertura de espírito.
o A ALEGRIA surge em contextos considerados como seguros e familiares, por
acontecimentos interpretados como realização ou progresso em direcção aos objectivos de
uma pessoa. A alegria cria o desejo de brincar, não apenas o brincar físico e social, como
também o brincar intelectual e artístico. A alegria é uma disposição para realizar.
13
o O INTERESSE e os estados afectivos consigo relacionados (ex: curiosidade, excitação,
questionamento, motivação intrínseca, e procura) surgem em contextos considerados
como seguros e como oferecendo novidades, mudança, um sentido de possibilidade e
desafio, ou mistério. O mais importante: abertura a novas ideias, experiências e acções.
o O CONTENTAMENTO e suas emoções relativas (serenidade, tranquilidade, e alívio)
surgem em situações consideradas como seguras e como tendo um alto grau de certeza e
um baixo grau de esforço.
Esta emoção prepara o indivíduo para apreciar o momento ou sentir-se “a si próprio” com
os outros ou o mundo à sua volta, e integrar experiências quotidianas recentes no seu
próprio auto-conceito e visão do mundo. O contentamento traduz um alargamento da
perspectiva sobre si mesmo e o mundo.
 Efeitos comuns das emoções positivas
A alegria, o interesse, o contentamento, o amor, não partilham apenas o facto de alargarem os
repertórios momentâneos de pensamento – acção, como também partilham a tarefa de
construir os recursos pessoais, desde os recursos físicos e intelectuais, até aos recursos sociais.
O mais importante é que estes recursos tendem a ser duradouros.
Vejamos algumas actividades do dia-a-dia que favorecem a saúde psicológica: actividades
lúdicas, sociais, físicas/desportivas, humor. Em suma, actividades de “lazer”.
O HUMOR descontrai, desdramatiza, alegra. Ajuda a olhar os problemas com mais
distanciamento.
A ESPIRITUALIDADE ajuda-nos a enquadrar a vida pessoal num sentido mais amplo de
existir e a dar um sentido para a existência e para todas as suas vicissitudes e circunstâncias.
Contribui para o estabelecimento de uma ética de relação com os outros e consigo mesmo.
A aceitação das suas limitações, compreender a existência dos extremos como algo
inerente à vida: a dor e o prazer; encontrar a paz dentro do seu espaço interior.
A espiritualidade não se encontra e cultiva apenas em templos, mas também em livros.
A PRÁTICA DE DESPORTO é importante na regulação da ansiedade, do medo e dos
sentimentos disfóricos. Aprende-se que as dificuldades se podem enfrentar, desenvolvendo a
coragem.
A ansiedade e o medo são emoções transitórias, sobre as quais podemos agir: aprender
que podemos controlar as nossas emoções.
Obtém-se uma melhor opinião sobre si mesmo (auto-estima). A desmotivação, a tristeza,
são emoções sobre as quais podemos agir e mudar.
14
Ajudam a encarar a competição com os outros de modo equilibrado e partilhado. Tal como
no resto da vida, ser adversário não significa ser inimigo.
O CONTACTO COM A NATUREZA E APRENDER A ESTAR SÓ: as coisas simples.
Compreender a grandeza da vida desenvolve a abertura de espírito. É importante
aprender que estar só, mesmo na dor, não é um desastre, mas uma maneira de se
compreender na grandeza da sua própria existência; e também que a dor, o esforço, e mesmo
a ansiedade e o medo são tudo igualmente coisas da vida. São obstáculos e não abismos: a
coragem.
Em certas circunstâncias permitem um sentimento de melhor sintonia e ligação ao mundo:
uma forma de combinar coragem e sentido para a vida.
10. Diferenças individuais e estados mentais alterados: Sugestionabilidade,
hipnotizabilidade e hipnose.
Sugestão, Hipnose e Psicologia – alguns tópicos:
- a memória
- a personalidade
- a motivação
- as diferenças individuais
Existe um chamado “estado hipnótico” ou “trance”?
É toda a gente igualmente hipnotizável? As pessoas estão numa espécie de sono? Estão
essencialmente relaxadas?
 Algumas características individuais associadas a diferenças individuais em
sugestionabilidade/ hipnotizabilidade:
1.
2.
3.
Absorção
Capacidade dissociativa
Tendência para a fantasia/imaginação
Dois exercícios simples:
- mãos entrelaçadas
- uma mão aquecendo e a outra arrefecendo
15
Download