ELABORAÇÃO DE PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO A PAIS DE CRIANÇAS EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO Eloá Lima da Silva (Bolsista CNPq), Maria Rita Zoéga Soares, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento. Área e sub-área do conhecimento: Psicologia/Programas de Atendimento Comunitário. Palavras-chave: Orientação a pais, Manual, Psicologia da Saúde. Resumo Amplamente utilizados na área da saúde, materiais educativos, como manuais, prestam auxílio a pacientes e cuidadores, auxiliando no fornecimento de informação que pode facilitar a adesão ao tratamento e orientá-los com relação ao manejo comportamental. O presente trabalho buscou desenvolver um manual direcionado aos pais com informações sobre o manejo comportamental dos filhos em tratamento oncológico. As etapas para sua elaboração incluíram análise de dissertação sobre o tema, busca bibliográfica, visitas a hospital público especializado em tratamento oncológico, contato com os profissionais e cuidadores envolvidos no tratamento e supervisões semanais para discutir o conteúdo dos tópicos. Espera-se que o material possa ser um recurso viável para a orientação dos pais de pacientes, no sentido de possibilitar maior repertório comportamental em relação ao enfrentamento da situação relacionada à enfermidade e consequente melhora da qualidade de vida. Introdução e objetivo Com nome específico para um conjunto de mais de 100 doenças, o câncer refere-se ao crescimento desordenado de células que vão alastrar-se por órgãos ou tecidos. Devido à sua rápida divisão e agressividade, estas células podem compor tumores ou neoplasias malignas, podendo propagar-se por diferentes regiões do corpo, caracterizando a metástase (INCA 2015). Para casos em criança e adolescente, o estudo sobre o câncer deve ser distinto do realizado em adultos, pois possuem diferenças na origem histológica, nos locais primários e nos comportamentos clínicos. Grande parte dos tumores pediátricos apresentam tecidos semelhantes a estruturas embrionárias, o que determina uma diversidade morfológica resultada das contínuas transformações celulares. Devido a isto, a morfologia é o primeiro e principal 1 aspecto a ser considerado na classificação. O câncer infanto-juvenil pode apresentar um menor período de latência, rápido crescimento e ser muito invasivo, mas corresponde ao tratamento quimioterápico de uma melhor maneira (INCA, 2008). Segundo Herman e Miyazaki (2007), a criação de programas de orientação a pais auxiliam no manejo diário com a criança, atendendo a necessidades do enfermo e também as solicitações médicas. A partir de novas contingências constituídas pelo tratamento há uma modificação na rotina familiar, um distanciamento de atividades comuns, realização de procedimentos invasivos, longo período em acompanhamento médico, recomendação de restrições, efeitos colaterais. Essas modificações podem influenciar o comportamento dos pais a respeito de determinação de regras e limites, assim como em outras práticas que propiciam o desenvolvimento de um repertório apropriado (Herman, & Miyazaki, 2007). Segundo Corrêa (2014), a orientação a pais e cuidadores é uma das alternativas de intervenção para este contexto. Sabendo, por meio de literatura, das dificuldades que pais apresentam ao terem que lidar com filho em condições enfermas, a intervenção nesta área tem o objetivo de auxiliar os responsáveis a apresentarem comportamentos assertivos, como forma de incentivar o desenvolvimento de repertório adaptativo à condição de diagnóstico, tratamento e pós-tratamento. Procedimentos metodológicos Para a realização do presente trabalho foram seguidos os seguintes passos: • Análise da dissertação de mestrado “Elaboração de manual de orientação a pais de crianças em tratamento oncológico” (CORRÊA, 2014); • Pesquisa bibliográfica sobre os temas abordados; • Supervisões semanais com a orientadora; • Visitas a hospital público especialista no tratamento de câncer e contato com profissionais da área. A fim de complementar o manual criado por Corrêa (2014), foram elaboradas histórias com personagens fictícios que representam situações relacionadas ao tratamento. Tais exemplos foram elaborados a partir de experiência desenvolvida junto à instituição hospitalar, o que possibilitou a observação de padrões comportamentais de pacientes e familiares. Posteriormente, o material foi revisado e o conteúdo dos tópicos foi discutido em supervisão. Resultados e discussão Crianças em tratamento oncológico geralmente apresentam dúvidas em relação ao diagnóstico, à forma de tratamento (tempo, práticas e efeitos 2 colaterais) e como se comportar diante de tal realidade. É comum a apresentação de padrões comportamentais relacionados à agressividade, ansiedade, medo, que podem dificultar a adesão ao tratamento. Os pais geralmente possuem dúvidas sobre a doença e o tratamento e necessitam de orientação sobre: como abordar conteúdos relacionados à doença com o filho; como descrever o tratamento; como incentivar o relato de sintomas; o que pode auxiliar na retomada da rotina. Segundo Corrêa (2014), o Manual de Orientação a Pais de Crianças em Tratamento Oncológico pode ser entregue imediatamente após o diagnóstico. Dessa forma, o cuidador pode ter acesso às informações necessárias para a adesão ao tratamento e práticas parentais úteis para tal contexto. Será apresentada aqui uma parte de um exemplo, dentre todos os elaborados, retirado da fase de Diagnóstico: “Renata: Eu não sei se consigo contar para ele. Tenho medo da reação. João: Eu conto sozinho se você não conseguir mesmo. Acho que é um direito dele saber e que ele ficaria mais chateado se percebesse que escondemos a verdade. Vai ser mais complicado explicar isso depois. Psicóloga: Exatamente, João! Vocês precisam estar bem informados para responder aos questionamentos que possam surgir da parte dele. O Pedro pode ficar calado ou pode querer saber de tudo. Se for do interesse dele conversar diretamente com o médico, agendem uma consulta. Se não for, vão respondendo na medida em que souberem e procurem orientação. Por ele já ser grandinho, é possível que procure coisas na internet e por isso é importante estarem sempre atentos aos sites que ele pode entrar. Estejam sempre por perto e indiquem aqueles que são mais confiáveis. Aproveitem os momentos que ele queira conversar para reforçar o laço entre vocês, assim ele se sentirá mais seguro.” Conclusão A partir do contato com bibliografia específica, com cuidadores de pacientes em tratamento oncológico e profissionais na instituição hospitalar, foi possível, juntamente com supervisão e discussão do trabalho descrito, auxiliar na complementação do Manual de Orientação a Pais de Crianças em Tratamento Oncológico criado por Corrêa. Trabalho realizado como forma de melhoramento a fim de suprir algumas necessidades destacadas pela banca avaliadora, para que o manual seja mais qualificado e de melhor compreensão. A Psicologia apresenta uma importante atividade de auxílio na formulação de estratégias de intervenção que podem auxiliar cuidadores e pacientes na adesão aos tratamentos de saúde. A elaboração de uma manual garante ao indivíduo uma forma de sanar dúvidas rapidamente e por repetidas vezes e se caracteriza, segundo Corrêa (2014), como material de apoio psicológico quando há a ausência deste profissional. Através da descrição de contingências e apresentação de padrões comportamentais, os manuais em 3 psicologia da saúde podem e devem ser utilizados como ferramenta auxiliar de intervenção. Agradecimentos À minha família e amigos pelo apoio neste projeto. À Universidade Estadual de Londrina, minha orientadora e ao CNPq, pela oportunidade para realizar este estudo. Referências CORRÊA, B. A. (2014). Elaboração de manual de orientação a pais de crianças em tratamento oncológico. Dissertação de Mestrado. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, Programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento. HERMAN, A. R., & MIYAZAKI, M. C. O. S. (2007). Intervenção psicoeducacional em cuidador de criança com câncer: relato de caso. Arquivos de Ciências da Saúde, 14(4), 238-244. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (2013). Câncer: o que é? [em linha] Instituto Nacional Do Câncer (Inca) Web site. Acesso em Março 15, 2015 em http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (2008). Câncer da criança e adolescente no Brasil: dados dos registros de base populacional e de mortalidade. Web site. Acesso em Março 15, 2015 em http://www.inca.gov.br/tumores_infantis/pdf/livro_tumores_infantis_0904.pdf MORAES, A. B. A. D., ROLIM, G. S., & Costa Jr, A. L. (2009). O processo de adesão numa perspectiva analítico comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 11(2), 329-345. 4