INTRODUÇÃO Há uma hierarquia na organização do sistema endócrino dos mamíferos. O hipotálamo secreta peptídeos, chamados de fatores de liberação e de inibição; cada um estimula ou inibe a liberação de um hormônio da hipófise anterior, tais como o hormônio adrenocorticotrópico, hormônio tireotrópico e os hormônios gonadotrópicos. Estes, por sua vez, agem em tecidos-alvo específicos. Alguns ligam-se a receptores específicos, que são proteínas situadas na superfície celular no citossol. Tal ligação provoca a formação de um mensageiro intracelular que inibe alguma atividade básica da célula. A adrenalina, que estimula a quebra de glicogênio pelo fígado e pelos músculos, inicia a cascata de reações de amplificação. Ela se liga a um receptor específico na membrana celular, estimulando a transformação do ATP intracelular a ácido adenílico 3', 5'-cíclico por uma adenilato-ciclase ligada a membrana. O AMP cíclico (AMPc) ativa a proteínas-quinase; esta fosforila a fosforilase-quinase, às custas de ATP, convertendo-a numa forma ativa que ativa a fosforilase do glicogênio. Essa cadeia de eventos estimula, assim, a quebra d glicogênio a glucose, no fígado. A adrenalina também inibe a biossíntese do glicogênio a partir de glucose no fígado. A adrenalina também inibe a biossíntese de glicogênio a partir de glucose no fígado, e estimula a formação de ácidos graxos no tecido adiposo, através da formação de AMP-cíclico. O glucagônio, um hormônio polipeptídico, é secretado pelas células das ilhotas pancreáticas. Sua ação glicogenolítica no fígado é exatamente a mesma da adrenalina; ele não age no músculo. A liberação de glucagônio é estimulada pela queda de glicemia e pelo hormônio do crescimento. Muitos outros hormônios, incluindo o ACTH, os hormônios gonadotrópicos, hormônio paratireoidiano, calcitonina e vasopressina, agem estimulando a produção de AMP-cíclico em tecidos-alvo específicos, mas as fases subsequentes na ação do AMP-cíclico são desconhecidas nesse caso. A insulina é feita pelas células do pâncreas, na forma proinsulina, um polipeptídeo de cadeia única com 81 ou 86 aminoácidos, o qual é clivado para fornecer insulina. Ela é liberada no sangue quando a glucose sobe acima do nível normal. Promove o transporte de glucose e de outros combustíveis para as células musculares e adiposas. Ela se liga a receptores específicos na membrana da célula adiposa e causa uma queda no nível AMP-cíclico e elevação do nível de GMP cíclico. Os hormônios esteróides , particularmente os estrogênios e a progesterona, ligam-se a receptores proteicos intracelulares, formando o complexo hormônio-receptor que passa ao núcleo celular e se liga à cromatina. No oviducto de galinhas, o complexo progesterona-receptor promove a formação de RNAs mensageiros codificados para a biossíntese das proteínas características no ovo, tal como a ovalbumina. Pouco se sabe sobre a ação bioquímica específica dos hormônios tereoidianos, que estimula o consumo basal de oxigênio e a produção de calor. O METABOLISMO HORMONAL Os hormônios são substâncias produzidas em pequenas quantidades por glândulas endócrinas variadas. Servem como mensageiros químicos que são levados pelo sangue a orgàos-alvo diversos, onde regulam inúmeras atividades metabólicas e fisiológicas nos vertebrados. Além dos estudos bioquímicos sobre a estrutura molecular de alguns dos hormônios, até o fim da década de 60, quase nada se sabia do mecanismo bioquímico da ação hormonal. Nos últimos anos, houve importantes progressos na análise molecular da função hormonal, progressos estes que transformam o estudo da regulação endócrina de área descritiva da biologia em importante e produtivo ramo da pesquisa bioquímica. A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA ENDÓCRINO DOS MAMÍFEROS A figura 1 delineia a organização do sistema endócrino dos mamíferos. A síntese e/ou a liberação de vários hormônios é controlada de um modo hierárquico, envolvendo três estágios sucessivos de interações entre hormônios e as células-alvo. A secreção dos hormônios é regulada por uma complexa rede de controles. Estímulos externos, transmitidos pelo sistema nervoso, modulam a atividade do hipotálamo, bem como a secreção de adrenalina pela medula suprarenal. A secreção dos hormônios trópicos da hipófise anterior é por sua vez, modulada retroativamente pelas secreções de suas glândulas-alvo. Por exemplo, uma concentração elevada de hormônios glucorticóides secretada pelo córtex da supra renal inibe a secreção de ACTH pela hipófise. A secreção de certos hormônios é modulada pela concentração de determinados metabólitos específicos no sangue. Os hormônios da hipófise anterior são polipeptídeos grandes (tabela 1). A sequencia de aminoácidos da maior parte deles foi estabelecida, e alguns foram sitetizados. Alguns dos fatores hhipotalâmicos de liberação e de inibição, que são peptídeos curtos, foram isolados e identificados. Alguguns exemplos são mostrados na figura 2. Figura 2 - Estruturas de dois fatores liberadores hipotalâmicos e do fator inibidor da liberação do hormônio de crescimento. RECEPTORES HORMONAIS E MENSAGEIROS INTRACELULARES Existe dois princípios básicos da ação hormonal: 1° - células-alvo sensíveis a um determinado hormônio contém receptores hormonais específicos, que são proteínas especializadas capazes de se ligar à molécuula hormonal com especificidade e afinidades muito altas. 2° - a ligação do hormônio ao seu receptor específico causa formação de uma molécula mensageira intracelular, que estimula ou deprime alguma atividade bioquímica característica do tecido-alvo. Para hormônios polares hidrossolúveis - adrenalina e glucagônio - , o mensageiro intracelular é o ácido 3', 5' - adenílico cíclico (AMP cíclico). ADRENALINA E A DESCOBERTA DO AMP CÍCLICO A secreção de adrenalina (figura 3) no sangue desencadeia uma série de respostas que preparam o organismo dos vertebrados a "lutar ou fugir". Mas a pricipal consequência bioquímica é o grande aumento da velocidade de destruição do glicogênio no músculo, o qual fornece lactato; posteriormente temos a produção, no fígado, de glucose sanguinea. A incubação da adrenalina com tecido hepático intacto provoca grande aumento na atividade da fosforilase do glicogênio que parece ser a enzima limitante da velocidade de formação da glicose a partir do glicogênio hepático. Entretanto a adição de adrenalina a preparações isoladas de fosforilase altamente purificada não aumenta sua atividade, indicando que o efeito estimulante da adrenalina depende de fatores produzidos pela célula hepática intacta. Algumas análises da ação da adrenalina exigem uma melhor compreesão dos fatores que afetam a atividade da fosforilase: A forma tetramérica ativa da fosforilase a é convertida a uma fosforilase b inativa que é uma molécula dimérica, por ação da fosforilase fosfastase, que remove os grupos de fosfato dos 4 resíduos fosfato-serina da enzima ativa. A fosforilase b é reconvertida a fosforilase a ativa por uma fosforilase quinase, uma enzima Ca²+ dependente que catalisa a fosforilação dos resíduos específicos de serina da fosforilase b. Porém, foi evidenciado que a adrenalina não tem qualquer efeito sobre as preparações purificadas da fosforilase-fosfatase e da fosforilase-quinase. Mas a adrenalina promove a conversão da fosforilase b a fosforilase a em preparações de hepatócitos com a estrutura celular romppida, suplementadas com ATP e Mg²+. Porém, demonstrou-se que este efeito se deve a dois eventos sucessivos. No primeiro, a adrenalina causa a formação enzimática de um fator termoestável na porção particulada, insolúvel, do fígado, que estimula a atividade da fosforilase; essa reação requer ATP e Mg²+. Numa segunda etapa, que também requer ATP, o fator termoestável promove a conversão da fosforilase b inativa à fosforilas a ativa, na porção solúvel do homogenado hepático. O fator estimulante ativo foi bem mais tarde identificado como um derivado inesperado do ácido adenílico, nunca antes observado em material biológico, e chamado de ácido 3' ,5' adenílico cíclico (figura 4). A adição de quantidades muito pequenas de AMP cíclico aos extratos hepáticos soluveis, promove a formação de fosforilase a ativa a partir de fosforilase b , na presença de ATP. ADENILATO - CICLASE, PROTEÍNA QUINASE E FOSFODIESTERASE Sabe-se que a adrenalina estimula intensamente a reação enzimática Mg²+ dependente, na membrana plasmática, na qual o ATP é transformado a AMP cíclico, com perda de pirofosfato inorgânico: Mg²+ ATP ---------> 3' ,5' AMP cíclico + PPi A enzima que catalisa esta reação é chamada adenilato-cilcase. Ela é específica para o ATP. Outra enzima é a proteína quinase que ocorre nas formas ativas e inativas. Sua forma ativa catalisa a fosforilação da fosforilase-quinase inativa pelo ATP, para fornecer a forma fosforilada ativa, através de uma reação na qual o ATP é o grupo doador de fosfato: proteína-quinase ativa defosforilase-quinase + ATP ------------------------------> (inativa) fosforilase-quinase + ADP (ativa) Ela contém 16 subunidades, cada qual fosforilada pelo ATP no resíduo de serina pela ação da proteína-quinase. A proteína-quinase, elemento-chave da ligação do AMP cíclico ao sistema da fosforilase é uma enzima alostérica. O modulador alostérico da quinase protéica é o AMP cíclico, que se liga ao local específico da subunidade reguuladora, dissociando o complexo inativo CR, fornecendo um complexo RAMPc e uma subunidade C livre, que agora cataliticamente ativa. Portanto o AMPc remove a inbição à ativamente enzimática, que é imposta pela ligação com a subunidade reguladora (figura 5). A concentração do AMPc cai a níveis muito baixos quando a adrenalina é destruída ou removida e a enzima responsável pela destruição do AMPc é a fosfodiesterase, que catalisa a reação hidrolítica.