A FILOSOFIA E OS VALORES DO KARATÊ-DÔ E A CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA Erik Yudi Horiye (Bolsista Cnpq) Ana Maria Pereira, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Estudos do Movimento Humano/ CEFE Área e sub-área do conhecimento: Humanas/ Educação. Palavras-chave: Karatê-Dô; Ciência da Motricidade Humana; Valores. Resumo A presente pesquisa investigou a existência de convergências/divergências entre a filosofia e os valores éticos, sociais e morais da arte marcial Karatê-Dô e as premissas da Ciência da Motricidade Humana. Há uma preocupação em verificar a existência de tal aproximação filosófica e de valores entre os referidos objetos de estudo para a contribuição no processo de formação e educação dos estudantes em aulas de Educação Física em ambiente escolar. Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma investigação qualitativa de cunho bibliográfico presente em artigos, dissertações e teses além de obras acerca da temática da pesquisa. Analisou-se primeiro as definições de ética e seu percurso histórico constatando-se que em cada época existia uma concepção de mundo, homem e sociedade transformando os valores exigidos para o agir humano. Em seguida, analisou-se a filosofia do Karatê-Dô e as premissas da Ciência da Motricidade Humana concluindo que tais conhecimentos se convergem nos princípios éticos e morais. Assim, afirma-se que ensinar o Karatê-Dô embasado nas premissas da Ciência da Motricidade Humana contribui para uma formação de qualidade no sentido de formar valores éticos e morais para agir e atuar na sociedade, de maneira justa. Introdução A presente pesquisa teve por objetivo verificar a existência de possíveis aproximações entre a filosofia e os valores do Karatê-Dô e os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana. Trata-se de dois objetos de estudo, sendo o Karatê e a Ciência da Motricidade Humana. 1 O Karatê-Dô (Caminho das Mãos Vazias) é uma arte marcial ausente de armas visando a defesa pessoal e o aperfeiçoamento do caráter de seu praticante. (Guimarães e Guimarães, 2002). Considerar o Karatê-Dô enquanto, arte marcial, esporte e conteúdo escolar é compreendê-lo enquanto técnica e enquanto conhecimento da cultura motora da humanidade que abarca valores éticos, sociais e morais, ou seja contribui com a harmonia humana, uma modo de vida. O outro objeto de estudo, a Ciência da Motricidade Humana, proposta pelo professor Português Manuel Sérgio, surgiu com a necessidade de um corte epistemológico com a Educação Física tradicional superando o paradigma dualista antropológico cartesiano em direção ao paradigma complexo (Sérgio, 1999). Os princípios norteadores da Ciência da Motricidade Humana, sendo a complexidade, sentido e significado, intencionalidade operante, ser práxico e transcendência visam a formação integral de um ser humano uno, complexo, diferente da concepção cartesiana fragmentada. Dessa maneira, a questão a ser analisado e estudada na presente pesquisa foi verificar se existem aproximações/convergência da filosofia e dos valores do Karatê-Dô e da Ciência da Motricidade Humana, e se existir, quais são elas. Procedimentos metodológicos O percurso metodológico da presente pesquisa se caracterizou por uma investigação qualitativa de cunho bibliográfico. Buscou-se artigos referentes à temática da ética em suas definições, percursos históricos e sua relação com a educação. Após a busca bibliográfica analisou-se primeiro as definições de ética conforme seu percurso histórico, sua relação com a Educação e Educação Física. Em seguida, estudou-se a filosofia do Karatê-Dô bem como as questões éticas e morais para a formação do homem. Em relação à Motricidade Humana analisou os princípios desta ciência tendo em vista verificar os indicativos sobre a ética e um modo de viver mais justo, livre e solidário. Verificou-se aproximações entre a filosofia e os valores do Karatê-Dô e os pressupostos da Ciência da Motricidade Humana e entende-se que há nos dois objetos contribuições para a formação do estudante nas aulas de Educação Física. Resultados e discussão A ética é a ciência da conduta, ou seja, é a condução do ser humano para algo, sendo sua função sinalizar os princípios formais para o ser humano sem que 2 indique qual o caminho a percorrer, pois se entende que o homem há que discernir e orientar sua ação. Entende-se a partir de Cortella (2009) que a questão ética está atrelada ao livre arbítrio, sendo que todos possuem esse poder de decisão. A escolha, seja racional ou emocional, trata-se de um ato consciente, pois existe a questão de responsabilidade pelas decisões. Os valores éticos e morais, inerentes ao ser humano, acompanham as transformações históricas, sociais, econômicas, política, culturais. Percebe-se que em cada contexto histórico é atribuído um significado para a ética. Nesta pesquisa tratou-se da Educação Escolar, aquela sistematizada e institucionalizada. Entende-se que a Educação que se busca é a que possibilita a formação integral do sujeito enquanto participantes ativos na sociedade. A ética sempre esteve relacionada à Educação do homem em geral, por se tratar do ensino e transmissão de conhecimento, valores e crenças. A Educação, por meio da escola e do professor, tem então a missão de formar cidadãos éticos e conscientes para atuarem em sociedade, de maneira que assumam posturas melhores em relação com o próximo, ainda que não resolva todos os problemas do estudante. Na escola, além de formar estudantes éticos, é fundamental que o professor seja ético também, pois não é coerente ensinar valores se a própria vida não corresponde com o que deseja para o estudante. As questões que envolvem a Educação acabam por refletir nas disciplinas escolares, alcançando a Educação Física. Gonçalves (1994) explicita que a Educação Física trata diretamente à corporeidade do sujeito e ao movimento humano. A Educação Física, historicamente, tem-se pautado em concepções dualistas e cartesianas, dissociando o ser humano em si e com o mundo. Por isso, a Ciência da Motricidade Humana surgiu com a necessidade de superar a visão dualista e fragmentada do ser humano. Para uma melhor compreensão da teoria da Ciência da Motricidade Humana fez-se necessário entender as premissas da referida ciência: a complexidade, a intencionalidade operante, o sentido e o significado, o ser humano práxico e a transcendência. Defender-se-á uma Educação Física complexa, no sentido de contemplar o homem em sua totalidade que se mantém em constante relação com o contexto que está inserido e capaz de transformar a sua realidade sem ferir princípios éticos. O ensino do Karatê-Dô deve ser contemplado em todos os aspectos que permeiam este fenômeno, sendo a história, técnica e principalmente a filosofia. Tais ensinos filosóficos do Karatê como a reverência, o Mokusô, a linguagem marcial, o espírito de humildade, o sentido do Karatê para a vida, há que ser ensinado. O Karatê-Dô, antes de qualquer desenvolvimento físico e mental da pessoa, tem o objetivo de formação do caráter, desenvolver o respeito ao próximo e criar um intuito de esforço com todas as coisas. Torna-se então um 3 conteúdo rico e provido de questões éticas e cidadãs a partir do momento que o docente explora e amplia o seu olhar sobre o este conteúdo. Percebe-se que em muitos aspectos a filosofia do Karatê e suas questões éticas e morais visando a formação do sujeito convergem com as premissas da Ciência da Motricidade Humana. Busca-se formar os karatekas/ estudantes de caráter, de valores éticos e morais, justos, humildes, integral. Conclusão A questão deste estudo envolveu a filosofia do Karatê-Dô e as premissas da Ciência da Motricidade Humana para a formação ética e moral do estudante nas aulas de Educação Física. Verificou-se a partir da análise dos escritos sobre a arte marcial e a referida ciência que existem convergências nas questões éticas para a formação do sujeito. Mesmo a Ciência da Motricidade Humana tendo surgido no lado ocidental, tal qual o pensamento sobre o homem é historicamente fragmentada, Manuel Sérgio busca compreender o ser humano em sua integralidade e totalidade assim como o pensamento oriental compreende o homem. Conclui-se que para ensinar o Karatê-Dô, em todos os seus aspectos, técnicos, éticos, sociais, filosóficos, políticos, econômicos, nas aulas de Educação Física, é necessário ampliar o enfoque. Significa que apenas conhecer o conteúdo não basta, mas é preciso ser ético. O professor ensina aquilo que ele é. Por isso não basta “ter”, mas “ser” mais. Referências CORTELLA, M. S. A ética e a produção do conhecimento hoje. Revista PUCVIVA, PUC, São Paulo. v.27 Disponível em <http://wellcom.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=266:a-etica-ea-producao-do-conhecimento-hoje-mario-sergio-cortella&catid=50:comunicacao-esemiotica&Itemid=161>. Acesso em: 21 mar. 2014. GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir: Corporeidade e educação. Campinas, Sp: Papirus, 1994. GUIMARÃES, M. A. T; GUIMARÃES, F. A. T. O Caminho das Mãos Vazias – Karatê-Dô. Belo Horizonte, Minas Gerais: 2002. Disponível em: <http://ojpj.com.br/gojuryu/livros>. Acesso em: 10 out. 2013. SÉRGIO, M. Um Corte Epistemológico: Da educação física à motricidade humana. Lisboa: Editora Instituto Piaget, 1999. 4