ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA EM PACIENTES COM DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS ADQUIRIDOS OU CONGÊNITOS. Juliana MARCOLINO, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste Lilian Ayres do PRADO, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste Caroline de Moura BUENO, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste Dionízio Bartiechen Júnior, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste Emanuela Juliana BORA, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste Susani Seguro, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste O paciente com doença neurológica adquirida ou congênita pode apresentar diversas alterações fonoaudiológicas na fala, na linguagem, na voz e na motricidade orofacial. Além disso, o sujeito comparece com déficits visuais, auditivos, motores e sensitivos dos membros inferiores e/ou superiores, problemas emocionais e sociais. Nota-se que o nosso foco é o sujeito com patologia neurológica, o que exige um terapeuta capaz de lidar com muitas as desordens da área fonoaudiológica (linguagem, fala, voz, motricidade orofacial). Essa prática não é comum no Brasil ou no exterior. Geralmente, o fonoaudiólogo que trata a afasia (uma patologia de linguagem) não tem formação para cuidar da disfagia (distúrbio da deglutição) e vice-versa. Nosso primeiro obstáculo foi deflagrado: tratar somente a linguagem? Encaminhar o paciente disfágico para qual serviço? Essa primeira dificuldade deixou ver que geramos uma demanda que parecia estar “escondida” e, ainda, apontamos a ausência de um serviço específico para o atendimento desses casos no município e região vizinha. Apesar de concordarmos que o projeto de extensão não deve tomar para si todas as necessidades e compromissos do município, decidimos realizar um trabalho que tratasse todas as alterações fonoaudiológicas – em respeito ao nosso compromisso com o paciente. Entretanto, reconhecemos que essa discussão é complexa, pois a posição clínica no atendimento de um afásico é bem diferente no atendimento de um disfágico. Este trabalho tem o objetivo de discutir o atendimento fonoaudiológico com pacientes neurológicos, a partir da experiência de um projeto de extensão. O projeto de extensão “atuação fonoaudiológica em pacientes com distúrbios neurológicos adquiridos ou congênitos” promove o atendimento fonoaudiológico individual para pacientes adultos com alterações na voz, fala/linguagem, deglutição e motricidade orofacial decorrentes de patologias neurológicas. Além disso, favorece uma formação mais específica, articulando ensino e pesquisa. Participam deste projeto, como terapeutas, quatro alunos do terceiro ano e um aluno do quarto ano. Eles foram submetidos ao processo de seleção e, portanto, possuem afinidades com a área e interesse em uma formação especializada para atender pacientes neurológicos. Os alunos realizam, semanalmente, supervisão em grupo. Durante os atendimentos, os alunos contam com o apoio da coordenadora do projeto e de uma monitora recém-formada em Fonoaudiologia, as quais assistem os atendimentos por um visor (espelho-espião), após autorização dos pacientes. A supervisão é um espaço decisivo na formação do aluno. É nesse momento que o estagiário pode articular teoria e clínica. Os pacientes são atendidos individualmente, uma vez ou duas vezes por semana, por um discente do terceiro ou quarto ano do curso de Fonoaudiologia da UNICENTRO. A duração de cada sessão de fonoterapia é de 40 minutos. Em 2006, início deste projeto, atendemos apenas cinco pacientes. Em 2007, esse número aumentou para treze. Dos treze pacientes atendidos em 2007, cinco eram afásicos; seis disártricos; um com apraxia de fala e outro com paralisia facial. Atualmente, atendemos dezessete pacientes adultos, com idade entre 26 anos e 77 anos, sendo doze homens e cinco mulheres e três pacientes crianças com idade entre 5 e 7 anos. No que diz respeito ao impacto social deste projeto, observamos que a demanda foi criada e aumenta a cada ano. Poucas ações de divulgações foram realizadas. Notamos que os próprios pacientes, satisfeitos com serviço oferecido, convidam outros pacientes para procurar o tratamento. Lembramos de um caso que a paciente compareceu após dez anos que sofreu o AVE. Ela nos disse que não sabia que era o fonoaudiólogo o profissional habilitado para tratar a fala. Outro exemplo é o caso de P.L. – uma criança com Paralisia Cerebral, com comprometimento motor severo. Como essa criança está matriculada em uma Instituição voltada para o atendimento de crianças com necessidades especiais, a mãe de P. L. divulgou o nosso trabalho para outras mães. Desde então, a procura para o atendimento infantil aumentou. Novamente, encontramos uma demanda “escondida” no município que está sem atendimento. Com certeza, não teremos recursos humanos e espaço físico para atender essa “nova” demanda e, portanto, é dever do município a contratação de profissionais. Dos dezessete pacientes adultos, doze sofreram Acidente Vascular Encefálico (AVE), dois sofreram traumatismo crânio-encefálico, um submetido à ressecção de tumor em tronco encefálico, um com distonia generalizada e um com Doença de Parkinson. Nota-se que a maioria do nosso público sofreu Acidente Vascular Encefálico (AVE), acarretando múltiplas patologias fonoaudiológicas. O atendimento individual tem o objetivo de produzir uma mudança na posição do sujeito na linguagem oral e escrita e, ainda, adequar ou adaptar as alterações da motricidade orofacial. A efetividade neste tipo de atendimento é obtida. O caso senhora O. caracteriza o sucesso terapêutico. No início do atendimento, O. queixava-se de dificuldades para deglutir. Ela dizia: “a tosse que me dá, vem aquilo vontade de tossir e parece que me afogo [...] para tomar e para comer me afogo”. O diagnóstico fonoaudiológica concluiu que O. tinha uma disartrofonia espástica e uma disfagia de grau moderado. Após dois meses de exercícios oromiofuncionais, a paciente não apresentou mais dificuldades para se alimentar. A paciente M. também apresentou mudanças significativas no quadro de afasia. Ela chegou apenas repetindo a fala do outro e, após dois meses, já conseguiu, com ajuda da terapeuta, relatar algo. Essa mudança marcou a vida pessoal da paciente, pois M. começou a preocupar-se mais com aparência. A posição do clínico no atendimento de afásicos deu especificidade à terapia da disartria e/ou disfagia. Isso porque, o terapeuta acolhe o luto do paciente, entende suas dificuldades subjetivas e sociais para enfrentar os limites orgânicos. Talvez seja este o olhar que faltava para o sucesso das terapias com a motricidade orofacial. Dar “vez e voz” a todos os pacientes, com ou sem prejuízo lingüístico, promove uma relação terapêutica solidificada e melhor aceitação da terapia miofuncional. Exemplo disso é o caso do senhor A. com disartrofonia leve, mas que vivenciou um luto significativo por não poder caminhar e, conseqüentemente, não encontrava motivação para realizar os exercícios orofaciais. O tratamento de A. foi marcado por muitas conversas sobre esse assunto devido à resistência do paciente para o atendimento psicológico. Pode-se dizer que o tratamento miofuncional é realizado, mas o clínico deve sustentar um olhar e uma escuta para o sujeito e seu sofrimento. Este projeto garante a parceria Universidade e Comunidade. Para a comunidade, o atendimento com qualidade implica mudança na vida do sujeito e da família. O retorno disso para a Universidade é um ensino mais efetivo e produção científica. A nossa expectativa agora é que outros profissionais da saúde possam participar deste projeto. Isso porque, o paciente neurológico, ainda, necessita da atenção da Fisioterapia, Psicologia, Terapia Ocupacional, Serviço Social, entre outras áreas. A nossa maior dificuldade está no o acesso dos pacientes à CEFONO. Isso porque, o transporte público não leva o paciente na porta da clínica. Além disso, a maioria dos pacientes apresenta déficits motores nos membros superiores e inferiores, o que dificulta a locomoção. Assim, eles dependem de um automóvel ou da ambulância oferecida pela Prefeitura, a qual não tem cumprido com os horários estipulados..