DO PENSAMENTO CARTESIANO À CONTEMPORANEIDADE Leonardo Gedeon A ascensão do capitalismo mercantil, os conflitos religiosos, a revolução científica, as grandes navegações marítimas e a consolidação da burguesia proporcionaram profundas mudanças na sociedade européia dos séculos XVI, XVII e XVIII. Neste período histórico conhecido como idade moderna, a filosofia galgou novos caminhos, com o fim da escolástica medieval. O método adquire importância nas análises filosóficas e surge o racionalismo e o empirismo. O racionalismo está encerrado no homem racional e suas necessidades, enquanto o empirismo está relacionado ao âmbito da experiência sensível do sujeito. Nesta época, tiveram notoriedade os filósofos: Descartes, Francis Bacon, Copérnico, Johannes Kepler, Galileu Galilei, Pascal, Malebranche, Espinosa, Leibniz, David Hume, Thomas Hobbes, John Locke entre outros. O pensamento moderno nasce e se desenvolve marcado pela confiança na razão. Porém, o pensamento ocidental estaria fazendo uma releitura do racionalismo reproduzido pela filosofia antiga. Desde a Grécia antiga a razão pôde pretender abarcar o mundo porque, de certa forma, o próprio mundo era concebido como racionalmente ordenado e unificado. Nos tempos modernos, no entanto, essa imagem já não existe. Não há mais a polis, o Império ou uma Igreja única; a realidade apresenta-se dispersa, múltipla e relativa. Cabe à razão a tarefa de reunificar o mundo, reproduzi-lo, representá-lo. (ABRÃO, 2004, p. 184) Os estudos matemáticos, por meio de sua eficácia e exatidão na instrumentalização de suas experiências, foram o principal paradigma adotado pelo racionalismo. O filósofo Descartes inaugura esta corrente filosófica escrevendo a expressão “Penso, logo existo.” no tratado intitulado Discurso do Método. Neste sentido, o pensamento cartesiano foi a pedra angular das ciências modernas na medida em que o método é fundamental e só a razão deve ser o critério e a certeza do conhecimento. Analisar os fatos sem modelos preconcebidos era a referência do novo pensamento cientifico acarretando na supressão do sagrado e na emancipação do conhecimento humanista. A partir da revolução industrial nos séculos XVIII e XIX, houve novas rupturas no pensamento filosófico. No pensamento contemporâneo, a filosofia da razão deu lugar a ilustração,o positivismo e o marxismo. No Iluminismo, a queda do Estado Absolutista e as revoluções impostas pela burguesia francesa e inglesa cujas designações eram a luta contras as restrições da nobreza e do clero e a busca incessante pelos direitos humanos e pela economia liberal. Alguns filósofos representantes da Ilustração são: Newton, Reid, Montesquieu, Voltaire, J. J. Rosseau, Diderot, Wolff, Lessing, Baumgarten e Immanuel Kant. Este último pensador publicou Critica da Razão pura, obra clássica que marcou este período, com a preocupação conceitual sobre a natureza do conhecimento humano., questionando se existe uma “razão pura” sem a possibilidade da experiência. A industrialização era o brasão máximo da burguesia liberal e a ciência e técnica aliaram-se no desenvolvimento do capitalismo. Com estes avanços surge o positivismo de Augusto Comte (1798 – 1857) exaltando os benefícios do cientificismo, considerado o único caminho viável. Este pensador classificou as ciências segundo as que considerava as mais simples e mais complexas.O conhecimento humano era abordado na existência de três estados: o teológico, metafísico e positivo. Na contraposição do positivismo, Karl Marx (1818 – 1883) traz a proposta de transformação da realidade por meio da dialética existente entre as classes sociais e suas forças produtivas. Por sua vez, o marxismo trouxe a discussão da dialética hegeliana, em que as idéias são substituídas pela força do processo histórico, movimento resumido em três etapas: tese, síntese e antítese. No marxismo, o materialismo histórico dialético propõe a revolução socialista pela planificação da economia, a extinção das classes sociais e a socialização dos meios de produção. Sem dúvidas, o incansável esforço de Marx para desvendar os mecanismos de poder engendrados no sistema capitalista trouxe uma revolução no pensamento filosófico moderno e contemporâneo. (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 97) O século XX é marcado pela crise da razão e pela fenomenologia assinalada nas obras de Nietzsche, Kierkegaard, Heidegger entre outros. O relativismo e o existencialismo estão no bojo das discussões filosóficas durante este século, com diversos escritos filosóficos de variados intelectuais e pensadores de correntes epistemológicas diferentes. Vale ressaltar, que no processo histórico do “pensar filosófico”, os grandes pensadores elaboravam suas teses com base nos valores de suas épocas, refletindo em suas publicações as mudanças ideológicas, econômicas, científicas e sociais. Já na contemporaneidade, o acúmulo do conhecimento humano é evidente. O perfil do pensamento contemporâneo perpassa pela atitude antipositivista, foco na analise do objeto de pesquisa, realismo, pluralismo e atualidade das críticas e suposições. O conhecimento filosófico contemporâneo trará no núcleo de suas idéias a proposta de sustentabilidade e de valorização das virtudes e dos valores humanos que irão reorganizar a sociedade de consumo. REFERÊNCIAS: ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Filosofando: introdução à filosofia. 2º Ed. São Paulo: Moderna, 1993. Pires.