Manejo do paciente durante internação na UTI Glauco Batista Clínica de Psicologia e Psicanálise Hospital Mater Dei – Belo Horizonte/MG www.psicanaliseehospital.com.br O Paciente na UTI • Confronto com seu desamparo e sua finitude como possibilidade • Fragilidade e limite da estrutura revelados • Na carência de recursos para lidar com a situação desorganização psíquica grave • “UTI” incluída nas fantasias e conflitos anteriores à internação O Paciente na UTI • Objetivos primários do “tratamento intensivo”: – sofisticados recursos de monitorização e terapêutica • UTI: – Ritmo ininterrupto / atividade constante – Luzes, ruídos e uso de aparelhos incomuns – Relativa imobilidade exigida por alguns sistemas sensíveis de monitorização • Requer paciência e colaboração do paciente • Além dos limites já impostos pelas enfermidades O Paciente na UTI • Ansiedade + dor + insônia = “psicose de UTI” • Humanização dos Cuidados Intensivos – auxiliar na “capacidade adaptativa” – “amenizar” sua experiência nessas unidades Mas... De que “humanização” falamos? ‘ O Paciente na UTI • Resposta possível: Universalização / generalização – Cores leves nas paredes e portas / Presença de Janelas – Chamar paciente pelo nome / “Dose de sentimento” – Cadeira para acompanhante / Informar sobre doença – Vínculo entre as equipes / cuidar-se para cuidar • Resposta às necessidades dos pacientes • Prover condições para a prática de enfermagem • Prover condições para a prática médica O Paciente na UTI • Diante de tantos procedimentos dolorosos e invasivos escutamos: – “Quero esmalte vermelho na unha” – “Pode trazer um livro?” – “Vou colocar a música X, que a mamãe gosta” – “Na hora da missa liga a TV que ele gosta” – “Minha mulher pode ficar comigo aqui?” – “Pode virar o relógio pra cá? Quero saber as horas” – “A gente pode colocar um cartaz na parede?” – ... O Paciente na UTI • Diante de tantos procedimentos dolorosos e invasivos escutamos: – “Não aguento mais isso” – “Queria poder dormir e acordar na minha casa” – “Não durmo há três noites” – “Essa noite vi o paciente aqui do lado morrer, estou desesperado” – “Aqui é muito barulhento, a gente não dorme” – “Isso é pior que a morte” – ... Fragmento Clínico • José, 35 anos, internado na UTI pela quarta vez por tentativa de auto-extermínio em 8 meses • Sempre após brigas com pai e esposa • Agitado, recusa-se a permanecer na UTI • Não pode receber sedativo • Só recebe alta da UTI após avaliação psiquiátrica • Durante primeira entrevista – “Não quero psicólogo daqui, nenhum presta” – “Só aceito minha psicóloga e meu psiquiatra” Fragmento Clínico • Após negociação com a equipe: – Contato com psicóloga e psiquiatra (avaliação) – Presença da mãe 24 horas • José decide ficar na UTI até o dia seguinte Fragmento Clínico • Já com alta prevista, José diz: “Está muito difícil ficar aqui, todo mundo fica olhando pra mim como se me estivesse me condenando pelo que fiz” ‘ Humanização... • HUMANIZAR está diretamente ligado à dignidade do ser falante em ser escutado em sua singularidade. • HUMANIZAR: não comporta uma atitude paternalista, que fixa o ser humano em uma posição passiva, irresponsável por seus atos e decisões. • HUMANIZAR: sim, significa incluir os limites inerentes aos tratamentos e articulado às impossibilidades e possibilidades da vivência institucional. Humanização... Recusar os benefícios terapêuticos ‘ Incluir um limite aos seus imperativos • O social deixa marcas na subjetividade e é importante podermos nos interrogar sobre essas marcas Onde há ESCOLHA há ÉTICA “A psicanálise tem lugar toda vez que há algum impossível a ser tratado” Eric Laurent