FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA DISCIPLINA – OS-005 CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE Professor Responsável: Prof. Fábio Luiz Mialhe Aluna: Lucia Y. Tutui Nogueira RESENHA 5 Lima, Marise Aparecida. Psicologia Social e Comportamento Social. In: Marcellino Nelson C (org.) Introdução à Ciências Sociais. São Paulo: Papirus, 2002. Pg.77 a 82. A autora relata onde, quando e porque a Psicologia Social começou a ser estudada como ciência. Desenvolveu-se após a Primeira Gerra Mundial e foi nos Estados Unidos que destacou-se como estudo científico, a fim de compreender as crises sociais que surgiam mundialmente. Os psicólogos sociais realizaram pesquisas e experimentos na busca de fórmulas para ajustar comportamentos individuais ao contexto social, e segundo a autora, esse foi o primeiro grande equívoco da psicologia social: isolar o indivíduo da sociedade. Colocar o indivíduo de um lado e a sociedade de outro, era negar sua interdependência. Para a psicologia social não havia classes sociais com interesses antagônicos. Assim, os conflitos eram encarados como uma doença social que podia ser “evitado ou curado”, tornando, por exemplo, uma greve dos trabalhadores uma anomalia e não uma luta de classes de uma sociedade capitalista que explora os trabalhadores. A partir do final da década de 1960, em especial na França, surgiram críticas à psicologia social pelo seu caráter ideológico e conservador. E na América Latina, a referência eram os estudos americanos. A psicologia social passou por crises, e em 1979, no congresso realizado em Lima, Peru, houve a redefinição da psicologia social, sendo imprescindível o seu desenvolvimento contemplando as especificidades de cada país. No Brasil, a Associação Brasileira de Psicologia Social tem se preocupado no conhecimento do indivíduo e no conjunto de suas relações sociais inserido numa sociedade dividida em classes, não isolando-o. E mesmo com todo o avanço no estudo do indivíduo e suas manisfestações específicas, grupais e sociais num contexto histórico, a psicologia social, no Brasil não tem conseguido responder às questões específicas do nosso momento histórico. A autora destaca a socialização, processo grupal e relações de trabalho como alguns dos temas importantes da psicologia social na sociedade capitalista . Trata cada um deles no contexto do desenvolvimento histórico do indivíduo, a fim de entendermos que não é possível separar o inseparável, que é preciso romper com a visão fragmentada do homem. Ressaltando que “é imprescindível que a compreensão do homem na sociedade capitalista leve em consideração a sua dimensão histórica de agente transformador.” REFLEXÃO Este texto trata da psicologia social, destacando seu desenvolvimento como ciência após a Primeira Gerra Mundial, a fim de se entender as crises sociais que surgiam mundialmente. A maioria dos estudos voltavam-se para o ajustamento de comportamentos individuais ao contexto social, negando a sua interdependência. È possível observar que a visão fragmentada do homem é presente na área da saúde, e que o modelo biomédico ainda é hegemônico nas ações e serviços ofertados à população. Este é o modelo que interessa ao sistema econômico vigente, que não considera, segundo a autora, “o indivíduo e suas manifestações específicas, grupais e sociais num contexto histórico, 1 FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA concebendo o homem como sujeito transformador não só da sua própria vida, mas também da sociedade em que vive.” Além de reforçar a visão individualista e fragmentada do homem, este modelo alimenta o sistema econômico na medida em que torna-se uma das melhores fontes de lucro no mercado de medicamentos e insumos, bem como de alta tecnologia. É no cotidiano do trabalho que vivenciamos a dificuldade que os trabalhadores tem para lidar com as questões sociais e emocionais. Vejo que, em muitas situações da atenção ambulatorial e hospitalar não se consegue formar vínculo, pois essa relação pressupõe responsabilização e compromisso com o usuário, com a sua missão. Como todas as políticas de saúde referem a necessidade do olhar holístico na atenção individual e coletiva para que nosso trabalho seja resolutivo, essa dificuldade assim como o olhar fragmentado do homem interessa para manutenção do capitalismo. Em que pese todas as dificuldades – ideológicas e/ou políticas- a psicologia social, junto com as demais ciências sociais, pode instrumentalizar os trabalhadores da saúde na compreensão dos fatores subjetivos, sociais e culturais no desenvolvimento do processo saúde-doença. Assim, poderá encontrar saídas na “emergência das contradições”. REFLEXÃO O texto conduz para o entendimento acerca do ser social, mostrando que é impossível tornarmos humanos sem a convivência em grupo, “sem o denso tecido das relações sociais”, segundo o autor. Assim, é impossível entender o processo saúde-doença apenas pelo conhecimento biológico. Devemos inserir a dimensão social, cultural, psicológica, econômicas, ambientais, políticas, podendo identificar uma interrelação quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades. A Reforma Sanitária pode ser vista como um movimento social da maior relevância e que provocou mudanças profundas no sistema de saúde brasileiro, consagrado pela Constituição de 1988, que criou o Sistema Único de Saúde. A própria Lei Orgânica de Saúde n.8080/90 explicita os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, complementada pela Lei n.8142/90, que trata do controle social, isto é da participação da comunidade. Como trabalhadora da saúde e gestora, este texto me conduziu à necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a influência das ciências sociais no cotidiano do trabalho. 2 FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA Entender a complexidade das relações sociais, que “não são fixas nem imutáveis” e que essa dinâmica transforma a sociedade, estimulando e interferindo nelas, me leva à reflexão do modo como operamos a saúde no município de Ourinhos. Em que pese as dificuldades diárias, este conhecimento certamente irá auxiliar a condução deste fazer. Diariamente deparo com situações que remetem às formas de interação, sejam de competição entre os profissionais de saúde, de poder na interação profissional-usuário, de poder entre gestores. A relação profissional-usuário merece cuidado e necessita maior reflexão e estudos. A equipe que desconhece as singularidades do sofrer de cada um, mesmo em situações comuns a vários usuários, não deve reconhecer as Ciências Sociais como parte integrante e indissociável do fazer em saúde. Uma outra situação comumente vivida nas relações de interação, é a do poder político, que na maioria das vezes é conflituosa. Um exemplo é a destinação de recursos financeiros para a construção de unidade de saúde. Para implantarmos uma Unidade da Estratégia Saúde da Família, é tão importante analisarmos o perfil epidemiológico, como também as condições sociais , culturais, ambientais, etc o que torna o planejamento mais efetivo e eficiente. E quando o financiamento da construção está determinado por uma emenda parlamentar(socializado em seu reduto), não atendendo aos princípios estudados? Esses e outros conflitos vividos diariamente me faz recordar parte de um texto lido há alguns anos, de Eugênio Vilaça Mendes, quando descreve o “SUS como um processo social em construção, e como tal de longa duração... há de se analisar o SUS com maior objetividade, entendendo-o como processo em construção permanente que visa, a médio e longo prazos a uma mudança do paradigma de atenção à saúde e a uma busca de um sistema de saúde eficaz, eficiente, de qualidade e eqüitativo.” 3