FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA DISCIPLINA – OS-005 CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE Professor Responsável: Prof. Fábio Luiz Mialhe RESENHA 1 Oliveira, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. Cap. 1. A sociedade humana(pg 7 a 14). São Paulo: Ática, 2010. Este capítulo trata da sociedade humana e a convivência do ser humano em grupo. O autor mostra que desde as suas origens, há cerca de 190 mil anos, o homo sapiens, só se estabeleceu por meio do grupo. Ao longo do tempo, os seres humanos foram desenvolvendo as características que diferem de outros seres vivos, como a capacidade de se comunicar com seus semelhantes transmitindo sentimentos, idéias, interesses, emoções. A linguagem, forma de comunicação criada pelos nossos ancestrais mais remotos, continua em vigor. Exemplifica a necessidade da convivência em grupo para o desenvolvimento do ser humano trazendo experiências de crianças abandonadas, isoladas totalmente do convívio social. Cita a história de um garoto de aproximadamente 12 anos, encontrado na floresta de Laucane, em 1797. Cita o caso de Vitor de Aveyron, de aproximadamente 12 anos, encontrado na floresta de Lacaune em 1797 e de Kamala e Amala, descobertas em 1921, que viviam entre viviam entre lobos numa caverna na Índia. As duas experiências mostram que o ser humano só adquire suas características pela convivência com outros seres humanos, por meio das relações sociais sem as quais não existiria a humanidade. Vitor de Aveyron foi educado pelo psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard que registrou sua experiência no livro “A educação de um homem selvagem”, publicado em 1801. Formulou a hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata e tem sua origem na falta de socialização do indivíduo e na ausência de comunicação, principalmente a verbal, concluindo que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo. A sociedade como objeto de estudo Os seres humanos e suas relações sociais são objeto de estudo das ciências sociais. Abrange diversas áreas de conhecimento, não havendo uma rígida divisão entre elas, porém cada uma delas está voltada para um aspecto da realidade social e atuam juntas para explicar a complexidade da vida em sociedade. Didaticamente, as disciplinas dividem-se em: Sociologia, Economia, Antropologia, Ciência Política, Ciências do Comportamento etc. O Método em Sociologia Diversas categorias de análise são utilizadas como método científico, como as de grupo social, classe, estratificação social, instituição, etc, além dos instrumentos de análise como estudo de caso, análise comparativa, análise quantitativa e qualitativa. 1 FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA A sociedade como problema Segundo o sociólogo Carlos B. Martins, a Sociologia pode ser compreendida como uma “manifestação do pensamento moderno”. Assim, ela nasceu tardiamente e as reflexões sistematizadas da sociedade surgiu com a Revolução Industrial, na Inglaterra, por volta de 1750. Surgiram os novos grupos sociais – a burguesia e o proletariado – e um novo tipo de estrutura social: a sociedade capitalista. A Revolução Francesa (1789) monstra os conflitos sociais e a divisão da sociedade em grupos sociais antagônicos – a nobreza, a burguesia e os camponeses.A sociedade mudou radicalmente por conta das relações conflituosas e tensas desses grupos. A Revolução Industrial, com a criação da nova classe trabalhadora, o operariado, provocou mudanças importantes como o crescimento das cidades, concentração de trabalhadores em bairros e a degradação das condições de vida. Não havia saneamento básico, as habitações eram insalubres, bem descrito por Carlos Martins, que observa as consequências da industrialização e urbanização, aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, infanticídio, criminalidade, surtos de epidemias etc. A inexistência de regras para disciplinar o trabalho operário resultou em jornadas de quatorze a dezesseis horas, sem descanso, férias remuneradas ou aposentadorias, trabalho infantil, péssimas condições de trabalho. Este ambiente propiciou a formação dos primeiros sindicatos na Inglaterra e em outros países europeus, assim como surgiram pensadores para analisar os novos fenômenos sociais. Somente no século XIX a investigação desses fenômenos sociais foi caracterizada cientificamente, destacando Émile Durkeim, Max Weber e Karl Marx. REFLEXÃO O texto conduz para o entendimento acerca do ser social, mostrando que é impossível tornarmos humanos sem a convivência em grupo, “sem o denso tecido das relações sociais”, segundo o autor. Assim, é impossível entender o processo saúde-doença apenas pelo conhecimento biológico. Devemos inserir a dimensão social, cultural, psicológica, econômicas, ambientais, políticas, podendo identificar uma interrelação quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades. A Reforma Sanitária pode ser vista como um movimento social da maior relevância e que provocou mudanças profundas no sistema de saúde brasileiro, consagrado pela Constituição de 1988, que criou o Sistema Único de Saúde. A própria Lei Orgânica de Saúde n.8080/90 explicita os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, complementada pela Lei n.8142/90, que trata do controle social, isto é da participação da comunidade. 2 FOP/UNICAMP – MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM SAÚDE COLETIVA Como trabalhadora da saúde e gestora, este texto me conduziu à necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a influência das ciências sociais no cotidiano do trabalho. Entender a complexidade das relações sociais, que “não são fixas nem imutáveis” e que essa dinâmica transforma a sociedade, estimulando e interferindo nelas, me leva à reflexão do modo como operamos a saúde no município de Ourinhos. Em que pese as dificuldades diárias, este conhecimento certamente irá auxiliar a condução deste fazer. Diariamente deparo com situações que remetem às formas de interação, sejam de competição entre os profissionais de saúde, de poder na interação profissional-usuário, de poder entre gestores. A relação profissional-usuário merece cuidado e necessita maior reflexão e estudos. A equipe que desconhece as singularidades do sofrer de cada um, mesmo em situações comuns a vários usuários, não deve reconhecer as Ciências Sociais como parte integrante e indissociável do fazer em saúde. Uma outra situação comumente vivida nas relações de interação, é a do poder político, que na maioria das vezes é conflituosa. Um exemplo é a destinação de recursos financeiros para a construção de unidade de saúde. Para implantarmos uma Unidade da Estratégia Saúde da Família, é tão importante analisarmos o perfil epidemiológico, como também as condições sociais , culturais, ambientais, etc o que torna o planejamento mais efetivo e eficiente. E quando o financiamento da construção está determinado por uma emenda parlamentar(socializado em seu reduto), não atendendo aos princípios estudados? Esses e outros conflitos vividos diariamente me faz recordar parte de um texto lido há alguns anos, de Eugênio Vilaça Mendes, quando descreve o “SUS como um processo social em construção, e como tal de longa duração... há de se analisar o SUS com maior objetividade, entendendo-o como processo em construção permanente que visa, a médio e longo prazos a uma mudança do paradigma de atenção à saúde e a uma busca de um sistema de saúde eficaz, eficiente, de qualidade e eqüitativo.” 3