Vanessa Regina Rocha PERFIL DAS USUÁRIAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE DIVINÓPOLIS-MG COM LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS E NEOPLÁSICAS DE COLO UTERINO DIVINÓPOLIS 2008 Vanessa Regina Rocha LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS E NEOPLÁSICAS DE COLO UTERINO EM USUÁRIAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DE DIVINÓPOLIS-MG NO DE 2006 Dissertação apresentada ao curso de Mestrado da FUNEDI-UEMG, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais. Área de concentração: Contemporâneos Estudos Orientador: Prof. Dr. Daniel Silva Gontijo Penha DIVINÓPOLIS 2008 Universidade do Estado de Minas Gerais Fundação Educacional de Divinópolis Programa de Pós Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais: Saúde Coletiva Dissertação intitulada “Lesões pré-neoplásicas e neoplásicas de colo uterino em usuárias do Sistema Único de Saúde de Divinópolis-MG no ano de 2006”, de autoria da mestranda Vanessa Regina Rocha, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: _____________________________________________________________ Prof. Dr. Daniel Silva Gontijo Penha - FUNEDI/UEMG - Orientador _____________________________________________________________ Prof. Dr. Alysson Rodrigo Fonseca - FUNEDI/UEMG _____________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Sérgio Carneiro Miranda – UFMG _____________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Simões Ribeiro Coordenador do Programa de Pós Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais: Saúde Coletiva Divinópolis, 30 de agosto de 2008. Avenida Paraná, 3001 – Bairro Jardim Belvedere – Divinópolis, MG – 35501-170 – Brasil – Tel: (37) 3229-3511 Universidade do Estado de Minas Gerais Fundação Educacional de Divinópolis Programa de Pós Graduação Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais: Saúde Coletiva Autorização para a reprodução e divulgação científica da dissertação Dissertação intitulada “Lesões pré-neoplásicas e neoplásicas de colo uterino em usuárias do Sistema Único de Saúde de Divinópolis-MG no ano de 2006”, de autoria da mestranda Vanessa Regina Rocha Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG. ___________________________ Vanessa Regina Rocha ____________________________ Divinópolis, 30 de agosto de 2008. DEDICO ESTE TRABALHO Aos meus Pais Angela e Vanilson pelo apoio e incentivo durante toda minha formação. Ao meu Marido Rogério, pelo companheirismo e dedicação excessiva sempre. AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus por mais esta conquista. Ao meu Orientador Daniel Silva meus sinceros agradecimentos não apenas pela orientação firme e segura demonstrada neste trabalho, mas também pelo incentivo, confiança e amizade. A direção e aos funcionários do Laboratório Municipal de Divinópolis pelo apoio e suporte oferecido durante a realização deste trabalho. A todos os funcionários do Laboratório de Citopatologia Municipal de Divinópolis, em especial ao Rodrigo, pela valiosa contribuição na construção deste estudo. A direção e aos funcionários da UNIFENAS pelo apoio, compreensão e incentivo na realização deste trabalho. Ao Professor Dr. Eduardo Sérgio da Silva pelo apoio na orientação inicial deste estudo. A direção e aos funcionários da Iniciação Científica e Pesquisa da FUNEDI UEMG pelo suporte e investimento, ao longo dos anos, quanto as minhas conquistas no âmbito profissional. Aos funcionários da Secretaria de Pós-graduação da FUNEDI UEMG pelo suporte oferecido durante o mestrado. A todos os Professores do Mestrado, que de uma maneira bem simples e segura me ajudaram a caminhar em passos firmes e fortes. A todos que de uma maneira direta ou indireta contribuíram para a construção deste trabalho, recebam meu afeto e minha gratidão. ABSTRACT ROCHA,Vanessa Regina. . Profile of using the single sitema of health-Divinópolis mg with neoplastic lesions and tumors of the uterine cervix. Director Professor Daniel Silva Gontijo Penha. Divinópolis: University of Minas Gerais – Educational Foundation of Divinópolis. Master Degree in Education, Culture and Social Organizations. The uterine colon cancer forms the neoplasia more frequently in women’s genital system in developing countries. It is the second incidence of neoplasia in Brazil. The objective of this research is to rate the incidence of pre-neoplasica and neoplasica lesions of the uterine colon in the usurers of the Public Health Service of Divinópolis in 2006; sorting the lesions preneoplastic and neoplastic according to age group, aims to further characterize the lesion cytological analysis of users by linking the preventive examination and comparing the views held in the cervix and knowing these patients the developments of the lesions diagnosed in the year ahead (2007). Studies were led to observe the transversal type followed by the analyses of secondary facts taken from the requisition of cytopathological examination – uterine colon, inserted in the “Viva Mulher” Program – National Program of Uterine Colon Cancer Control, in 2006. Eighty (80) out of 16.400 patients with pre-neoplasica and neoplasica lesions were chosen to be analyzed. After they were observed, it was concluded that the distribution of preneoplasica and neoplasica lesions were just like the literature showed. Women from 20 to 50 years old suffered from this kind of cancer. The biggest lesion incidence was found in the scaly epithelium. It is essential to know that the best way to prevent this cancer is the diagnosis and the early treatment. By doing this, women can stop cancer from spreading. Key-words: Neoplastic lesions and tumors of the uterine cervix, cancer uterine colon. RESUMO ROCHA, Vanessa Regina. Perfil das usuárias do sitema único de saúde de divinópolis-mg com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas de colo uterino. Orientador Prof. Dr. Daniel Silva Gontijo Penha. Divinópolis: Universidade do Estado de Minas Gerais – Fundação Educacional de Divinópolis. Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais. O câncer de colo uterino constitui a neoplasia mais freqüente do aparelho genital feminino nos países em desenvolvimento. No Brasil é a segunda neoplasia incidente na mulher. Este estudo tem como objetivo avaliar a incidência de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas do colo uterino em usuárias do serviço de saúde pública de Divinópolis no ano de 2006. Classificando as lesões pré-neoplásicas e neoplásicas de acordo com a faixa etária, visa ainda à caracterização citológica da lesão das usuárias analisadas, relacionando o exame preventivo e comparando as visualizações realizadas no colo uterino e conhecendo dessas pacientes a evoluções das lesões diagnosticadas no ano seguinte (2007). Como metodologia adotado realizou-se um estudo observacional do tipo transversal com análise de dados secundários obtidos através da requisição de exame citopatológico – colo do útero, inseridos no Programa Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero, no ano de 2006. De um universo de 16.400 pacientes, foram selecionadas 80 pacientes que apresentaram lesão pré-neoplásicas e neoplásicas. Nas pacientes estudadas observou-se que a distribuição etária das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas foram condizentes a literatura destacando as idades de 20 a 50 anos. A conscientização feminina de que a prevenção, bem como o diagnóstico e o tratamento das lesões em uma fase que chamamos de pré-neoplásicas, além de ter fundamental importância, é a única possibilidade de evitar a evolução para o câncer. Palavras – chave: Lesões pré-neoplásicas e neoplásicas, câncer colo uterino. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Quadro esquemático mostrando a gradação das modificações celulares no epitélio escamoso de normal a câncer ............................................................. 22 Figura 2 - Modificações do colo uterino em NIC I de acordo com as imagens macroscópica, histopatológica e citopatológica .............................................. 36 Figura 3 - Modificações do colo uterino em NIC II e NIC III de acordo com as imagens macroscópica, histopatológica e citopatológica................................................37 Figura 4 - Modificações do colo uterino em Lesão intra-epitelias de alto grau, não podendo excluir micro invasão de acordo com as imagens macroscópica, histopatológica e citopatológica ...................................................................... 38 Figura 5 - Fluxograma da conduta ante atipias de significado indeterminado em células escamosas, efeito citopático compatível com HPV e lesão intra-epitelial de baixo grau ou NIC I ......................................................................................... 44 Figura 6 - Distribuição etária das pacientes avaliadas com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas em Divinópolis-MG no ano de 2006............................................... 53 Figura 7 - Resultados das pacientes com lesões pré neoplásicas e neoplásicas em 2006 de acordo com as evoluções das lesões em 2007 .................................................... 65 LISTA DE TABELAS 1 - Comparação entre as médias de idade (anos) das pacientes avaliadas associado aos tipos de lesão, diagnósticos e presença de prevenção obtidos ........................................................ 56 2 - Relação entre os resultados dos diagnósticos das pacientes e os tipos de lesão detectados (pré-neoplásicas e neoplásicas) ......................................................................................... 60 3 - Relação entre os resultados para a inspeção do colo uterino e os tipos de lesão detectados (pré-neoplásicas e neoplásicas) .......................................................................................... 62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACO ASCUS AGUS ASI CAF-LEEP DNA DST EUA EX. HPV IBGE INCA JEC L1 L2 MS N/C NIC NIC I Grau NIC II e III Grau Mm OMS PAISM PNCC PRÓ-ONCO SUS SEPLAN SEMUSA - Anticoncepcional Oral - Células Atípicas de Significado Indeterminado de Origem Escamosa - Células Atípicas de Significado Indeterminado de Origem Glandular - Atipias de Significado Indeterminado - Cirurgia de Alta Freqüência - Ácido Desoxirribonucleico - Doença Sexualmente Transmissível - Estados Unidos da América - Exemplo - Papilomavírus Humano - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Instituto Nacional do Câncer - Junção Escamo Colunar - Proteínas Recombinantes Principal do Capsídeo Viral - Proteínas Recombinantes Secundária do Capsídeo Viral - Ministério da Saúde - Relação Núcleo/Citoplasma - Neoplasia Intra-epitelial Cervical - Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau I – Lesão Intra-epitelial de Baixo - Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau II e III – Lesão Intra-epitelial de Alto - Milímetro - Organização Mundial de Saúde - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher - Programa Nacional de Combate ao Câncer - Programa de Oncologia - Sistema Único de Saúde - Secretaria de Estado - Secretaria Municipal de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................14 2 OBJETIVOS ............................................................................................................17 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................17 2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................17 3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................18 3.1 Lesões pré-neoplásicas e neoplásicas .........................................................................18 3.2 Carcinogenese..............................................................................................................19 3.3 HPV e câncer do colo uterino......................................................................................20 3.3.1 Incidência e determinantes ..........................................................................................23 3.4 Diagnóstico de Papanicolaou ......................................................................................28 3.4.1 Critérios de malignidade celular .................................................................................30 3.4.1.1 Critérios do núcleo celular ..........................................................................................31 3.4.1.2 Critérios do citoplasma celular ...................................................................................32 3.4.2 Atipias indeterminadas ...............................................................................................33 3.4.2.1 ASCUS - células atípicas de significado indeterminado de origem escamosa ...........34 3.4.2.2 AGUS - células atípicas de significado indeterminado de origem glandular .............34 3.4.3 Lesões em epitélio escamoso ......................................................................................35 3.4.3.1 NIC I – lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra epitelial cevical grau I) ....................................................................35 3.4.3.2 NIC II E III – lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo neoplasia intra epitelial cevical grau II e III) ..............................................................................................36 3.4.3.3 Lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro invasão ......................38 3.4.3.4 Carcinoma invasor ......................................................................................................39 3.4.4 Lesões em epitélio glandular ......................................................................................39 3.4.4.1 Adenocarcinoma in situ ..............................................................................................39 3.4.4.2 Adenocarcinoma invasor ............................................................................................40 3.5 Tratamento das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas .................................................40 3.6 Saúde da mulher no SUS ............................................................................................45 4 METODOLOGIA .....................................................................................................49 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................52 5.1 Distribuição etária das pacientes avaliadas no estudo ................................................52 5.2 Comparação entre as médias de idade (anos) da s pacientes avaliadas associado ao tipo de lesão, diagnóstico e presença de prevenção ....................................................56 5.3 Relação entre os resultados dos diagnósticos das pacientes e os tipos de lesão detectados no estudo ...................................................................................................60 5.4 Relação entre inspeção do colo uterino e os tipos de lesão ........................................62 5.5 Acompanhamento das pacientes com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas no ano seguinte ao conhecimento do laudo citopatológico.....................................................65 6 CONCLUSÃO ...........................................................................................................70 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................72 14 1 INTRODUÇÃO As neoplasias de colo uterino há décadas vêm sendo alvo de atenção da comunidade científica por ocupar lugar de destaque nas elevadas taxas de morbidade e mortalidade entre a população feminina, especialmente nos países em desenvolvimento, nos quais esse tipo de câncer relaciona-se ao perfil epidemiológico das mulheres, à freqüência dos fatores de risco e, sobretudo, ao grau de implementação de ações efetivas de curto e longo prazo em todos os níveis de atenção (FERNADES e NARCHI, 2007). O câncer cérvico-uterino é a doença crônico-degenerativa mais temida, em virtude do seu alto grau de letalidade e morbidade, apresentando possibilidade de cura se for diagnosticada precocemente. Ainda é um problema de saúde pública em países em desenvolvimento, pois alcança altas taxas de prevalência e mortalidade em mulheres de estratos sociais e econômicos mais baixos e que se encontram em plena fase produtiva. A evolução do câncer de colo uterino, na maioria dos casos, acontece de forma lenta, passando por fases pré-clínicas detectáveis e curáveis. Dentre todos os tipos de câncer, é o que apresenta um dos mais altos potenciais de cura pela prevenção. A incidência desse tipo de câncer ocorre na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta à medida que se atinge a faixa etária de 45 a 49 anos. O câncer cérvico-uterino figura como a terceira neoplasia maligna mais comum, sendo superado apenas pelo câncer de pele (não-melanoma) e pelo câncer de mama (DUAVY, 2007). É também uma das doenças que melhor documenta os bons resultados de um diagnóstico precoce, apresentando, com terapêutica adequada, grandes possibilidades de cura, quando detectada em seus estágios iniciais. Atualmente, com recursos propedêuticos mais modernos, rápidos e de baixo custo, como a citopatologia e a colposcopia, a tendência é, cada 15 vez mais, se detectar esta patologia em estágios passíveis de cura, levando à diminuição da mortalidade (PIOLI; OLIVEIRA e REZENDE, 1993). Durante vários anos células da superfície do colo do útero se tornam anormais. No início, estas anormalidades ainda não se caracterizam como um câncer e são denominadas displasias. Porém algumas dessas alterações ou displasias podem dar início a uma série de alterações que podem levar ao aparecimento do câncer, mas esta é uma doença curável quando descoberta no início (RAMOS, 2007). As displasias são alterações nas células adultas, caracterizadas pela variação em sua morfologia, organização e função. Denominam-se, também metaplasia atípica, alterações em seu citoplasma e núcleo, na forma e nos caracteres tintoriais. Essas alterações podem ser reversíveis, e com freqüência, dirige-se para formas anaplásicas (alterações regressiva da célula adulta para tecidos primitivos embrionários) ou neoplásicas (CARVALHO, 2002). Atualmente, estudos epidemiológicos têm relacionado o desenvolvimento do câncer de colo uterino ao comportamento sexual das mulheres e a transmissão de agentes infecciosos como o papilomavírus humano (HPV), considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o principal fator de risco para a doença. Outros fatores como tabagismo, multiplicidade de parceiros, início precoce da atividade sexual, más condições de higiene e alimentação e o uso de contraceptivos orais, também têm sido associados ao surgimento da doença, cuja incidência predomina em mulheres pertencentes à faixa etária de 25 a 59 anos, em associação aos fatores de risco citados (FERNADES e NARCHI, 2007). Segundo BIBBO e FILHO (1998), o HPV é considerado dentre os fatores de risco o mais importante devido ser responsável por mais de 90% dos casos de câncer de colo uterino. No Brasil, principalmente em cidades pequenas, a detecção do câncer de colo em estágios iniciais ainda não é muito satisfatória (PIOLI; OLIVEIRA e REZENDE, 1993). O objetivo deste trabalho é avaliar a incidência de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas 16 do colo uterino em usuárias do serviço de saúde pública de Divinópolis considerando como base o ano de 2006. A conscientização feminina de que a prevenção, bem como o diagnóstico e o tratamento das lesões em uma fase que chamamos de pré-câncer, além de ter fundamental importância, é a única possibilidade de evitar a evolução para o câncer. O exame ginecológico com a coleta de material para avaliação citológica já é bem conhecido, mas nem sempre realizado com a regularidade necessária. Muitas mulheres, ainda hoje, passam longos períodos sem consultar o ginecologista. 17 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar a incidência de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas do colo uterino em usuárias do serviço de saúde pública de Divinópolis-MG no ano de 2006. 2.2 Objetivos Específicos Classificar as lesões de acordo com a faixa etária e caracterização citológica da lesão das usuárias analisadas. Relacionar o exame preventivo de Papanicolaou a evolução das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas. Comparar as visualizações realizadas no colo uterino com os resultados encontrados nas lâminas de Papanicolaou. Quantificar a evoluções das lesões diagnosticadas no ano seguinte (2007). 18 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Lesões pré-neoplásicas e neoplásicas Todo câncer é formado por células que, ao sofrerem modificações no seu material genético, passam a apresentar crescimento e multiplicação desordenada. Estas células deixam de responder aos mecanismos de controle do organismo para criar as neoplasias malignas (FERRARI e HERZBERG, 2003). Os cânceres são denominados sinônimos de neoplasia, onde literalmente caracterizamse por um crescimento novo causado por uma inflamação. Algumas características anatômicas podem sugerir inofensividade, enquanto outras apontam para um potencial canceroso. Estes podem ser diferenciados como benignos ou malignos de acordo como os critérios de: (1) diferenciação e anaplasia; referem-se ao grau de semelhança entre as células neoplásicas e as células normais comparáveis tanto morfológica quanto funcionalmente; (2) taxa de crescimento; está correlacionada com seu nível de diferenciação, e, portanto, a maioria das neoplasias malignas cresce mais rapidamente do que as lesões benignas; (3) invasão local; a maioria tumores benignos crescem como massas coesivas em expansão, permanecendo situadas em seu local de origem, enquanto o câncer é acompanhado de infiltração progressiva, invasão e destruição do tecido vizinho; e (4) metástase; que inequivocamente marcam um tumor como maligno porque os benignos não metastatizam, pois as metástases são denominadas como implantes tumorais descontínuos em relação ao tumor primário (CONTRAN, KUMAR e ROBBINS, 1996). Existe hoje mais de duzentas doenças agrupadas sob o nome de câncer. Todas resultando do crescimento autônomo e desordenado de uma pequena parte do organismo. 19 Entretanto, na prática médica, cada uma delas é abordada de forma diferenciada e tratada de acordo com seu órgão de origem e extensão no organismo (FERRARI e HERZBERG, 2003). O câncer é a terceira causa de morte no Brasil, sendo precedido pelas mortes causadas por acidentes (traumas) e doenças cardiovasculares. As neoplasias malignas mais importantes na população brasileira são os de pulmão, estômago, mama, colo uterino, intestino, próstata, esôfago e pele (SANTOS 2007). No colo uterino humano os epitélios sujeitos a ações dos agentes carcinógenos são: epitélio escamoso e o epitélio glandular (FILHO, 1991). 3.2 Carcinogenese O termo carcinogênese se refere ao processo de formação do câncer. Esse processo em geral se dá lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor visível. Geralmente o processo passa por vários estágios antes de chegar ao tumor. São eles: Estágio de iniciação: Representa o primeiro estágio da carcinogênese. Nele as células sofrem o efeito dos agentes cancerígenos ou carcinógenos que provocam modificações em alguns de seus genes. Nesta fase as células se encontram, geneticamente alteradas, porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente. Encontram-se "preparadas", ou seja, "iniciadas" para a ação de um segundo grupo de agentes que atuará no próximo estágio (INCA, 2008). Estágio de promoção: Constitui o segundo estágio da carcinogênese. Nele, as células geneticamente alteradas, ou seja, "iniciadas", sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com 20 o agente cancerígeno promotor. A suspensão do contato com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse estágio. Alguns componentes da alimentação e a exposição excessiva e prolongada a hormônios são exemplos de fatores que promovem a transformação de células iniciadas em malignas (INCA, 2008). Estágio do Tumor: Simboliza o terceiro e último estágio e se caracteriza pela multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença. Os fatores que promovem a iniciação ou progressão da carcinogênese são chamados agentes oncoaceleradores ou carcinógenos. O fumo é um exemplo de agente carcinógeno completo, pois possui componentes que atuam nos três estágios da carcinogênese (INCA, 2008). 3.3 HPV e o câncer do colo uterino O câncer do colo de útero pode ocorrer em qualquer idade da vida de uma mulher, mesmo na adolescência, embora isso seja incomum. Cerca de metade de todas as mulheres diagnosticadas com câncer do colo de útero tem entre 35 e 55 anos de idade. Muitas dessas mulheres foram provavelmente expostas ao HPV na adolescência ou na faixa dos 20 anos de idade (SASSE, 2007). Algumas displasias se curam espontaneamente, sem tratamento, mas sendo algumas pré-cancerosas, todas necessitam de atenção para evitar o aparecimento do câncer. Geralmente o tecido displásico pode ser retirado ou destruído sem atingir tecidos saudáveis, mas em alguns casos, a histerectomia (retirada total do útero) pode ser necessária (SASSE, 2007). Quando as células de uma determinada parte do corpo se multiplicam de forma 21 desordenada, existe a possibilidade de desenvolvimento do câncer. O câncer do colo de útero é o crescimento anormal de células do colo do útero, na parte inferior do útero. Quando uma mulher se infecta com certos tipos de (HPV e não é capaz de eliminar a infecção, células anormais podem se desenvolver no revestimento do colo do útero e se não forem descobertas e tratadas a tempo, essas células anormais poderão tornar pré-cancerosas e posteriormente se tornarem células cancerosas. Este processo geralmente leva vários anos. O exame de Papanicolaou pode ajudar a detectar mudanças celulares suspeitas no colo do útero antes que elas se tornem cancerosas (DOHME, 2006). Nas fases iniciais do câncer de colo de útero não há sintomas característicos, sendo apenas o exame de Papanicolaou capaz de indicar a presença da doença. Já em estágios mais avançados, a mulher pode apresentar: sangramento vaginal ou pequenos sangramentos entre as menstruações; menstruações mais longas e volumosas que o normal; sangramento vaginal após a menopausa; sangramento vaginal após relações sexuais; dor durante relações sexuais; secreção vaginal espessa, que pode apresentar qualquer cheiro; secreção vaginal aquosa e dor pélvica. Além disso, o câncer de colo de útero mais avançado pode resultar em: anemia, perda de apetite e peso, dor no abdome, saída de urina e fezes pela vagina. (NETTER, 2000). O câncer de colo uterino é, geralmente, de evolução lenta e precedido por lesões intraepiteliais malphigianas, displasias ou neoplasia intra-epitelial cervical (NIC). Essas lesões pré-cancerosas do colo são caracterizadas, histologicamente, por uma desorganização da arquitetura do epitélio malphigiano, pôr atipias nucleares e pôr figuras de mitoses anormais. Os graus I, II, III do NIC se referem á altura do epitélio implicado nas anomalias (FIG. 1). Distinguem-se as lesões bem diferenciadas ou NIC I (lesões intra-epiteliais malphigianas de baixo grau no sistema de Bethesda), e os NIC II e NIC III (lesões intra-epiteliais malphigianas de alto grau no sistema de Bethesda) (GOMPEL E KOSS, 1997). Essas classificações também podem ser relacionadas a displasias, onde NIC I sugere 22 displasia leve, NIC II displasia moderada e NIC III incluiriam as displasia grave e carcinoma in situ. (GOMPEL E KOSS, 1997). FIGURA 1 - Quadro esquemático mostrando a gradação das modificações celulares no epitélio escamoso de normal a câncer Fonte: http: www.msd-brazil.com/.../hpv-glossario.html Uma NIC pode persistir durante longos anos antes de se tornar invasiva. O risco de progressão é ligado ao comprometimento histológico. As NIC de alto grau, que incluem as NIC II ou III progridem em cerca de 30% dos casos. O tratamento é feito em função do tamanho e da localização da lesão. A evolução das NIC de baixo grau, que incluem o condiloma e NIC I, continua imprevisível em aspecto morfológico. Essas lesões regridem amiúde e apenas progridem 10 a 15% dos casos. As NIC são associadas à HPV considerados como potencialmente oncogênicos, pois podem ser detectados nos cânceres invasivos do colo (GOMPEL e KOSS, 1997). Se células pré-cancerosas se transformam em neoplasias malignas e se espalham mais profundamente no colo uterino ou outros órgãos e tecidos, a doença é chamada de câncer de colo uterino ou cervical (SASSE, 2007). O câncer cervical está dividido em dois tipos principais, baseados no tipo de célula do qual o câncer se originou, podendo ser um carcinoma de células escamosas, que representa de 85% a 90% de todos os casos e adenocarcinomas que representa cerca de 10% (SASSE, 2007). 23 3.3.1 Incidência e determinantes O câncer do colo uterino é uma doença sexualmente transmissível, pois é mais comum em mulheres de vida sexual ativa, tem alta incidência entre prostitutas, tem risco relacionado ao número de parceiros sexuais e à história desses parceiros e quase não ocorre em mulheres que nunca tiveram vida sexual. Hoje, as pesquisas mostram a presença de HPV em mais de 90% das lesões displásicas e até mesmo no carcinoma invasor. Em 1996 a Organização Mundial de Saúde dos EUA, reconheceram o HPV como o principal agente etiológico do câncer do colo uterino. É claro que o vírus não age sozinho, existindo outros co-fatores associados (BIBBO e FILHO, 1998). A principal via de transmissão do HPV é através do contato sexual. A transmissão pode ocorrer após uma única relação sexual com um parceiro infectado (NICOLAU, 2002). O HPV penetra inicialmente nas células do estrato basal do epitélio escamoso expostas a microtraumas seguidos; destruindo o invólucro protéico viral e o genoma viral atinge o núcleo da célula, onde se estabelece de forma epissomal. É provável que o HPV possa ser transmitido por fômites, ou seja, por contato indireto através de objetos inanimados, como toalhas, roupas íntimas, assim como ocorre com as verrugas cutâneas e também através de instrumento ginecológico. É importante ressaltar ao fim do tratamento da infecção pelo HPV. A favor desta via de transmissão está uma série de observações, como em entrevistas com casais absolutamente fiéis, a presença de infecção pelo HPV em mulheres idosas, viúvas, virgens ou crianças que não foram submetidas a abuso sexual (De PALO, 1996). Embora não se saiba quanto tempo o vírus viva fora do organismo, considera-se que este tempo seja pequeno e portanto, uma transmissão por fômites pode ser possível apenas em um período de tempo muito restrito (De PALO, 1996). Outra via inequívoca de transmissão é durante o parto. Isto é demonstrado pelo fato de 24 que o HPV pode ser transmitido no nascimento através de secreções vaginais infectadas nas mucosas orofaríngeas, laríngea e genital do neonato (De PALO, 1996). Em análise de pêlos retirados da região pubiana e perianal de pacientes com história recente de infecção genital por HPV ou com verrugas genitais, observou-se à presença do DNA dos tipos virais 6 e 11 em 36% dos casos da região pubiana e 50% da região perianal. Dentre os primeiros, detectaram-se os tipos pesquisados em dois casos tratados com sucesso e sem evidência clínica de infecção, o que pode sugerir que o vírus permanece na região mesmo após o tratamento (NICOLAU, 2002). A infecção genital por Papilomavírus Humano é cada vez mais prevalente. O papel do parceiro masculino na cadeia de transmissão do agente etiológico ainda se encontra em estudo. O método de escolha para rastreamento na mulher é a citologia cervicovaginal. No caso do homem, esse método mostrou-se pouco eficiente e o diagnóstico era baseado até recentemente nos achados da peniscopia associados aos dados da histopatologia (NICOLAU, 2002). A prevalência da infecção pelo HPV na população masculina é significativa, entretanto, a maior parte dos homens infectados não apresenta sintomas clínicos. Quando presentes, as lesões provocadas pelo HPV podem apresentar diferentes aspectos e localizamse principalmente no pênis (NICOLAU, 2002). Vários são os fatores de risco identificados para o câncer do colo do útero, sendo que alguns dos principais estão associados as baixas condições sócio-econômicas, ao início precoce da atividade sexual, a multiplicidade de parceiros sexuais, o tabagismo, a higiene íntima inadequada e ao uso prolongado de contraceptivos orais. Estudos recentes mostram ainda que o vírus do papiloma humano (HPV) tem papel importante no desenvolvimento da neoplasia das células cervicais e na sua transformação em células cancerosas (INCA/ Próonco, 1996). 25 A longa duração entre a infecção inicial e a doença manifestada indica que vários cofatores, por exemplo, as diferenças genéticas, efeitos hormonais, tabagismo ou inflamação crônica, pode ser necessário para a progressão da doença. A regressão espontânea da NIC também pode indicar que muitas mulheres estão expostas a esses co-fatores (VERONESI e FOCACCIA, 2002). Na adolescência a atividade biológica cervical está em nível máximo. Nesta fase, a replicação celular e substâncias presentes no meio cervical facilitam a infecção por papilomavírus humano (HPV). Após a adolescência, a freqüência da infecção pelo HPV nas mulheres diminui com a idade. Independentemente da faixa etária, fatores relacionados à maior freqüência de infecção pelo HPV, como a gravidez, hábito de fumar, método anticoncepcional e infecções genitais, têm sido estudados. Alguns autores demonstraram maior incidência de infecção por HPV em gestantes, sugerindo ser a gestação um fator de risco independente para infecção por HPV. No entanto, outros autores descrevem incidência igual ou menor em mulheres gestantes em relação às não-gestantes. (VERONESI e FOCACCIA, 2002). Em relação aos métodos contraceptivos, o uso de anticoncepcional oral (ACO) parece ser um fator de risco isolado para aumentar a incidência de infecção por HPV. Este aumento é explicado por alterações hormonais que levariam a imunomodulação com maior susceptibilidade à infecção pelo HPV. No entanto, alguns autores não encontraram esta relação. Existem substâncias, como o fumo, que dependendo das doses e do tempo de exposição, funcionam como agentes carcinogênicos completos, ou seja, atuam nas três fases descritas acima. Os fatores ambientais (fumo, álcool, dieta inadequada e exposição excessiva a luz solar, dentre outros) são responsáveis por cerca de 90% dos cânceres. A hereditariedade responde pelos restantes 15%. Para pessoas de alto risco já existem testes genéticos para câncer de mama, de colorretal e de tireóide que detectam tendência dos mesmos de se mani- 26 festarem (SANTOS, 2007). Como medidas de controle para a prevenção do vírus, é necessário os cuidados essenciais com a higienização e orientações sexuais. O método essencial de prevenção é a educação à saúde, onde possibilitaria a portadora de HPV a sua não disseminação no meio ambiente. A educação sexual com o uso de preservativos também auxiliaria para a escassez do vírus (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). Os cuidados durante o tratamento também favorecem a prevenção, como a abstinência sexual, o tratamento do parceiro e o isolamento da paciente em hospitais. Em casos de gravidez, o essencial seria a realização de cesárea e o tratamento apenas de lesões condilomatosas (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). A educação sexual, com amplo acesso aos meios para prevenção e tratamento, é o principal meio de prevenção primária. Na maioria das vezes os homens não manifestam a doença, mas ainda assim, podem ser transmissores do vírus. Quanto às mulheres, é importante que elas façam o exame de prevenção do câncer do colo, conhecido como "Papanicolaou" ou preventivo, regularmente (BRASIL, 2008). Entre as recomendações, é fundamental que se invista em educação, especialmente dos adolescentes, estimulando o uso do preservativo para prevenção da transmissão do vírus; além disso, as pesquisas devem continuar na busca de métodos diagnósticos mais sensíveis e de menor custo para dar cobertura a toda população feminina suscetível e de risco. Isso propiciará possibilidade de tratamento restrito às doenças precursoras do câncer cervical e intervenção mais precoce nos casos de doença invasora (NICOLAU, 2007). Como prevenção efetiva ao HPV, foi elaborada vacinas profiláticas já disponíveis no mercado, indicadas para mulheres ativas sexualmente (ainda não infectadas pelo vírus HPV) ou para mulheres inativas sexualmente a partir dos nove anos de idade. Elas são específicas contra os vírus de maior potencial oncogênico. Vacinas terapêuticas estão em fase de 27 desenvolvimento. É importante ressaltar que, mesmo tendo sido vacinada, a mulher deverá continuar realizando os seus exames de Papanicolaou regularmente (SILVA, 2008). As vacinas para prevenir a infecção pelo HPV, vêm surgindo à possibilidade de atuação profilática e terapêutica, usando-se proteínas recombinantes do capsídeo viral (L1 e L2), com chances até de regressão tumoral. Não têm eficiência para quem já tem o HPV, mas devem ser usadas por quem não tem e não quer se infectar com o vírus. Há uma centena de tipos de HPV, mas a maioria das infecções é causada por apenas quatro deles. As vacinas fabricada pelo laboratório Merck Sharp & Dhome, quadrivalente contra o HPV, protege contra quatro tipos do vírus, ou seja, 6, 11, 16 e 18, que são responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo de útero e por 90% das verrugas genitais, sendo indicada em mulheres entre 9 e 26 anos de idade (RAMOS, 2007). As vacinas vêm se mostrando mais efetivas quando administradas antes do início da atividade sexual. Assim as campanhas de vacinação deverão ter como alvo os adolescentes e os pré-adolescentes. Espera-se, com o uso disseminado da vacina, que 70% dos cânceres cervicais sejam evitados, bem como a mesma proporção das outras doenças anogenitais associadas à infecção pelo HPV. Devido a pouca idade do público-alvo para a vacinação, os médicos e os pais deverão auxiliar na tomada de decisão. De qualquer forma, a vacina contra o HPV é uma das esperanças para o futuro e a proposta do programa de vacinação, quando a mesma estiver disponível, deverá ser clara, concisa e com mensagem educativa tanto para o público leigo como para os profissionais de saúde (NADAL e MANZIONE, 2007). 3.4 Diagnóstico de Papanicolaou Desde que o Dr. George Papanicolaou tentou classificar as células que observava, acreditando serem a representação de lesões neoplásicas, ocorreram diversas modificações 28 que incorporaram progressivamente o conhecimento adquirido sobre a história natural dessas lesões, sempre na tentativa de melhorar a correlação cito-histológica. Deve-se notar que o objetivo do teste continua o mesmo, ou seja, a intenção é identificar alterações sugestivas de uma doença e, como conseqüência, também indicar ações que permitam o diagnóstico de certeza (INCA/MS, 2006). Desde 1998, época de implantação no Brasil do Programa Nacional de Combate ao Câncer - PNCC, todos os laboratórios de citopatologia vem adotando nova terminologia para os laudos citopatológicos, diferentemente daquela proposta na classificação de Papanicolaou, em classe de I a V, considerada obseta por não complementarem aspectos da atualidade tecnológica e por não fornecer conceitos estruturais e morfológicos indispensáveis para condutas terapêuticas adequadas. Atualmente, a Nomenclatura Brasileira para os Laudos Citopatológicos, determinada pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Citopatologia em 2002, vem sendo pouco a pouco implantada e utilizada nas redes públicas e privadas de saúde. Ela é similar ao Sistema de Bethesda de 2001, utilizado pelo Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, e possibilita descrição da citologia no que se refere ao diagnósticos não ambíguos, contemplando aspectos relacionados ao tipo da amostra, à sua avaliação e à sua adequabilidade, ao diagnóstico celular descritivo e à microbiologia (FERNANDES e NARCHI, 2007). A Nomenclatura Brasileira de laudos citopatológicos sistematiza cinco pontos essenciais para a realização correta do esfregaço, segundo INCA (2006): a) Tipo de amostra: podem ser realizadas as amostras através de meio convencional ou meio líquido; b) Avaliação pré-analítica: observa-se a qualidade do esfregaço (amostra rejeitada por ausência ou erro de identificação da lâmina e/ou do frasco, identificação da lâmina e/ou do frasco não-coincidente com a do formulário, lâmina danificada ou ausente, causas alheias ao 29 laboratório, outras causas); Adequabilidade da amostra (Satisfatória ou insatisfatória para avaliação oncótica devido: material acelular ou hipocelular (menor que 10% do esfregaço), leitura prejudicada (maior que 75% do esfregaço) por presença de: sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, intensa superposição celular, outros; Epitélios representados na amostra: escamoso, glandular e metaplásico); c) Diagnóstico descritivo: aparecimento de células que indiquem anormalidades no esfregaço (limites normais; Alterações celulares benignas como: inflamação, reparação, metaplasia escamosa imatura, atrofia com inflamação, radiação, outras). d) Atipias Celulares (aparecimento de lesões pré-neoplásicas e neopláiscas): células atípicas de significado indeterminado escamosas e glandulares; Em células escamosas: Lesão intra-epitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intraepitelial cervical grau I); lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo neoplasias intraepiteliais cervicais graus II e III); lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão; carcinoma epidermóide invasor e em células glandulares como: Adenocarcinoma in situ; adenocarcinoma invasor: outras neoplasias malignas) e) Microbiologia: aparecimento de bactérias, fungos, vírus entre outros: (Lactobacillus sp.; bacilos supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus); outros bacilos; cocos; cândida sp.; Trichomonas vaginalis; sugestivo de Chlamydia sp.; Actinomyces sp.; efeito citopático compatível com vírus do grupo herpes; outros) (INCA, 2006). Além das observações inseridas pelo INCA (2006), FERNADES e NARCHI (2007) observaram também resultados insatisfatórios, esses resultados ocorrem por motivos relacionados à técnica imprópria, por inadequação da amostra, da lâmina ou por outras razões desconhecidas. O exame deve ser repetido imediatamente quando o resultado diagnosticado for insatisfatório, pesquisando-se a causa da falha e corrigindo-a e resultado normal ou dentro dos limites de normalidade caracterizando os achados que correspondem ao aspecto citológico 30 normal, isto é, dentro dos limites de normalidade. Fornecendo sempre uma orientação a paciente quando o resultado for negativo, para retorno em três anos caso a mulher já tenha exames negativos em dois anos consecutivos. Essa periodicidade, fixada pelo PNCC, baseia-se na história natural da doença que varia de dez a vinte anos, e no fato de que não existem diferenças estatísticas significativas entre percentuais de probabilidade de uma mulher desenvolver câncer invasivo quando colhe exames anuais ou trienais. Considera-se que o exame deva ser anual se a mulher for de alto risco, mesmo quando não se encontra alteração citológica. Além disso, a conduta deve ser ajustada à necessidade de cada mulher (FERNANDES e NARCHI, 2007). 3.4.1 Critérios de malignidade celular Quando o esfregaço de citologia cervical é lido pelo profissional responsável, o mesmo necessita de critérios para a liberação do laudo ideal, no entanto é imprescindível a observação e contagem de células anormais no esfregaço. São registrados: a) Esfregaço positivo: mínimo de 3 células malignas, bem identificadas em todo o esfregaço. De acordo com as células encontradas, classificaremos então o tipo de neoplasia maligna. b) Esfregaço negativo: obviamente, quando células malignas não são encontradas a completa leitura de todo o esfregaço. Neste caso o esfregaço é dividido em três tipos, como se segue: 1b) Negativo, normal – isto quer dizer negativo para o câncer e inteiramente normal. Poderemos adicionar a fase do ciclo menstrual ou alterações hormonais possivelmente encontradas. 2b) Negativo, inflamatório – sem células malignas, porém com processo inflamatório. O resultado também relatará o agente causal da inflamação. Ex.: fungos, bactérias, vírus. 31 3b) Negativo, não inflamatório – embora as células não estejam normais, ainda são benignas e sem reação inflamatória. Ex.: metaplasia escamosa, pólipo, hiperplasia do endométrio (CARVALHO, 2002). Suspeito ou duvidoso: quando menos de três células malignas estão presentes, ou quando qualquer tipo de displasia é observado. O esfregaço deve ser repetido a fim de se confirmar à presença de malignidade ou afastar a hipótese de contaminação (CARVALHO, 2002). 3.4.1.1 Critérios do núcleo celular Os critérios nucleares, são reações caracterizados por anormalidades encontrados no núcleo de uma célula. Pode-se encontrar espaços vazios dentro do núcleo celular (aumento de cromatina e dessaranjo desta); hipercromasia (diferenciar com núcleos ativos por inflamação, reconhece sempre por núcleo grande, irregular e negro como nanquim); formas aberrantes de cromatina (grânulos grosseiros e cordões irregulares); núcleo grande e/ou aumento do número de nucléolos (usualmente não são vistos em carcinoma in situ e estão presentes em números muito baixos em adenocarcinoma do endométrio); irregularidades do contorno nuclear (lobulação, protusões, enrugamento, invaginação) (ondulação da membrana nuclear em células do 3° tipo sugere carcinoma in situ); cariomegalia (aumento exagerado do núcleo); espessamento irregular e acentuados da membrana nuclear (carioteca, a membrana nuclear aparece como uma linha sinuosa, irregular e angular em toda a volta do núcleo, com algumas áreas bastante espessas por causa do acúmulo irregular de cromatina e não pelo processo de cariopicnose); multinucleação (junto ao amoldamento de núcleos, quando presente em uma célula do tipo parabasal, e nucléolos a sugestão de invasão será de confiança); figuras de mitose (mais freqüentes em neoplasias malignas invasivos) (CARVALHO, 2002). 32 3.4.1.2 Critérios do citoplasma celular Os critérios citoplasmáticos, são reações caracterizados por anormalidades encontrados no citoplasma de uma célula. Geralmente as células malignas têm ligeira tendência para a cianofilia; a eosinofilia intensa em células superficiais é sugestivo de adenocarcinoma endometrial; a eosinofilia em células malignas (invasão); vacúolos citoplasmáticos são mais vistos em adenocarcinoma; inclusões citoplasmáticas – encontrados também leucócitos, debris celulares, grânulos de pigmento; fagocitose (aumenta as células malígnas) – canibalismo (uma célula maligna engloba a outra); hialinização citoplasmática (tumor invasivo escamoso – aparência vítrea); ceratinização em placas (carcinoma escamoso); espirais de Heixheimer (tumor invasivo) (CARVALHO, 2002). 3.4.2 Atipias indeterminadas A nova nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos cervicais e Condutas Clínicas Preconizadas criou uma categoria separada para as atipias de significado indeterminado (ASI), que engloba atipias indeterminadas em células escamosas e glandulares. Além disso, criou também uma categoria de origem indefinida, destinada a situações em que não se pode estabelecer com clareza a origem da célula atípica. Para as Células Atípicas de Significado Indeterminado de Origem Escamosa (ASCUS) consideraram-se as categorias possivelmente não-neoplásicas e não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau. A mesma subdivisão foi instituída para as Células Atípicas de Significado Indeterminado de Origem Glandular (AGUS) (PINTO et al. 2002). O Sistema Bethesda incluiu, em 1988, um termo para uniformizar e normatizar o achado de alterações citológicas de caracterização indefinida ou limítrofes entre reativas e 33 neoplásicas, denominando ASCUS e AGUS. As duas categorias, portanto, correspondem a achados citológicos indeterminados, para cuja definição etiológica se recomenda melhor investigação clínica. A grande preocupação que a categoria atipias indeterminadas gera é a de ser usada como via de saída para as limitações de quem interpreta a citologia cervicovaginal, pois em reexames histológicos não é raro serem encontradas alterações menores diagnosticadas primariamente como ASCUS ou AGUS, erro freqüentemente marcado pela subjetividade do observador, o que pode resultar em supertratamento e estresse para as pacientes (AMORIM, 2006) O Sistema Bethesda criou a categoria de atipias de significado indeterminado para albergar o diagnóstico citológico de alterações limítrofes entre o processo reacional e o neoplásico (SEBASTIÃO, 2004). 3.4.2.1 ASCUS - células atípicas de significado indeterminado de origem escamosa São anomalias em células epiteliais escamosas, mais severas do que modificações inflamatórias e/ou regenerativas, porém menos do que necessárias para um definitivo diagnóstico de lesão intra-epitelial escamosa. Cerca de 6 a 8 % das pacientes com ASCUS tem, de fato, uma NIC. Cerca de 30 % das mulheres com câncer invasivo do colo uterino apresentaram esfregaços com ASCUS. A incidência de ASCUS pode chegar até 5 % dos exames colpocitológicos de rotina e não deve ultrapassar duas a três vezes o percentual de casos de lesões intra-epiteliais escamosas (NETO, 2000). Caracteriza-se por núcleos com aumento moderado, hipercromasia discreta; Alguns halos peri-nuclares, sem atipia nuclear; Biópsia não mostra imagem de NIC (GOMPEL e KOSS, 1997). 3.4.2.2 AGUS – células atípicas de significado indeterminado de origem glandular 34 Compreende aspecto morfológico que vai da possibilidade de um processo reativo benigno até o adenocarcinoma in situ. Condições benignas, tais como endometriose cervical, deciduose, metaplasia tubária, ductos de Gartner, hiperplasia microglandular e glândulas endometriais na porção superior do canal cervical – reação de Árias-Stella – podem ser causas de dificuldades diagnósticas. Pacientes com AGUS apresentam significantes achados histológicos (patológicos) em até 45% dos casos, segundo a literatura. O acompanhamento dessas lesões mostra uma alta incidência de lesões malignas e pré-malignas. Os subtipos de AGUS, quando bem definidos pela citologia, podem identificar de forma significativa se a mulher é de alto ou baixo risco para condições patológicas importantes e orientar qual o tipo de conduta a ser tomada (NETO, 2000). Observa-se leve hipertrofia nuclear, irregularidade de contorno e pequenos nucléolos e superposição nuclear (GOMPEL e KOSS, 1997). 3.4.3 Lesões em epitélio escamoso A lesões intra-epiteliais são identificadas mediante o exame microscópico das células cervicais em um esfregaço citológico corado pela técnica de Papanicolaou. Em preparos citológicos, as alterações de células individuais são avaliadas para diagnóstico da NIC e sua classificação. A avaliação citológica da NIC, baseada em alterações nucleares e citoplasmáticas é com freqüência bastante difícil. O aumento de volume nuclear com variação no tamanho e forma é uma característica regular de todas as células displásicas. Uma coloração mais intensa é outra característica além da distribuição irregular da cromatina com grumos, mas figuras de mitose e nucléolos visíveis são pouco comuns nos esfregaços citológicos (GOMPEL e KOSS, 1997). Encontra-se DNA de HPV em cerca de 90% dos casos de neoplasia intra-epitelial e in- 35 vasora do colo uterino (NETO, 2000). 3.4.3.1 NIC I – lesão intra-epiteliais de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I) Estão incluídas as alterações celulares observadas nos condilomas viróticos e nas neoplasias intra-epiteliais de cervicais de grau 1, que são assim chamadas pelo seu baixo potencial de evolução para lesões mais graves ou mesmo para o câncer do colo uterino. A possibilidade de regressão espontânea é uma realidade que oscila entre 30 e 70% dos casos (NETO, 2000). É presença de células com diferenciação alterada no 1/3 inferior do epitélio. São ditas displasia leve, atipias nucleares em células maduras - células superficiais e intermediárias; Estrutura epitelial geralmente conservada; núcleo aumentado, irregular, hipercromático; mitoses atípicas mais numerosas nas camadas parabasais; lesões condilomatosas; aumento de células discarióticas malpighianas intermediárias e superficiais; Aumento moderado de núcleos com cromatina granulosa, membrana denteada; nucléolos não aparentes; relação núcleo/citoplasma (N/C) aumentada; coilocitose característica do HPV, deve ser classificada neste grupo (FIG. 2) (CARVALHO, 2002). 1 2 3 FIGURA 2 - Modificações do colo uterino em NIC I de acordo com as imagens macroscópica (N° 1), histopatológica (N° 2) e citopatológica (N° 3) Fonte: VIANA; MARTINS E GEBER, 2001 p. 710. 36 3.4.3.2 NIC II E III – lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo neoplasia intraepitelial cervical de grau II E III) Estão incluídas aqui as alterações celulares observadas nas neoplasias intra-epiteliais cervicais grau 2 e grau 3 incluindo-se o carcinoma de células escamosas in situ. São chamadas de alto grau por se tratar de verdadeiros precursores do câncer cérvico-uterino e que, se não tratadas, evoluirão com alto percentual de probabilidade para o câncer. Evidentemente que essas possibilidades estão vinculadas não só ao tipo de HPV, mas também a aspectos outros, como fatores heredofamiliares, ao tabagismo e ao estado imunológico da paciente (NETO, 2000). São relacionadas à displasia moderada, atipias nucleares em células intermediárias e parabasais. As alterações acometem 2/3 inferior do epitélio, havendo maior atipia celular e perda da polaridade; Células intermediárias discarióticas pequenas, parabasais ou metaplásicas; Citoplasma freqüentemente queratinizado, espesso, de contornos irregulares, oval ou piriforme; Núcleos grandes, muito hipercromático (borrados – “tinta da china”), arredondados, elípticos, irregulares ou fusiformes; Nucléolos presentes (pouco visível); Relação N/C ½ a ½ , células fusiformes em girino. O epitélio está modificado em toda sua espessura; As anomalias são classificadas em: (1) lesões malpighianas diferenciadas e queratinizadas; (2) lesões com células de grande tamanho; (3) lesões com células de pequeno tamanho (FIG. 3) (CARVALHO, 2002). 37 1 2 3 FIGURA 3 - Modificações do colo uterino em NIC II e NIC III de acordo com as imagens macroscópica (N° 1), histopatológica (N° 2) e citopatológica (N° 3) Fonte: VIANA; MARTINS E GEBER, 2001 p. 711. 3.4.3.3 Lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro invasão Não existem critérios citológicos seguros para diagnóstico de carcinoma microinvasor. Deve-se suspeitar de invasão incipiente quando do encontro de células semelhantes às do carcinoma in situ, porém com nucléolos e ao lado de pouca diátese tumoral (detritos celulares fusiformes e queratinizadas (FIG. 4). São displasia grave, atipias nucleares em células profundas (imaturas) – células parabasais e basais (NETO, 2000). Acomete toda espessura do epitélio apresentando figuras de mitose na superfície do epitélio, maior atipia celular e perda da polaridade em toda a espessura do epitélio; citoplasmas espessos, elípticos, irregulares ou alongados; núcleos grandes, hipercromático, ovais, redondos ou irregulares (cariorrex visível), carioteca espessa e irregular; cromatinas reticulares ou granulosas, distribuídas em blocos (grumos ou borrada); nucléolos pequenos (visíveis ou não); relação N/C + ½ da células; v (CARVALHO, 2002). acúolos citoplasmáticos 38 1 2 3 FIGURA 4 - Modificações do colo uterino em Lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro invasão de acordo com as imagens macroscópica (N° 1), histopatológica (N° 2) e citopatológica (N° 3) Fonte: VIANA; MARTINS E GEBER, 2001 p. 712. 3.4.3.4 CARCINOMA INVASOR O carcinoma de células escamosas é o tumor do colo uterino mais freqüente, correspondendo a até 95% dos neoplasmas invasivos. Na classificação histológica de neoplasias malignas da OMS está dividido em três grupos distintos, acrescido de outros dois grupos (carcinomas indiferenciados), à medida que a neoplasia vai perdendo a sua capacidade de assemelhar-se ao epitélio que lhe originou: (1) carcinomas de células escamosas bem diferenciadas (quando está bem evidente o padrão escamoso ou malphigiano da neoplasia); (2) carcinoma de células escamosas moderadamente diferenciado (as células neoplásicas apresentam características de origem escamosa, porém com atipias celulares intensas, mais figuras de mitose, enquanto as formações queratinizadas são eventuais; (3) carcinoma de células escamosas pouco diferenciado (não há formação de perolas córneas, as células estão arranjadas em cordões ou massas de células bastante atípicas, escasso citoplasma e numerosas mitoses); (4) carcinoma indiferenciado de células grandes (assemelha-se ao carcinoma de células escamosas pouco diferenciado, porém há presença de células com grandes núcleos 39 atípicos e pleomórficos); (5) carcinoma indiferenciado de pequenas células (são neoplasias malignas de prognóstico letal, onde a sobrevida em cinco anos é inferior à do carcinoma escamoso) (NETO, 2000). 3.4.4 Lesões em células glandulares 3.4.4.1 Adenocarcinoma in situ Epitelioma glandular in situ da endocérvice. À histologia, os elementos glandulares estão revestidos por células cilíndricas pseudo-estratificadas bem diferenciadas (NETO, 2000). Com o aparecimento de células glandulares, cilíndricas ou cúbicas, apresentam núcleos volumosos e hipercromático; Mitose e muco raro; Acompanham cerca de 50% outras NIC; Aglomerados de células cilíndricas revelando pseudo-estratificação e aspecto paliçádico; Núcleos são moderadamente aumentados de volume, hipercromático e exibem nucléolos volumosos (CARVALHO, 2002). 3.4.4.2 Adenocarcinoma invasor O adenocarcinoma invasor também pode ser, à semelhança do carcinoma de células escamosas, classificado em microinvasivo, quando atinge até 3 mm de profundidade por 7 mm de extensão. Ultrapassando esta margem é classificado como invasivo. As células descamadas se apresentam em agrupamentos de elementos superpostos. Os núcleos são hipercromático e variam em tamanho. Há nucléolos múltiplos, proeminentes e irregulares. O citoplasma freqüentemente é vacuolizado (NETO, 2000). 40 3.5 Tratamento das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas O tratamento visa somente à destruição das lesões causadas pelo vírus. Se existe uma lesão de alto grau (displasia moderada, acentuada, carcinoma in situ ou câncer invasor), não existem dúvidas em relação ao tratamento. Deve-se realizar uma conização (tradicional, laser ou cirurgia de alta freqüência – CAF-LEEP) ou o tratamento adequado para o carcinoma invasor (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). O tratamento das lesões precursoras pode ser feito por meio de criocirurgia, que implica em congelamento por meio de um instrumento apropriado, que pode ser feito no próprio consultório. O mesmo efeito pode ser atingido com altas temperaturas, que chamamos de cauterização. Quando a área lesionada é maior, o médico, geralmente, opta pela remoção cirúrgica de colo uterino. Estes tratamentos costumam apresentar resultados satisfatórios, atingindo quase 100% de cura (SILVA, 2008). Uma vez que o câncer de colo do útero tornou-se invasivo, ele pode envolver localmente a parte superior da vagina, parede pélvica, podendo atingir até a bexiga, e ureteres (a ligação dos rins com a bexiga), causando obstrução e insuficiência renal. O tumor pode também invadir o sistema linfático, atingindo linfonodos na parede pélvica. Metástases através do sangue, atingindo outros órgãos, são muito raras (SILVA, 2008). Segundo Silva, 2008, dentre os tratamentos mais comuns para o câncer de colo uterino estão a cirurgia e a radioterapia, mas a quimioterapia e a terapia biológica também são usadas em alguns casos. O tipo de tratamento que o doente receberá depende do estagio da doença, tamanho do tumor e fatores pessoais como idade de desejo de filhos no futuro. A cirurgia remove o tecido tumoral. Para o câncer cervical que estejam restritos ao colo, os seguintes procedimentos podem ser usados: a) A criocirurgia destrói as células tumorais por congelamento; 41 b) A cirurgia a laser destrói o tumor usando um feixe de luz intensa; c) A conização retira um pedaço do colo em forma de cone para remover o tecido tumoral; d) A histerectomia remove o útero e colo. A salpingo-ooforectomia bilateral retira as duas trompas e os dois ovários e é realizada no mesmo tempo cirúrgico com a histerectomia. (SILVA, 2008). Para neoplasias malignas que atingem estruturas além do colo, outras opções de cirurgia são usadas: e) A histerectomia radical remove o colo do útero, útero, parte da vagina, e linfonodos regionais; f) A exanteração pélvica, que remove útero, vagina, colon baixo, reto ou bexiga, geralmente é feita após radioterapia (SILVA, 2008). A radioterapia utiliza-se de radioatividade para matar as células neoplásicas malignas e impedir o seu crescimento. Na radioterapia externa a radiação vem de um grande aparelho posicionado para direcionar feixes radioativos em determinada direção. A radioterapia interna ou braquiterapia usa materiais radioativos que são colocados diretamente no colo de útero através de tubos ou agulhas. A quimioterapia usa drogas ou medicamentos para matar as células neoplásicas malígnas. Ela pode ser indicada como tratamento único em doenças mais avançadas. Uma droga ou combinação de várias drogas pode ser utilizada, de acordo com o caso. A eficácia da quimioterapia, no entanto, para o tratamento da doença metastática é baixa. A quimioterapia, ultimamente, tem sido utilizada na potencialização do tratamento radioterápico, aumentando a eficácia e as taxas de cura de pacientes com doença em estágios intermediários (SILVA, 2008). No caso de lesões condilomatosas ou de baixo grau, pode-se optar pela destruição com drogas cáusticas, como ácido tricloroacético ou extrato de podofilina. Também podem ser 42 usados os antiblásticos, a bleiomicina e fitoterápicos como a Thuya ocidentallis (SILVA, 2008). Com relação às lesões de baixo grau, existe controvérsia quanto à necessidade de tratamento. Para optar-se por não tratar, antes deve ser realizada a tipagem viral, para se ter o conhecimento de que o vírus é de baixo risco, tratando todas as portadoras de HPV de alto risco com lesões de baixo grau. O tratamento do parceiro é algo controverso. Vários trabalhos mostram que o tratamento não interfere no prognóstico da paciente. Quem defende que o parceiro deve ser tratado argumenta que a doença é uma DST, e o tratamento visa a diminuir o risco de transmissão, além de, apesar de rara, existir a possibilidade de uma neoplasia intraepitelial peniana. (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). Para atipias de significado indeterminado, efeito citopático compatível ao HPV e lesões intra-epiteliais de baixo grau, o PNCC, recomenda seguimento semestral com tratamento dos processos inflamatórios e infecciosos associados, conforme FIG. 5. Nesse caso, é importante que a mulher e seu parceiro sejam realmente tratados e submetidos a exames para controle de tratamento, a fim de impedir que a mulher permaneça apenas sob controle colpo citológico periódicos. Esse tratamento relaciona-se também ao grupo de risco em que a mulher se insere e à sua fase de vida (FERNANDES e NARCHI, 2007). No caso de efeito citopático compatível com HPV, ainda é importante ressaltar que, geralmente, as infecções por HPV não persistem, podendo regredir espontaneamente. No entanto, grande parte das mulheres expostas a esse vírus desenvolve infecção persistente que pode evoluir a uma lesão neoplásica. Por esse motivo, recomenda-se a realização semestral da colpocitologia e o acompanhamento seguido de tratamento das lesões internas e externas, quando visíveis (FERNANDES e NARCHI, 2007). Para lesões intra-epiteliais de alto grau (NIC II e III), deve-se orientar colposcopia e biópsia e encaminhar para esses procedimentos. Havendo discordância entre os diagnósticos 43 citológico e histológico, repetem-se os exames a fim de confirmar a lesão. No caso de confirmada a presença de neoplasia, a mulher deve ser submetida à conização com controle ginecológico periódico, de preferência semestralmente, que inclua a colpocitologia. A partir da colposcopia, a indicação de cirurgia e a periodicidade de seguimento vão depender da concordância cito-colposcópica da lesão (FERNANDES e NARCHI, 2007). ASCUS, HPV OU NIC I NOVA CITOLOGIA EM 6 MESES CITOLOGIA NEGATIVA MESMO DIAGNÓSTICO OU DIAGNÓSTICO MAIS GRAVE NOVA CITOLOGIA EM 6 MESES CITOLOGIA POSITIVA CITOLOGIA NEGATIVA ROTINA ENACAMINHAR PARA COLPOSCOPIA FIGURA 5 - Fluxograma da conduta ante atipias de significado indeterminado em células escamosas, efeito citopático compatível com HPV e lesão intra-epitelial de baixo grau ou NICI. Fonte: FERNANDES e NARCHI, 2007 p. 140. 44 Para atipias de significado indeterminado (AGUS), por se tratar de uma categoria associada a um maior risco de neoplasia cervical ou até endometrial, deve-se encaminhar para colposcopia imediata com investigação endometrial e anexial por meio de ultra-sonografia transvaginal e curetagem uterina fracionada ou histeroscopia, quando possível (FERNANDES e NARCHI, 2007). Para adenocarcinoma in situ, deve-se orientar colposcopia e biópsia de preferência e encaminhar esses procedimentos para hospital especializado no tratamento de câncer. Mesmo após colposcopia sem evidência de lesão, O PNCC recomenda a realização de conização associada à investigação do epitélio endometrial, com curetagem uterina fracionada ou histeroscopia e biópsia (FERNANDES e NARCHI, 2007). 3.6 Saúde da mulher no SUS A evolução histórica dos programas de saúde no Brasil mostra a preocupação contínua e crescente pela saúde da mulher brasileira. A evolução e a organização dos serviços de saúde destinados à mulher resultam de transformações socioeconômicas e culturais, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, provocaram profundas mudanças demográficas e epidemiológicas, alterando de forma significativa os padrões de morte, enfermidade e invalidez das mulheres (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). A assistência na rede de saúde pública que compreende o atendimento em centros, postos e ambulatórios desenvolveu-se a partir da segunda metade da década de 1970 a 1980. Surge nessa época o Programa Nacional de Combate ao Câncer (PNCC) que defendia a organização dos serviços de cancerologia por meio da integração das diversas instituições federais, estaduais, municipais, autárquicas e privadas, buscando a regionalização e a hierarquização desses serviços. Começam a ação para prevenção de câncer de mama e colo 45 uterino com a realização de Papanicolaou, planejamento familiar e ações de prevenção e tratamento de doenças clínico-ginecológicas (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). Em 1984, o Ministério da Saúde, atendendo às reivindicações do movimento de mulheres, elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo (FERNANDES e NARCHI, 2007). O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a eqüidade da atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS). Incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST (doença sexualmente transmissível), câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres (FERNANDES e NARCHI, 2007). Na análise preliminar foram considerados os dados obtidos por intermédio dos estudos e pesquisas promovidos pela área técnica de saúde da mulher para avaliar as linhas de ação desenvolvidas, tendo destaque o balanço das ações de Saúde da Mulher 1998-2002, o estudo da mortalidade de mulheres em idade fértil, a avaliação do programa de humanização do prénatal e nascimento, a avaliação dos centros de parto normal e a avaliação da estratégia de distribuição de métodos anticoncepcionais. Em seguida, a área técnica buscou a parceria dos diferentes departamentos, coordenações e comissões do Ministério da Saúde. Incorporou as contribuições do movimento de mulheres negras e de trabalhadoras rurais, sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos da área, organizações não governamentais, gestores do 46 SUS e agências de cooperação internacional. Por fim, submeteu a referida política à apreciação da comissão intersetorial da mulher, do conselho nacional de saúde. Trata-se, portanto, de um documento legitimado por diversos setores da sociedade e pelas instâncias de controle social do Sistema Único de Saúde (BEGHINI, 2006). A realização do exame de Papanicolaou é recomendada, por organizações nacionais e internacionais de saúde, para as mulheres que já tenham iniciado a atividade sexual. No Brasil, desde 1988, o Ministério da Saúde (MS) segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que propõe a realização do exame a cada três anos, após dois controles anuais consecutivos negativos para mulheres com até 59 anos de idade. Apesar da implantação do programa da mulher e da ampliação da cobertura do exame de Papanicolaou, não tem havido redução das taxas de incidência e de mortalidade do câncer de colo de útero, no Brasil, tendo a taxa de mortalidade aumentado nas últimas décadas de 3,44/100 mil mulheres, em 1979, para 4,59/100 mil, em 2000. No Estado de São Paulo, a taxa bruta de mortalidade pelo câncer de colo de útero tem se mostrado estável desde a década de 70, com valores próximos a 4,2/100 mil, tendo havido um relativo deslocamento dos óbitos para as idades acima de 70 anos (AMORIM, 2006). Em 28 de maio de 2004 o Ministro da Saúde, Humberto Costa, lançou a - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher - Princípios e Diretrizes, construída a partir da proposição do SUS, respeitando as características da nova política de saúde. A construção da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher - Princípios e Diretrizes teve início em 2003, quando a equipe técnica de saúde da mulher avaliou os avanços e retrocessos alcançados na gestão anterior (FERNANDES e NARCHI, 2007). As condições de vida e de saúde, no último século, têm melhorado de forma contínua e sustentada na maioria dos países, graças aos progressos políticos, econômicos, sociais e 47 ambientais, assim como aos avanços na saúde pública e na medicina (FERNANDES e NARCHI, 2007). Transpondo todas essas questões relevantes ao mundo da mulher, ou melor, à saúde da mulher, observa-se que a sua vida tem passado por grandes mudanças, seja no plano político, cultural, econômico ou social, mudanças, essas que se refletem na organização da vida domética e no espaço público, em busca dos seus direitos (FERNANDES e NARCHI, 2007). Para que a assistência à saúde da mulher seja eficiente, devem-se proporcionar condições que a conduzam a descobrir-se como um ser integral, merecedora de muitos cuidados, inclusive aqueles relacionados à saúde (BARROS; MARIN e ABRÃO, 2002). Há grande necessidade de fortalecimento e construção de práticas de controle e participação como instrumentos democráticos, na geração de políticas públicas favoráveis à superação das desigualdades, discriminações e preconceitos que afetam negativamente a vida, a saúde e a qualidade de vida (FERNANDES e NARCHI, 2007). 48 4 METODOLOGIA Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal com análise de dados secundários obtidos através da requisição de exame citopatológico – colo do útero, inseridos no Programa Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero, no ano de 2006. A pesquisa foi realizada na cidade de Divinópolis, município pólo da região centrooeste de Minas Gerais. Sua população, estimada pelo IBGE gira em torno de 184 mil habitantes. Pelo Censo de 2000, Divinópolis apresenta um quadro social com alta taxa de alfabetização (94,7%), mais mulheres (94 mil) que homens (90 mil), concentração maior no perímetro urbano (178 mil habitantes) e menor na zona rural (6 mil). A taxa de Crescimento populacional de Divinópolis é da ordem de 4,2% ao ano. (SEPLAN, 2008). Em 2006, o Município de Divinópolis possuía 167 bairros e contava com seis Conselhos Distritais de Saúde para atender à população. Cada Conselho Distrital de Saúde possui uma área de abrangência, ou seja, é responsável por determinados bairros no atendimento à população (SEPLAN, 2008). O conselho distrital de saúde – região norte, engloba os centros de saúde Bom Pastor e Afonso Pena, PSF Serra Verde e Oswaldo Machado Gontijo. O conselho distrital de saúde – região sudoeste abrange centros de saúde São José e Belvedere, o PSF Jardinópolis, São Paulo e Belvedere. O conselho distrital de saúde – região sudeste reuni os centros de saúde CSU e Nossa Senhora das Graças, PSF Buritis, Nações, Vale do Sol, Santa Lúcia e Santos Dumont. O conselho distrital de saúde – região nordeste aglomera os centros de saúde Niterói, Itaí, Icaraí e Danilo Passos. O conselho distrital de saúde – região central enquadra os centros de saúde Central e o PSF Quilombo. O conselho distrital de saúde – região oeste agrupa os centros de saúde Ipiranga, Planalto e Tietê. O centro de saúde Ermida atende a população 49 Ermida e PSF Djalma Dutra. E por fim, o centro de saúde SESMET agrega apenas os funcionários municipais, independente dos seus locais de moradia (SEPLAN, 2008). Através das análises das requisições das pacientes usuárias do SUS em Divinópolis, que realizaram os exames preventivos de Papanicolaou , entre janeiro a dezembro de 2006, tem dados de 16.400 pacientes que utilizaram o serviço de citologia cervical no município de Divinópolis. Deste montante, somente 80 pacientes apresentaram lesões pré-neoplásicas e ou neoplásicas, sendo que uma das pacientes apresentou conjuntamente com lesão pré-neoplásica e neoplásica. A requisição de exame citopatológico é preenchida pelo profissional médico na unidade de saúde junto à realização da consulta médica. Inicialmente é realizado a anamnese e o exame macroscópico, sendo feito neste instante a coleta do material ginecológico no colo do útero. Em seguida, é encaminhado ao Laboratório Municipal de Citopatologia do SUS de Divinópolis a lâmina da paciente para análises microscópica. As amostras coletas no colo do útero são enviadas ao laboratório e analisadas pelo profissional citotécnico responsável pela execução do exame e pela médica patologista que avalia os casos e executa a liberação do laudo, onde o mesmo é descrito na requisição de exame citopatológico do SUS. As informações são encaminhadas ao setor de ações básicas da SEMUSA (Secretaria Municipal de saúde de Divinópolis), onde mensalmente são enviadas ao Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero. Os dados obtidos foram reduzidos às principais medidas estatísticas e foram organizados em tabelas e gráficos para melhor análise e visualização dos resultados. Foi realizado o teste t de student (paramétrico) para amostras independentes para comparar os tipos de lesão. O teste do Qui-Quadrado (Não-Paramétrico) foi utilizado para verificar a 50 independência entre os tipos de lesão, diagnóstico e inspeção do colo uterino. O teste ‘t’ de student verifica a existência de diferença significativa entre duas médias e o teste do QuiQuadrado é utilizado para avaliar a independência entre a distribuição das freqüências observadas entre duas variáveis. Foi realizada a análise de variância (ANOVA) seguida do teste Tukey para detectar diferenças significativas entre os tipos de diagnóstico. O teste Tukey verifica a existência de diferença significativa entre duas ou mais médias. Utilizou-se um nível de 5% de significância para todos os testes. Todas as análises foram realizadas no software SPSS versão 13. 51 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO As pacientes que foram diagnosticas como lesão neoplásica obtiveram resultados positivos para: lesão intra-epitelial de alto grau, não podendo excluir micro-invasão ou, carcinoma invasor ou, adenocarcinoma in situ ou, adenocarcinoma invasor. No entanto, as pacientes que apresentaram lesões pré-neoplásicas resultaram de: ASCUS ou, AGUS ou, NIC I ou, NIC II e NIC III. 5.1 Distribuição etária das pacientes avaliadas no estudo A idade das pacientes com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas variou de 18 a 88 anos, destacando-se os maiores picos na distribuição etárias de 20 a 50 anos. Entre as idades que caracterizaram a maior incidência em Divinópolis, pôde-se detectar que também condiz com a idade das pacientes sexualmente ativas de acordo com a FIG 6. 52 14 Número de pacientes 12 10 8 6 4 2 0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 Idade (anos) FIGURA 6 - Distribuição etária das pacientes avaliadas com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas em Divinópolis-MG no ano de 2006 Segundo Schraiber; Nemes e Gonçalves (2000), entram na atividade de “screening”, mulheres com mais de um ano de vida sexual ativa e são dispensadas das atividades as com mais de 65 anos com um exame negativo anterior. A idade é uma influência importante na possibilidade de ser afetado pelo câncer. Os fatores de risco para essa neoplasia são hoje conhecidos como: início precoce da atividade sexual, múltiplos parceiros sexuais, parceiro sexual promíscuo, tabagismo e infecção pelo HPV. Segundo Martins et al. (2007), as adolescentes que são sexualmente ativas apresentam as taxas mais altas de infecções incidentes e prevalentes por HPV, oscilando entre 50 e 80% de infecção com dois a três anos do início da atividade sexual. Estas altas taxas refletem o comportamento sexual e a vulnerabilidade biológica. A associação entre a idade ao iniciar a 53 atividade sexual e o câncer invasor não pode ser ignorada, pois auxilia o conhecimento da história natural da infecção por HPV e a conseqüente prevenção das lesões precursoras da doença invasora. Segundo Martins et al, 2007, a relação entre a idade do início da atividade sexual e o risco de infecção por HPV, consideraram o histórico de atividade do parceiro como grande influência nas freqüências de infecção encontradas. Contudo, é necessário ajustar este dado para a idade do início da atividade sexual, sendo estes dois fatores muito importantes em relação ao risco de contrair a infecção por HPV quanto mais precoce o início da atividade, maior o risco de infecção. É importante salientar também o fato das mulheres com lesões pré-neoplásicas e ou neoplásicas já terem realizado o exame preventivo alguma vez. Segundo Schraiber; Nemes e Gonçalves (2000), o exame ginecológico “obrigatório” de citologia vaginal é realizado em mulheres com pouca autonomia sobre seus corpos, criadas para desconhecê-lo e, principalmente, não se deixar ver ou tocar a não ser por seu “dono” legítimo, com escassa compreensão do seu sentido e possibilidades efetivas de garantia de saúde. Por isso, a dor, a vergonha e o medo são tão corriqueiros nesse procedimento. Além de reafirmar o desconhecimento do corpo e desconforto de “tornar-se” mulher, o exame pode ser potencialmente iatrogênico e medicalizador. Isso ocorrerá, ao se oferecer uma intervenção clínica em resposta a insistentes queixas a respeito da percepção do corpo e suas vigências, que não são exatamente doenças, mas têm origem na construção social do ser mulher e em como este feminino percebe seu corpo e sua sexualidades, ou trabalha com suas possibilidades de auto-estima. Além disso, o exame ginecológico representa também uma espécie de ritual de sacrifício e purificador para um corpo sempre “imperfeito e pecador”. O modo como ele é realizado, a explicação do seu sentido e a discussão dos obstáculos ao exame são cruciais na reprodução ou transformação dessa realidade e de seus simbolismos. 54 A deficiência do conhecimento do exame de Papanicolaou também é componente freqüente em mulheres mais velhas e com baixa escolaridade, em países em desenvolvimento. Em países desenvolvidos, as mulheres, em geral, sabem a utilização do exame de Papanicolaou e a deficiência de conhecimento é detectada apenas quando se pesquisam aspectos mais específicos sobre o câncer. Todavia, minorias sociais em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, apresentam nível de conhecimento semelhantes às mulheres do estudo realizado por Brenna et al e também mostraram acesso limitado aos serviços de saúde (BRENNA, 2001). A partir do preventivo, o patologista analisa as lâminas elaboradas na realização do teste e caracteriza entre outras o diagnóstico das alterações celulares. O diagnóstico precoce do câncer do colo uterino permite o rastreamento, ou screening, das lesões de colo em suas fases iniciais antes de se tornarem lesões invasivas, através de um método de detecção conhecido como colpocitologia oncológica ou exame de Papanicolaou. O êxito no rastreamento do câncer de colo uterino e de suas lesões precursoras dependerá, além de outros fatores, da acuidade diagnóstica do exame colpocitológico, ou seja, de sua precisão em diagnosticar corretamente os casos verdadeiros de lesões cervicais neoplásicas e pré-neoplásicas (sensibilidade) e aqueles casos que não apresentam qualquer tipo de alteração epitelial (especificidade). O exame de Papanicolaou tem sido considerado um método altamente confiável para detectar as lesões cervicais. A sensibilidade do teste, ou seja, a proporção de casos verdadeiros positivos detectados pelo exame de Papanicolaou já foi descrita como sendo próxima de 99,8%. No estudo de Pinho et al. (2002), encontraram uma sensibilidade de 79,9%, e a especificidade, ou seja, a proporção de casos verdadeiros negativos detectados pelo teste, foi de 99,9%. Além de sua acuidade diagnóstica, o exame de Papanicolaou é considerado um método de baixo custo, simples e de fácil execução. Estas 55 características o tornam um método amplamente utilizado em programas de controle do câncer cervico uterino (PINHO et al. 2002). 5.2 Comparação entre as médias de idade (anos) das pacientes avaliadas associado ao tipo de lesão, diagnóstico e presença de prevenção Dentre as amostras analisadas observou-se que 61 já haviam realizado exame preventivo alguma vez, e 16 nunca haviam feito o preventivo antes. Somente 3 pacientes não souberam informar sobre o preventivo conforme TAB 1. TABELA 1 Comparação entre as médias de idade (anos) das pacientes avaliadas associado ao tipos de lesão, diagnósticos e presença de prevenção obtidos. Resultados Preventivo Diagnóstico (3) Tipo de Lesão Realizaram Preventivo anteriormente Não Realizaram Preventivo anteriormente Atrofia Inflamação Reparação Metaplasia Pré-Neoplásica Neoplásica N Média (anos) Desvio Padrão 61 39,5 12,6 16 37,1 19,9 3 61 3 13 74 7 62,3 A 38,9 B 37,7 B 33,8 B 37,7 54,4 4,0 14,6 7,6 9,3 13,1 18,9 Valor p 0,546 (1) 0,016 (2) 0,003 (1) (1) Valores obtidos pelo teste t de student para amostras independentes. (2) Valores obtidos pelo teste F de Fisher na análise de variância (ANOVA). (3) Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste TUKEY a 5% de probabilidade. Na distribuição etária das pacientes que realizaram o preventivo, não houve diferença significativa nas médias de idade das pacientes que realizaram ou não o exame preventivo. Segundo Brenna et al. (2001), o câncer de colo uterino ainda é um problema de saúde pública em países em desenvolvimento, pois apresenta altas taxas de prevalência e mortalidade em mulheres de nível social e econômico baixo e em fase produtiva de suas 56 vidas. Um marco histórico importante no conhecimento do câncer de colo uterino foi o estudo de Papanicolaou e Traut que mostrou ser possível detectar células neoplásicas mediante o esfregaço vaginal. Assim, o exame de Papanicolaou passou a ser utilizado por diversos países para o rastreamento populacional, na detecção precoce do câncer de colo uterino. É fato que a lenta evolução deste câncer possibilita o seu diagnóstico na fase intra-epitelial (não invasiva) em mulheres assintomática, quando o tratamento é de baixo custo e tem elevado percentual de cura. Lamentavelmente, países com limitados recursos não têm expandido satisfatoriamente os serviços de rastreamento populacional para o câncer de colo uterino. Todavia, grande parte destes estudos tem abordado a prevenção do câncer do colo uterino por um prisma eminentemente técnico, ao passo que as questões sociais, culturais e as características dos serviços de saúde não são consideradas, ou são, porém de forma muita simplista. As condições em que se têm realizado estes estudos não reproduzem as características gerais da população e dos serviços de saúde dos países em desenvolvimento (BRENNA et al. 2001). O exame preventivo é a principal forma de avaliação de lesões pré-neoplásicas e neoplásicas, pois através deste, consegue-se detectar as modificações macroscópicas e microscópicas de qualquer lesão. Verificando o aspecto do colo do útero, as possíveis infecções microbiológicas, as modificações celulares e as alterações atípicas em células escamosas e glandulares. Segundo Lopes et al. (1995) é possível sugerir uma cobertura de exame preventivos de aproximadamente 30%. Esta estimativa está longe de ser o ideal mas pode ser útil para balizar a adoção de medidas que orientem a política de preservação do câncer cérvico-uterino. Estudos de fatores de risco são sugeridos além de pesquisas comparativas semelhantes para servirem de indicadores de avaliação de programas de prevenção e controle deste tipo de câncer no Brasil. Ênfase também deve ser dada a divulgação do teste de Papanicolaou, sua 57 realização com periodicidade adequada e orientação para as mulheres retornaram para conhecimento do resultado de seu teste e orientações. Entretanto, apesar da eficácia do Papanicolaou, a cobertura deste exame na população feminina brasileira é ainda baixa. A OMS estabelece como necessária uma cobertura de 85% da população feminina, para obtenção de impacto epidemiológico na freqüência e distribuição do câncer cérvico-uterino. Após a instalação do Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo Uterino, a cobertura do preventivo vem aumentando significantemente. Em São Paulo, a realização do Papanicolaou pelo menos uma vez na vida passou de 68,9% em 1987 para 86,1% em 2000. Em Pelotas, a realização do preventivo nos últimos três anos foi de 65% em 1992, 72,2% em 1999/2000 e 68,8% em 2002. Em 1994, segundo pesquisa feita pelo Ibope, 64% das mulheres com mais de 15 anos de idade haviam feito o exame pelo menos uma vez na vida. Em 2003, entre as maiores de 24 anos, este percentual passou para 79,1% (OLIVEIRA et al. 2006). As lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas caracterizam inicialmente com alterações celulares benignas que podem auxiliar na conclusão dos laudos citopatológicos. Nas pacientes analisadas detectou-se que no diagnóstico de todas havia algum tipo de reação celular no esfregaço que caracteriza anormalidade, e o diagnóstico de inflamação obteve predomínio perante as outras reações celulares caracterizando, inflamação (61 pacientes), atrofia (3 pacientes), reparação (3 pacientes) e metaplasia (13 pacientes) conforme TAB 1. Entre as alterações de inflamação, reparação e metaplasia, a média de idade das pacientes estudadas não caracterizaram diferenças significativas neste estudo. Somente na atrofia observou-se uma média de idade significativamente superior as demais alterações. Isso se assemelha a mulheres com idade avançada caracterizando a cessação dos ciclos menstruais, a menopausa, predominando esfregaços atróficos, simbolizando menor estratificação epitelial, onde as células são da camada mais profunda do epitélio. 58 Segundo INCA (2003), as reações celulares que diagnosticam inflamação é caracterizada pela presença de alterações celulares epiteliais, geralmente determinadas pela ação de agentes físicos, os quais podem ser radioativos, mecânicos ou térmicos e químicos, como medicamentos abrasivos ou cáusticos, quimioterápicos e acidez vaginal sobre o epitélio glandular. Ocasionalmente, podem-se observar alterações, em decorrência do uso do dispositivo intra-uterino (DIU), em células endometriais. Os resultados indicando metaplasia escamosa imatura foi incluída na nomenclatura brasileira buscando caracterizar que essa apresentação é considerada do tipo inflamatório; entretanto o epitélio nessa fase está vulnerável à ação de agentes microbianos, em especial do HPV. Os resultados indicando reparação, decorre de lesões da mucosa com exposição do estroma e pode ser determinado por quaisquer dos agentes que determinam inflamação. É geralmente a fase final do processo inflamatório, momento em que o epitélio está vulnerável à ação de agentes microbianos e em especial do HPV. As amostras indicando atrofia sugere a menor estratificação epitelial, com lesões na camada profunda. Os dados indicando radiação, deve ter uma atenção primordial nos casos de câncer do colo do útero, onde o exame citopatológico deve ser realizado para controle de possível persistência de neoplasia residual ou de recidiva da neoplasia após tratamento radioterápico (INCA, 2003). No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 1999), o câncer de colo uterino representa a segunda causa de mortalidade bruta entre as neoplasias malignas para a população feminina nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, e a primeira causa na Região Norte. De acordo com a TAB 1, as pacientes diagnosticadas com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas mostraram diferenças significativas de distribuição etária. As pacientes com lesão pré-neoplásica caracterizavam com uma faixa etária em torno de 37,7 anos, enquanto a distribuição etária das pacientes com lesão neoplásica notificava-se uma média de distribuição 59 bem maior, simbolizando em torno de 54,4 anos. 5.3 Relação entre os resultados dos diagnósticos das pacientes e os tipos de lesão detectados no estudo As lesões pré-neoplásica e neoplásica encontradas foram divididas na tabela de acordo com as modificações epiteliais e comparando com o diagnóstico encontrado. Nas amostras estudadas, detectou-se o aparecimento de um número maior de lesões do epitélio escamoso, onde se pôde observar maior incidência de ASCUS (26 pacientes), NIC I (31 pacientes), NIC II e III (16 pacientes), Microinvasão (4 pacientes) e Carcinoma Invasor (2 pacientes). Já nas pacientes analisadas com lesões do epitélio glandular, observou apenas duas pacientes, sendo uma com AGUS e a outra com Adenocarcinoma in situ conforme TAB 2. Comparando o diagnóstico das alterações celulares com as lesões pré-neoplásica e neoplásicas verificou-se que o aparecimento das lesões independe do diagnóstico, pois a análise não teve significância estatística de acordo com os valores p encontrados. Na TAB 2 onde está sendo representado como outros, caracterizam a união dos diagnósticos encontrados de atrofia, reparação e metaplasia, porque o número de ocorrência desses diagnósticos foram insuficiente para a análise estatística de cada teste. 60 TABELA 2 Relação entre os resultados dos diagnósticos das pacientes e os tipos de lesão detectados (préneoplásicas e neoplásicas) Tipos de Lesão INFLAMAÇÃO Sim Não OUTROS (*) Sim Não N Valor p ASCUS 19 42 7 12 80 0,855 (1) AGUS 1 60 0 19 80 DIT (3) NIC I 26 35 5 14 80 0,315 (1) NIC II e III 10 51 6 13 80 0,264 (1) Microinvasão 3 58 1 18 80 1,000 (2) Carcinoma Invasor 2 59 0 19 80 DIT (3) Adenocarcinoma “in situ” 1 60 0 19 80 DIT (3) Adenocarcnoma Invasor 0 61 0 19 80 DIT (3) (1) Valores pelo teste do Qui-Quadrado Independência sem Correção de Continuidade de YATES. (2) Valores pelo teste do Qui-Quadrado para Independência com Correção de Continuidade de YATES (Tabelas 2x2 e fi < 10). (3) Dados insuficientes para teste. (*) Inclui Atrofia, Reparação e Metaplasia. Segundo Pinho et al.(2002), o câncer de colo uterino é uma doença cuja evolução é lenta, apresentando fases pré-invasivas e, portanto, benignas, caracterizadas por lesões conhecidas como neoplasias intra-epiteliais cervicais. O período de evolução de uma lesão cervical inicial para a forma invasiva e, por conseguinte, maligna é de aproximadamente 20 anos. Este período relativamente longo permite que ações preventivas sejam eficientes e alterem o quadro epidemiológico da doença. Estas ações se fazem por meio da educação popular, detecção e diagnóstico precoces e tratamento das lesões cervicais precursoras. Agindo precocemente, pode-se alterar a história natural da doença, proporcionando a diminuição de sua morbidade e mortalidade. 5.4 Relação entre inspeção do colo uterino e os tipos de lesão Através do exame preventivo, visualiza-se a inspeção do colo uterino, onde pode-se avaliar possíveis alterações. Esta análise Pode ser completada através de um colposcópico que 61 possibilita uma visão aumentada e iluminada dos tecidos da vagina e colo do útero, de acordo com a TAB 3. TABELA 3 Relação entre os resultados para a inspeção do colo uterino e os tipos de lesão detectados (pré-neoplásicas e neoplásicas) Tipos de Lesão NORMAL Sim Não ALTERADO Sim Não N (*) Valor p ASCUS 21 42 2 9 74 0,512 (2) AGUS 1 62 0 11 74 DIT (3) NIC I 24 39 6 5 74 0,305 (1) NIC II e III 13 50 3 8 74 0,923 (2) Microinvasão 4 59 0 11 74 0,891 (2) Carcinoma Invasor 0 63 0 11 74 DIT (3) Adenocarcinoma “in situ” 1 62 0 11 74 DIT (3) Adenocarcnoma Invasor 0 63 0 11 74 DIT (3) (1) Valores pelo teste do Qui-Quadrado Independência sem Correção de Continuidade de YATES. (2) Valores pelo teste do Qui-Quadrado para Independência com Correção de Continuidade de YATES (Tabelas 2x2 e fi < 10). (3) Dados insuficientes para teste. (*) em 6 casos a paciente não tinham o colo do útero ou apenas não foram visualizados. Sessenta e três das pacientes com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas obtiveram o grau de normalidade na visualização do colo do útero, indicando que não se pode avaliar uma paciente com lesões apenas pela inspeção do colo uterino. Nas amostras estudadas não houve relação entre a inspeção do colo uterino e os tipos de lesão. Muitas DST são sintomáticas e danificam as paredes vaginais e o colo do útero,e a caracterização da TAB. 3 ilustra que as modificações nem sempre serão visualizadas. Muitas anormalidades aparecem no colo uterino, principalmente com infecções provocadas pelo HPV, como verrugas e outras alterações, mas notoriamente pôde-se relatar que na inspeção do colo uterino das pacientes analisadas, somente 11 pacientes observaram alterações visíveis. Os cânceres cervicais pode ser caracterizados pelo aspecto macroscópico como exofíticos ou endofíticos. As lesões exofíticas projetam-se da superfície cervical e podem ser 62 visualizadas e medidas com facilidade. As lesões endofíticas são mais difíceis de serem detectadas, em geral não são visíveis no exame com especulo. Elas podem expandir a endocérvice de forma considerável antes de serem detectadas (DOROSHOW et al. 2006). Essas alterações celulares são realçadas na inspeção do colo uterino pelo teste de Schiller. Para a realização do teste, deve-se embeber uma gaze estéril em solução de lugol (à base de iodo) e introduzí-la com o auxílio de uma pinça, através do especulo, para aplicação da solução sobre o colo uterino. O teste possui a finalidade de demarcar áreas de epitélio escamoso cervicovaginal, que é rico em glicogênio. O teste será considerado negativo (iodo positivo) se houver a fixação tingindo o colo de coloração marrom (a tonalidade dependerá da concentração de glicogênio). Na ausência de glicogênio, o tecido permanecerá branco, pois não ocorrerá fixação do iodo e o teste será positivo (iodo negativo). Esta alteração não significa, necessariamente, a presença de lesão suspeita de neoplasia, devendo ser correlacionada com outros exames pelo ginecologista, assim como, se necessário, a colposcopia. Segundo Barros; Marin e Abrão (2002), é muito importante descrever no relatório do exame físico a área do colo uterino onde o teste de Schiller mostrou-se positivo, pois isso ocorre geralmente na presença de alterações celulares como células displásicas ou carcinomatosas. Segundo Oliveira et al. (2005), resultados de vários estudos já concluídos ou em andamento comparando a inspeção do colo uterino e a colpocitologia em um mesmo local apontam para um consenso: o teste de inspeção é tão ou mais sensível que a colpocitologia oncótica, embora seja bem menos específico, com taxas de falso-positivos até cinco vezes maiores que as do exame colpocitológico. Uma possibilidade de melhorar a sensibilidade seria pela combinação de testes. Segundo Brenna et al.(2001), tanto as mulheres com NIC como aquelas com câncer 63 invasivo, em geral, procuram atendimento médico apenas quando tinham alguma queixa. A maioria dos atendimentos ginecológicos é realizado devido a sintomas, anticoncepção, prénatal e quando as mulheres levam os filhos ao atendimento pediátrico (Secretaria de Saúde de São Paulo, 1998). Uma vez que a mulher está presente no serviço de saúde, o exame de Papanicolaou é realizado por iniciativa do médico ou de outros profissionais de saúde. Deriva-se daí que a periodicidade da coleta do Papanicolaou é determinada pela presença de sintomas, que motivam a procura dos serviços de saúde. Em seus estágios iniciais, o carcinoma cervical tende a ser assintomático. Os sintomas iniciais incluem corrimento vaginal, odor vaginal e sangramento vaginal anormal (DOROSHOW et al. 2006). O sangramento como sintomatologia das lesões pré-neoplásicas e neoplásicas relatado pelas pacientes, não pode ser realçado, pois foi caracterizado apenas em duas das pacientes analisadas. De acordo com a nomenclatura brasileira de laudos citopatológicos cervicais, os aspectos microbiológicos necessitam ser diagnosticados no esfregaço de Papanicolaou. A sintomatologia da paciente pode está ligada a infecção por microorganismos. Nos casos analisados, todas as pacientes tinham uma relação com microorganismo de variadas espécies, onde se pode observar a presença de lactobacilos ou bacilos de doderlein, totalizando 56%, outros bacilos, com 21%, cocos sp, com 20% e Trichomonas vaginalis com, 3%. Caracterizando assim que os microorganismos indicam lesões no colo do útero, e se não houver condutas clínicas preconizadas, essas lesões podem evoluir para formas préneoplásicas ou neoplásicas. Segundo Barros; Martins e Abrão (2002), infecções, como trichomonas, sífilis e clamídia são detectados como fatores de risco para o câncer do colo uterino. 64 5.5 Acompanhamento das pacientes com lesões pré-neoplásicas e neoplásicas no ano seguinte ao conhecimento do laudo citopatológico De acordo com os dados fornecidos pelo laboratório, detectou-se que 36 pacientes obtiveram resultados negativos para lesão pré-neoplásicas e neoplásicas, duas das pacientes foram identificadas com carcinoma invasor, uma paciente com lesões intra-epiteliais de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e NIC I), duas encontraram ASCUS, três observaram a lesão intra-epitelial de alto grau (compreendendo NIC II e III) e 36 pacientes não retornaram para repetir o exame preventivo, conforme FIG 7. Dos casos analisados de lesão neoplásicas, duas pacientes não retornaram ao SUS para repetir o exame em 2007, três obtiveram resultados negativos, uma permaneceu em carcinoma invasor e uma regrediu de micro-invasão para NIC II e III. 32 Negativo (45%) 21 Não Repetiu (45%) 36 NIC II e III (3,8%) Carcinoma Invasor (2,5%) 36 ASCUS (2,5%) NIC I (1,3%) FIGURA 7 – Resultados das pacientes com lesões pré neoplásicas e neoplásicas em 2006 de acordo com as evoluções das lesões em 2007 65 Dos casos analisados de lesão neoplásicas, duas pacientes não retornaram ao SUS para repetir o exame em 2007, três obtiveram resultados negativos, uma permaneceu em carcinoma invasor e uma regrediu de micro-invasão para NIC II e III. Segundo Zeferino et al. (1998), quando Richart descreveu a história natural da neoplasia intra-epitelial cervical (NIC) em 1967, estava convencido de que a displasia era simplesmente um câncer inicial e que, embora algumas displasias leves pudessem regredir espontaneamente, a grande maioria evoluiria para carcinoma in situ (CIS) e carcinoma invasor. Hoje se sabe que as NIC representam um grupo de lesões que têm alta possibilidade de regredir espontaneamente, podem permanecer estáveis por tempo desconhecido e um contingente muito menor pode progredir até tornar-se carcinoma invasor. Esta dinâmica evolutiva das lesões precursoras tem implicações no planejamento do rastreamento e das ações diagnósticas e terapêuticas. Não é possível determinar com precisão o tempo de evolução das lesões intraepiteliais até tornarem-se carcinoma invasor, pois aspectos éticos restringem estudos longitudinais com estes objetivos. Assim, alguns estudos estimaram a duração do CIS com base na diferença da idade média da incidência e também a partir de dados de incidência e prevalência (ZEFERINO et al. 1998). O câncer de colo uterino costuma ser uma doença de evolução lenta, que inicia com alterações celulares que podem vir a ser um processo invasivo em média dentro de 20 anos. Observa-se que, quase todo carcinoma invasor progrediu de uma neoplasia intra-epitelial, uma boa parte das NIC têm regressão espontânea, já que em média, um terço delas regride, um terço permanece estacionário e apenas um terço evolui para carcinoma in situ ou invasor. Como não é possível saber, de antemão, quais irão progredir para fases mais avançadas, admite-se que todas devem ser tratadas (SCHRAIBER; NEMES e GONÇALVES, 2000). De acordo com Viana; Martins e Geber (2001), o tempo de evolução de uma displasia 66 leve até carcinoma in situ é de aproximadamente 58 meses. Não existe critérios pelos quais um patologista possa identificar quais lesões de baixo grau evoluirão para o câncer invasor. Nessas situações, somente a biologia molecular pode predizer, com alguma segurança, quais lesões podem evoluir, ou não, até a invasão. A regressão à normalidade gira em torno de 53%, sendo que 16,5% progredirão para displasia modera e 1,5% até carcinoma in situ. A evolução do carcinoma in situ é de aproximadamente 38 meses, sendo que apenas 11,3% evoluirão dessa forma. Segundo INCA (2003), o câncer do colo do útero inicia-se a partir de uma lesão préinvasiva, curável em até 100% dos casos (anormalidades epiteliais conhecidas como displasia e carcinoma in situ ou diferentes graus de NIC), que normalmente progride lentamente, por anos, antes de atingir o estágio invasor da doença, quando a cura se torna mais difícil, quando não impossível, na ausência de tratamento, o tempo mediano entre a detecção de uma displasia leve (HPV, NIC I) e o desenvolvimento de carcinoma in situ é de 58 meses, enquanto para as displasias moderadas (NIC II) esse tempo é de 38 meses e, nas graves (NIC III), de 12 meses. Em geral, estima-se que a maioria das lesões de baixo grau regredirão espontaneamente, enquanto cerca de 40% das de alto grau não-tratadas evoluirão para câncer invasor em um período médio de dez anos. Por outro lado, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos (NCI, 2000) calcula que somente 10% dos casos de carcinoma in situ evoluirão para câncer invasor no primeiro ano, enquanto de 30% a 70% terão evoluído decorridos dez a 12 anos, caso não seja oferecido tratamento. As taxas de sobrevida são mais altas (aproximadamente 90%) quando a doença é diagnosticada em estágios iniciais, e baixas em (aproximadamente 13-14%) quando diagnosticada em estágios avançados (DOROSHOW et al. 2006). 67 Sobre as pacientes que não repetiram o exame após seis meses do laudo positivo, pressupõe-se que a mesma procurou outro serviço de saúde especializado em câncer, ou não ofereceu credibilidade ao teste, relevando o caso como laudo qualquer. Segundo Brenna (2001), muitas mulheres relatam dificuldades pessoais para procurar os serviços de saúde. A maioria das mulheres não tinha motivação, ou tinha vergonha, para procurar atendimento médico. Entretanto, problemas como distância, dificuldades para deixar filhos ou parentes, não poder deixar o trabalho ou ainda ter dificuldades financeiras e com transportes também foram dificuldades apontadas. Entretanto há também a má qualidade dos serviços de saúde como médicos que não examinam, tempo de espera longo para conseguir uma consulta, problemas com agendamento e consultas remarcadas por falta de médico ou greve. Tais dificuldades desestimulam ou exigem que o tempo gasto para ter algum atendimento seja muito grande, levando as mulheres a deixarem seus afazeres diários para se ocuparem em conseguir atendimento médico. Esta situação poderia ser classificada como dificuldades pessoais das mulheres, mas, na realidade, seriam dificuldades geradas pelos próprios serviços de saúde. Alguns países desenvolvidos somente conseguiram melhorar a cobertura populacional para o rastreamento do câncer de colo uterino quando introduziram uma sistemática de controlar e convocar as mulheres para fazer periodicamente o exame de Papanicolaou. No entanto, os países em desenvolvimento geralmente não têm um sistema de saúde organizado e, mesmo que o tivessem, há que se considerar problemática econômica da população em geral. Por exemplo, a falta de moradia própria e definitiva dificulta a convocação das mulheres para fazer exames periódicos. Assim seria pouco provável que um modelo organizacional de países desenvolvidos fosse adequado também aos países em desenvolvimento. 68 6 CONCLUSÃO Em função da incidência encontrada de 0,5% das pacientes estudadas, observou-se um índice elevado com lesão pré-neoplásicas ou neoplásicas. Em relação a outros estudos avaliados neste trabalho foi comparado dados semelhantes que caracterizando índice com elevação. A distribuição etária encontrada de maior destaque, observou-se quando a atividade sexual ainda se faz presente com freqüência. A evolução das lesões pré-neoplásicas do colo uterino leva em média três anos após o início da atividade sexual, caracterizando um auxílio médico de grande importância nessa fase da vida sexual das mulheres. O exame preventivo de Papanicolaou é um forte aliado nas campanhas de prevenção ao câncer de colo uterino, pois através do mesmo, obtêm-se informações importantes sobre a saúde da mulher. O diagnóstico precoce do câncer do colo uterino corretamente é um dado importante para detectar as lesões iniciais e levar a um elevado percentual de cura da doença. A prevenção atualmente consiste em esforços para aumentar o número de mulheres rastreadas. A principal característica do exame preventivo vem através de seu baixo custo e sua simplicidade na execução do mesmo. A prevenção do câncer do colo uterino deve envolver um conjunto de ações educativas com a finalidade de atingir grande parte das mulheres de risco, além da realização da colpocitologia oncótica, culminando com o tratamento adequado para cada situação. Com base no conhecimento dos fatores de risco, as ações preventivas e de controle devem ser desenvolvidas de maneira integrada com todas as instituições de saúde que prestam atendimento de saúde nos diversos níveis. Portanto, a mortalidade pelo câncer do colo uterino é evitável, se caracterizando como uma doença de evolução lenta da doença, favorecendo por meios preventivos o diagnóstico e o tratamento, para que as lesões precursoras sejam curáveis em até 100% dos casos. Mas 69 observou-se através deste estudo que as maiores dificuldades, no momento estão relacionadas à continuidade da prevenção e a garantia de tratamento e acompanhamento das mulheres que apresentam alterações citológicas. Esse tipo de exame preventivo pode mudar a incidência de neoplasias do colo uterino, levando a cura em muitos casos, especialmente se o tratamento for ao início. As mulheres necessitam se conscientizar cada vez mais a respeito do exame preventivo de Papanicolaou e procurar sempre que necessário à ajuda do profissional da saúde, mesmo não tendo nenhum sintomas. Nota-se um conhecimento superficial sobre o câncer, mas em relação ao constrangimento, a vergonha e as dificuldades do cotidiano as mulheres muitas vezes abandonam o tratamento ou não procuram mais o profissional da saúde. A falta de educação sexual nas famílias e na escola é uma das causas prováveis do pouco conhecimento sobre o corpo e acerca da sexualidade e os profissionais de saúde nem sempre estão preparados para lidar com essas questões. Por esta razão, considerou-se relevante a educação permanente em saúde, atividades educativas junto às mulheres, parcerias entre os serviços de saúde e universidades e/ou escolas e/ou organizações que lidem com essa temática e que possam promover a atenção para a prevenção do câncer cérvico-uterino. Que o governo priorize campanhas de esclarecimento acerca desse câncer, sobretudo, na mídia televisiva, que abrangeria igualmente os cônjuges, que nem sempre compreendem a necessidade dessa prevenção. 70 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Vivian Mae Schmidt Lima et al... Fatores associados a não realização do exame de Papanicolaou: um estudo de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Rio de Janeiro, v.22, n. 11, p. 2329-2338, nov. 2006. BARROS, Sonia Maria Oliveira de; MARIN, Heimar de Fátima; ABRÃO, Ana Cristina Freitas de Vilhena. Enfermagem Obstétrica e Ginecológica. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 413-470. BEGHINI, Alessandra Bonato et al.. . 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