ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DE Staphylococcus aureus PROVOCADAS PELO EXTRATO OBTIDO DE CASCAS DE TRICHILIA CATIGUA Sara Gonçalves Paschoal1(bolsista), Audrey Alesandra Stinghen Garcia Lonni2 (Colaboradora), Gerson Nakazato1 (Orientador). e-mail: [email protected] 1Departamento de Microbiologia, CCB, Universidade Estadual de Londrina. 2Departamento de Ciências Farmacêuticas, CCS, Universidade Estadual de Londrina. Área e sub-área de conhecimento: Microbiologia, Microbiologia Aplicada. Palavras-chave: Antimicrobianos naturais, Trichilia catigua, microscopia eletrônica. Resumo Utilizar de drogas vegetais representa uma alternativa de substituição aos antissépticos convencionais. Trichilia catigua, conhecida como catuaba, apresenta propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas. Neste estudo a composição do veículo extrator foi escolhida seguindo um planejamento experimental Centróide Simplex com quatro componentes, que resultou em quinze extratos de T. catigua. Partindo desses extratos, foram realizadas as técnicas de determinação da concentração inibitória mínima (CIM) e microscopia eletrônica (ME). Foi testada a amostra de Staphylococcus aureus ATCC 29213. Os resultados mostraram uma CIM de 500 µg/mL e efeito bactericida com o composto obtido da solução metanólica. A ME mostrou alterações morfológicas nas bactérias e um aumento de matriz celular. Esses resultados indicam que este extrato é um potencial antibacteriano natural. Introdução e Objetivos T. catigua A. Juss., conhecida como catuaba, tem sido usada na medicina popular como afrodisíaca, sendo utilizada para tratamento de impotência sexual, fadiga e déficit de memória (VAS et al., 1997). Estudos fitoquímicos realizados com T. catigua têm revelado a presença de diversos compostos que apresentam propriedades anti-inflamatória (QUINTÃO et al., 2008) e antimicrobiana (PIZZOLATTI et al., 2002a, 2002b), entre outras atividades farmacológicas. Neste estudo foi utilizado do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) para analisar a ação do extrato frente ao microorganismo. O objetivo foi 1 analisar alterações morfológicas em S. aureus ATCC 29213 provocada pela ação de extrato de Trichilia catigua e esclarecimentos acerca de possíveis mecanismos de ação do extrato. Material e Métodos Caracterização da matéria-prima vegetal As cascas secas de T. catigua A. Juss., família Meliaceae, foram doadas pelo Laboratório Catarinense S/A. Foi realizado o controle de qualidade da droga vegetal de acordo com método farmacopeico (F. BRAS. V, 2010). Preparo dos extratos brutos de Trichilia catigua (LONNI et al., 2012) Os extratos brutos foram preparados de acordo com Lonni e colaboradores (2012). O sistema extrator foi escolhido seguindo um planejamento experimental do tipo centróide simplex com quatro solventes puros, sendo: água, metanol, acetona e etanol. Foram obtidos quinze extratos brutos de T. catigua (ETC). Amostras bacterianas Neste trabalho foram testadas amostras de S. aureus ATCC 29213. As amostras foram armazenadas em meio BHI contendo 20% de glicerol a -80ºC. Curva de crescimento e morte As culturas foram crescidas em meio Mueller Hinton Ágar (MH) durante 24 horas. Um novo inóculo foi realizado diluindo a bactéria em um novo meio MH caldo até obter 106 células/mL. Em seguida foi adicionado ETC na concentração desejada. Em outro meio (controle) foi adicionado além da bactéria apenas o solvente. A nova cultura foi então cultivada a 37ºC sob aeração (150 rpm). Alíquotas foram retiradas, diluídas e plaqueadas em meio MH Ágar (inóculo inicial), em diferentes tempos de incubação (1, 2, 5, 7, 10 e 24 horas) para posterior contagem de unidades formadoras de colônias (UFC). Os resultados foram comparados com cultura cultivada nas mesmas condições anteriores, mas sem o composto (controle negativo). Microscopia Eletrônica de Varredura Para o teste, 106 células/mL foram testadas para o extrato de T. catigua na CIM em tempo de incubação determinado de acordo com os resultados da curva de crescimento e morte. Alíquotas de 20 μL dos tratamentos foram transferidas para lâminas de vidro previamente revestidas com poli-lisina e colocadas em estufa a 28°C por 1 h para secagem, em seguida, as lâminas foram fixadas em uma solução contendo 2,5% glutaraldeído, 2% 2 paraformaldeído em tampão cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2) por um período de 12 h. Após a fixação, as lâminas foram lavadas com tampão cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2) e pós-fixadas em uma solução de tetróxido de ósmio 1% em tampão cacodilato de sódio por 2 h. As amostras foram desidratadas em etanol nas concentrações de 70, 80, 90 e 100%, e posteriormente secas em ponto crítico de CO2 (BALTEC CPD 030 Critical Point Dryer). Após a secagem as lâminas foram revestidas com ouro (BALTEC SDC 050 Sputter Coater), e finalmente visualizadas no microscópio eletrônico de varredura (FEI Quanta 200) (Oliveira et al., 2010). O procedimento foi realizado com a colaboração da Profa. Dra. Célia Guadalupe Tardeli de Jesus Andrade do Laboratório de Microscopia e Microanálise, Departamento de Biologia Geral, Universidade Estadual de Londrina. Resultados e Discussão Ao se avaliar o efeito do extrato de T. catigua sobre cepas de S. aureus, verificou-se que um dos extratos apresentou atividade contra a cepa. No teste in vitro, o extrato 2 (metanol) teve um efeito bactericida a 500 μg/ml. Outros extratos (frações) apresentaram valores acima de 500 μg/ml. As imagens revelaram uma grande diminuição no número de células em poucas horas (Figura 1B), comparadas com o controle (Figura 1A), e alterações morfológicas tridimensionais na superfície bacteriana (Figura 1B). Além, disso foi possível observar um aumento na matriz celular destas bactérias pela atividade do composto (Figura 1B). Essas alterações indicam que diferentes mecanismos podem estar associados ao composto. Figura 1 - Imagens de microscopia electrônica do efeito antibacteriano do extrato Trichilia catigua 2 contra S. aureus ATCC 29213 em momentos diferentes. A: controle negativo (3 h sem extrato) B: Extrato de Trichilia catigua 2 (3 h). Conclusões Estes resultados mostram que o extrato de Trichilia catigua é um potencial antibacteriano natural. 3 Agradecimentos Agradeço à Fundação Auraucária/UEL. Agradeço ao Prof. Gerson Nakazato, às profas. Audrey Alesandra Stinghen Garcia Lonni e Renata Kobayashi por todo ensino e, a todos do Laboratório de Microbilogia Aplicada da Universidade Estadual de Londrina. Referências LONNI, A.A.S.G., LONGHINI, R., LOPES, G.C., MELLO, J.C.P. Statistical mixture design selective extraction of compounds with antioxidant activity and total polyphenol content from Trichilia catigua. Analytica Chimica Acta, Amsterdam, v. 719, p. 57-60, 2012. OLIVEIRA, A.G.; MURATE, L.S.; SPAGO, F.R.; LOPES, L.P.; BERANGER, J.P.O.; SAN MARTIN, J.A.B.; NOGUEIRA, M.A.; MELLO, JC.P.; ANDRADE, C.G.T.J.A.; ANDRADE, G. Evaluation of the antibiotic activity of extracellular compounds produced by the Pseudomonas strain against the Xanthomonas citri pv. citri 306 strain. Biological Control, in printing. 2010. PIZZOLATTI, M. G.; VENSON, A. F.; SMÂNIA, A. J.; SMÂNIA, E. F. A.; BRAZFILHO, R. Two epimeric flavalignans from Trichilia catigua (Meliaceae) with antimicrobial activity. Zeitschrift der Naturforschung, v. 57, n. 5-6, p. 483-488, May/Jun. 2002a. PIZZOLATTI, M. G.; KOGA, A .H.; GRISARD, E. C.; STEINDEL, M. Trypanocidal activity of extracts from Brazilian Atlantic Rain Forest plant species. Phytomedicine, Stuttgart, v. 9, p. 422-426, 2002b. QUINTÃO, N. L. M.; FERREIRA, J.; BEIRITH, A.; CAMPOS, M. M.; CALIXTO, J. B. Evaluation of the effects of the herbal product Catuama® in inflammatory and neuropathic models of nociception in rats. Phytomedicine: International Journal of Phytotherapy & Phytopharmacology, v.15, p.245-252, 2008. VAS, Z.R.; MATA, L.V.; CALIXTO, J.B. Analgesic effect of the herbal medicine Catuama in thermal and chemical models of nociception in mice. Phytotherapy Research, v.11, p.101- 106, 1997. 4