COMPARAÇÃO DO TERCEIRO E QUARTO RELATÓRIOS DO IPCC Tatiane Regina Campanholo – RA 121488* AUMENTO DA TEMPERATURA, Climate Change 2001 e Climate Change 2007 (IPCC) O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) foi criado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pela United Nations Environment Programme (UNEP) em 1988, com o objetivo de estudar e divulgar abertamente as informações técnicas e socioeconômicas e os impactos relevantes aos riscos à humanidade, visando criar mecanismos para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas globais. O painel publicou quatro relatórios sobre mudança climática, em 1990, 1995, 2001 e 2007. Juntamente com esses relatórios o IPCC publicou um Resumo para Tomadores de Decisão, que esboça os principais temas dos relatórios. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), desde a publicação do seu primeiro relatório de avaliação, em 1990, identificou um aumento nas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre, e admitiu que esse aumento levaria a um aumento nas temperaturas, tanto terrestre quanto dos oceanos, o que poderia gerar graves impactos no clima da Terra. Apesar de ainda apontar um significativo grau de incerteza científica, esse primeiro relatório serviu como alerta mundial aos perigos do rápido aumento das emissões de gases que causam o efeito estufa e o aquecimento global e suas conseqüências. O terceiro relatório de avaliação, publicado em 2001, trazia fortes evidências que a ação do homem era promotora de mudanças climáticas, e projetava cenários alarmantes de aumento de temperatura na Terra e suas conseqüências nos mais diversos biomas. Em particular, esse relatório indicou que o aquecimento global era provável de 66% a 90% de certeza. De acordo com tal relatório, algumas espécies de plantas e animais (como espécies em extinção e outras) e sistemas naturais costeiros (como recifes de corais, mangues e outros) poderiam ser afetados por variações climáticas regionais que correspondem a menos de 1°C do aquecimento global até 2100. Com um aquecimento de 1° a 2°C até 2100, algumas mudanças regionais seriam suficientemente significantes para causar impactos severos a algumas dessas espécies super sensíveis, aumentando irreversivelmente o risco de extinção Mestranda no Planejamento de Sistemas Energéticos da Faculdade de Engenharia Mecânica – FEMUNICAMP * destas. Além de concluir que a temperatura da Terra já havia aumentado de 0,4°C para 0,8°C desde o ano de 1860. Em fevereiro de 2007, o IPCC publicou o Climate Change 2007, sua última avaliação sobre o estado do clima na Terra. Os resultados do quarto relatório de avaliação alertam para um aumento médio global das temperaturas entre 1,8ºC e 4,0ºC até 2100 e afirma que o aquecimento global é muito provável, com 90% a 99% de certeza. As afirmações e evidências são ainda mais fortes de que a ação humana é a grande causadora do aquecimento global e de que algumas mudanças climáticas já identificadas são irreversíveis. De acordo com esse relatório, onze dos últimos doze anos (de 1995 a 2006) estão entre os doze anos mais quentes da história da humanidade e o aumento da temperatura tem se espalhado ao redor do globo terrestre, e é maior no hemisfério Norte da Terra. Observações feitas desde 1961 mostram que a variação da temperatura dos oceanos globais tem aumentado até profundidades de 3.000 m, e que os oceanos têm absorvido cerca de 80% do calor adicionado ao sistema climático, o que pode causar graves alterações no modo como as correntes marítimas interferem no clima dos continentes. Houve também um aumento do nível do mar em que a variação global seguiu uma taxa de 1.8 mm/ano de 1961 a 1993, e de 3.1 mm/ano de 1993 a 2003. Houve uma diminuição da cobertura e extensão de gelo e neve em que dados de satélite mostraram que, desde 1978, a variação anual da extensão de gelo do Oceano Ártico encolheu 2,7% por década, e 7,4% no verão. A precipitação, entre 1900 e 2005, aumentou significativamente em algumas partes do globo (leste da América do Norte e do Sul, nordeste da Europa e norte e centro da Ásia), mas diminuiu em outras (Sahel, na África, Mediterrâneo, sul da África e sudeste da Ásia). Outras mudanças climáticas identificadas no quarto relatório de avaliação do IPCC mostram que o número de furacões de categoria 4 ou 5 (ventos de 210 a mais de 250 km/hora) quase dobrou nos últimos 30 anos; a malária (doença típica de países tropicais) tem se espalhado para latitudes mais altas; o fluxo que se desprende das geleiras na Groenlândia mais do que dobrou na última década; e pelo menos 279 espécies de plantas e animais já respondem ao aquecimento global, movendo-se para mais perto dos Pólos terrestres. O quarto relatório afirma que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no ritmo atual ou forem ainda mais intensas, um aquecimento maior irá ocorrer. Isso, por sua vez, irá causar várias mudanças no clima global. As temperaturas da superfície poderiam aumentar até 6,4 ºC, se as emissões ficarem mais rápidas que o ritmo atual, se for mantido o consumo intenso dos combustíveis fósseis e se a população e a economia continuarem crescendo rapidamente. Os níveis dos mares irão subir e os padrões climáticos irão mudar incluindo tempestades mais intensas e secas ainda mais amplas e duradouras. A contínua emissão de gases de efeito estufa poderia causar um aquecimento e induzir muitas mudanças no sistema climático global durante o século XXI. As estimativas mais prováveis de aumento da temperatura da superfície consideram os cenários extremos de altas emissões (A2) e de baixas emissões (B2), que foram usadas para o Terceiro Relatório. Somente as análises de extremos de clima usam as projeções geradas que fazem parte do Quarto relatório. A estimativa mais otimista (B1) indica um aumento de 1,8ºC e a mais pessimista (A1F1) indica um aumento de 4ºC. Figura 1. Aquecimento da superfície global As linhas sólidas são médias globais do aquecimento da superfície produzidas por vários modelos (relativas a 1980-99) para os cenários A2, A1B e B1, mostradas como continuações das simulações do século XX. O sombreamento denota a faixa de mais/menos um desvio-padrão para as médias anuais individuais dos modelos. A linha alaranjada representa o experimento em que as concentrações foram mantidas constantes nos valores do ano 2000. As colunas cinza à direita indicam a melhor estimativa (linha sólida dentro de cada coluna) e a faixa provável avaliada para os seis cenários do Relatório Especial sobre Cenários de Emissões (RECE) – IPCC 2000. A avaliação da melhor estimativa e das faixas prováveis nas colunas cinza compreende os Modelos de Circulação Geral da Atmosfera-Oceano (AOGCM) na parte esquerda da figura, bem como os resultados de uma hierarquia de modelos independentes e restrições das observações. Segundo o relatório de 2007, é preciso limitar as emissões de CO2 a 450 partes por milhão (ppm) para prevenir a grande maioria das mudanças no clima do mundo. Isso significa que governos, empresas e indivíduos precisam fazer esforços significativos para mudar a forma como eles (e nós) fazemos as coisas, a fim de reduzir as emissões de CO2. Ainda que as emissões sejam cortadas e mantidas a um nível abaixo do limite de 450 ppm, o aquecimento global irá continuar por um tempo, até que o meio ambiente da Terra se estabilize. Figura 2. Mudança de temperatura global e continental Fonte: IPCC (2007). Esses gráficos, do relatório de Resumo para Tomadores de Decisão 2007 do IPCC, comparam temperaturas médias reais nos continentes e no mundo de 1901 a 2000 com diferentes situações climáticas. A linha preta mostra temperaturas reais desse período. A faixa azul representa simulações de modelos climáticos que incluem mudanças nas atividades solares (como erupções solares) e vulcões. A faixa rosa mostra simulações de modelos climáticos que incluem mudanças naturais (como na faixa azul) mais mudanças de outras fontes. A faixa rosa segue a tendência daquilo que realmente aconteceu. Isso leva à conclusão de que o aumento de temperatura ao redor do mundo é causado por influências externas, mais especificamente emissões de gases de efeito estufa provenientes de atividades humanas. Figura 3. Projeções da temperatura superficial do AOGCM Fonte: IPCC (2007). Esses números, do relatório de Resumo para Tomadores de Decisão 2007 do IPCC, mostram mudanças projetadas na temperatura superficial para os períodos 2020-2029 e 20902099. Três modelos de crescimento populacional e econômico diferentes foram usados como base para esses diagramas. A linha superior, B1, mostra uma população que atinge o pico em meados do século e depois cai, com o desenvolvimento de uma economia de serviços e informação, que inclui tecnologias mais limpas e mais eficientes. Esse cenário causa as menores mudanças de temperatura. O modelo A1B tem a mesma curva populacional que B1. Contudo, há um rápido crescimento econômico mundial, com uma variedade de recursos fornecendo energia. Esse cenário mostra mudanças moderadas de temperatura. O modelo A2 tem uma população continuamente crescente, com todas as regiões do mundo concentradas em sua própria economia e tecnologias, no ritmo de cada região. Esse cenário mostra o maior aumento de temperatura. Nenhum desses cenários inclui iniciativas específicas para controlar as emissões; eles projetam o que poderia acontecer se as coisas continuassem como estão. REFERENCIAS IPCC. Third Assessment Report – Climate Change 2001: impacts, adaptation and vulnerability. Disponível em: <http://www.grida.no/climate/ipcc_tar/wg2/index.htm > Acesso em: 19/setembro/2011. IPCC. Fourth Assessment Report – Climate Change 2007: the Synthesis Report. Disponível em: <http://www.ipcc.ch> Acesso em: 19/setembro/2011.