AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO EM HABITAÇÕES POPULARES NO MUNICÍPIO DE AMORINÓPOLIS – GO: período de inverno.1 Valdir Specian¹; Priscilla Daiane Soares Martins²; Elis Dener Lima Alves³ ¹Orientador, docente do Curso de Geografia, UnU Iporá - UEG. ²Bolsista PBIC/UEG, graduanda do Curso de Geografia, UnU Iporá – UEG. ³Colaborador – mestrando do programa de Pós-Graduação em Física Ambiental da UFMT. RESUMO O presente estudo tem como objetivo analisar os níveis de conforto térmico em duas habitações populares no Município de Amorinópolis – GO. A analise usa como referência dois episódios representativos do tempo atmosférico. Nesse artigo serão apresentados os dados da campanha de coleta para o episódio de inverno, meses de junho/julho, a segunda campanha setembro/outubro encontra-se em andamento. Para cada episódio são coletados os valores de temperatura e umidade relativa do ar em 6 horários ao longo do dia e em dois cômodos de cada casa, quarto e sala. Os aparelhos usados para registro dos elementos do clima são termo-higrômetros digitais portáteis. As coletas são realizadas concomitante ao uso habitual de cada família. Para escolha dos episódios representativos são usadas imagens do Satélite Goes e as Cartas Sinóticas da Marinha do Brasil, além dos registros fornecidos pela PCD instalada no campus da unidade da UEG em Iporá. Os registros de temperatura e umidade relativa do ar das duas casas são comparados ao índice de conforto proposto por Givoni (1992). Os resultados apontam que para a coleta de inverno os valores de temperatura e umidade relativa do ar ficaram dentro do proposto no índice de conforto usado como parâmetro. Palavras – Chaves: Ambiente Construído, Conforto Térmico e Climatologia Geográfica. Introdução O estudo do clima ganhou grande destaque nos últimos anos devido à repercussão de que o homem estaria provocando mudanças nas características do mesmo. Esse tipo de apelo, provocado pela mídia, faz referência as grandes escalas e utiliza a temperatura como foco para informar que o planeta está cada dia mais quente e ao mesmo tempo apresentam modelos de possíveis desdobramentos dessa mudança. Por outro lado, a mídia e a sociedade em geral, se esquecem dos níveis dos problemas climáticos em escala local, como o clima urbano e sua variação para a análise das condições de habitabilidade de uma moradia, o conforto térmico. A qualidade de vida de uma pessoa está relacionada há uma série de elementos do seu cotidiano, entre esses, encontra-se o conforto proporcionado pelas suas condições de moradia. A casa, espaço que abriga uma pessoa por um grande período de sua vida, apresenta itens que podem torná-la mais ou menos confortável. Nesse contexto um dos itens que podem 1 O artigo apresenta os resultados parciais do projeto de pesquisa. Os autores agradecem os computadores e periféricos cedidos pela SIMEGO. ser avaliados é o conforto térmico. A avaliação das condições térmicas de uma residência é, via de regra, trabalhada por várias áreas das ciências, pois um projeto bem elaborado pode proporcionar, além de conforto, economia de energia, através da diminuição do uso de aparelhos de ar condicionado e similares. Quando tratamos de habitações populares, promovidas por projetos do estado, várias indagações e interpretações surgem, principalmente, críticas a qualidade, em todos os aspectos do projeto. Para Kruger e Lamberts (2000) os projetos de construção de moradias populares envolvem variáveis, como: escolha do local para construção, a própria construção e avaliação pós-ocupação. Muitas vezes, os conjuntos habitacionais servem como forma de valorização imobiliária de determinadas áreas, quando os mesmos são afastados das áreas centrais provocando a especulação imobiliária, em outros casos, as habitações são construídas como baixo de nível de qualidade do material, provocando uma série de incômodos aos futuros moradores. Na análise do nível de conforto das habitações será usado o diagrama bioclimático proposto por GIVONI (1992). O mesmo autor Givoni (1998) apud Silva (2001), exemplifica que aplicando os valores de limites propostos em sua carta original para países do Hemisfério Sul, onde a maior parte dos edifícios comerciais e casas não apresentam, ainda, mecanismos de aquecimento ou resfriamento artificial, concluiu que as pessoas que trabalham e moram em habitações com essas características têm maiores possibilidades de adaptação e controle das condições de comodidade térmica (sensação que expressa a satisfação com o ambiente circundante). Dessa forma o objetivo central da pesquisa (em andamento) é analisar as condições de conforto térmico em duas casas, habitadas, no perímetro urbano do município de Amorinópolis-GO, mais especificamente no conjunto habitacional Maria do Carmo de Jesus, situado na Vila União. A fim de buscar o entendimento do problema em questão é usada para avaliação de conforto a aferição dos níveis de temperatura e umidade relativa do ar no interior das casas em estudo, em pelo menos dois pontos em cada casa. Os dados coletados são comparados com os níveis de conforto propostos por Givone (1992), bem como correlacionados aos valores de temperatura e umidade do ar externo. Materiais e Métodos O Município de Amorinópolis localiza-se na região denominada politicamente de Oeste de Goiás, entre as coordenadas de 16°37’08’’ de latitude Sul e 51°05’38’’ de longitude Oeste, possui uma área de 408,524km², e tem como municípios limítrofes Iporá e Ivolândia, sua população é estimada em 3.527 habitantes, e sua principal base econômica se encontra na agropecuária. As unidades habitacionais, foco do estudo, foram construídas a partir de 2003, através do projeto de habitação popular “Moradia para Todos”, realizado através de convênio entre o Governo do Estado e a Prefeitura do Município. As unidades foram edificadas em alvenaria de blocos cerâmicos, com cobertura de telhas cerâmica e forro em gesso. Uma das casas não possui revestimento externo e os quintais das duas casas não estão impermeabilizados. A diferenciação das mesmas se dá pelo padrão de uso de cada família e pelo fato de que as mesmas sofreram modificação em relação ao projeto original, como reorientação de aberturas de janelas e isolamento de área externa. A figura 1 mostra o planta baixa das casas em estudo e a figura 2 a fachada das mesmas. Figura 1. Planta baixa das unidades habitacionais utilizadas na pesquisa. As casas apresentam uma área construída de 39.86 m², sendo divididas em 2 quartos, sala, cozinha e banheiro. Os materiais básicos são constituídos de tijolo cerâmico, com esquadrias metálicas e estrutura em madeira para a cobertura. Casa 1 Casa 2 Figura 2 – Fachadas das duas unidades habitacionais em estudo. A diferença básica entre as casas é o uso habitual de cada família e fato de casa 1 ter sua área externa coberta de grama. O período de análise é formado pela coleta de dados em dois momentos distintos, stress de frio e stress de calor (em coleta), para isso será usado à proposta de análise dinâmica do clima, avaliando as condições climáticas a partir de episódios representativos, conforme proposto por Monteiro (1969 e 1971). Os fatores relacionados ao projeto de construção e a forma de uso das residências, além da arborização serão referenciados em um outro artigo. O episódio climático foi escolhido conforme as condições da dinâmica climática para o período de coleta. Para a escolha do episódio representativo, dentro de cada etapa de coleta, foram acessadas as Imagens do satélite GOES, fornecidas pelo CPTEC/INPE onde é possível diagnosticar as características da atmosfera para o período (atuação de massas de ar) e também, através das cartas sinóticas a superfície, acessadas através do site do serviço de meteorologia da Marinha do Brasil. Na análise dos dados é preciso ressaltar, conforme descreve Silva (2001), que os estudos sobre avaliação de desempenho térmico de habitações ocupadas apresentam algumas peculiaridades e limitações devido às dificuldades de monitoramento e acompanhamento, onde no estudo e análise pode-se relacionar, entre outras, o difícil pré-conhecimento das diversas atividades realizadas nas casas por seus ocupantes, durante 24 horas e por longos períodos. Os limites usados como referência de conforto segue o proposto por Givoni (1992), onde as temperaturas apresentam o limite mínimo de 18°C e máximo de 29°C; e a umidade relativa do ar, entre 20%, limite inferior, e 80%, superior. Resultados Os resultados (parciais) analisados indicam que as habitações populares em estudo encontram-se dentro do limite proposto por Givoni (1992) para a coleta de “inverno” (período de 23 a 26/06 de 2009). Nesse caso é preciso considerar que as temperaturas registradas na região não caracterizam um inverno rigoroso, no Oeste de Goiás o período é marcado pela escassez das chuvas e baixa umidade do ar, mas não por temperaturas abaixo do 18ºC. A figura 3 aponta que os valores de temperatura interna do ar (mínimas) registradas para casa 1, ficaram sempre acima da referência e que as máximas ultrapassaram o limite de 29ºC. Enquanto a umidade manteve-se dentro do limite proposto. Nesse caso é novamente necessário considerar que a umidade é correlacionada ao fator temperatura, optamos por analisar os dias mais frios, condicionando que os valores médios de umidade sempre estivessem em acordo com os níveis de conforto. Destaca-se, igualmente, figura 3, a diferenciação entre os valores para os dois cômodos das casas. Essa diferença precisa ser analisada através de entrevista com os moradores para verificar o padrão de uso do imóvel. 75 55 45 Umid % 65 35 temp p1 tem p p2 um id 1 0 21 h0 0 18 h0 15 h0 0 0 12 h0 0 09 h0 07 h0 0 21 h0 0 18 h0 0 00 00 15 h0 0 12 h 09 h 07 h0 0 21 h0 0 18 h0 0 15 h0 0 12 h0 0 0 0 09 h0 0 07 h0 21 h0 18 h0 0 15 h0 0 00 25 12 h0 0 07 h 00 32.3 31.4 30.5 29.6 28.7 27.8 26.9 26 25.1 24.2 23.3 22.4 21.5 20.6 19.7 18.8 17.9 17 09 h Temp. ºC Temperatura e Umidade do Ar para habitação popular em Amorinópolis-GO casa nº1 (23/jun - 26/jul/2009) 15 um id 2 horário de coleta Figura 3 – registro dos valores de temperatura e umidade relativa do ar para casa nº1. Para a casa nº 2, os valores seguem o mesmo padrão em relação a casa nº 1 (figura 4). A diferença está nos valores dos níveis máximos de umidade que apresentaram até 10% a menos em relação à casa 1. Ainda não é possível avaliar o motivo dessa diferença, a causa provável pode ser relaciona ao padrão diferencial de uso de cada família e ao fator sombreamento das casas. Temperatura e Umidade do Ar para habitação popular em Amorinóplis - GO casa nº 2 (23/jun - 26/jun/2009) 75 32.3 31.4 30.5 29.6 28.7 27.8 26.9 26 25.1 24.2 23.3 22.4 21.5 20.6 19.7 18.8 17.9 17 45 35 25 tem p p4 umid 3 0 0 0 0 21 h0 18 h0 15 h0 12 h0 09 h0 0 07 h0 0 21 h0 0 18 h0 0 15 h0 0 12 h0 0 09 h0 0 00 00 07 h0 0 21 h 00 00 00 00 00 00 tem p p3 18 h 15 h 12 h 09 h 07 h 21 h 18 h 15 h0 0 12 h0 0 15 09 h0 0 07 h0 0 Temp. ºC 55 Umid % 65 um id 4 horário de coleta Figura 4 - registro dos valores de temperatura e umidade relativa do ar para casa nº2. Conclusões Os resultados encontrados até o momento apontam que as habitações em estudo apresentam padrão de conforto compatível com os índices de referência, considerando que o foco dos resultados parciais da pesquisa aqui apresentados são apenas para o período de “inverno” na região. Coletas para períodos maiores devem apontar que o problema maior das habitações deve ser em relação aos níveis de umidade, mas esse pode ser considerado como um elemento que responde a própria realidade climática da região. Os resultados indicam, também, que os níveis de conforto devem apresentar maiores deficiências na coleta de verão, pois mesmo para essa primeira coleta, ora apresentada, a temperatura máxima ultrapassou o limite de 29ºC proposto como referência de temperatura máxima. Referências Bibliográficas GIVONE, B. Study human comfort. In: Urban design in different climates. Villarroel, L. (1997). Eefecto de la expación urbana sobre la temperature de Santiago – Quinta Normal. Santiago do Chile; 1989; GIVONE, B. Comfort climate analysis and building design guidelines. Energy and Buildings, nº 18; 1992; KRÜGER, Eduardo L & LAMBERTS, Roberto. Avaliação do Desempenho Térmico de Casas Populares. In: VIII Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído. 8 p; 2000. MONTEIRO, C. A. de F. A Frente Polar Atlântica e as Chuvas de Inverno na fachada Sul-Oriental do Brasil (contribuição metodológica à analise rítmica dos tipos de tempo no Brasil). São Paulo: USP Instituto de Geografia. Série teses e monografias nº 1. 69 p. 1969. __________________. Análise Rítmica em Climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho. São Paulo: USP - Instituto de Geografia. 21p. 1971. SILVA, Adeildo Cabral da. Estudos Climáticos e Ambiente Construído no Município de Descalvado – SP. 2001. 87f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental) – Faculdade de Engenharia Ambiental, Universidade de São Paulo/USP, São Carlos, 2001.