UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS – FMTAM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS A IMPORTÂNCIA DOS ACIDENTES OCUPACIONAIS, ENVOLVENDO SANGUE E FLUIDOS CORPÓREOS, NA TRANSMISSÃO DO HIV, VHB, VHC, OCORRIDOS COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE ATENDIDOS NA FMTAM NOALDO OLIVEIRA DE LUCENA MANAUS 2007 i NOALDO OLIVEIRA DE LUCENA A IMPORTÂNCIA DOS ACIDENTES OCUPACIONAIS, ENVOLVENDO SANGUE E FLUIDOS CORPÓREOS, NA TRANSMISSÃO DO HIV, VHB, VHC, OCORRIDOS COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE ATENDIDOS NA FMTAM Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação da Universidade do Estado do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientadora: Co-orientadores: Profa. Dra. MARIA DAS GRAÇAS ALECRIM Prof. WILSON DUARTE ALECRIM Prof. Dr. WORNEI SILVA MIRANDA BRAGA MANAUS 2004 ii FICHA CATALOGRÁFICA Lucena, Noaldo Oliveira de A Importância dos Acidentes Ocupacionais, envolvendo sangue e fluidos corpóreos, na transmissão do HIV, VHB, VHC, ocorridos com Profissionais de Saúde Atendidos na FMTAM. 53p. Dissertação de Mestrado – Universidade do Estado do Amazonas. Programa de Pós Graduação em Doenças Infecciosas e Tropicais 1. Acidente Ocupacional 2. Profissionais de Saúde 3. HIV; Hepatites B e C. iii Dedico este a meus pais, Sebastião Oliveira de Lucena e Aurineide Carneiro de Lucena, por terem sido a matéria-prima do que sou, e a Giralcina Pessoa Reis Aguiar, por ser a compreensiva companheira desta jornada que é a vida. e eterna iv AGRADECIMENTOS A minha orientadora, Profa. Dra. Maria das Graças da Costa Alecrim, pela sugestão do tema, atenção e estímulo durante a realização deste trabalho. Aos meus Co-orientadores Prof. Wilson Duarte Alecrim e Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga, pelas sugestões e apoio, e por me fazerem acreditar que este resultado seria possível. À Profa. Dra. Maria das Graças do Vale Barbosa, coordenadora do Mestrado em Doenças Infecciosas e Tropicais, pelas sugestões e paciência. Aos colegas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, e em especial, a Dra. Marta de Oliveira Ramalho, pelos ensinamentos e idéias sobre o tema escolhido. Aos colegas da FMTAM, Dra. Márcia, Ana Ruth, Mônica, Yone e Marcus Lacerda pela ajuda e os momentos compartilhados. À Profa. Giralcina Pessoa Reis, pela ajuda que me prestou no tocante à minhas dúvidas na sua área de conhecimento – a Língua Portuguesa. Aos meus secretários, Jolena Crystian Lima Teixeira e James Braga de Oliveira pela dedicação e paciência durante a jornada. Às bibliotecárias da FMT-AM Arthemisa Seabra da Silva e Melquisete de Souza Almeida, pelo auxílio na aquisição das referências bibliográficas. A SUFRAMA, pelo apoio financeiro ao Programa de Mestrado. A todos os professores e colegas do mestrado, pela amizade e troca de experiências. In memoriam: Ao meu irmão Nivaldo Oliveira de Lucena, por me fazer crer que a morte é apenas o início de uma nova vida.... v “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Chico Xavier. vi RESUMO São freqüentes nos serviços de saúde os acidentes de trabalho envolvendo exposição de profissionais de saúde a sangue e fluidos corpóreos. Muitos são os patógenos de transmissão pelo sangue de importância médica que podem ser transmitidos através de acidente ocupacional, sendo mais relevantes os vírus da hepatite B e C e o HIV. Ainda se conhece a realidade do acidente ocupacional envolvendo fluidos corpóreos na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (Manaus – Brasil), instituição de referência para as doenças infecciosas no estado. Portanto, foi realizado um inquérito epidemiológico com a finalidade de elucidar as formas mais freqüentes de exposição, o perfil do profissional vitimado, o uso da profilaxia contra o HIV e a aderência a esta profilaxia. Dos 531 profissionais que procuraram assistência médica inicial no Pronto Atendimento, 281 procuraram o ambulatório e apenas 73 concluíram o acompanhamento de seis meses. Destes 73 pacientes, nenhum apresentou soroconversão para o vírus HIV. Este dado foi prejudicado pela pouca adesão ao acompanhamento e provavelmente está subestimado. Observou-se que os profissionais da área de enfermagem ainda são os que mais se acidentam e que, no geral, apenas 61,9% são vacinados adequadamente para a hepatite B. Palavras-chaves: 1. Acidente ocupacional 2. Profissionais de saúde 3. HIV; Hepatites B e C. vii ABSTRACT Occupational exposure to blood and body fluids involving health professionals in the health services is not rare. There are many bloodborne pathogens of medical concern which are possibly transmitted through occupational exposure, the most relevant being hepatitis B and hepatitis C viruses and HIV. There is still a scarcity of knowledge on percutaneous exposure to body fluids in the Tropical Medicine Foundation of Amazonas (Manaus - Brazil), the reference institution for infectious diseases in the state. Therefore an epidemiological survey was performed in order to elucidate the most frequent ways of exposure, the victimized professional profile, the use of prophylaxis against HIV and the adherence to this prophylaxis. Of 531 professionals who attended medical care after the occupational exposure in the Emergence Room, 281 attended a second visit to the Outpatient Clinics and only 73 had a complete six-month-follow-up. Of these 73 patients, no HIV seroconversion was identified. Due to the low adherence to follow-up, the percentage of seroconversion may be underestimated. It was detected that nurses and nursing students are more exposed to these accidents and in general, only 61.9% are adequately vaccinated against hepatitis B virus. Key-words: 1. Occupational exposure 2. Health professionals HIV 3.Hepatitis B e C. viii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 3TC ABC APECIH AZT C.C.I.H. CIPA CRIE D4T DDI E.U.A EFV ELISA EPI FMTAM HBsAg HIV HTLV IDV IGHAHB IIER IP ISC ITRAN ITRNN MS MT NFV PCMSO PP PU SESMT SPA TFC VHB VHC Epivir Abacavir Associação Paulista de Estudo e Controle de Infecção Hospitalar Zidovudina Controle de Infecção Hospitalar Comissões Internas de Prevenção de Acidentes Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais Estavudina Didanosina Estados Unidos da América Efavirenz Enzyme-Linked Immunosorbent Assay Equipamento de Proteção Individual Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas Antigeno de Superfície da Hepatite B Vírus da Imunodeficiência Humana Vírus da Leucemia de Células T humanas Indinavir Immunoglobulina Hiperimune anti-Hepatite B Instituto de Infectologia Emílio Ribas Inibidores da Protease Isolamento de Substâncias Corpóreas Inibidores da Transcriptase Reversa Análogos dos Nucleosídeos Inibidores da Transcriptase Reversa NÃO Análogos dos Nucleosídeos Ministério da Saúde Ministério do Trabalho Nelfinavir Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional Precauções Padrão Precauções Universais Serviços Especializados em Eng. de Segurança e Medicina do Trabalho Serviço de Pronto Atendimento Tenofovir Vírus da Hepatite B Vírus da Hepatite C ix LISTA DE TABELAS Tabela 01 Recomendações de Profilaxia Pós-Exposição ao VHB ..................... 08 Tabela 02 Profilaxia Pós-exposição do HIV em caso de Lesão Percutânea ...... 14 Tabela 03 Profilaxia Pós-Exposição do HIV em caso de exposição de mucosa e pele com solução de continuidade .................................................. 15 Tabela 04 Distribuição dos profissionais acidentados por Média de Idade ........ 25 Tabela 05 Distribuição dos profissionais acidentados por freqüência das Outras Categorias Profissionais ........................................................ 27 Tabela 06 Distribuições dos profissionais acidentados por Instituições de Saúde onde ocorreram os acidentes ................................................. 28 Tabela 07 Distribuição dos profissionais acidentados e que foram atendidos no Pronto Atendimento da FMT-AM por origem institucional ............ 29 Tabela 08 Distribuição dos profissionais acidentados quanto ao tipo de material biológico ............................................................................... 30 Tabela 09 Distribuição por freqüência dos instrumentos envolvidos nos acidentes ocupacionais em profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMT-AM ....................................................... 30 Tabela 10 Distribuição de pacientes-fontes quanto à situação sorológica para o HIV .................................................................................................. 33 Tabela 11 Distribuição dos profissionais acidentados por outras causas de acidentes ............................................................................................ 35 Tabela 12 Distribuição dos profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMT-AM, por outras atividades exercidas no momento do acidente ............................................................................................. 36 x LISTA DE FIGURAS Figura 01 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento, e dos que compareceram para o acompanhamento ambulatorial na FMTAM ........................................................................... 25 Figura 02 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM quanto à categoria profissional ........................ 26 Figura 03 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM por instituições onde ocorreram os acidentes .. 27 Figura 04 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM quanto ao tipo de exposição ............................ 29 Figura 05 Distribuição quanto à visualização de sangue no instrumento envolvido no acidente com os 531 profissionais de saúde que foram atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM................................................................ 31 Figura 06 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto à utilização de EPI .............................. 31 Figura 07 Distribuição dos 581 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto ao EPI utilizado.................................... 32 Figura 08 Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto ao conhecimento do estado sorológico do paciente-fonte ..................................................................................... 32 Figura 09 Distribuição dos 244 profissionais acidentados que foram atendidos no Ambulatório da FMTAM quanto à utilização de quimioprofilaxia para HIV ........................................................................................................... 33 Figura 10 Distribuição dos 281 profissionais acidentados, quanto ao comparecimento das consultas no ambulatório na FMTAM, segundo protocolo do MS ....................................................................................... 34 Figura 11 Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMTAM por causa de acidente ...................................... 34 Figura 12 Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMTAM por atividade que exerciam no momento do acidente ................................................................................................... 35 Figura 13 Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos na FMTAM quanto à vacina para Hepatite B .............................................................. 36 Figura 14 Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos na FMTAM quanto à vacina para Tétano ................................................................... 37 Figura 15 Distribuição dos profissionais acidentados que foram atendidos no ambulatório da FMTAM, quanto à ocorrência do acidente durante ou após o procedimento ............................................................................... 37 xi SUMÁRIO 1. 2. 3. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 01 1.1 HISTÓRICO ............................................................................................. 01 1.2 HEPATITE B E EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ................................................ 06 1.3 VÍRUS DA HEPATITE C E O RISCO OCUPACIONAL ...................................... 09 1.4 HIV E RISCO OCUPACIONAL .................................................................... 10 OBJETIVOS ................................................................................................. 21 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................... 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 21 METODOLOGIA ........................................................................................... 22 3.1 POPULAÇÃO ALVO .................................................................................. 22 3.2 TAMANHO DA AMOSTRA .......................................................................... 22 3.3 SELEÇÃO DOS INDIVÍDUOS A SEREM INCLUÍDOS NA AMOSTRA ................... 22 3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ......................................................................... 23 3.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ........................................................................ 23 3.6 CRITÉRIOS DE GRAVIDADE DO ACIDENTE COM FLUIDOS CORPÓREOS ........... 23 3.7 COLETA DE DADOS ................................................................................. 23 3.8 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................. 24 3.9 ANÁLISE DESCRITIVA ............................................................................... 24 4. RESULTADOS ............................................................................................. 25 5. DISCUSSÃO ................................................................................................. 38 6. CONCLUSÃO ............................................................................................... 47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 7. ANEXOS ....................................................................................................... 49 48 1. INTRODUÇÃO 1.1 HISTÓRICO A saúde ocupacional é uma preocupação que acompanha o ser humano ao longo de sua existência. (Plínio 30 d.c.) já descrevia o aspecto de trabalhadores de minas expostos a chumbo e mercúrio, bem como a tentativa de utilização de bexiga de animais como uma espécie de precursor da atual máscara facial. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, houve maior preocupação com o estudo de fatores biológicos, ergonômicos e psicológicos causados pelo desenvolvimento tecnológico imposto pela própria guerra, que foi pródiga em pesquisas farmacológicas e científicas. Mais recentemente, com o surgimento de epidemias de doenças potencialmente letais até então desconhecidas, como o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), o vírus Ebola, entre outros, os avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento alcançados no século passado, prolongando a vida de pacientes antes destinados à morte, levou ou aumento da exposição de profissionais de saúde a diversos tipos de riscos ocupacionais. Os riscos físicos (temperatura, radiação), químicos (substâncias tóxicas), psicológicos (estresse) e biológicos (exposição aos mais variados agentes infecciosos), são hoje mais freqüentes nos serviços de saúde. Sendo, portanto, até por sua complexidade, necessário o acompanhamento das atividades nesses serviços por equipes multi e interdisciplinares com a utilização de protocolos de atividades bem estabelecidos. Assim foram criadas as C.C.I.H., (Comissões de Controle de Infecção Hospitalar), obrigatórias para todos os hospitais, independendo da entidade mantenedora (Lei Federal n 9.431 do Ministério da Saúde) que, entre outras atividades, executam funções relacionadas à saúde ocupacional, como o estímulo à utilização dos EPI’s (Equipamentos de Proteção Individuais), o controle de vacinação dos profissionais de saúde e a vigilância das infecções hospitalares. As CIPA’s (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes), que têm entre outras funções, as de conhecer os tipos de riscos a que o profissional está exposto, detectar as áreas onde eles são maiores, e estabelecer um mapeamento dos diversos setores com o respectivo grau de risco a que o profissional está exposto. Os SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho), foram 2 criados com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no seu ambiente de trabalho, sendo sua atividade regulamentada pelo Ministério do Trabalho (Portaria 3.214 de 8/6/78). O PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), estabelecido pela Portaria 24 de 29/12/94 do Ministério do Trabalho, é um programa por meio do qual o médico do trabalho pauta sua atividade, prevendo, entre outras, exames admissionais, periódicos e demissionais. O médico do trabalho, no exercício de sua atividade, dispõe de uma excelente oportunidade para promover programas educacionais preventivos, inclusive os de vacinação. Evidente está a co-responsabilidade dos serviços e instituições no gerenciamento e pronto atendimento, por equipe treinada, ao profissional acidentado e, principalmente, a utilização de medidas preventivas que objetivem evitar esse tipo de ocorrência. Acidentes de trabalho envolvendo sangue e fluidos corpóreos são relativamente comuns em serviços de saúde. Esse fato se deve, em parte, à ausência da utilização dos protocolos estabelecidos; ao não funcionamento pleno dos serviços formalmente responsáveis pelo controle das atividades profissionais e de proteção do trabalhador, e, em parte, ao desconhecimento do risco potencial de contaminação oferecido por esse tipo de exposição. O risco principal dos acidentes ocupacionais com sangue ou fluidos corpóreos é a eventual transmissão de diversos agentes infecciosos e, principalmente, dos vírus da hepatite B, C e do HIV. Transmissão essa documentada e que, quer pelo alto grau de infectividade, quer pelo alto potencial de evolução para a cronicidade, quer pela gravidade clínica de suas manifestações, devem ser mais bem avaliadas e acompanhadas tanto, por serviços específicos, quanto por pessoal treinado nesse tipo de atendimento. Com relação à mordida humana, vale salientar que a avaliação clínica deve considerar a possibilidade de que, tanto quem morde quanto quem é mordido, são passíveis de exposição à transmissão de microorganismos veiculados pelo sangue. Richman, K. et al. (1993), afirmam que a possibilidade de transmissão do vírus da imunodeficiência humana através de mordida humana é relativamente rara. Recomendações para exposição não ocupacional aos vírus da hepatite B, da hepatite C e Vírus da Imunodeficiência Humana como, por exemplo, sexual e 3 perinatal, não fazem parte do escopo deste trabalho, podendo ser localizadas em literatura especifica. Os CDC (Centers for Disease Control and Prevention) publicou em 1983 um documento intitulado “Guia para Isolamento e Precauções em Hospitais”, que contém uma seção denominada “Precauções Relacionadas com Sangue e Fluidos Corpóreos”. Segundo Jagger, J. et al. (1991) esse foi o primeiro trabalho na literatura relatando o risco real envolvendo acidentes com perfurocortantes. Segundo APECIH (1999), as “Precauções Universais” (PU’s), surgiram em 1985, após os relatórios iniciais de contaminação de trabalhadores de saúde com o HIV. As PU’s enfocavam a prevenção da transmissão de patógenos pelo sangue e fluídos corpóreos de agentes como o HIV e os Vírus das Hepatites B e C, em adição ao sistema tradicional de isolamento. Em Seattle/EUA (1987), foi proposto o ISC (Isolamento de Substâncias Corpóreas), como alternativa aos sistemas de isolamento por diagnóstico. A OSHA, 1989, (Ocupational Safety and Health Administration) propôs um regulamento para os contatos ocupacionais, baseados nas PU’s. Esse documento foi revisto e publicado em 1991. Em janeiro de 1996, com o novo “Guideline” do CDC e do HICPAC (Hospital Infection Control Practices Adivisory Comittee) – Precauções para Isolamentos em Hospitais, surge a denominação Precauções Padrão (PP), em substituição às PU’s e ao ISC. De acordo com Voldish, K, et al. (1992), são vários os microorganismos que podem ser transmitidos por objetos perfurocortantes contaminados por fluidos humanos. Segundo Udasin, I. et al. (1994), alguns dos problemas graves que ocorrem nos serviços de saúde são exposições a patógenos que podem ser transmitidos pelo sangue, constituindo uma séria ameaça ocupacional aos trabalhadores dessa área. A APECIH (1999) afirma que a transmissão através de sangue e outros líquidos corpóreos ocorre pela exposição de pele não íntegra ou mucosa a esses líquidos, na presença do agente infectante. Como exemplo de microrganismos transmitidos por exposição a sangue e líquidos corpóreos, podemos citar o HIV, vírus da Hepatite B, vírus da Hepatite C, Plasmódio, HTLV (Vírus da Leucemia de Células T Humanas) I e II, Treponema pallidum e Trypanosoma cruzi. O risco de infecção varia de acordo com características próprias do microorganismo e com o tipo e gravidade da exposição. 4 Segundo o CDC (2001), profissional de saúde é todo aquele individuo cuja atividade envolva contato com pacientes com sangue ou outro fluído corpóreo em hospitais, laboratórios ou outro serviço de saúde. Afirma também que uma lesão percutânea é toda aquela causada por uma agulha contaminada ou outro objeto cortante, em contato com membranas mucosas, com pele não intacta, ou em contato com pele intacta, principalmente quando envolve áreas extensas da superfície corporal por um longo período de tempo. Sangue e outros fluidos orgânicos contendo sangue visível, secreção vaginal e sêmen são materiais biológicos potencialmente envolvidos na transmissão do HIV. Entretanto, líquidos como o amniótico, peritoneal, sinovial e pericárdico são considerados de risco indeterminado para transmissão do HIV. Ainda de acordo com o CDC, suor, lágrima, fezes, urina e saliva não apresenta nenhum risco para contaminação, não sendo recomendados exames de acompanhamento e quimioprofilaxia para o profissional acidentado. O Ministério da Saúde - M.S., (2000), publicou o Manual de Condutas em Exposição Ocupacional à Material Biológico: Hepatite e HIV, onde se afirma que “o risco médio de se adquirir o HIV é de, aproximadamente, 0,3% após exposição percutânea e de 0,09% após exposição mucocutânea. A probabilidade de infecção pelo vírus da hepatite B após exposição percutânea é significativamente maior do que a probabilidade de infecção pelo HIV, podendo atingir até 40% em exposições onde o paciente-fonte apresente sorologia HBeAg positiva. Entretanto, para o vírus da hepatite C, o risco médio é de 1.8%. Dependendo do teste utilizado para diagnóstico de hepatite C, o risco pode variar de 1% a 10%”. Em caso de acidente de trabalho envolvendo sangue e fluídos corpóreos, é importante que todo trabalhador dos serviços de saúde tenha como conhecimento mínimo quais são as primeiras providências a serem tomadas. Em primeiro lugar, deve-se evitar o pânico, muito comum, retratando o desconhecimento do protocolo de primeiras medidas a serem adotadas. É importante a existência de protocolo escrito e disposto em local de fácil acesso, uma vez que tal acidente deve ser considerado uma emergência médica. A decisão de iniciar ou não a quimioprofilaxia para o HIV, deverá ser a mais rápida possível, dentro de um período que não deverá ultrapassar duas horas. 5 O protocolo deve contemplar os seguintes passos: • Se o acidente for contato de material biológico com mucosas, e atingir os olhos, dever-se-á proceder à lavagem abundante com soro fisiológico durante 5 minutos. Se a área atingida for boca, deve-se bochechar e desprezar repetidamente durante 5 minutos; • Se o acidente for contato do material biológico com pele íntegra, dever-se-á proceder à lavagem abundante com água corrente e sabão comum, durante cinco minutos, secar com toalha descartável e aplicar álcool a 70%, deixando secar espontaneamente; • Se o acidente for contato do material biológico com pele lesada e esta lesão for uma dermatite, escoriação ou ferimento prévio, dever-se-á proceder à lavagem abundante com água corrente e sabão durante cinco minutos, sem aplicar álcool ou outros anti-sépticos, • Se o acidente for contato do material biológico com lesão perfurante (picada de agulha), e, se esta apresentar sangramento, deixar sangrar por pouco tempo e, a seguir, lavar com água e sabão durante 5 minutos, sem aplicar anti-sépticos; • Se o acidente for contato de material biológico com lesão cortante (com bisturi, vidro), dever-se-á proceder à limpeza, anti-sepsia e sutura a critério do cirurgião. Realizados esses cuidados básicos, dever-se-á proceder, quando possível e após o esclarecimento do paciente sobre a natureza e necessidade de sua realização, aos testes para investigação do HIV, VHB, VHC. Deverá ser coletada amostra do profissional acidentado para avaliação do HIV, VHB e VHC. Do pacientefonte, quando este for conhecido e esse procedimento for possível, uma amostra sangüínea para a realização de teste-rápido tanto para HIV, como para o HBsAg, quando existentes. A coleta do material para esses exames não exclui a avaliação 6 dessas amostras pelo método de ELISA. A realização dos testes rápidos tem como objetivo determinar o início, ou não, da quimioprofilaxia, no caso de positivo para o HIV, e do uso da imunoglobulina Hiperimune, no caso de o paciente-fonte ter teste rápido para HBsAg positivo e o profissional for não vacinado, com vacinação incompleta ou vacinado não responsivo. 1.2 – HEPATITE B E EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL O vírus da hepatite B é um dos patógenos mais importantes que pode ser transmitido quando da ocorrência de acidentes de trabalho com perfurocortantes envolvendo sangue e fluidos corpóreos. As lesões percutâneas estão entre as formas mais eficientes de transmissão do vírus da hepatite B. Essas exposições são, provavelmente, responsáveis por apenas uma minoria das infecções pelo vírus da hepatite B entre os profissionais de saúde. Garibaldi, R.A. et al. (1972) conduziram investigação de um surto hospitalar de hepatite B, onde concluíram que a maioria dos profissionais de saúde infectada não relacionava a infecção pelo vírus da hepatite B a uma lesão percutânea. Hennekens, C.H. (1973) demonstrou o potencial de transmissão do vírus da hepatite B através do contato entre pacientes e profissionais com superfícies contaminadas, em surtos ocorridos em unidades de hemodiálise. Entretanto, Callender, M.E. et al. (1982) afirmam que aproximadamente um terço dos profissionais de saúde investigados declararam ter prestado cuidados diretos a pacientes que eram HBsAg positivos. Francis, D.P. et al. (1981), em seus estudos, concluíram que as infecções pelo vírus da hepatite B em trabalhadores da área de saúde, sem história de exposição não ocupacional ou de lesão percutânea ocupacional, pode ser resultado de exposição direta ou indireta a sangue ou fluido corpóreo com a contaminação pelo vírus da hepatite B pelo contato com escoriações, abrasões, queimaduras da pele ou superfície de mucosa. Bond, W. et al. (1981) afirmam que a possibilidade de sobrevivência do vírus da hepatite B, em superfícies, na temperatura ambiente, é de, pelo menos, uma semana. Em trabalho realizado por Werner, B. et al. (1982) verificou-se que o risco de desenvolver evidência sorológica de hepatite, quando a fonte for HBsAg positiva e HBsAg positiva, oscila entre 37 a 62%. Quando ocorre acidente envolvendo agulha contaminada com HBsAg positivo e o HBsAg for negativo, o risco de desenvolver 7 hepatite clínica, e a evidência sorológica são de 1 a 6% e de 23 a 37%, respectivamente. Beasley, R. et al. (1983) e Stevens, C. et al. (1985) afirmam que regimes profiláticos envolvendo múltiplas doses de imunoglobulina B isolada ou série de doses de vacina para hepatite B são de 70-75% efetivos em prevenir infecção pelo vírus da hepatite B. Mast, E. et al. (1993) evidenciaram que o risco de contrair o vírus da hepatite B, com conseqüente manifestação clínica, por acidente perfurocortante, contato com pele lesada ou mucosa é significativo para o profissional da saúde suscetível. Esclarece, ainda, que profissional susceptível é todo aquele que tem risco de exposição a fluidos corpóreos e não seja vacinado. Em caso de exposição acidental de profissional de saúde, deixaria de ser preocupante se eles se vacinassem com três doses de vacina contra a hepatite B. A utilização de vacinas para as patologias passíveis de prevenção em todos os profissionais de saúde é a medida mais acertada, independendo dos graus de risco de sua exposição a esses patógenos. Segundo o CDC (1991) e Greenberg, D. et al. (1993), a vacina para hepatite B tem-se mostrada segura quando administrada em recém-nascidos, crianças e adultos. O M.S. (2001), no Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais, afirma que três doses de vacina contra hepatite B induzem títulos protetores de anticorpos (anti-HBsAg ≥10mUI/ml) em mais de 90% dos adultos e jovens sadios, e em mais de 95% dos lactentes, crianças e adolescentes, sendo também eficaz em cerca de 95% dos casos, na prevenção da transmissão vertical para recém-nascidos quando a mãe for HBsAg/HBeAg-positiva, desde que aplicada nas primeiras 12 horas após o nascimento, mesmo sem aplicação simultânea de Imunoglobulina Hiperimune Anti-hepatite B (IGHAHB). O M.S. (2001), no Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais, recomenda que também nos acidentes perfurocortantes em profissionais de saúde anti-HBsAg-negativos, quando o paciente-fonte for HBsAg/HeAg-positivo, deverá ser realizada a aplicação simultânea da vacina e da IGHAHB, pois os dados existentes de proteção apenas com a vacina são promissores, mas incompletos. No Manual dos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais, M.S. (2001) também afirma que os vacinados HBsAg negativos que não responderem com nível adequado de anticorpos devem ser revacinados com mais três doses de vacina. Aqueles que ainda permanecerem anti-HBsAg-negativos provavelmente não 8 responderão a doses adicionais de vacina. Idade avançada, tabagismo e índice de massa corporal elevado (obesidade) são fatores ligados à resposta inadequada à vacinação contra a infecção pelo vírus da hepatite B. O referido manual recomenda aplicar maior número de doses, ou doses mais elevadas, em pacientes imunocomprometidos, inclusive os HIV-positivos. Entretanto, há poucos dados que permitam respaldar as recomendações para esses casos. Estudo preliminar indicou que apenas 20% das crianças infectadas pelo HIV responderam adequadamente à vacinação com o esquema 0-1-6 meses iniciado logo após o nascimento. A realização de dosagem de anticorpos Anti-HBs, não obstante ser altamente recomendável por indicar aqueles responsivos à vacina, é, infelizmente, prática pouco utilizada. Esse dado, quando conhecido, agiliza e facilita a tomada da decisão de se utilizar ou não a vacina isoladamente e/ou combinada à imunoglobulina hiperimune anti-hepatite B, evitando, assim, o desperdício de recursos num país já tão carente. As recomendações de profilaxia para a hepatite B estão na (Tabela 1). Tabela 1: Recomendações de Profilaxia Pós-Exposição ao VHB Status vacinal do HBsAg (2) Positivo HBsAg Negativo profissional de Saúde IGHB(1) + serie de vacina Vacina do VHB Não-vacinado (3 doses) (3 doses) Vacinado Nada Nada Vacinado com resposta(3) Nada Nada IGHB x 1 s. vacina ou Nada IGHB x 2 (1) Fonte: Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV – 2002/2003 (pg. 112) (1) imunoglobulina hiperimune contra hepatite B, (2) Antígeno de superfície do vírus da hepatite B, (3) Anti-HBs >10mUI/ml. (4) Anti-HBs <10mUI/ml Vacinado sem resposta(4) Obs.: Quando o vacinado ignora a resposta vacinal, solicita-se o anti-HBs e, conforme o resultado, segue-se a conduta do quadro. A IGHB deve ser aplicada de preferência até 24h após o acidente ou, no máximo até 48h após. Decorridos 7 dias, 9 ela é ineficaz. A vacina deve ser iniciada simultaneamente e em sítio diferente da IGHB. Quando só a vacina é indicada, deve ser aplicada, no máximo, até a 1 semana após. 1.3 – VÍRUS DA HEPATITE C E O RISCO OCUPACIONAL Estudos realizados para a avaliação da transmissibilidade do VHC quando da ocorrência de um acidente envolvendo material biológico afirmam que a transmissão desse vírus aparentemente parece ser menor que a do VHB e a do HIV. No entanto, a importância epidemiológica desse vírus, em especial na região amazônica, associado à ausência de quimioprofilaxia e vacinas efetivas são preocupantes o suficiente para que se não diminua a vigilância com a problemática de sua eventual transmissão quando ocorrem acidentes com perfurocortantes. Mitsui, T. et al. (1992) afirmam que a incidência média de soroconversão a anti-VHC após exposição percutânea acidental a partir de uma fonte VHC positiva é de 1.8%. Sartori, M. (1993) afirma que raramente ocorre transmissão do vírus da hepatite C por contato de sangue contaminado com mucosas, e que ainda não foi documentado qualquer caso de contaminação por contato de sangue infectado com pele intacta ou não. Niu, M.T. et al. (1993) afirmam que a transmissão do VHC associada à contaminação do meio ambiente em serviços de diálise tem sido implicada, sendo relacionada à deficiente prática de controle de infecção hospitalar. O risco de transmissão com exposição a fluidos corpóreos e tecidos que não sangue infectado com o VHC não foi quantificado, mas espera-se que seja ainda menor. Estudos de Davis, G. et al. (1994) comprovam que a contaminação do meio ambiente com sangue contendo o vírus da hepatite C não é um risco significativo de transmissão em ambiente hospitalar. Alter, M. (1994), após revisão da literatura concluiu que a utilização de imunoglobulina, objetivando a prevenção de infecção após exposição ocupacional à hepatite C, ainda não tem suporte científico para a sua indicação, assim como o é para a hepatite B. Puro, V. (1995) afirma que a transmissão ocorre mais freqüentemente com agulhas ocas, quando comparadas a outros materiais cortantes. Alter, M.J. (1997) corrobora que a possibilidade de soroconversão após acidente percutâneo é de aproximadamente 1.8%. 10 Não há vacina para profilaxia para pré-exposição nem imunoglobulina para a pós-exposição. Ainda não se dispõe de tratamento eficaz para a doença instalada. Com a vacinação ampla contra hepatite B e o baixo risco de transmissão do HIV em acidentes ocupacionais envolvendo sangue e fluídos contaminados com sangue, a importância epidemiológica da Hepatite C passa a ser significativa, considerando-se a evolução não-característica e complicações graves. Sequeira, apud Martins, M.A.M. (2001) também afirma que a adoção das precauções - padrão é o único meio para prevenir a contaminação, enfatizando que quando o risco de contaminação é maior, a utilização das precauções-padrão deverá ser rigorosa, recomendando, até, o uso de luvas duplas para reduzir a possibilidade de aquisição do vírus da hepatite C. Ocorrendo acidente perfurocortante ou de contato com pele lesada ou mucosa, os cuidados com o local atingido a serem seguidos são os mesmos recomendados para a prevenção contra o vírus da hepatite B ou HIV. Quando não disponível no prontuário, solicita-se o anti-HCV do pacientefonte e do acidentado na ocasião do acidente. Sendo positivo o anti-HCV de ambos, deve-se encaminhá-los para acompanhamento ambulatorial específico. Sendo positivo o exame do paciente-fonte e negativo do profissional acidentado, este deverá repetir o exame seis meses após, acompanhado do exame das transaminases. Não é recomendado o uso de imunoglobulina standard, interferon ou drogas antivirais como profiláticos. 1.4 – HIV E RISCO OCUPACIONAL Sequeira, apud Martins, M.A.M. (2001) documentou alguns episódios de transmissão do HIV após exposição de pele íntegra. Segundo Henderson, D. (1990), a transmissão do HIV através de exposição a fluídos ou tecidos humanos contaminados é menor quando comparado ao sangue infectado. Fahey, B.J. et al. (1991), em seus estudos, concluíram que o risco de transmissão através de contato com pele não íntegra é estimado ser menor que o para contato com mucosas. Ipollito, G. et al. (1993) encontraram uma possibilidade de aproximadamente 0,09% após uma exposição de mucosa a sangue contaminado. Segundo Bahuaud apud CAVALCANTE, (2000, p.1288), para um caso ser considerado como aquisição ocupacional de HIV, os critérios são: 11 • Contato comprovado com material infectante; • Sorologia anti-HIV negativa do profissional, realizada até 15 dias após o acidente; • Ocorrência de soroconversão durante o acompanhamento; • Ausência de outros determinantes de risco para o contágio com HIV. Bell, D. (1997), em estudos retrospectivos, observou que a possibilidade de transmissão do vírus do HIV após um acidente percutâneo com sangue HIV positivo é de aproximadamente 0,3%. Cardo, D. et al. (1997), em estudo retrospectivo, avaliaram os fatores de risco que se seguiam à exposição percutânea a fonte HIV positiva em trabalhadores da saúde. Observaram que, quando o objeto causador do acidente estava visivelmente contaminado com sangue, e/ou tinha sido usado em vaso calibroso ou, ainda, o sangue era proveniente de paciente com elevada carga viral, o risco de aquisição chegaria a superar 0.3%. O uso do AZT (Zidovudina), neste estudo, pareceu ser efetivo. Estudos epidemiológicos e laboratoriais sugerem que vários fatores podem afetar o risco de transmissão do HIV após uma exposição a material biológico contaminado. A utilização da carga viral do paciente-fonte como eventual medida substituta de titulação viral para auxiliar o risco de transmissão ainda não foi estabelecida. A carga viral plasmática reflete apenas, de forma pontual, a quantidade de cópias virais no sangue periférico e de vírus que não se encontram no interior das células-alvo. Células infectadas podem transmitir a infecção na ausência de viremia. Embora, teoricamente, uma carga viral mais baixa, menor que 1500 cópias/ml ou uma carga viral indetectável possam indicar uma possível menor de exposição, esse fato não descarta a possibilidade de transmissão. Algumas evidências existem, considerando que a defesa imunológica do hospedeiro possa influenciar no risco de contaminação pelo HIV. Pinto, L.A. et al. (1997) demonstraram que trabalhadores da área de saúde não infectados expostos a uma fonte HIV positiva apresentaram uma resposta T-citotóxica específica para o 12 HIV, quando células mononucleares do sangue periférico eram estimuladas in vitro com antígenos específicos do HIV. Beltrami, E.M. et al. (2000) têm demonstrado em seus trabalhos, falha na profilaxia pós-exposicional, mesmo preconizado de quatro semanas. quando iniciada precocemente e pelo Várias são as causas apontadas para essa ocorrência, como, por exemplo, a utilização por parte do paciente-fonte de drogas anti-retrovirais, alta carga viral, inoculo de grande monta e possivelmente fatores relacionados à reposta imunológica do hospedeiro. Estão disponíveis para o tratamento do HIV drogas anti-retrovirais de três classes diferentes. Esses agentes incluem ITRAN (Inibidores da Transcriptase Reversa Análogos dos Nucleosídeos), ITRNN (Inibidores da Transcriptase Reversa Não Análogos dos nucleosídeos), IP (Inibidores da Protease) e, mais recentemente, foi aprovada para uso uma nova classe, a dos Inibidores de Fusão. A definição de quais agentes utilizar, quando usar ou quando alterar a profilaxia pós-exposição, ainda é largamente empírica. As recomendações para o tratamento dos portadores do HIV orientam a utilização de três drogas, de classes diferentes, levando-se em consideração o fato de que esta recomendação se baseia em toda a carga viral imposta a uma pessoa portadora do HIV. Em pacientes infectados pelo HIV, regimes combinados de três drogas têmse mostrado consistentemente superiores a regimes em mono e de terapia dupla na redução da carga viral, minorando a incidência de infecções oportunistas e morte , bem como retardando o surgimento de resistência viral a essas drogas. Uma combinação de drogas ativas em diferentes estágios do ciclo vital da replicação viral, teoricamente, pode oferecer um efeito preventivo adicional em situação de pós-exposição ocupacional, especialmente naquelas com maior risco de transmissão do HIV. Combinações contendo inibidores da transcriptase reversa análoga dos nucleosídeos considerados para a quimioprofilaxia pós-exposição incluem a AZT (Zidovudina) e 3TC (Epivir), D4T (Estavudina) e 3TC e D4T e DDI (Didanosina). O CDC (1990) publicou recomendações que consideravam AZT+ 3TC como opção de escolha para quimioprofilaxia pós-ocupacional. A combinação AZT+3TC, por ser uma combinação disponível em comprimido único, e, ainda, por oferecer menores efeitos colaterais, sua indicação e utilização pode ser mais conveniente para os profissionais de saúde. 13 Beltrami, E.M. et al. (2000) concluíram que a mutação de resistência viral ao AZT e ao 3TC pode ser causa de falha de profilaxia em algumas áreas. Portanto, podem os profissionais utilizar e preferir outros ITRN, ITRNN, ou outras combinações baseadas no conhecimento e experiência no tratamento tanto de infecção, quanto de doença causada pelo HIV. A adição de uma terceira droga quando de uma exposição de alto risco de contaminação é baseada na demonstração efetiva de sua capacidade de redução da carga viral de pessoas contaminadas. O CDC (1998), em suas recomendações para o acompanhamento de profissionais de saúde expostos à material biológico, apontam a utilização de Nelfinavir (NFV) e Indinavir (IDV), como agentes de primeira linha em regimes expandidos. Porém, desde a publicação dessas recomendações em 1998, o FDA (Food and Drugs Administration) tem aprovado outras drogas que também podem ser utilizadas em esquemas para a profilaxia de acidentes ocupacionais. Drogas como por exemplo, o Efavirenz (EFV), um ITRNN, o Abacavir (ABC), um ITRN, o Tenofovir (TFC) e o Lopinavir/Ritonavir, um potente inibidor da protease, são exemplos de drogas a serem consideradas em quimioprofilaxia. Quando da indicação da profilaxia pós-exposicional é importante considerar o período de quatro semanas de administração, quando esta for corretamente indicada. Além disso, devem-se observar os eventuais efeitos colaterais das drogas anti-retrovirais, bem como a freqüência, a severidade, a reversibilidade e a duração desses efeitos. Embora todos os anti-retrovirais possuam efeitos colaterais, vale ressaltar que todos os estudos desses efeitos têm sido conduzidos em pacientes com doença avançada, fato este que não retrata o que realmente possa ocorrer com uma pessoa não infectada. Além dos efeitos colaterais, deve ser levado em conta o fato de que esses agentes possuem interações com outras drogas que podem ser potencialmente muito sérias. Faz-se mandatória uma avaliação criteriosa das outras medicações eventualmente usadas pelo paciente. O National Surveillance System for Health Care Workers (NaSH, 2000), apoiado pelos estudos de Panlilio, A.L. et al (1999), Wang, S.A. et al. (2000) e Critchley, S.E. et al. (2000) afirmam que aproximadamente 50% dos profissionais de saúde experimentam efeitos colaterais decorrentes do uso de quimioprofilaxia, e 14 que aproximadamente, 33% param de fazer uso por causa da magnitude desses efeitos. Segundo documento publicado pelo C.D.C. (2000), até junho haviam ocorrido 56 casos de profissionais de saúde que adquiriram infecção pelo HIV em acidentes de trabalho nos E.U.A., mostrando, dessa maneira, a necessidade do esclarecimento desses profissionais para o atendimento de emergência em tais situações. Santos, N.J.S. et al. (2002) descreveram o primeiro caso notificado de transmissão do HIV tendo por causa um acidente ocupacional envolvendo material biológico. As orientações preliminares para profilaxia pós-exposição para o HIV encontram-se no (Anexo A). Os parâmetros de avaliação para a profilaxia pós-exposição, em caso de lesão percutânea e exposição de mucosa e pele não-integra, são relativamente complexos e encontram-se nas tabelas dois e três, respectivamente. Tabela 2: Profilaxia Pós-exposição do HIV em caso de lesão Percutânea. Não grave Exposição Agulha não sólida, lesão superficial Fonte de HIV + e baixo risco (1) PPE com 2 Fármacos (3) Fonte de HIV e alto Status de HIV da risco (2) fonte desconhecida PPE com 2 Fármacos (3) Geralmente nenhuma: considerar PPE com 2 Fármacos (4) Grave Agulha sólida, Lesão profunda, Geralmente nenhum: sangue visível PPE com 3 PPE com 3 considerar PPE com 2 Fármacos(3) Fármacos(3) no instrumento Fármacos (4) Veia do paciente. Fonte: Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV – 2002/2003 (pg108) (1) HIV assintomático ou carga viral < 1.500 cópias/ml (2) HIV assintomático, AIDS, soroconversão aguda e alta carga viral (3) Risco de resistência: iniciar a profilaxia sem demora e consultar um especialista. (4) Considerar a PPE com 2 ARV se a fonte for de alto risco de HIV ou em caso de exposição a partir de uma fonte desconhecida com probabilidade de infecção pelo HIV 15 Tabela 3: Profilaxia Pós-Exposição do HIV em caso de exposição de mucosa e pele com solução de continuidade Status de HIV da fonte desconhecida Pequeno volume Geralmente nenhuma: Considerar PPE com PPE com 2 (gotas) Considerar PPE com 2 Fármacos 2 Fármacos fármacos (3) Grande volume Geralmente nenhuma: PPE com 2 PPE com 3 (muito sangue) considerar PPE com 2 Fármacos Fármacos fármacos (3) Fonte: Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV – 2002/2003 (pg.102) Nota: Pele não integra – Dermatite, abrasão, ferimento. (1) HIV assintomático ou carga viral < 1.500 cópias/ml (2) soroconversão aguda e alta carga viral (3) Considerar a PPE com 2 ARV se a fonte for de alto risco de HIV ou em caso de exposição a partir de uma fonte desconhecida com probabilidade de infecção pelo HIV. Exposição Fonte de HIV + e baixo risco (1) Fonte de HIV e alto risco (2) Barbosa, N. et al. (2000) realizaram um trabalho cujo objetivo era descrever o perfil dos acidentes ocupacionais envolvendo material biológico ocorridos em Manaus (AM). Foram notificados 85 casos de acidentes, dos quais 28,2% ocorreram na Fundação de Medicina Tropical e 71,8% em outras instituições (Pronto-socorros, postos de saúde,ambulatórios, entre outros). Do total de acidentes, 76,5% ocorreram com profissionais de saúde do sexo feminino e 23,5% do sexo masculino. Quanto à ocupação profissional, destacam-se os auxiliares de enfermagem (27%), técnicos de enfermagem (17,6%), auxiliares de laboratório (7%), auxiliares de serviços gerais (7%), médicos (5,9%), técnicos de laboratório (4,7%) e outros (30,6%). Quanto ao tipo de exposição, 75,3% dos acidentes foram percutâneos, 11,8% de contato do material com mucosa (ocular ou oral), 8,2% com a pele íntegra e 4,7% foram ignorados. Em 37,6% conhecia-se a procedência do material. Destes, 56,2% dos pacientes-fonte apresentavam sorologia positiva para o HIV. Concluíram que o índice de subnotificações é alto por vários motivos. O mais comum é o desconhecimento, por parte do profissional de saúde, do risco potencial dos acidentes envolvendo material biológico. Outras vezes o profissional negligencia a utilização de EPI. Questiona-se, ainda, se o profissional está habilitado a tomar as primeiras providências quanto ocorre um acidente envolvendo material biológico. Souza, V.F. et al. (2002), em estudo realizado sobre a vulnerabilidade dos profissionais da área de saúde envolvendo perfurocortante, verificaram as situações em que ocorrem os acidentes, os perfurocortantes envolvidos, a região do corpo afetada e as ações de controle adotadas pelo profissional. Concluíram que a maioria 16 dos acidentes ocorre após a utilização dos perfurocortantes, sendo os dedos das mãos os mais afetados. As agulhas hipodérmicas e os escalpes/mandril foram os objetos mais envolvidos em acidentes decorrentes da falta de observação, por parte dos profissionais, de medidas de precaução-padrão. Estratégias precisam ser adotadas no sentido de viabilizar mudanças de hábitos sedimentados em relação ao manuseio e descarte de perfurocortantes. Bernal, S.B.B. et al. (2002) realizaram estudos onde verificaram a incidência e padrão de ocorrência de acidentes com risco biológico entre as diversas categorias profissionais e unidades hospitalares do Hospital Municipal Dr Mário Gatti, que é a principal referência no atendimento terciário da cidade de Campinas-SP. Foram notificados 227 acidentes com risco biológico. Em 67,84% dos casos, o material envolvido foi sangue. Acidentes com caso índice positivo para HIV, VHB e VHC corresponderam a 9,47; 5,33 e 2,96% das notificações, respectivamente. As principais categorias profissionais expostas foram: auxiliares/técnicos de enfermagem (48,45%), médicos/dentistas (37,44%), agentes de higiene (4,85%), técnicos de laboratório (3,1%) e enfermeiros (2,2%). Observaram que 55,2% dos acidentes com médicos e dentistas ocorreram em centro cirúrgico, e 18,82% em pronto-socorro. Já os auxiliares/técnicos de enfermagem sofreram acidente com risco biológico mais freqüentemente em enfermarias (53,54%) e pronto socorro (33,64%). Acidentes em enfermarias também predominam entre profissionais de laboratório (42,86%) e da higiene (36,36%). Concluíram que médicos e dentistas (cirurgiões bucomaxilofaciais) são mais vulneráveis ao risco biológico durante os procedimentos cirúrgicos, enquanto os demais profissionais são mais expostos nas enfermarias. Em trabalho realizado no IIER (Instituto de Infectologia Emílio Ribas), Oliva, L. et al. (2000) analisaram os acidentes com material biológico atendidos no IIER, traçando características epidemiológicas dos Profissionais de Saúde, determinando as circunstâncias dos acidentes, avaliando as medidas de prevenção de aquisição de patógenos pré e pós-exposição, detectando a transmissão desses agentes, e avaliando a finalização do seguimento. No trabalho, foram incluídos 326 profissionais de saúde atendidos em 12 meses, sendo 257 (78,8%) do sexo feminino. Cento e quarenta e três (43,9%) eram auxiliares de enfermagem, 43 (13,1%) eram médicos e 42 (12,9%) auxiliares de limpeza. A maioria dos acidentes ocorreu durante o dia (77,9%). Setenta e três 17 profissionais de saúde (22,4%) referiram acidente ocupacional prévio, embora apenas 33 (45,2%), tenham realizado acompanhamento sorológico do acidente anterior. Duzentos e trinta e oito (73,2%) profissionais de saúde tinham pelo menos uma dose de vacina contra hepatite B e somente 27 (21,9%) destes tinham conhecimento da resposta sorológica à vacina. Quanto aos tipos de exposição, 291 (89,5%) foram percutâneas e 25 (8,3%), de mucosa. O material biológico mais freqüentemente envolvido nos acidentes notificados foi sangue, em 204 casos (62,8%), e as agulhas ocas foram o principal instrumento em 218 casos (67,1%). A maioria dos acidentes (62,8%) ocorreu após a realização do procedimento. O uso do EPI foi referido em 229 casos (70,5%). A fonte do acidente era conhecida em 231 casos (71,1%), dos quais 65 (28,3%) eram sabidamente HIV positivos, seis (2,6%) HBsAg positivos e oito (3,5%), anti-HCV positivos. Na avaliação sorológica de base encontraram seis profissionais de saúde (1,9%) soropositivos para HIV, três (0,9%) HBsAg positivos e nove (2,8%) anti-HCV positivos. O uso de HBIg foi indicado em 108 casos (33,2%), e a profilaxia pós-exposição com anti-retroviral foi indicada em 276 casos (84,9%) dos quais em 214 (77,3%) foi utilizada a associação de zidovudina e lamivudina. Cento e cinqüenta e seis profissionais acidentados, entre 203 avaliados (76,8%) referiram algum efeito indesejável após o uso da PPE (profilaxia pós-exposição). O seguimento ambulatorial de pelo menos seis meses foi completado em 179 pacientes (55,1%). Não foi observada soroconversão para nenhum agente infeccioso. Verificou-se que a centralização do atendimento aumenta o tempo até ao recebimento dos cuidados iniciais, o que reforça a necessidade de criação de estrutura descentralizada. Também foi verificado uso excessivo de antiretrovirais, mesmo considerando a prevalência elevada de infecção pelo HIV entre os pacientes-fonte dos acidentes. A cobertura vacinal para hepatite B entre os profissionais de saúde atendidos é baixa, o que expõe desnecessariamente o profissional da área de saúde ao risco de aquisição de VHB, e gera gastos desnecessários com uso de HBIg. A taxa de abandono do acompanhamento pósacidente verificada (44,9%) é pouco inferior àquela previamente descrita pelo CDC (50%). Estudo realizado por Brasil, P. et al. (2002), com o objetivo conhecer e monitorar os acidentes com material biológico ocorrido em um hospital geral, concluiu que existe uma evidente necessidade da criação de um serviço específico para o monitoramento dos acidentes, que permitia a orientação quanto às medidas 18 de prevenção e identificação correta dos profissionais com maior risco. Demonstra também, a importância do treinamento dos funcionários, em especial os recémadmitidos, como uma das políticas de prevenção de acidentes com material biológico. Rodrigues, C. et al. (2002), em trabalho realizado com o objetivo de relatar os resultados mais importantes com um protocolo de atendimento de profissionais de saúde após exposição ocupacional a material biológico, concluíram que é vital a notificação emergencial desses acidentes. Em especial destacam a utilização do teste rápido para HIV, evitando o uso de medicamentos que possuam reações adversas e elevado custo. Soprani, M. et al. (2002), em trabalho realizado, analisaram as características dos acidentes com material biológico ocorrido num hospital, e a utilização desses dados em campanhas educativas voltadas para a redução dos acidentes. Foram analisadas 359 fichas de notificação, havendo predomínio do sexo feminino (81,47%). Oitenta e cinco técnicos de enfermagem (32,81%), 63 auxiliares de enfermagem (24,32%), sete enfermeiros (2,7%), 20 médicos (7,72%), oito médicos residentes (3,08%), 14 acadêmicos de medicina (5,4%), 34 auxiliares de serviços gerais (13,12%), e 28 não identificados (10,81%) foram vítimas de acidentes, que ocorreram predominantemente, durante o dia (74,51%), sendo o principal instrumento envolvido a agulha oca (64,86%), e sangue em mucosa e pele (11,21%). A presença de sangue relatada no material foi de 48,64%. Usavam EPI, no momento do acidente, apenas 47,11%, sendo a área mais atingida os dedos (66,92%). 201 pacientes iniciaram medicação anti-retroviral, sendo 90 com AZT + 3TC, 52 com AZT + 3TC e IDV, em 59 não constava a droga usada. 77,99% tiveram orientação no momento do acidente. Não obstante a disponibilidade da vacina para hepatite B, 52 (20%), não haviam sido vacinados, até ao momento do acidente. Concluíram que os profissionais de enfermagem são os mais atingidos; que os acidentes ocorrem mais freqüentemente durante o dia, e que mais da metade não estava usando EPI no momento do acidente. Não houve soroconversão. Maia, M.M. et al. (2002) em seus estudos, avaliaram os profissionais de saúde quanto à profissão, aos setores de maior ocorrência e tipos de exposição, aos agentes envolvidos, aos tipos de materiais biológicos de risco e suas fontes, aos locais de acometimento e à introdução de tratamento anti-retroviral. 19 Foram avaliados 340 profissionais de saúde, no período de abril de 2000 a janeiro de 2002, dos quais 54% pertenciam à equipe de enfermagem e 19% à equipe médica. O setor de maior ocorrência foi o laboratorial com 123 casos (36%). A exposição percutânea correspondeu a 218 (64%) casos, sendo agulha oca o principal agente envolvido, com 150 casos (44%). A mão foi o local mais acometido, em 219 casos (65%), e a mucosa ocular em 46 casos (13,5%). Pacientes - fontes conhecidos corresponderam a 203 casos (60%), e o principal material de risco foi sangue com 264 casos (77,5%). Noventa seis profissionais de saúde foram submetidos ao tratamento anti-retroviral para HIV, baseado no resultado positivo do teste rápido ou no fato de a fonte desconhecida ser proveniente dos setores de maior risco de infecção (emergência, hemodiálise, unidades de terapia intensiva e enfermaria de DIP). 246 profissionais de saúde (73%) relataram imunização contra o vírus da hepatite B no momento da exposição. Duzentos e trinta e oito profissionais de saúde (70%) receberam alta. Quarenta e um profissionais de saúde (12%) abandonaram o seguimento e 61 profissionais de saúde (18%) mantiveram seu acompanhamento. Concluíram que a subnotificação dos acidentes ocorre a despeito da divulgação da gravidade das exposições. Os casos de abandono de seguimento foram justificados pela imunização previa contra hepatite B dos profissionais e subseqüentes soroconversão, e pela sorologia negativa anti-HIV ou desconhecimento da fonte, denotando a preocupação em relação ao HIV e o desprezo em face da aquisição de doenças crônicas como a hepatite C. Moreira, M. et al., (2002) analisaram a eficácia da aplicação do teste rápido, comparado com teste convencional na detecção de HIV dos pacientes - fontes de acidentes com exposição a material biológico. No período de maio de 2000 a maio de 2002 foram notificados 332 acidentes, sendo 277 (83,4%) perfurocortantes, e 55 (16,6%) por exposição à pele não íntegra e mucosa; 23,5% entre acadêmicos de medicina, 13,9% residentes de medicina, 20,9% acadêmicos de odontologia, 19,9% auxiliares e técnicos de enfermagem, 6,6% médicos, 4,2% enfermeiros e 11,4% em outros profissionais. Excluídos os pacientes-fonte já sabidamente HIV positivos, em 264 acidentes foram realizados testes rápidos no paciente-fonte, sendo 260 negativos e 4 positivos. Houve confirmação de 100% dos resultados posteriormente, com o teste 20 convencional (ELISA). A positividade dos pacientes-fonte para HIV foi de quatro (1,2%); para HCV de 12 (3,6%) e do HBV de um (0,3%). Concluíram que o teste rápido para detecção do HIV em paciente-fonte de acidente teve eficácia de 100%, quando comparado ao teste convencional para detecção de HIV. No presente trabalho realizamos diagnóstico situacional dos acidentes ocupacionais ocorridos, com profissionais de saúde acidentados e que foram atendidos no Pronto Atendimento e Ambulatório da FMTAM durante o período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003. 21 2. OBJETIVOS 2.1 – OBJETIVO GERAL Avaliar os principais aspectos dos acidentes ocupacionais envolvendo fluídos corpóreos, na transmissão do HIV, VHB, e VHC ocorridos com profissionais de saúde atendidos na FMTAM; no período de 01/2001 a 12/2003. 2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Determinar quais as categorias profissionais mais envolvidas em acidentes com fluídos corpóreos; • Identificar os tipos de acidentes mais freqüentes, as características mais importantes da lesão, e instrumentos mais implicados; • Determinar o perfil sorológico pós-exposição nos casos acompanhados por seis meses para marcadores do HIV, VHC, e VHB; e • Subsidiar com informações, para divulgação junto á rede de saúde com o objetivo de sensibilizar os profissionais de saúde, bem como os serviços de saúde para a adoção de medidas preventivas. 22 3. METODOLOGIA Este trabalho foi realizado na FMTAM, no ambulatório da Gerência de Dermatologia. A FMTAM é uma instituição de ensino e pesquisa que presta atendimento ambulatorial e hospitalar a infectados por diversas patologias infecciosas entre as quais os portadores de HIV/AIDS, em ambulatório específico e internações no complexo hospitalar. A Gerência de Dermatologia atende a pacientes dermatológicos em geral e aos com manifestações dermatológicas relacionadas à AIDS. Engloba, também, o ambulatório de acidentes ocupacionais envolvendo sangue e fluidos corpóreos. 3.1 – POPULAÇÃO ALVO Profissionais de saúde que sofreram acidentes com fluidos corpóreos, atendidos na FMTAM, compreendendo atendimentos no período de janeiro 2001 a dezembro de 2003. 3.2 – TAMANHO DA AMOSTRA No período de janeiro de 2001 e dezembro de 2003 foram atendidos (primeiro atendimento no Pronto Atendimento da FMTAM) 531 profissionais de saúde, com história de acidentes ocupacionais, dos quais 281 iniciaram o acompanhamento ambulatorial de seis meses preconizado pelo Ministério da Saúde. 3.3 – SELEÇÃO DOS INDIVÍDUOS A SEREM INCLUÍDOS NA AMOSTRA Os prontuários dos indivíduos avaliados foram selecionados do banco de dados do serviço de atendimento do ambulatório de acidentes ocupacionais com fluidos corpóreos, da Gerência de Dermatologia da FMTAM. Aqueles que foram identificados como profissionais atuantes na área de saúde, e que tinham sofrido acidente ocupacional envolvendo fluidos corpóreos, foram candidatos a fazer parte do estudo. O estudo incluiu a coleta de dados de amostra retrospectiva das fichas clínico-epidemiológicas (Anexo B), e dos prontuários de profissionais selecionados envolvendo fluidos corpóreos atendidos na FMTAM, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003. 23 3.4 – CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Profissionais de Saúde Acidentados: De ambos os sexos com diagnóstico de acidente com perfurocortante, envolvendo fluido corpóreo; Das categorias profissionais de saúde/ pessoal de apoio; e Maiores de 18 anos de idade, 3.5 – CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Prontuários com documentação insuficiente. (Profissionais que não foram avaliados pelo protocolo preconizado pelo M.S.). 3.6 – CRITÉRIOS DE GRAVIDADE DO ACIDENTE COM FLUIDOS CORPÓREOS O diagnóstico de acidente ocupacional envolvendo fluido corpóreo foi realizado por meio de sua descrição de ocorrência no prontuário médico. Foi avaliada a gravidade do acidente baseada nos seguintes critérios: • Lesões profundas; • Sangue visível no dispositivo invasivo; • Acidentes com agulhas de grosso calibre; • Paciente-fonte em estágio avançado ou infecção aguda; e • Agulha utilizada em artéria ou veia de paciente-fonte. 3.7 – COLETA DE DADOS As informações foram coletadas dos prontuários dos profissionais selecionados, com o preenchimento de uma ficha clínico-epidemiológica e laboratorial, para alocação de dados clínicos, laboratoriais e profiláticos, dos profissionais que sofreram acidentes ocupacionais. (Anexo B) Foram coletados dados de nome, sexo, idade, atividades profissionais, locais de trabalho, status vacinal para tétano e hepatite B, material biológico,tipo de acidente e instrumento nele envolvido, bem como uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual), atividade desenvolvida na ocasião, sua causa determinante e eventual soroconversão para os vírus pesquisados. Sendo utilizadas para este fim avaliação sorológica para os vírus da imunodeficiência humana, hepatites B e C, coletadas na 24 consulta realizada no Pronto Atendimento. No caso do HIV, a avaliação sorológica foi também realizada, na sexta semana, com três meses e com seis meses do acidente. No caso dos vírus das Hepatites B e C, foram realizadas coletas para testes sorológicos na consulta do Pronto Atendimento e com seis meses da ocorrência do acidente conforme o protocolo do M.S. 3.8 – ANÁLISE DOS DADOS Depois de coletados os dados foram registrados em um banco de dados eletrônico. Análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se pacote de software (Epi-Info V. 3.2.2 de 14 de abril de 2004), que foi utilizado para a entrada e verificação das informações digitadas. Métodos padrões de análise para estudos descritivos foram realizados, de acordo com a seguinte descrição: 3.9 – ANÁLISE DESCRITIVA A análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, como: Prevalência por grupo de sexo, categoria profissional mais atingida, tipo de acidente e outras variáveis. IC 95% e testes de significância foram empregados para validar essas proporções encontradas. Calculadas as médias, IC 95% e testes de significância para variáveis numéricas, como idade, por exemplo. 25 4. RESULTADOS Foram trabalhados os dados de 531 profissionais da área de saúde atendidos no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003 na FMTAM (Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas). Para a apresentação dos resultados utilizamos dois parâmetros: O primeiro incluiu 531 profissionais de saúde acidentados, atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, e o segundo, com 281 profissionais que compareceram e iniciaram o acompanhamento ambulatorial após a primeira consulta no Pronto Atendimento. (Figura 01) AMB FMTAM 281 52,9% PS FMTAM 250 47,1% Figura 01: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento, e dos que compareceram para o acompanhamento ambulatorial na FMTAM. Dos 531 profissionais acompanhados, 415 (78,2%) eram do sexo feminino e a idade variou de 18 a 64 anos com média de 33. Sendo a idade de 24 anos (6,8%) a de maior percentual de profissionais acidentados. (tabela 4) Tabela 4: Distribuição dos profissionais acidentados por média de Idade MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA >% 18 anos 64 anos 33 anos 24 anos 26 Quanto à categoria profissional, verificamos que 280 (52,7%) eram auxiliares de enfermagem, 78 (14,7%) auxiliares de serviços gerais, 28 (5,3%) enfermeiros, acadêmicos na área de saúde 25 (4,7%), e 24 (4,5%) médicos. (Figura 2) Aux. Enfermagem 280 52,7% Médicos 24 4,5% Acad. Saúde 25 4,7% Enfermeiros 28 5,3% Serv. Gerais 78 14,7% Outros 96 18,1% Figura 2: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM quanto à categoria profissional. Entre as outras profissões envolvidas em acidentes com material biológico encontramos, 96 (18,1%) com as seguintes distribuições: auxiliar de patologia 20 (3,8%), estagiário em técnico de enfermagem 18 (3,4), dentista 11 (2,1%), auxiliar de odontologia 11 (2,1%), auxiliar de lavanderia 11 (2,1%), funcionário de limpeza pública 10 (1,9%), cuidador nove (1,6%), atendente de drogaria quatro (0,7%) e técnico de radiologia dois (0,4%). (Tabela 5) 27 Tabela 5: Distribuição dos profissionais acidentados por freqüência das outras categorias profissionais (a) PROFISSÕES (i) FREQUÊNCIA % Aux. Patologia 20 3,8 Est. Tec. Enfermagem 18 3,4 Dentista 11 2,1 Aux.Odontologia 11 2,1 Aux. de Lavanderia 11 2,1 Funcionário de Limpeza Pública 10 1,9 Cuidador 9 1,6 Atendente de Drogaria 4 0,7 Tec. de Radiologia 2 0,4 TOTAL 96 18,1 Dos 531 acidentados, 33 (6,2%) profissionais trabalhavam na FMTAM. Das instituições que encaminharam, as principais foram o Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Pereira Machado, com 54 (10,2%) dos profissionais acidentados, o Pronto Socorro 28 de Agosto com 41 (7,7%) dos acidentes, os Prontos Socorros da Criança com 36 (6,8%), os (SPA) Serviços de Pronto Atendimento da Secretaria Estadual de Saúde, com 31 (5,8%) casos de acidentes ocupacionais e as Maternidades com 25 (4,7%) (Figura 3). Outros serviços contribuíram com 311 (58,6%) dos profissionais acidentados encaminhados para o Pronto Atendimento da FMTAM. (Tabela 6) HPS João Lúcio 54 10,2% PS 28 de Agosto 41 7,7% FMTAM 33 6,2% PSC 36 6,8% SPA 31 5,8% Maternidade 25 4,7% Outros 311 58,6% Figura 3: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM por instituições onde ocorreram os acidentes. 28 Tabela 6: Distribuições dos profissionais acidentados por instituições de saúde onde ocorreram os acidentes INSTITUIÇÕES FREQUÊNCIA % Drogaria/Ambulatório de Empresas 37 7,0 P S da Família 24 4,5 Centro de Saúde 21 4,0 Consultório Particular 20 3,8 Hospital da Unimed 18 3,4 Hospital Getulio Vargas 17 3,2 FCECON 16 3,0 Hospital Dr Fajardo 15 2,8 Hospital Adriano Jorge 15 2,8 Hospital Beneficente 14 2,6 Hospital Sta Casa de Misericórdia 14 2,6 ICAM 14 2,6 Em residência particular 12 2,3 Hospital Militar 12 2,3 Hospital D F Mendes 11 2,1 Hospital Adventista 11 2,1 AAR 10 1,9 CAIMI 8 1,5 Ambulância do S O S 7 1,3 CAIC 6 1,1 Clínica Renal 6 1,1 Unidade Mista de Saúde 3 0,6 311 58,6 TOTAL Do total de profissionais acidentados atendidos, 450 (84,7%) eram de serviços públicos e 81 (15,3%) pertenciam aos serviços privados (Tabela 7). 29 Tabela 7: Distribuição dos profissionais acidentados e que foram atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM por origem institucional TIPO DE SERVIÇO FREQÜÊNCIA % Serviço Público 450 84,7 Serviço Privado 81 15,3 Seção 1.02 TOTAL 531 100 Quanto ao tipo de exposição, 484 (91,1%) foram percutâneas, 26 (4,9%) foram de mucosa, 17 (3,2%) foram de pele integra e quatro (0,8%) corresponderam à pele não-íntegra. (Figura 4) Mucosa 26 4,9% Pele Íntegra 17 3,2% Pele N. Íntegra 4 0,8% Percutânea 484 91,1% Figura 4: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM quanto ao tipo de exposição. O material biológico mais freqüentemente envolvido nos acidentes notificados foi sangue, em 267 (50,3%) casos. (Tabela 8) 30 Tabela 8: Distribuição dos profissionais acidentados quanto ao tipo de material biológico MATERIAL Sangue Fluído com sangue Desconhecido Total FREQÜÊNCIA % 267 50,3 9 1,7 255 48 531 100 Os principais instrumentos envolvidos nos acidentes perfurocortantes foram: as agulhas ocas, que corresponderam a 402 (75,7%) dos acidentes ocupacionais, seguidas por lâminas com 18 (3,4%), agulha maciça com 18 (3,4%), com vidro 16 (3%) e por outros não identificados que somaram 77 (14,5%) dos casos analisados. (Tabela 9) Tabela 9: Distribuição por freqüência dos principais instrumentos envolvidos nos acidentes ocupacionais em profissionais de saúde atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM INSTRUMENTOS FREQÜÊNCIA % Agulha oca 402 75,7 Lâmina 18 3,4 Agulha maciça 18 3,4 Vidro 16 3,0 Outros não identificados 77 14,5 TOTAL 531 100 Quanto à presença de sangue no instrumento envolvido no acidente 15 (2,8%) profissionais responderam afirmativamente, e 166 (31,3%),negativamente. No restante 350 (65,9%) o instrumento causador do acidente não foi observado. (Figura 5) 31 Sangue V. Dispositivo 15 2,8% Sangue N. Visível 166 31,3% Não Observaram 350 65,9% Figura 5: Distribuição quanto à visualização de sangue no instrumento envolvido no acidente com os 531 profissionais de saúde que foram atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM. O uso de equipamento de proteção individual (EPI) foi referido em 244 (46,0%) casos dos 531 avaliados. (Figura 6) Não fazia uso de EPI 287 54,0% Fazia uso EPI 244 46,0% Figura 6: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto à utilização de EPI. O EPI mais utilizado foi luva em 208 (85,2%) dos profissionais acidentados, seguido de máscara 30 (12,3%), e óculos 6 (2,5%). (Figura 7) 32 Máscaras 30 12,3% Oculos 6 2,5% Luvas 208 85,2% Figura 7: Distribuição dos 581 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto ao EPI utilizado. Dos 531 casos de acidentes com material biológico, foi observado que em 359 (67,6%) o status sorológico do paciente-fonte era desconhecido. (Figura 8) Fonte Desconhecida 359 67,6% Fonte Conhecida 172 32,4% Figura 8: Distribuição dos 531 profissionais acidentados atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, quanto ao conhecimento do estado sorológico do pacientefonte. O status sorológico do paciente-fonte era conhecido em 172 (32,4%) casos, dos quais 28 (16,3%) eram sabidamente HIV positivo, e 144 (83,7%) eram HIV negativo.(Tabela 10). 33 Tabela 10: Distribuição de pacientes-fontes quanto à situação sorológica para o HIV Paciente-fonte conhecida Freqüência % HIV positivo 28 16,3 HIV negativo 144 83,7 172 100 Artigo II. Total A profilaxia pós-exposição (PPE) com anti-retroviral foi indicada em 244 (45,9%) casos, nos quais 125 (51,2%) foi utilizada a associação de três drogas AZT (Zidovudina), 3TC (Lamivudina) e um Inibidor da Protease (Indinavir ou Nelfinavir), e, em 58 (23,8%) pacientes acidentados fez-se uso de duas drogas AZT+3TC, sendo que a PPE foi suspensa em 61 (25%) casos. (Figura 09) O uso de HBlg não foi indicado em nenhum caso. AZT + 3TC 58 23,8% AZT + 3TC+ Ind/Nel 125 51,2% PPE Suspensa 61 25,0% Figura 09 – Distribuição dos 244 profissionais acidentados atendidos na FMTAM quanto à utilização de quimioprofilaxia para HIV. Do total de 531 profissionais acidentados, atendidos no Pronto Atendimento da FMTAM, apenas 281 (52,9%) compareceram e iniciaram o acompanhamento ambulatorial após a primeira consulta no Pronto Atendimento, destes 113 (40,2%) foram somente na primeira consulta. Compareceram à visita de seis semanas 36 (12,8%), e ao retorno de três meses, 59 (21,0%). Completaram o acompanhamento de seis meses preconizado pelo Ministério da Saúde 73 (26,0%), nos quais não foi 34 observada soroconversão para nenhum dos três vírus pesquisados (HIV, VHB e VHC). (Figura 10) 6 Meses 73 26,0% 3 Meses 59 21,0% 1ª Consulta AMB 113 40,2% 6 Semanas 36 12,8% Figura 10: Distribuição dos 281 profissionais acidentados, quanto ao comparecimento das consultas no ambulatório na FMTAM, segundo protocolo do MS. As principais causas dos acidentes envolvendo material biológico nos 281 pacientes acompanhados no ambulatório foram em 173 (61,6%) casos, autoacidente, 62 (22,1%) descarte inadequado e em 22 (7,8%), o reencape de agulha. (Figura 11) Outros 24 8,5% Auto-Acidente 173 61,6% Descarte Inadequado 62 22,1% Reencape Agulha 22 7,8% Figura 11 – Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMTAM por causa de acidente. 35 Observamos que as outras causas de acidente corresponderam a 24 (8,6%) das ocorrências. (Tabela 11) Tabela 11: Distribuição dos profissionais acidentados por outras causas de acidentes CAUSA DO ACIDENTE FREQÜÊNCIA % Movimento do colega 10 3,6 Movimento de Paciente 10 3,6 Caixa Cheia 4 1,3 Total 24 8,5 Nos 281 profissionais acidentados que fizeram acompanhamento ambulatorial, observou-se que, quanto à atividade exercida no momento do acidente, 51 (18,1%) coletavam lixo, 49 (17,4%) realizavam punção venosa, 31 (11,0%) desprezavam agulha, 30 (10,7%) realizavam injeção intramuscular, (Figura 12) e em 120 (42,7%) exerciam outras atividades. (Tabela 12) Coleta de Lixo 51 18,1% Punção Venosa 49 17,4% Outras 120 42,7% Desprezavam Agulha 31 11,0% Injeção Intra-Muscular 30 10,7% Figura 12 – Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMTAM por atividade que exerciam no momento do acidente. 36 Tabela 12: Distribuição dos profissionais acidentados atendidos no ambulatório da FMTAM, por outras atividades exercidas no momento do acidente ATIVIDADE EXERCIDA FREQÜÊNCIA % Glicemia Capilar 19 6,8 Limpeza de Local de Trabalho 17 6,0 Sutura 13 4,6 Tratamento Endodôntico 12 4,3 Reencape de Agulha 11 3,9 Injeção EV 10 3,6 Despreza Lâmina 9 3,2 Exodontia 6 2,1 Cirurgia 5 1,8 Desconhecido 18 6,4 Total 120 42,7 Dos 281 pacientes avaliados no ambulatório da FMTAM, 174 (61,9%) tinham história de, pelo menos, uma dose para vacina contra Hepatite B (Figura 13) e 202 (71,9%) eram vacinados contra o Tétano. (Figura 14) Não Vacinado 107 38,1% 1 Dose VHB 174 61,9% Figura 13: Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos na FMTAM quanto à vacina para Hepatite B. 37 Não Vacinado 79 28,1% Vacinado Tétano 202 71,9% Figura 14: Distribuição dos 281 profissionais acidentados atendidos na FMTAM quanto à vacina para Tétano. Dos 281 profissionais acompanhados no ambulatório em 147 (52,3%) o acidente ocorreu após a realização do procedimento e em 134 (47,7%), ocorreu durante procedimento. (Figura 15) APÓS 147 52,3% DURANTE 134 47,7% Figura 15 – Distribuição dos profissionais acidentados que foram atendidos no ambulatório da FMTAM, quanto à ocorrência do acidente durante ou após o procedimento. 38 5. DISCUSSÃO Os profissionais de saúde podem estar sujeitos ao risco de aquisição de agentes infecciosos durante sua atividade profissional. Os patógenos veiculados pelo sangue representam um risco constante aos profissionais de saúde, que se podem expor em virtude de acidentes de trabalho com material perfurocortante. Os agentes transmitidos através de sangue e fluidos corpóreos, como HIV, VHB, VHC ocupam uma posição de destaque, tendo em vista sua importância epidemiológica. O Atendimento dos profissionais de saúde vítimas de acidente perfurocortante, em grande parte, tem seus resultados muitas vezes frustrados pela falta de uma adequada conclusão para o caso. Quando do acidente, os profissionais procuram o primeiro atendimento. No entanto, passado o transtorno do momento, a maioria abandona o acompanhamento por mais diversas causas. O Estado do Amazonas, através da FMTAM, iniciou o atendimento de modo sistemático aos profissionais de saúde envolvidos com acidentes com material biológico a partir de janeiro de 2001, com o início do ambulatório de acidentes ocupacionais envolvendo fluidos corpóreos. Esses dados nos levaram a avaliar a importância dos acidentes ocupacionais envolvendo fluidos corpóreos na transmissão do HIV, VHB e VHC, ocorridos com profissionais de saúde acidentados atendidos na FMTAM, e a possibilitar uma visão mais ampla da extensão do problema em nosso Estado. Utilizamos, em nosso estudo, as informações de 531 profissionais acidentados atendidos no (PA) Pronto Atendimento da FMTAM, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003. Desse total de profissionais, apenas 281 (52,9%) iniciaram o acompanhamento no ambulatório, ou seja, após o atendimento de urgência no PA, 250 (47,1%) não prosseguiram com as recomendações de fazer o acompanhamento ambulatorial. Dos 281 profissionais que iniciaram o acompanhamento, 113 (40,2%), compareceram à primeira consulta retorno, 36 (12,8%) compareceram à consulta de seis semanas, 59 (21,0%) compareceram à consulta de três meses e 73 (26,0%), à consulta de seis meses. Esses dados são preocupantes e podem ter explicação no fato de que a cultura de acompanhar, no Estado do Amazonas, acidentes ocupacionais é muito recente. A principal 39 implicação deste fato é a possibilidade de transmissão de agentes que possuem longo período de incubação, como por exemplo, os vírus das hepatites B e C e o HIV, que podem apresentar manifestações clínicas indistintas de outras viroses, com evolução silenciosa e de conseqüências potencialmente graves. O desconhecimento, por grande parte dos profissionais, dos riscos dos acidentes, das medidas a serem adotadas quando da sua ocorrência, do acompanhamento de seis meses preconizado pelo Ministério da Saúde (não obstante as recomendações sobre essa necessidade no instante do primeiro atendimento ambulatorial), e excessiva carga de trabalho imposta aos profissionais de saúde podem ser causas do abandono do acompanhamento. Chama a atenção o fato de apenas 73 (26,0%) terem concluído o acompanhamento de seis meses, índice muito abaixo do descrito previamente, de aproximadamente 50% pelo CDC, (2001). Os dados encontrados não corroboram os descritos na literatura nacional de serviço que realiza esse tipo de acompanhamento. Oliva, (2002) em seu trabalho encontrou uma taxa de abandono do acompanhamento de 44,9%. Outra observação importante é a de que esse elevado índice de abandono acarreta a perda do seguimento do profissional acidentado, o que pode levar não só ao desenvolvimento de sérios problemas de saúde no futuro, como também ao aumento dos gastos com casos não fechados, de material, de horas de trabalho do profissional que exerce a assistência, de exames (alguns de valores mais elevados, como é o caso das sorologias), e de insumos, o que resulta num aumento dos custos gerais aos cofres públicos. Esses dados são importantes para o norteamento das medidas de saúde pública, prevenção e controle a serem direcionadas a essas populações. Entre os 531 profissionais acidentados, 415 (78,2%) eram do sexo feminino, fato corroborado por diversos outros estudos descritos na literatura (Oliva, 2002; Bellíssimo, 2002) , situação que guarda relação com o elevado percentual de pessoas do sexo feminino que trabalham na área da saúde. A idade variou de 18 a 64 anos, com média de 33. A idade de maior percentual foi 24 anos (6,8%), fato que fazemos questão de destacar, por envolver pessoas relativamente jovens em geral no início da fase economicamente ativa de suas vidas, resultado que também foi encontrado em outros tipos de trabalho (Senna, 2002). Quanto à categoria profissional, verificamos que 280 (52,7%) eram auxiliares e técnicos de enfermagem, 78 (14,7%) eram auxiliares de serviços gerais, 28 (5,3%), eram enfermeiros, 25 (4,7%) eram acadêmicos da área de saúde e 24 40 (4,5%) eram médicos. A grande diferença entre técnicos de enfermagem e enfermeiros provavelmente se deva ao fato de os técnicos estarem mais relacionados aos procedimentos com perfurocortantes, já que prestam atendimento direto nas suas atividades diárias de assistência ao paciente. A situação dos profissionais de saúde, em especial os que trabalham em urgência/emergência, como por exemplo, cirurgiões, enfermeiros, técnicos de enfermagem e técnicos de patologia, pela natural exposição ao estresse, quer por sua atividade, quer pelas longas jornadas impostas pelo exercício profissional, podem servir para entender o abandono no acompanhamento pós-acidente, e ao menor número de informações desses casos, corroborando, ainda, o fato de que, na maioria das vezes, a vergonha de se expor e ser eventualmente taxado de negligente tem peso considerável. No caso dos profissionais de serviços gerais, quer por sua, em geral, baixa escolaridade, quer por medo de perder o emprego, muitas das vezes evitam procurar o atendimento médico para esse tipo de ocorrência. Tal fato nos reporta a atentar mais para a responsabilidade institucional, tanto pública quanto privada, no sentido de adotar políticas que levem à conscientização dos envolvidos por meio de projetos de educação continuada que se traduzam em boas práticas, objetivando evitar, no exercício da atividade laborativa, a contaminação desses colaboradores. Também, como resultado do nosso estudo, foi observado o aumento do número de notificações de acidentes com material biológico por parte dos profissionais de serviços gerais 78 (14,7%) quando comparados a outros serviços. Rodrigues, 2002, em seu trabalho encontrou uma percentagem de cinco por cento. Das principais instituições que encaminharam para atendimento específico seus profissionais acidentados com perfurocortantes, os que prestam atendimento de urgência/emergência foram os mais eficientes nesse sentido. O Hospital e Pronto Socorro João Lúcio Machado contribuiu com 54 (10,2%), e o Pronto Socorro 28 de Agosto com 41 (7,7%) dos casos.Os Prontos Socorros da Criança (Zonas Sul, Leste e Oeste), participaram com 36 (6,8%) e os SPA (Serviços de Pronto Atendimento) da rede pública estadual contribuíram com 31 (5,8%) dos casos. Esses resultados são cosentâneos com o fato de esses quatro serem os maiores serviços públicos destinados ao atendimento de urgência/emergência no Estado do Amazonas, para onde é encaminhada a grande parte dos pacientes graves, vítimas de acidentes, agressões físicas, fraturas e demais ocorrências de gravidade, na cidade e no interior do Estado. Tais pacientes, na maioria das vezes, necessitam de 41 procedimentos invasivos de alta complexidade, que são realizados sob um considerável nível de estresse, o que contribui para que o acidente ocorra. Num estudo recentemente publicado, Elmiyeh, 2004 sugere que os médicos apresentam maior possibilidade de não notificar seus acidentes, em relação aos enfermeiros, não obstante a grande chance de que eles ocorram. Levando-se em conta que essas são as principais portas de entrada do sistema de saúde do Estado, com uma média de 500 atendimentos/dia em situações consideradas de urgência e emergência por cada uma destas instituições, percebe-se que esses dados reforçam a probabilidade de menor informação dessas ocorrências. Trinta e três casos (6,2%) atendidos foram da FMTAM, o que também nos leva a refletir sobre uma eventual menor informação dos acidentes ocorridos nesse serviço, com a agravante de ser a FMTAM a instituição de referência para o atendimento, em todos os níveis de pacientes portadores de doenças infecciosas e parasitárias de todo o Estado. Outros locais de atendimento contribuíram com 311 (58,6%) de todos os profissionais acidentados encaminhados. Profissionais de serviço público constituíram maioria dos atendimentos, 450 (84,7%), em relação ao serviço privado, que contribuiu com 81 (15,2%) das notificações. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo nacional (Oliva, 2002), o que se deve ao fato de ser o tamanho da rede pública muito maior do que o da rede privada. Quanto ao tipo de exposição no momento do acidente, observamos um predomínio da exposição percutânea, que correspondeu a um montante de 484 (91,1%) de todos os casos, seguida por exposição de contato com mucosa, que contribuiu com 26 (4,9%) de todas as exposições. Outros centros do país reportam dados semelhantes, Senna, 2002 e Bernal, 2002, referem como resultado 64% e 60,3% , respectivamente, de exposição percutânea. No nosso estudo, o sangue foi o principal material biológico envolvido em acidentes com perfurocortantes, com participação em 267 (50,3%) das notificações e, quanto aos principais instrumentos, as agulhas ocas corresponderam a 75,7%, com 402 casos. De fato, as investigações anteriores realizadas por outros autores sobre acidentes ocupacionais envolvendo fluidos corpóreos, (Soprani, 2002; Oliva, 2002), estão de acordo com os dados obtidos por nosso estudo. A questão de sangue visível no dispositivo envolvido no acidente foi respondida positivamente por 15 (2,8%) profissionais, enquanto 166 (31,3%) 42 profissionais responderam negativamente a essa questão. A maioria dos acidentados 350 (65,9%) respondeu não se ter preocupado com a constatação de que houvesse, ou não sangue no instrumento causador do acidente. (Soprani, 2002) encontrou resposta positiva em 259 casos o que correspondeu a 48,6%. A explicação para tal achado talvez se deva ao desconhecimento, em nosso meio, da importância dos acidentes envolvendo material biológico por parte dos profissionais de saúde. Outra explicação seria a dita “cultura do silêncio” que envolve os acidentes ocupacionais com os profissionais, que se calam por medo da acusação de negligência, como foi evidenciado por Elmiyeh, 2004, quando foram pesquisados 300 profissionais de saúde, ocasião em que ficou evidente o fato de que, embora 80% dos entrevistados achassem que os acidentes deveriam ser notificados, apenas 51% dos acidentados tinham tomado essa providência. Outro aspecto a ser considerado na definição do aspecto sangue visível no dispositivo é o de que um maior inóculo, na dependência da imunidade do hospedeiro, está associado a uma maior possibilidade de transmissão de patógenos, de maneira que dados epidemiológicos do acidente deverão ser levados em conta quando da sua avaliação. A utilização de EPI foi relatada em 244 (46,0%) dos 531 profissionais avaliados. Desses, o mais utilizado foi a luva, com 208 (85,2%) do total avaliado, seguida por máscara com 30 (12,3%) dos avaliados, e óculos, seis (2,5%) dos casos. Não faziam uso de nenhum EPI 287 (54,0%) dos casos investigados. À literatura neste aspecto, apresenta dados conflitantes. (Oliva, 2002) Encontrou 29,5% que não faziam uso de EPI enquanto (Soprani, 2002), encontrou 52,9% para o mesmo dado. Esse dado reporta à necessidade de maior treinamento a respeito de quando e por quê utilizar os EPI. É conhecida a recomendação do uso das precauções-padrão (CDC, apud APECIH, 1999), independendo do tipo de assistência a ser prestada a qualquer paciente, que, nesse caso, é o profissional acidentado. Outro aspecto importante avaliado entre os 531 profissionais acidentados, foi o status sorológico do paciente-fonte do acidente, quanto aos vírus da imunodeficiência humana e do vírus da hepatite B. Essa questão é importante uma vez que ambos os vírus podem ser detectados através de testes rápidos, o que facilita sobremodo a tomada de decisão do início ou não de medidas específicas uma vez que ambos apresentam profilaxia eficaz. A eficácia do teste rápido para o 43 HIV esta bem estabelecida, como afirma um estudo nacional (Moreira, 2002), e deve auxiliar na tomada de decisão quanto ao início da profilaxia pós-exposicional. A utilização desses testes efetivamente auxilia na decisão de início, ou não, de quimioprofilaxia específica, que deverá ser iniciada no caso de teste rápido positivo, com anti-retrovirais no caso do HIV, ou da utilização de imunoglobulina e/ou de vacinação específica, no caso do vírus da hepatite B. Por outro lado, informações epidemiológicas do paciente-fonte ou da situação do acidente deverão nortear a tomada de decisão quanto ao início, ou não, da quimioprofilaxia específica (Maia, 2002). Mesmos nos casos de difícil definição, a quimioprofilaxia contra o HIV deverá ser iniciada sem demora, e o profissional habituado ao manejo de acidentes ocupacionais deverá ser consultado para a manutenção, ou não, do esquema. No caso da hepatite B, a profilaxia deverá ser realizada através da vacina e da utilização da imunoglobulina. É bem conhecida a necessidade da definição do status sorológico do paciente-fonte para a definição do início, ou não, da quimioprofilaxia. A profilaxia da hepatite B e HIV, em relação aos acidentes com material biológico encontra-se amplamente fundamentada na literatura mundial (MS, 1999, CDC, 2001). Nossos resultados mostraram que o status sorológico do paciente-fonte era conhecido em apenas 172 (32,4%) dos casos, do total dos 531 avaliados, dos quais 28 (16,3%) eram sabidamente HIV positivos e 144 (83,7%) eram HIV negativos. Um estudo nacional (Maia, 2002) relata haver 203 (60%) de pacientes-fonte conhecidos de um total de 340 profissionais avaliados, número superior ao que encontramos, fazendo com que os nossos resultados tenham valores discordantes em relação a conhecer, ou não, o status sorológico do paciente-fonte, quando comparados a esse trabalho realizado. Acreditamos que o desconhecimento do status sorológico do paciente-fonte contribua para maior indicação de anti-retrovirais, maior custo material, com exames e visitas para acompanhamentos desnecessários, além de contribuir para maior sofrimento psicológico do profissional acidentado. Diversos estudos internacionais (CDC, 2001) recomendam e dão suporte à utilização de anti-retrovirais para a quimioprofilaxia do HIV. As recomendações se baseiam no tipo de exposição, no fato do status sorológico do paciente-fonte ser ou não conhecido, e no status de risco epidemiológico da fonte. Dos 531 casos do nosso estudo a profilaxia pós-exposição foi indicada em 244 (45,9%) dos casos. Destes, em 125 (51,2%) foi utilizada quimioprofilaxia com a utilização de três drogas, a saber, AZT, 3TC e um inibidor da protease, (Indinavir ou 44 Nelfinavir). Sendo a escolha entre os dois inibidores da protease baseada na disponibilidade do medicamento ou na maior experiência no uso de um ou outro desses inibidores , por parte do profissional responsável pela prescrição do Pronto Atendimento da , 58 profissionais acidentados (23,8%), fizeram uso de esquema profilático contendo duas drogas (AZT + 3TC). Após avaliação do médico infectologista ou da primeira consulta agendada no ambulatório, a quimioprofilaxia foi suspensa em 61 (25,0%) casos. Analisando esses dados observamos que a indicação de iniciar a quimioprofilaxia ocorreu em 45,9% dos casos, nos quais o uso da combinação de três drogas alcançou 51,2%, e com duas drogas, 23,8%. Em um estudo realizado por Soprani, 2002, dados semelhantes foram encontrados. Neste ponto chamamos a atenção para a indicação de suspensão da profilaxia pósexposição em 25% dos casos, fato não observado anteriormente em nosso serviço, pela não existência do ambulatório de acidentes ocupacionais. Verifica-se através dos dados apresentados que uma substancial economia de recursos gastos com a instituição de quimioprofilaxia, exames, e acompanhamento foi evitada após melhor orientação das condutas a serem adotadas quando ocorre o acidente. Não podemos esquecer o imenso desgaste psicológico gerado naqueles profissionais vítimas de acidentes com fluído corpóreo, em especial, àqueles que detêm algum conhecimento sobre assunto. Existe, inclusive, um caso de suicídio descrito na literatura (Oliveira, 2002), como conseqüência de um acidente ocupacional caracterizado como leve. Chamou a atenção o fato de que a Imunoglobulina Hiperimune contra Hepatite B não foi indicada em nenhum caso, não obstante sua disponibilidade no CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais), localizado nas dependências da FMTAM. Uma explicação provável para esse fato talvez seja a não utilização do protocolo de avaliação dos acidentes ocupacionais existente no Pronto Atendimento da FMTAM. Esses dados apontam, ainda, para a necessidade de maior investimento no serviço de atendimento dos acidentes ocupacionais envolvendo material biológico, tanto num programa de treinamento continuado em serviço, direcionado aos profissionais responsáveis pelo primeiro atendimento no Pronto Atendimento da para que o protocolo preconizado seja seguido, evitando-se a demora no diagnóstico e início da quimioprofilaxia, quando indicada, e reforçando a necessidade do acompanhamento no ambulatório, utilizando-se especialmente mecanismos que 45 garantam o resgate dos profissionais que não retornam para o seguimento do protocolo preconizado, acarretando gastos inúteis aos cofres públicos, bem como conseqüências silenciosas e potencialmente letais representadas pela eventual transmissão dos VHB, HIV e VHC. Quanto à causa do acidente observamos que dos 281 profissionais acompanhados no ambulatório, 173 (61,6%) tiveram como principal causa o autoacidente, que em 62 (22,1%) dos casos foi descarte inadequado, em 22 (7,8%) o reencape de agulhas, e em 24 (8,5%), outras causas. Souza, 2002, em seu estudo, verificou que o reencape de agulha representa a segunda causa de acidente, com 14,9% dos casos. Em nosso estudo observamos, ainda, nos 281 profissionais acidentados, que os dados relacionados à atividade exercida no momento do acidente revelaram o predomínio da coleta de lixo com 51 (18,2%) dos casos, seguido por punção venosa com 49 (17,4%), descarte de agulhas 31 (11,0%), e injeção intramuscular 30 (10,7%) dos casos. Esses resultados são semelhantes aos descritos em outros estudos (Senna, 2002) que, ora coincidem com esses dados, ora apresentam punção venosa como predominante, com 28% dos casos. Mas, o que chama a atenção nos nossos resultados é uma freqüência maior de notificação relativa ao lixo coletado, que correspondeu a cinco por cento dos casos no referido estudo. Quanto à vacinação, no nosso estudo, do total de 281 profissionais acompanhados no ambulatório, 174 (61,9%) tinham história de, pelo menos, uma dose contra a hepatite B. Sabe-se que a vacina contra a hepatite B é efetiva com cobertura de aproximadamente 93% (MS, 2001), quando utilizada em 3 doses em pessoas não imunodeprimidas, jovens e que tenham respondido com valores maiores que 10 MUI/ml para Anti-HBs após a vacinação. Embora os dados confirmem a importância da potencial transmissibilidade do vírus da hepatite B em acidentes envolvendo sangue e fluidos corpóreos (Neves, 2002), ainda é pequeno o percentual de profissionais de saúde com vacinação completa em nosso meio. Posto que a cobertura vacinal dos profissionais de nossa amostra tenha sido pequena, a relevância do nosso achado toma maior proporção se levarmos em conta que a região amazônica é endêmica para as hepatites B e C (Leão et al., 1997). A situação vacinal para o tétano também foi analisada, sendo positiva em 202 (71,9%) dos profissionais avaliados. 46 Outra variável avaliada em nosso trabalho foi a ocorrência do acidente durante ou após a realização do procedimento. Nossos resultados mostraram que dos 281 profissionais acompanhados no ambulatório, em 147 (52,3%) dos casos o acidente ocorreu após a realização do procedimento e que em 134 (47,7%), o fato aconteceu durante o procedimento. Resultados semelhantes foram encontrados por Oliva, 2002, que também observou um predomínio dos acidentes após o procedimento, que corresponderam a 62,2% nesse estudo. Acreditamos que esses dados apontem para a necessidade de melhor orientação aos profissionais de saúde, tanto na sua formação, quanto no desempenho de suas atividades, sobre a importância dos acidentes ocupacionais, evitando-se, assim, potencial transmissão de agentes que possam ser evitados com essas simples medidas. 47 6. CONCLUSÃO 1. É significativo o total de profissionais acidentados que procuram o Pronto Atendimento, mas não continuam os atendimentos no ambulatório; 2. O número de profissionais acidentados que iniciam o acompanhamento no ambulatório e completam o seguimento de seis meses foi pequeno; 3. A suspensão da quimioprofilaxia poderia ter sido maior se os profissionais acidentados comparecessem ao primeiro retorno no ambulatório; 4. A cobertura vacinal para hepatite B entre os profissionais de saúde é baixa, expondo-os desnecessariamente ao risco de adquirir o vírus; 5. A utilização de EPI’s por parte dos profissionais de saúde não é uma prática cotidiana; 6. Embora o programa de atendimento aos profissionais de saúde envolvidos em acidentes ocupacionais tenha sido iniciado na FMTAM, ainda existem problemas na globalização do atendimento como é recomendado tecnicamente, incluindo o resgate dos faltosos, e a consulta ao psicólogo; 7. Fica evidente a necessidade de programas de educação continuada, não só sobre acidentes ocupacionais, mas também em relação às providências que devem ser adotados quando do acidente. 48 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTER, M.J. The epidemiology of acute and chronic hepatitis C. Clinical Liver Diseases, n.1, p.559–68, 1997. ALTER, M.J. Occupational exposure to hepatitis C virus. Int: A dilemma. Infections Control Hospital Epidemiology. n.15. p742–4, 1994. BARBOSA, B.S.; GARRIDO M.S.; CASTILHO M.C. et al. Acidentes Ocupacional com Material Biológico em Manaus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA SOCIEDADE DE MEDICINA TROPICAL. Anais: São Luis. 2000. BEASLEY, R.P.; HWANG L.Y. et al. 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Exposição de membrana mucosa e pele não íntegra. + GRAVE agulhas com lúmen/grosso calibre, lesão profunda, sangue visível no dispositivo usado ou agulha usada recentemente em artéria ou veia do paciente - GRAVE lesão superficial, agulha sem lúmen PEQUENO VOLUME poucas gotas de material biológico de risco, curta duração GRANDE VOLUME contato prolongado ou grande quantidade de material biológico de risco (1) Estudos em exposição sexual e transmissão vertical sugerem que indivíduos com carga viral < 1500 cópias/ml apresentam um risco muito reduzido de transmissão do HIV. (2) Quando a condição sorológica do paciente-fonte não é conhecida, o uso de PEP deve ser decidido em função da possibilidade da transmissão do HIV que depende da gravidade do acidente e da probabilidade de infecção pelo HIV deste paciente (locais com alta prevalência de indivíduos HIV+ ou história epidemiológica para HIV e outras DST). Quando indicada, a PEP deve ser iniciada e reavaliada a sua manutenção de acordo com o resultado da sorologia do paciente-fonte. * 2 drogas = 2 inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (geralmente AZT+3TC). 3 drogas = esquema de 2 drogas + inclusão 1 IP (geralmente NFV ou IND/ ) 55 ANEXO B: Ficha Clínico-Epidemiológica e Laboratorial de Acidente Ocupacional. 1 – IDENTIFICAÇÃO DO ACIDENTADO Registro ###.### Nome Sexo (F) (M) Idade:## DATA PS ___/____/____ End.: Bairro Cidade 2 – DADOS PROFISSIONAIS Instituição onde ocorreu o acidente: Categoria funcional: Local do acidente 3 – ACIDENTE PRÉVIO? (S) (N) Quantos? Fazia acompanhamento? (S) (N) Tempo de seguimento Gestante (S) (N) 4 – ACIDENTE ATUAL: Data ___/___/___ Data PS ___/___/__ 6 – MATERIAL: ( ) Fluído com sangue 5 – TIPO DE ACIDENTE ( ) Sangue ( ) Mucosa oral ( ) Mucosa Ocular ( ) Percutâneo ( ) Pele íntegra ( ) Pele não íntegra ( ) Profundo 7 – TIPO DE INSTRUMENTO ( ) Lâmina ( ) Agulha maciça ( ( ) Outro ( ) Agulha oca ( Em que tinha sido usado o instrumento ) Mandril ) Vidro 8 – MOMENTO DO ACIDENTE: ( ) Durante o procedimento O que fazia no momento do acidente? 9 – CAUSA DO ACIDENTE ( ) Auto-acidente ( ) Mov. Paciente ( ) Descarte inadequado ( ) Caixa cheia 10 - FAZIA USO DE EPI ( ) Luvas ( ) Máscaras ( ) Protetor facial ( ) Avental Sangue visível na agulha? Procedimento vascular? ( ) Após o procedimento ( ) Mov. Colega ( ) Reencape ( ) Outra ( ) Óculos ( ) Sem EPI ( ) Outros 56 Cont. ANEXO B: Ficha Clínico-Epidemiológica e Laboratorial de Acidente Ocupacional. 11 – PACIENTE-FONTE: (i) Conhecido (S) (N) Diagnostico VIH POSITIVO ( ) HbsAg HbeAg VIH NEGATIVO ( ) HCV VIH 13 – ANTECEDENTES DO PROFISSIONAL ACIDENTADO Vacina anti-Hepatite B (S) (N) Quantas doses Sorologia pós-vacina (S) (N) VAC TÉTANO (S) (N) 14 – CONDUTA Indicação de ARV? (S) (N) Quais? Funcionário aceitou? (S) (N) Motivo da recusa? HBlg (S) (N) Vacina Hepatite B (S) (N) Outra Exames solicitados Anti-HIV ( ) HbsAg ( ) Anti-HBc ( ) TEMPO DE ACOMPANHAMENTO PPE Anti-HCV ( )