Dra. Marianne Ferreira Psicóloga Clinica Gravidez: Estado de graça, estado interessante ou embaraço? Psicóloga Em condições ideais, a vida e a sua continuidade, quando representadas pela conceção de um novo ser, são, de modo geral e em todas as culturas, motivo para celebrações. A grande maioria das mulheres assim como as pessoas que as rodeiam assinalam e comemoram com entusiasmo a constatação de uma gravidez, tenha sido esta planeada ou simplesmente desejada, sendo este um projeto “a solo” ou em parceria, seja no momento ideal ou quando simplesmente tenha acontecido. Sabemos que o planeamento familiar, do modo como o conhecemos na atualidade, é ainda relativamente recente, sendo mais recente ainda a lei que permite a IVG. A resposta emocional da mulher que engravida não é, entretanto, uma resposta pré-programada, instintiva, obrigatória, única e consonante com o papel a que a ela se atribui. São muitos os fatores que influenciam e determinam o leque e as tonalidades das emoções suscitadas pela constatação de uma gravidez. Se é uma primeira, se já existem outros filhos, se foi planeada, se existe um parceiro efetivamente envolvido, se existem suportes familiares e sociais, se implica em ruturas, se é viável do ponto de vista da saúde da mulher e do bebé, se é viável do ponto vista económico, se torna inviáveis outros projetos, se a idade é “adequada”, se a mulher sente que tem competências para a maternidade, enfim, é longa e pessoal a lista de influências sobre o estado emocional da mulher que engravida. Cada um destes fatores pode ter, para cada mulher ou casal, um peso específico e determinante na atribuição do significado que cada gravidez terá. Assumimos frequentemente que a gravidez é um estado que coloca ou deveria colocar a mulher de imediato em ressonância com as mais nobres das emoções. No âmbito da expressão pública e social das emoções que envolvem o “estado de graça”, reforçam-se e valorizam-se todas as manifestações de encantamento espontâneo e natural pela novidade. É neste senso comum, no senso da situação natural e ideal que representa para o coletivo uma gravidez, que esquecemos muitas vezes o quão individual pode ser o contexto que cada gravidez tem para aquela gestante. Na intimidade e por vezes de forma assustadoramente solitária, muitas mulheres constatam que a gravidez e a maternidade representam para elas, naquele momento, Marianne Ferreira - Psicóloga Clínica uma condição ambivalente ou indesejada, marcada por dúvidas, receios, angústias, transformações e sentimentos de culpa que não podem ser partilhados com ninguém. Com o receio de serem julgadas ou de sofrerem pressões e influências nas suas decisões, muitas mulheres guardam para si os sentimentos que entendem que não serão aceites. Estes sentimentos, ao serem velados, poderão conduzir a desequilíbrios e prejuízos emocionais ou somáticos, que podem perdurar no tempo por não terem uma forma de expressão que lhes dê significado. Desejar a maternidade e não ter acesso a esta, tomar consciência de uma gravidez indesejada ou simplesmente sentir um turbilhão de emoções desconcertadas diante de uma gravidez ou da maternidade, são situações que podem provocar grandes desequilíbrios psicológicos e que por isso beneficiam largamente da atenção focada de uma escuta neutra, isenta, confidencial e profissional. A consulta de Aconselhamento Psicológico é uma porta aberta e preparada para acolher e proteger a mulher no entendimento pessoal deste papel a ela atribuído, tão determinante e carregado de significados, tanto para o coletivo como para si própria. Em Portugal, desde o dia 11 de Fevereiro de 2007 e como resultado de um referendo nacional, foi legalizada a Interrupção Voluntária da Gravidez, podendo esta ser realizada por desejo da mulher grávida até a 10ª semana de gestação. A IVG é um procedimento legal e regulado por princípios de proteção à saúde física da mulher mas não só. Prevê também consultas de apoio psicológico que pretendem principalmente a criação de um contexto empático e confortável, que propicie à mulher a expressão das emoções suscitadas pela gravidez indesejada, de modo a que possa refletir sobre os seus desejos e receios, propiciando uma tomada de decisão consciente, informada e apoiada, seja esta qual for. Apesar de ser claramente descriminalizada a opção da mulher pela interrupção da gravidez, este ainda é um assunto de extrema delicadeza e que implica, para a maioria das mulheres, em um grande receio da exposição e das reações que daí possam vir. Assim, em respeito à privacidade e ao apoio que a mulher necessita no momento em está em causa uma grande decisão, a possibilidade de ter consultas acessíveis, onde a confidencialidade o 2 Marianne Ferreira - Psicóloga Clínica sigilo são absolutos, com a possibilidade inclusive de anonimato, é uma das mais-valias do atendimento online que a Psiprof Clinic oferece. Marianne Ferreira Psicóloga Clínica 3