algumas técnicas mitigadoras para a recuperação de voçorocas

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ALGUMAS TÉCNICAS MITIGADORAS PARA A RECUPERAÇÃO DE
VOÇOROCAS: O CASO DA VOÇOROCA DO CÓRREGO CABRAL,
DISTRITO DE GASPAR LOPES – MUNICÍPIO DE ALFENAS- MG
Josiane de Fátima Lourenço
[email protected]
discente do Curso de Geografia, Licenciatura, Universidade Federal de Alfenas
Marta Felícia Marujo Ferreira
[email protected],
Profa. Associada do Curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas
Introdução
Diversas formas de erosão são observadas, entretanto a que possui a maior distribuição
geográfica em diversos países é a provocada pelo escoamento superficial e subsuperficial nas
encostas. As feições geradas pelos escoamentos hídricos são ravinas que evoluem para
voçorocas. A intensificação dos processos erosivos gera grandes taxas de perda de solo que
ultrapassam níveis naturais, especialmente na ausência de práticas conservacionistas
(JORGE, 2013; GUERRA, 2013).
A área objeto de análise deste estudo é a microbacia do córrego do Cabral, que pertence a
bacia hidrográfica dos Correias, integrante do reservatório de Furnas, localizando-se no Distrito
de Gaspar Lopes, município de Alfenas – MG. A microbacia citada, apresenta um processo
erosivo linear complexo do tipo voçoroca, situando-se em área rural, tendo como uso agrícola
predominante o cultivo de café, seguido de plantações de eucalipto, soja e pastagem. As
propriedades rurais na região, não utilizam práticas conservacionistas. Além disso, as estradas
rurais são abertas aleatoriamente, sem planejamento, acelerando o processo erosivo. Até o
momento não há estudos sobre as melhores técnicas e a viabilidade de execução das mesmas
para a voçoroca da microbacia do córrego do Cabral, de modo que o presente trabalho visa
contribuir com a recuperação da área.
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Objetivos
A pesquisa teve como finalidade levantar métodos e técnicas voltadas à recuperação de
áreas degradadas por erosão linear do tipo voçorocas. Para isso, utilizou-se como estudo de
caso, a voçoroca do córrego Cabral, situada no Distrito de Gaspar Lopes no município de
Alfenas- MG, caracterizando a área e avaliando a técnica mais adequada para ser usada como
medida de recuperação da voçoroca.
Fundamentação teórica
Para Jenny (1941), “o solo é resultante da interação de cinco fatores ambientais: material de
origem, clima, relevo, organismos e tempo.” A formação dos solos se dá a partir de processos
físicos, químicos e biológicos que transformam o material parental, mineral ou orgânico que lhe
dá origem, sendo classificado esse processo de pedogênese. Na perspectiva apresentada por
Fonseca (2009),
a principal característica dos solos é a organização de seus constituintes
e propriedades em camadas que são relacionados a superfície atual e
que varia verticalmente com a profundidade (FONSECA, 2009, p. 165).”
Nesse sentido, a constituição dos perfis dos solos, varia com relação ao ambiente
genético e geográfico, podendo ser abrangidos três principais horizontes A B e C, onde os
primeiros são distinguidos como “solo verdadeiro”, e o horizonte C é caracterizado como
material parental do solo formado. Ao se desenvolver, um perfil de solo pode apresentar duas
etapas, sendo a primeira a preparação do material parental e em seguida a diferenciação em
horizontes.
Fullen e Catt (2004) salienta que quando a intensidade da chuva ultrapassa os níveis de
infiltração do solo, inicia-se o escoamento superficial gerando o processo erosivo com a erosão
em lençol que se concentra em pequenas incisões, formando ravinas que podem evoluir para
voçorocas a partir do seu alargamento e aprofundamento. Ao diferenciar ravinas de voçorocas,
os mesmos autores levam em consideração que as ravinas geram incisões no horizonte A,
enquanto as voçorocas atingem os horizontes B e C, podendo chegar a rocha mãe. Ao
diferenciar as ravinas de voçorocas, o que predomina é o caráter dimensional (OLIVEIRA,
2009).
Metodologia
Para a realização do presente estudo, foi efetuado um levantamento bibliográfico sobre
o processo erosivo linear do tipo voçoroca, além de técnicas de recuperação de áreas
degradadas por voçorocas. Por meio da leitura de artigos em periódicos especializados,
capítulos de livros e teses e dissertações, foi possível apresentar algumas propostas
mitigadoras para recuperação da voçoroca da microbacia do córrego do Cabral.
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A área selecionada para este estudo refere-se a uma feição erosiva linear do tipo
voçoroca, originada em um canal de 1ª ordem da microbacia do córrego do Cabral, pertencente
a bacia hidrográfica do ribeirão dos Correias, que deságua no reservatório de Furnas, se
localizando no Distrito de Gaspar Lopes, município de Alfenas-MG. De acordo com estudos
realizados por Ferreira, Oliveira e Garófalo (2008), esta feição erosiva se localiza no
Geossistema 1 – Colinas amplas de Furnas. A área de estudo foi selecionada pelas
características de solo, clima e presença de feições geomorfológicas.
Resultados e Discussão
A voçoroca do córrego do Cabral apresenta geometria arborescente, com tendência a
ampliação e aceleração dos canais ramificados da voçoroca principal. É importante ressaltar
que na cabeceira da voçoroca, onde o processo está ativo, foi implantada uma estrada rural
que influencia na intensificação e ativação de suas cabeceiras (Figura 1). A presença de
depósitos úrbicos e gárbicos no interior da voçoroca (detritos da construção civil, restos de lixo
orgânico) provoca a ampliação da amplitude da voçoroca e a perda da cobertura vegetal
(Figura 2).
Figura 1 - Localização da estrada
Figura 2 – Depósitos tecnogênicos na
voçoroca. Fotos: Josiane Lourenço (2014).
Os canais ramificados se apresentam como ravinas, com profundidade superior ou
igual a 0,5m. A presença destas demonstram atividade do processo evolutivo da voçoroca. No
setor jusante, verifica-se a presença de entulhamento generalizado promovido pelo transporte
contínuo de sedimentos removidos de suas paredes ativas (Figura 3). Desse modo, o nível de
base dentro da voçoroca se eleva ocorrendo no final do córrego do Cabral uma feição de leque
deposicional (Figura 4). O processo erosivo neste setor encontra-se mais estabilizado, pois as
escarpas verticais deste trecho encontram-se com cobertura vegetal. Diante da complexidade
da feição erosiva em estágio de crescimento, torna-se necessário propor medidas de
contenção da erosão.
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Figuras 3 e 4 - Escoamentos de água transportando sedimentos no setor médio e
inferior (jusante) da voçoroca, que acarreta na elevação do nível de base.
Foto: Josiane Lourenço (2014).
Algumas medidas mitigadoras de recuperação para a voçoroca do córrego do Cabral
são propostas neste trabalho. Há uma necessidade de isolar a área onde se encontra a
mesma, por meio da construção de cercas que evitem o trânsito de animais, pessoas e
veículos. O resultado esperado é que os processos de regeneração natural da vegetação
sejam ativos. Os trechos de maior atividade da voçoroca situam-se na montante, onde em
épocas de grandes precipitações, a água escoada se aproveita da estrada rural próxima à
cabeceira se direcionando diretamente para o seu interior. Se propõe o redirecionamento das
águas, através da captação por meio da construção de canais artificiais de escoamento em
suas bordas, evitando o lançamento das águas diretamente nas paredes internas da voçoroca.
Ressalta-se também a necessidade de conduzir as águas subsuperficiais a partir da
aplicação de drenos dimensionados e enterrados, que irão impedir o arraste de solo. O
processo erosivo está mais ativo na cabeceira e alguns pontos das paredes escarpadas se
apresentam com declives acentuados com processos de movimentos de massa. Neste caso, a
técnica de retaludamento é fundamental para a contenção de suas paredes. Esta técnica cria
vários taludes artificiais de declividades suaves ao longo das escarpas gerando nova
morfologia.
Posteriormente, pode ser efetuada a aplicação de uma malha (geotêxteis), que são
biodegradáveis e confeccionados de folhas de palmáceas ou buritis, técnica proposta nos
estados de Goiás e no Maranhão, que apresentam um crescimento rápido da cobertura vegetal
após sua implantação. Como a área do estudo não possui estas espécies nativas da área,
sugere-se o uso de espécies típicas do Cerrado e da Mata Atlântica. Esta proposta é apoiada
no trabalho de Machado et al. (2006) que ressalta que o processo de revegetação deve ser
empregado segundo algumas etapas: uso exclusivo de espécies que ocorrem na região;
informações sobre ritmo de crescimento, taxas de germinação, estabelecimento e
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sobrevivência de suas plântulas; utilizar sementes de 10 árvores no mínimo para as espécies e,
se possível, serem colhidas em florestas naturais minimizando a consanguinidade.
Diante das medidas propostas, o monitoramento da área é de total relevância podendo
ser feito em períodos de meses, para verificar se as medidas adotadas estão sendo efetivas, se
a vegetação adotada está se desenvolvendo e se a feição erosiva que está mais ativa em
alguns pontos, apresenta estabilização.
Conclusões
O uso e ocupação do solo na área de estudo sem a adoção de medidas para conter o
processo erosivo, e na ausência de práticas conservacionistas e de técnicas de reabilitações
da área, possibilitaram o aceleramento do processo erosivo, que ainda se encontra ativo na
voçoroca do córrego do Cabral. Tendo em vista o conhecimento das causas erosivas
atuantes na área, e o surgimento de técnicas variadas de recuperação de áreas que estão em
processo de degradação, é possível controlar e recuperar a área afetada. Contudo, as
medidas propostas necessitam do apoio do poder público local, no caso da Prefeitura
Municipal de Alfenas. Através da Secretaria de Obras e Planejamento e do Codema, é
possível colocar em prática estas medidas, mesmo que a feição erosiva esteja situada em
propriedades particulares.
Referências Bibliográficas
FERREIRA, M. F. M.; OLIVEIRA, SOUZA, R. L.; GARÓFALO, D. F. T. Delimitação e
caracterização das unidades de paisagem da região de Alfenas, sul de Minas Gerais, a
partir de dados do radar SRTM e imagem orbital ETM+ Landsat 7. SIMPÓSIO NACIONAL
DE GEOMORFOLOGIA, 7; ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE GEOMORFOLOGIA, 2,
2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2008.
FONSECA, A. C. Geoquímica dos solos. In:GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R.
G. M. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand, 2009, cap. 5, p. 165-193.
FULLEN, M. A. CATT, J. A. Soil management: problems and solutions. Oxford: Oxford
University Press, 2004, 269 p.
GUERRA, A.J.T.; JORGE, M.O. Processos erosivos e recuperação de áreas
degradadas. São Paulo: Oficina de textos, 2013.
JENNY, H. Factors of soil formation, a system of quantitative pedology. McGrawHill:New York, 1941. 281 p.
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MACHADO, E. M.; GONZAGA, A. P. D.; MACEDO, R. L. G.; VENTURIN, N.; GOMES, J. E.
Importância da avifauna em programas de recuperação de áreas degradadas. Revista
Científica Eletrônica de Engenharia Florestal, Garça, n. 7, v. 1, p.1-19, 2006.
OLIVEIRA, M. A. T. Processos erosivos e preservação de áreas de risco de erosão por
voçorocas. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação
dos solos: conceitos, temas e aplicações. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2009, cap. 2,
p. 57-94.
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