IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO DA GESTÃO HOSPITALAR – NO HOSPITAL E PRONTO SOCORRO MUNICIPAL DE CUIABÁ-MT Maria Aparecida de Oliveira1 Resumo: A pesquisa tem como objetivo verificar o processo de humanização no Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, dos projetos implementados ou em fase de implementação, garantindo a humanização no atendimento. A humanização supõe uma gestão hospitalar integrada e permanente centrada no atendimento oferecido ao paciente, supõe um perfeito entendimento pelos gestores das expectativas e necessidades dos pacientes. Os funcionários do hospital devem manter e desenvolver o necessário grau de compreensão exigido para responder as necessidades, mesmo não expressas, dos usuários, cujo cuidado são responsáveis. Os resultados mostram que os gestores estão trabalhando para que a humanização seja uma realidade no cotidiano do hospital e que há um envolvimento de alguns setores e servidores lutando para a construção dessa realidade humanizada, a humanização no hospital é uma realidade, porém está em processo de implementação. Palavras-chave: Humanização. Atendimento. Gestão Hospitalar. INTRODUÇÃO A rotina hospitalar parece despersonalizar o trabalho e as pessoas; por vezes, aqueles que atendem nem sequer olham nos olhos dos pacientes. Tudo isto demonstra a importância de um atendimento humanizando nesse ambiente onde as fragilidades humanas estão expostas. Ao passar das épocas, vão-se incorporando às práticas do cotidiano novos termos, novos conceitos. Na área da saúde, sabe-se que longe vai o tempo do médico de família, que atendia nas casas, do nascimento à morte. Vieram as técnicas inovadoras, depois a tecnologia, as especializações, inundando de expectativas indistintamente todas as classes econômicas que necessitam de serviços de saúde. Assim, em razão do acelerado processo de desenvolvimento tecnológico em medicina, a singularidade do paciente, ou seja, suas emoções, suas crenças e valores, ficou ofuscada pelo destaque dado à sua doença, que passou a ser objeto do saber reconhecido cientificamente. Dessa maneira, o ato médico e tudo o que isso envolve se desumanizaram. Na mesma esteira, numa espécie de 1 Graduanda em Administração pela Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus Cacoal, sob orientação da Professora Ms. Maria Bernadete Junkes. 2 efeito cascata, os ambientes e as condições de trabalho nas instituições de saúde foram absorvendo essa influência de limitação de tempo e de tarefismo nos trabalhadores da área. Até que se inicia como que uma reflexão em torno da qualidade desse atendimento criado pela presença e confiança extremada na tecnologia: a necessidade de humanizar esse atendimento à saúde (MEZZOMO, 1995). Segundo Venuso (2001), humanizar é atender com atenção a todos por meio da palavra, do gesto e do olhar, é tratar as pessoas com dignidade e respeito, valorizando o ser humano em todos os aspectos subjetivos e sociais. É o ato de atender bem e acolher todas as pessoas, sem nenhuma distinção. A humanização no atendimento aos pacientes implica em acolher o indivíduo, ser cordial, demonstrar interesse pelo outro, saber ouvir, dar uma resposta clara e precisa, orientar. Para que haja humanização, é necessário que todos estejam envolvidos nesse processo: servidores, gestores e usuários. Assim se começou a falar de humanização do parto e humanização no atendimento a recém-nascidos de baixo peso. A humanização dentro da gestão hospitalar e os cuidados com a melhora nos serviços hospitalares tomaram grandes abrangências nas novas tendências de Gerência Hospitalar. É certo que os serviços hospitalares são de completa interação entre seres humanos. A ênfase na área da saúde está voltada para o contato entre pessoas, e uma das atividades que está deixando de ser exercida durante o atendimento ao paciente, em virtude da falta de tempo e da sobrecarga de trabalho, é o adequado processo de comunicação entre as partes envolvidas. É preciso reconhecer que usuários e profissionais de serviços de saúde sofrem com a realidade hoje nos hospitais, bastante desumanizada, justamente em momentos de dor e necessidade de ajuda dos que para lá se dirigem (SAYD,1998). Esse desafio da atual Gestão Hospitalar amplia-se à medida que as inovações tecnológicas são introduzidas no complexo hospitalar e surge daí a necessidade de buscar alternativas que se ajustem à situação pela qual passam as instituições do ramo de saúde. É preciso incorporar mecanismos que proporcionem aos indivíduos condições para se adaptarem a tais exigências sem ferir a integridade das pessoas. Em seu exercício, o gestor das unidades hospitalares exige a articulação permanente de um planejamento adequado bem como a identificação de 3 prioridades na busca de maior eficiência, eficácia e efetividade das ações, visando reduzir os problemas de saúde da população (BRASIL, 2001). Diante do exposto, a problematização que se evidenciou é: Qual é a realidade quanto à humanização do atendimento em instituições hospitalares, tomando-se como amostra o Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá? Na busca pela resposta, tornou-se o objetivo deste artigo analisar o processo de implantação de projetos de humanização no atendimento do Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, em Mato Grosso, conforme os princípios preconizados pela Política Nacional de Humanização (PNH) do Ministério da Saúde. O método escolhido foi a pesquisa documental exploratória, cuja particularidade são as fontes documentais, como documentos contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos, além de explorar fontes divulgadas, como livros e artigos científicos publicados (Gil,1999). Vários documentos foram coletados para a pesquisa: cópia de material de curso ministrado em 2008, acerca da humanização, com um histórico do início das discussões sobre o tema, até o momento atual; cópia de material de curso sobre Metodologia de Oficinas: capacitação/multiplicação sobre os dispositivos da PHN para os grupos de trabalho de humanização; coleta de material referente às reuniões com Plano de Ação 1 e 2 nas datas de 01/2008 e 11/2008; material de cursos ministrados, tendo como tema o acolhimento com classificação de risco, nas datas de 01/2008 e 11/2008, e registro de reuniões em atas. Para fundamentar a pesquisa, utilizou-se referencial teórico atualizado e pautado no objeto de estudo, possibilitando um conhecimento amplo sobre o conceito de humanização, para compreender os valores humanos como essenciais ao atendimento humanizado. 1 HUMANIZAÇÃO Conforme Cembranelli (2000), promover a prática da humanização nos serviços de saúde é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual naturalmente se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que sempre despertam insegurança. Os padrões conhecidos parecem mais seguros, a ponto de se tornarem quase mecânicos; por outro lado, os modelos que se apresentam para a mudança terão de ser assimilados, criticados e também 4 melhorados, o que gera esforço, comprometimento e trabalho. Enfim, para tornar o atendimento mais humano necessita-se quebrar barreiras e moldar novos procedimentos. Emprega-se a palavra humanizar como um meio de traduzir pela palavra o esforço pela dignidade, ou seja, que a dor, a alegria, o prazer que o outro vai compartilhar seja humanizado. É necessário que haja um diálogo com reconhecimento de ambos os lados, a humanização depende do falar e do ouvir, da conversação entre os semelhantes (DINIZ, 2001). Num ambiente hospitalar, humanizar é adequar, aumentar, organizar o número de atendimentos para que as decisões quanto ao atendimento à pessoa doente tenham resolutividade. Para Venuso (2001, p. 67), “a aliança terapêutica se instala pela capacidade de entender e acolher afetivamente a demanda do usuário e o ciclo se completa quando o outro tem a capacidade de acatar e desenvolver esse sentimento”. Em busca da reconstrução das características do gênero humano busca-se um antigo conceito de “humanização”; para que haja o resgate, é preciso que as equipes de saúde enfrentem desafios rompendo seus próprios preconceitos a serem transpostos, e deixem de agir de maneira mecânica, mesmo quando a especificidade de uma UTI exige uma visão holística com conhecimento técnico e científico (KNOBEL, 1998). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) define a humanização por meio do manual do Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar (PNHAH) como [...] Valor, na medida em que resgatar o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas, presentes em todo relacionamento humano. Esse valor é definido em função de seu caráter complementar aos aspectos técnico-científicos que privilegiam a objetividade, a generalidade, a causalidade e a especialização do saber [...] Segundo o PNHAN “humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos na intervenção em saúde” (BRASIL, 2001, p. 52). Humanizar é aceitar esta necessidade de resgate e articulação dos aspectos subjetivos, indissociáveis dos aspectos físicos e biológicos. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática em que trabalhadores e usuários consideram o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à 5 saúde. Humanizar refere-se, portanto, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido e de reconhecimento dos limites. A humanização, segundo Mezzomo et al. (2003), tem como objetivo aprimorar as relações humanas em todos os ambientes e níveis. No caso da humanização hospitalar, deve-se levar em conta: a) Relações médico/usuários; b) Trabalhadores de saúde/usuários; c) Trabalhadores de saúde/familiares; d) Relacionamento entre trabalhadores da saúde. Para Morita, Marx e Bento (2003, p. 98), humanizar significa mudar os paradigmas de gestão, possibilitando aos trabalhadores o acesso a uma participação mais efetiva nos processos que envolvem tomadas de decisões, definição de tarefas e construção de projetos concorrentes a sua esfera de ação [...] Segundo os autores, os hospitais são considerados empresas prestadoras de serviços, cujo trabalho é produto de inter-relações complexas de vários trabalhadores atuantes nesta área, voltadas à saúde, e estes trabalhadores têm como principal objetivo de trabalho a vida e o alívio do sofrimento dos usuários. Por essa ótica, a Gestão de Pessoas deverá enfocar o processo de humanização, voltada ao atendimento das necessidades pessoais e profissionais de seu quadro operacional, para que possa atender satisfatoriamente aos requisitos básicos da assistência qualificada, referentes à competência técnica e competência para interagir. O atendimento humanizado é definido como a aplicação adequada de conhecimentos científicos e habilidades técnicas com reconhecimento e respeito pelos fatores emocionais, sociais e culturais e pelas necessidades individuais dos usuários e suas famílias. 2 HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR A atenção e a melhoria nessas relações são condições indispensáveis para haver assistência humanizada no hospital. Qualquer falha prejudica as relações de afabilidade e deixa de ser relação humanizada (MEZZOMO et. al., 2003). 6 A humanização na assistência à saúde requer um processo reflexivo acerca dos valores e princípios que norteiam a prática profissional, pressupondo, além de um tratamento e cuidado digno, solidário e acolhedor por parte dos trabalhadores da saúde, uma nova postura que permeie todas as atividades profissionais e processos de trabalho institucionais. Nessa perspectiva, diversos trabalhadores, diante dos dilemas éticos decorrentes, demonstram estar cada vez mais à procura de respostas que lhes assegurem a dimensão humana das relações profissionais, principalmente as associadas à autonomia, à justiça e à necessidade de respeito à dignidade da pessoa humana (MORITA; MARX; BENTO, 2003). 3 PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO NOS HOSPITAIS De acordo com Salles (2004), após o primeiro passo para a humanização nos hospitais, marcado pela implantação do PNHAH, lançado pelo governo Fernando Henrique Cardoso, vive-se outro momento agora, com a Política Nacional de Humanização. O objetivo principal das duas iniciativas governamentais foi, em última análise, a humanização nos serviços de saúde. Segundo Mezomo (1995), a humanização no hospital envolve tudo o que é necessário para tornar a instituição adequada à pessoa humana e à salvaguarda de seus direitos fundamentais. Hospital humanizado, portanto, é aquele que, em sua estrutura física, tecnológica, humana e administrativa, valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço dela, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade. Para Nogueira Martins apud Salles (2004), nas instituições de saúde, o desenvolvimento científico e tecnológico tem traduzido, sem duvida, uma série de benefícios, ainda que não assegurem atendimento humanizado. Os usuários, muitas vezes, são tratados como objetos de intervenção. Por outro lado, em muitos hospitais, é justamente a falta de condições técnicas, de capacitação, de materiais que torna a qualidade do atendimento desumanizada. Essa falta de condições técnicas e materiais põe em confronto, muitas vezes, os trabalhadores e os usuários, estabelecendo uma relação desrespeitosa, o que piora as condições já existentes. 7 4 SURGIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO A palavra humanizar é utilizada há várias décadas, adquirindo vários sentidos e conceitos, empregados pela obstetrícia brasileira, no início do século XX (REZENDE, 2005). A humanização da assistência, nas suas muitas versões, expressa uma mudança de compreensão, ao observar o sofrimento do outro, como no parto, quando nada se podia se fazer diante do fato, antes interpretado como pagamento pelo pecado original. Atualmente a medicina presta cuidados humanistas nessa situação (DINIZ, 2005). Em meados de 1990, o conceito de humanização foi estabelecido como princípio de dois programas de saúde no setor público brasileiro: o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento – PHPN (BRASIL, 2001) e o Programa de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH (BRASIL, 2001), culminando com a Política Nacional de Humanização – PNH. Esses programas destacavam ainda reivindicações de humanização do atendimento por parte dos movimentos sociais e associações de defesa de direitos de pacientes, sobretudo aquelas de certos grupos mais vulneráveis e/ou organizados, como pacientes idosos, portadores de HIV e de distúrbios mentais, sendo parte do processo mais amplo de democratização da sociedade no Brasil. Segundo Santos Gonçalves (2007), como projeto de mudança do SUS, a humanização teve início em meados dos anos 1990 através das iniciativas de um pequeno grupo de sanitaristas no Estado de São Paulo. A visibilidade pública da humanização da saúde no Brasil só ocorreu, porém, a partir do ano 2000, quando foi lançado, pelo Ministério da Saúde, o PNHAN, pela Portaria GM N. 881/2001. As políticas públicas de humanização começaram a se consolidar depois da avaliação dos resultados de uma pesquisa com usuários do SUS, que revelaram uma repetitiva história de maus tratos sofridos na busca pelos cuidados da saúde nos hospitais da rede pública. O Ministério da Saúde, em maio de 2000, apresentou então o PNHAH, cujo objetivo mais amplo é a promoção de uma cultura de atendimento humanizado na área de saúde. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000), na avaliação do público, a forma de atendimento, a capacidade demonstrada pelos trabalhadores de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas são fatores que chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de espaços nos hospitais, a falta de medicamentos (DIAS, 2006). 8 O Ministério da Saúde, em 2004, reformulou e unificou as ações da humanização sob sua coordenação e lançou o HumanizaSus – Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2004). A PNH traz como justificativa para sua implantação o baixo investimento para qualificação dos trabalhadores e a existência de poucos dispositivos que garantissem a co-gestão e a inclusão dos trabalhadores e usuários. Segundo Benevides apud SOUSA SANTOS (2005, p. 23), a PNH foi construída a partir de amplo debate entre os diversos órgãos do Ministério da Saúde e representantes estaduais e municipais de saúde e é um conjunto de diretrizes e propostas no campo da humanização na atenção e na gestão da saúde. Uma das premissas desta política é proporcionar atendimento integral ao usuário: “A HumanizaSUS é uma política transversal, pois envolve os diversos programas e área do SUS”. 5 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO Lançado pelo Ministério da Saúde, em 2001, como Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, o referido programa da atenção e da gestão em saúde passou a ser no governo Luís Inácio Lula da Silva uma política nacional, regulamentada pelo Decreto nº 4.726, de 9 de junho de 2003. Foi denominado então HumanizaSus, sob a coordenação da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde (SALLES, 2004). A humanização atua como uma política e não mais como um programa, conforme técnicos do Ministério da Saúde, e se fundamenta na troca e construção de saberes, no diálogo entre os trabalhadores, no trabalho em equipe e na consideração das necessidades, desejos e interesses dos diferentes atores da saúde (BRASIL, 2004). O documento oficial da PNH (BRASIL, 2000) inicia sua argumentação a partir de um diagnóstico de insatisfação dos usuários que diz respeito, sobretudo, aos aspectos de relacionamento com os profissionais de saúde. Essa avaliação ratifica o imaginário e a opinião pública ao confirmar que, em “número significativo”, não seriam só precários, mas desrespeitosos e mesmos violentos os cuidados dispensados nos serviços públicos de saúde. 9 Segundo Salles (2004), importante fato é destacado pela PNH: a política de humanização não visa apenas contemplar o atendimento humanizado aos usuários do SUS, mas também a pautar as relações entre os profissionais e gestores. Em Brasil (2006), os princípios básicos que norteiam a PNH são: a) Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados etc.); b) Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade; c) Apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos; d) Construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na rede do SUS; e) Co-responsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e atenção; f) Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS; g) Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente. A implantação da PNH por meio da adoção desses princípios vem ocorrendo de forma bastante heterogênea nos estados e municípios. De forma geral, as propostas contidas nas cartilhas funcionam como ofertas do Ministério da Saúde, para que os estados e municípios iniciem a implementação da política adequando-as a suas necessidades locais. Recentemente, o Ministério da Saúde incluiu no site HumanizaSus um espaço para a divulgação de projetos, no qual podem ser visualizadas iniciativas realizadas de acordo com as diretrizes da PNH. O Banco dos Projetos, intitulado “Boas Práticas de Humanização na Atenção e na Gestão do Sistema Único de Saúde”, tem por objetivo divulgar experiências bem sucedidas, as quais constituem retratos do SUS que dá certo (BRASIL, 2006 apud SANTOS GONÇALVES, 2007). Brasil (2006), no âmbito da Atenção Hospitalar, a PNH propõe dois níveis crescentes (A e B) de padrões para adesão à política. 10 5.1 Parâmetros para o Nível A a) Grupo de Trabalho de Humanização (GHT) com plano de trabalho implantado; b) Garantia de visita aberta ao hospitalizado, através da presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e peculiaridades das necessidades do acompanhante; c) Ouvidoria funcionando; d) Equipe multiprofissional (minimamente com médico e enfermeiro) de atenção à saúde para seguimento dos pacientes internados e com horário pactuado para atendimento à família e/ou sua rede social; e) Existência de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas hospitalares como as de cuidados domiciliares; f) Garantia de continuidade de assistência com sistema de referência e contrareferência; g) Conselho Gestor Local, com funcionamento adequado; h) Existência de acolhimento com avaliação de risco nas áreas de acesso (Pronto Atendimento, Pronto Socorro, Ambulatório, Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapia); i) Plano de educação permanente para trabalhadores com temas de humanização, em implementação. 5.2 Parâmetros para o Nível B a) Existência de Grupos de Trabalho de Humanização (GTH) plano de trabalho definido; b) Garantia de visita aberta, através da presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade hospitalar e peculiaridades das necessidades do acompanhante; c) Mecanismos de recepção com acolhimento aos usuários; d) Mecanismos de escuta para a população e trabalhadores; e) Equipe multiprofissional (minimamente com médico e enfermeiro) de atenção à saúde para seguimento dos pacientes internados e com horário pactuado para atendimento e/ou sua rede social; 11 f) Existência de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas hospitalares como as de cuidados domiciliares; g) Garantia de continuidade de assistência com sistema de referência e contrareferência. O Ministério da Saúde entende humanização como valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde; o fomento de autonomia e do protagonismo destes sujeitos; o aumento do grau de responsabilidade na produção de saúde e sujeitos; o estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; a identificação das necessidades sociais de saúde; a mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde e o compromisso com a ambiência, melhoria das condições de trabalho e atendimento (BRASIL, 2004). Para Benevides apud SOUSA SANTOS (2005), a filosofia da PNH do SUS é ampliar os serviços e melhorar a qualidade de atendimento, proporcionando o acesso do usuário a trabalhadores capacitados e aos medicamentos. Esses são objetivos que norteiam o SUS no Brasil. Porém a eficiência não basta se esse atendimento não for humanizado. O usuário precisa sentir-se acolhido e não apenas tratado como um número em uma fila impessoal. A PNH tem por objetivo central qualificar a gestão e atenção à saúde. É uma política que induz inovações nas práticas gerenciais e nas práticas de saúde, colocando para os diferentes coletivos/equipes implicados nessas práticas o desafio de superar limites e experimentar novas formas de organização dos serviços e novos modos de produção e circulação de poder. A aposta da PNH é a inseparabilidade entre gestão e atenção, entendendo que a gestão dos processos de trabalho em saúde não pode ser considerada como tarefa administrativa separada das práticas de cuidado (BRASIL apud PAULON; ELAHEL, 2006). 6 QUALIDADE NO ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS As organizações de saúde também podem e devem atender às expectativas de seus “clientes”. O processo de melhoria de qualidade exige um novo relacionamento entre “trabalhadores” e “usuários”, que privilegie a responsabilidade 12 e o respeito recíprocos e não o poder. Trata-se da criação de um ambiente de integração e respeito que só poderá trazer benefícios a todos os envolvidos. Cabe à administração tomar a decisão de fazê-lo e apoiar esta mudança de mentalidade. Para Chiavenato (2007), existem dois tipos de qualidade: a qualidade interna que constitui a maneira pela qual uma organização administra a qualidade de seus processos, produtos e serviços e a qualidade externa que constitui a percepção que o cliente, consumidor ou usuário tem a respeito do produto ou serviço. Sem a qualidade interna não se pode construir e manter a imagem da qualidade externa. Mezomo (1995,p.276) entende a qualidade como sendo “um conjunto de propriedades de um serviço (produto) que o torna adequado à missão de uma organização (empresa) concebida como resposta às necessidades e legitimas expectativas de seus clientes”. Segundo Brasil (2002), a definição da qualidade na área de saúde implica também a explicitação e incorporação dos direitos fundamentais da pessoa humana, que devem ser garantidos e perseverados em sua integridade. Assim, por exemplo, é necessário que a organização reconheça a dignidade das pessoas, bem como o ciclo de vida e da saúde e que se compromete a respeitá-los. A qualidade no atendimento não deve ser meramente um atributo pela busca de melhores resultados econômicos e, sim, fazer parte daquilo que suscite subsídios à manutenção da dignidade. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) orienta que atendimento humanizado significa menor tempo de internação, atenção aos direitos de todos os cidadãos e melhora da qualidade de vida. Significa acima de tudo respeito e acolhimento. A humanização é atender com qualidade, organizar os serviços de saúde, aumentar o número de atendimento para que possa satisfazer as necessidades da clientela, e acolher com afetividade a demanda, é preciso fazer uma análise terapêutica para que possa ter capacidade instalada para atender e acolher a pessoa. A humanização engloba o pensar, o sentir, o dizer, o compartilhar (VENUSO, 2001). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2001a) afirma que o desenvolvimento histórico desse arcabouço conceitual e metodológico na área da avaliação da qualidade e da assistência à saúde tem como uma de suas implicações a ampla utilização de pesquisas de satisfação do usuário e, mais recentemente, de responsividade, ou seja, da visão ou da experiência dos usuários dos serviços de 13 saúde. Em um sentido mais amplo, essas pesquisas permitem verificar o modo como direitos individuais e de cidadania são observados no acesso e utilização dos serviços e sistemas de saúde. Watson (2002, p. 60) nos diz que “O cuidar envolve filosofia de compromisso moral direcionada para a proteção da dignidade humana e preservação da humanidade”. Em face do exposto, temos que, para uma assistência humanizada, faz-se necessário incutir também os valores do cuidado humano, a assistência humanizada está condicionada ao sentido que o ato de cuidar exerce em cada um de nós, como profissional da saúde. Waldon (2001, p. 14) retrata que o cuidar consiste no “respeito à dignidade humana, na sensibilização para com o sofrimento e na ajuda para superá-lo, para enfrentá-lo e para aceitar o inevitável”. A participação dos vários trabalhadores na assistência à saúde propicia o envolvimento de todos os componentes da equipe com a assistência e favorece melhor disponibilidade dos trabalhadores diante dos usuários. Estes, por sua vez, encontrarão maior abertura para expor seus problemas e questionamentos e isto promoverá a qualidade do acolhimento. A humanização do processo de acolhimento depende também da atuação adequada e receptividade demonstrada por todos os trabalhadores que entram em contato direto ou indireto com os usuários. Inclui os que compõem o serviço de segurança hospitalar, os recepcionistas, telefonistas, entre outros (HOGA, 2004). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) afirma que “atendimento humanizado significa menor tempo de internação, atenção aos direitos de todos os cidadãos e melhora da qualidade de vida. Significa acima de tudo respeito e acolhimento”. 7 O HOSPITAL E PRONTO SOCORRO MUNICIPAL DE CUIABÁ O Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) é uma instituição Municipal Pública de assistência terciária, fundada nos anos de 1969/71 na gestão do Prefeito Dr. Bento Machado Lobo, inicialmente em um prédio anexo do Hospital da Santa Casa Misericórdia de Cuiabá, no antigo Sanatório Julio Muller, sendo inaugurado no dia 27 de dezembro de 1969, tendo como primeiro diretor o Dr. Luiz Gonzaga de Almeida Mello. 14 Com o aumento de fluxo de pacientes, a estrutura do Pronto Socorro (PS) ficou pequena, e passou-se a pesquisar outro local para a construção do novo Pronto Socorro de Cuiabá. Inaugurado em 5 de novembro de 1982, com uma área de 3.421 metros quadrados, surge um novo prédio, situado na rua General Vale, onde se encontra até novembro de 2008. Em 1988, dia 8 de abril, foi inaugurado o Hospital Municipal, em anexo ao PS, com o principal objetivo de internar os pacientes provenientes do pronto atendimento e com um centro de tratamento de queimados. O HPSMC possui uma área de terreno de 8.987,59 metros quadrados, sendo a parte construída de 10.402m², incluídos os quatro blocos, sendo o primeiro o PS, onde se localiza a sala de recepção, serviço social, sala de classificação de risco, pronto atendimento, sala de reanimação, consultórios, box de emergência, setor de radiologia (ultra-som, tomografia e raios X), posto policial; o segundo e terceiro blocos formam o Hospital com duas UTI adulto, uma UTI pediátrica e uma UTI neonatal, as enfermarias adulto e pediátrica, o centro de tratamento de queimados e o isolamento; o quarto bloco é o industrial, com salas de administração, diretor clínico, sala de educação continuada, farmácia, almoxarifado, lavanderia, segurança, refeitório. O HPSMC é um dos serviços de referência para atendimento de alta complexidade no Estado de Mato Grosso. Têm 1500 funcionários, 225 leitos e atendimento de 27.000 pacientes ao mês; atua nas diversas clínicas: clínica cirúrgica, cirurgia geral, buco-maxilo-facial, ortopedia, traumatologia, neurologia, neurocirurgia, oftalmologia, cirurgia plástica, clínica geral, pediatria clinica e cirúrgica e outras especialidades. O HPSMC é uma unidade de saúde pública da estrutura organizacional da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), cuja finalidade precípua é de prestar serviços médicos hospitalares à comunidade em geral, nas áreas de urgência e emergência, pela atuação integrada de toda a sua equipe de saúde, bem como das demais unidades da SMS. Tem como missão garantir a saúde das pessoas por meio da assistência humanizada em situação de emergência de média e alta complexidade, e como valores institucionais, a resolutividade, a competência, credibilidade do usuário, qualidade e humanização. 15 8 RESULTADOS DA PESQUISA A pesquisa foi realizada no Hospital e Pronto Socorro Municipal de CuiabáMT, o hospital é uma unidade de saúde pública da estrutura organizacional da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A autorização para realizar a pesquisa nas dependências do hospital foi dada pela gerente do serviço de educação continuada, a mesma autorizou que sua assistente fornecesse todas as informações registradas acerca do processo de humanização no HPSMC, através de registros de reuniões, matérias jornalísticas, panfletos e material didático de palestras. A análise dos documentos foram realizadas no período de 08 de outubro a 12 de novembro. Para subsidiar a pesquisa, efetuaram-se coleta de dados em documentos e relatórios encontrados: a) No site do Ministério da Saúde, o HumanizaSus, sobre a Política Nacional de Humanização e documento base para gestores e trabalhadores do SUS, 2008; b) No setor de estatísticas do Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá/SMS, onde se averiguou o número de pacientes atendidos ao mês; c) Na Gerência de Informação e Faturamento/ Coordenadoria Administrativa do Hospital/SMS, onde se coletaram informações sobre o histórico do hospital, estrutura organizacional e física; d) No Serviço de Educação Continuada do HPSMC/SMS, onde se autorizou a pesquisa e se forneceu todo o material documental para análise. O movimento de humanização no Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá iniciou-se em 2001 com o Programa Nacional de Humanização na Assistência Hospitalar, objetivando a promoção da humanização na assistência hospitalar, a partir de intervenções institucionais para introduzir progressivamente o desenvolvimento e sustentação de iniciativas humanizadas. No ano de 2001 foram feitas as convocações a todos os servidores para compor o Comitê Técnico n° 05/2002; este Comitê se responsabilizou por organizar os grupos de trabalho, de forma setorial. A primeira reunião registrada em ata foi realizada em 25/02/2002, que contou com a participação de 13 pessoas dos diversos setores e níveis de escolaridade. Nesta reunião ficaram acertadas as ações de humanização, à qual se seguiram várias outras reuniões ao longo do período. Foram envolvidas as escolas que usam a instituição como campo de estágio, trazendo estas para a humanização, 16 envolvendo sindicatos e outras instituições, envolvendo a população com o programa de humanização. As reuniões eram objetivas e todos os participantes saíam com a certeza do que deveriam apreender. O Hospital foi loteado em setores, e cada equipe tinha um setor sobre sua responsabilidade, visando à humanização setorial, e todos os membros do Comitê Gestor eram informados das reuniões de forma individual e por escrito. No início do ano de 2002, foi realizado o 1º Fórum de Humanização, tendo como público alvo os funcionários do hospital, e contou com a participação de 60 pessoas, ocasião em que foram destacadas algumas estratégias e ações consideradas prioritárias para a humanização. No 2º Fórum, realizado na data de 12 de julho de 2002, houve a participação de escolas de saúde, hospitais a nível estadual e municipal, associações de bairros, instituições e entidades organizadas. A seguir serão descritos os procedimentos adotados pelo hospital para a implementação da humanização nas atividades desenvolvidas ao atendimento dos usuários, conforme são preconizados pela Política Nacional de Humanização. 8.1 Metodologia de Oficinas de Capacitação sobre Dispositivos da PNH A metodologia de oficinas vem sendo implementada como uma ferramenta fundamental na construção coletiva e troca de saberes. As oficinas visam capacitar os servidores em humanização, definir e implantar diretrizes de acolhimento aos usuários, contribuir para a construção dos processos de mudança da gestão e atenção à saúde, viabilizar um processo coletivo de problematização das práticas cotidianas, provocar, mediar, facilitar e estimular trocas, relações para construção coletivas. As oficinas são realizadas no hospital desde 2003, uma vez por semana, para a qual se trazem materiais didáticos acerca da humanização, procurando envolver os participantes, fazendo com que dêem opiniões, sugestões para a melhoria na realização de suas atividades e nos relacionamentos. Os servidores capacitados pelas oficinas, com a intenção de disseminar conceitos e práticas de humanização, realizaram palestras no pronto atendimento infantil, nas clínicas médica e cirúrgica, na UTI adulto e clínica pediátrica. 17 O grupo de trabalho de humanização do hospital conta com a participação de doze pessoas. Esse grupo tem realizado trabalhos para divulgar a PNH; um dos trabalhos desenvolvidos foi à visita ao Hospital e Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande, cidade contígua a Cuiabá, para conscientizar e envolver funcionários e gestores da instituição sobre as práticas da humanização. Nessas reuniões se apresentou um plano de ação tendo como proposta a melhoria do espaço físico e instalações do hospital, e sugeriu-se um espaço para implementar a educação permanente no hospital. O superintendente da instituição se comprometeu em buscar meios para adotas essas melhorias. 8.2 Plano de Educação Permanente para os Trabalhadores No hospital, o plano de educação permanente tem sido uma estratégia que visa atender a necessidade da gestão hospitalar em qualificar e profissionalizar os servidores, melhorando a qualidade ética e profissional. A gestão de educação permanente, por meio de parcerias, vem tentando oferecer cursos e formação técnica e superior aos seus servidores. Um dos cursos oferecidos é o de profissionalização dos trabalhadores da área de enfermagem (Profae), oferecido aos profissionais que exercem a função de auxiliar e técnico de enfermagem sem terem a qualificação profissional. Em parceria com a Escola de Saúde Pública, oferece-se o curso profissionalizante para os técnicos de radiologia (raios X) que não tenham a qualificação necessária, tendo somente a prática profissional. Para a qualificação de nível superior, firmaram-se parcerias com as instituições e faculdades que utilizam a instituição como campo de ensino e pesquisa; estas oferecem descontos que variam entre 35% a 50% nas mensalidades e são oferecidas bolsas integrais em alguns cursos. 8.3 Valorização e Cuidados dos Trabalhadores Conforme os princípios de valorização e cuidados dos trabalhadores da saúde criaram-se serviços para dar assistência, como a criação do Serviço Especializado de Segurança no Trabalho (SESTE), Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Além desses, instituiu-se folga de aniversário para os 18 servidores, criou-se a comemoração de datas alusivas e efemérides; visitas domiciliares para as famílias de servidores em luto e de servidores afastados; cobrou-se do refeitório a instalação de ar condicionado e de um televisor. 8.4 Mecanismos de Recepção com Acolhimento aos Usuários Nos mecanismos de recepção com acolhimento aos usuários, que envolve espaço físico arejado, segurança, conforto e comunicação e atenção dada aos usuários, reimplantou-se o serviço de segurança fixa e volante, reformou-se todo o HPSMC através de parcerias; reformaram-se as clínicas do quarto andar com a instalação de ar condicionado e televisores; implantaram-se refeições de acompanhantes no refeitório, criou-se visita ao paciente duas vezes ao dia, revitalizou-se o pronto atendimento; mudou-se o serviço social que antes ficava escondido, agora permanece na recepção junto aos usuários; adquiriram-se cadeiras-poltronas para os pacientes; dentro do pronto atendimento foi criado o semi-intensivo e colocado o posto de enfermagem dentro da área de repouso, aproximando o profissional do paciente. Dentro das reformas foi incluído o box de emergência com a colocação de portas sanfonadas para dar privacidade aos pacientes — antes estes ficavam expostos num quarto com acesso ao corredor, onde todos que passavam podiam vê-los. Para ouvir as queixas e reclamações dos usuários, foram instaladas caixas de sugestões e criou-se a ouvidoria do SUS. 8.5 Acolhimento dos Usuários com Utilização da Classificação de Risco Um dos parâmetros da Política Nacional de Humanização é a existência de acolhimento com avaliação de risco nas áreas de acesso como pronto atendimento, pronto socorro, ambulatório, serviço de apoio diagnóstico e terapia. O Acolhimento com Classificação de Risco está em fase de implementação no hospital desde junho deste ano, seguindo o Protocolo Canadense, em que o atendimento, identificado por cores, é realizado de acordo com a enfermidade do paciente: a) a cor vermelha é o atendimento de emergência, o paciente apresenta risco imediato de vida ou agravo, não pode esperar; 19 b) a cor amarela representa risco mediato de vida, agravo, sofrimento, tem prioridade 1; c) a cor verde indica sem risco de vida, pode aguardar, prioridade 2, e d) a cor azul depende do número da demanda e número de profissionais disponíveis, prioridade 3. No hospital, criou-se uma sala para acolher o paciente e fazer uma triagem no atendimento, conforme a gravidade e a necessidade. A sala tem uma porta de entrada que se comunica com a sala de recepção, permitindo à equipe ver o movimento de entrada dos usuários e já os avaliar visualmente. A equipe que faz o acolhimento é composta por um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem. Quando o paciente é atendido na recepção, sua ficha é encaminhada à equipe de acolhimento. O enfermeiro, então, realiza uma consulta, procurando avaliar o estado físico e emocional do usuário, esclarecendo quanto ao possível tratamento e o tempo de recuperação; posteriormente, o técnico de enfermagem verifica os sinais vitais e o peso e, conforme o caso, encaminha o paciente para o ambulatório, consultório, box de emergência, sala de recuperação (esta sala é de caráter semiintensivo, com estrutura para estabilizar ou reanimar o paciente) ou o paciente poderá ser encaminhado para as policlínicas ou centro de especialidades médicas, desta forma atendendo à demanda e acolhendo o usuário. Os objetivos do Acolhimento com Classificação de Risco são a melhoria do acesso dos usuários de saúde mudando a forma tradicional de entrada por filas e ordem de chegada passando a ser por grau de gravidade e necessidade, avaliar o paciente logo na sua chegada, humanizando o atendimento, buscando esclarecer à comunidade a forma de atendimento de urgência e emergência, descongestionar o Pronto Socorro, reduzir o tempo para o atendimento médico, determinar a área de atendimento primário, encaminhando o paciente às especialidades, ortopedia, ambulatórios, organizar processo de trabalho e espaço físico, informar os tempos de espera e retornar informações a familiares. 9 ANÁLISE DOS RESULTADOS Na análise dos documentos percebe-se que a administração vem trabalhando para adequar a instituição hospitalar apta a atender as diretrizes da Política Nacional de Humanização, e corresponder as exigências do Ministério da saúde. 20 A gestão vem promovendo atividades, como palestras e oficinas, trazendo como tema a humanização no atendimento, com o objetivo de envolver a todos os profissionais de saúde, usuários e a comunidade, uma vez que promover a humanização é responsabilidade de todos. Essas atividades são importantes, pois aos poucos vai disseminando os princípios da PNH, uma vez que está requer mudança de comportamento, quebrando barreiras e moldando novos comportamentos. Os gestores preocupam-se com os servidores, na instituição foram feitas reformas para melhorar os espaços destinados as atividades diárias, proporcionando um ambiente mais agradável; a gestão vem incorporando mecanismos para capacitar e profissionalizar os servidores, visando melhorar as atividades desses profissionais. Nota-se uma preocupação da instituição em melhorar o atendimento dado aos usuários, nesse sentido, foram realizadas reuniões para atender as vontades e necessidades dos mesmos, a adoção do mecanismo de escuta e do mecanismo de visita aberta, foram positivas, pois quando ouve e entende o que o paciente necessita ou do queixa-se, fica mais fácil tomar as decisões para tentar atende-los. A adoção dos mecanismos de recepção com acolhimento foi importante, pois demonstra uma preocupação com o bem estar do usuário, melhorando a recepção e as enfermarias; Também foi importante, a adoção do acolhimento com classificação de risco, esse mecanismo visa atender a todos usuários adotando o critério de atendimento por grau de necessidade e não mais pelo critério de ordem de chegada; Esse critério de atendimento adotado pelo hospital, é uma medida de gestão que permite a instituição prestar atendimento a todos necessitarem, com melhor resolutividade, descongestionando o pronto socorro. No hospital a humanização no atendimento, é uma das prioridades da gestão, a mesma está na missão da instituição, e em todos os materiais impressos do hospital, como os documentos internos da administração e nos receituários dos médicos; Observa-se um envolvimento de alguns servidores e setores em colaborar com a implementação da humanização no hospital, alguns projetos já foram implementados, outros em fase de implementação e ainda há muito mais a ser realizado para melhorar o atendimento ao usuário, tornando esse atendimento humanizado. 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a construção dessa nova relação observou-se a tentativa de melhorar a atual condição do atendimento: o hospital tem realizado cursos de capacitação aos seus servidores em relação ao atendimento, mas embora estes estejam se capacitando, existe a difícil tarefa de conciliar a teoria com a prática, por fatores como excesso da demanda, que acaba sobrecarregando, e falta de materiais e equipamentos necessários, o que dificulta ainda mais o atendimento em alguns setores, deixando os usuários insatisfeitos. Nota-se a necessidade de melhorias das condições de trabalho em alguns setores, como de radiologia: onde se realizam os exames de raios X, há somente um aparelho funcionando, o outro está com defeito, e sem previsão de conserto. Um aparelho é insuficiente para atender a demanda, o setor fica constantemente superlotado e os usuários reclamam da demora no atendimento. Há também superlotação no box de emergência, nos corredores e enfermarias do setor. É uma realidade permanente; os pacientes ficam tumultuados, não há um espaço arejado; andar pelo setor provoca uma sensação de angústia. Há perspectivas de mudança nesse cenário: a realização das oficinas é um importante instrumento, pois promove valorização do trabalho e do trabalhador, criando parcerias, redes, grupalidades, é um momento de construção coletiva de propostas para mudança de atenção e gestão; as palestras com temas de humanização, tanto para os servidores, usuários e comunidade, têm ajudado a sensibilizar a todos os envolvidos e a divulgar os princípios da PNH, com a construção e troca de saberes. Também foi positiva a reforma geral do HPSMC, que melhorou os espaços físicos destinados às práticas profissionais e de relações interpessoais, proporcionando uma atenção acolhedora e humana, de forma resolutiva, às necessidades dos usuários. Os pacientes, quando entram no hospital, deparam-se com uma estrutura predial pintada com característica de nova, com uma recepção espaçosa, com ar condicionado, cadeiras com assento confortável, bebedouro com água gelada, sanitários masculino e feminino. Os pacientes podem aguardar o atendimento sentados, pois quando chegam pegam uma senha, e logo depois são atendidos pela sala de Acolhimento com Classificação de Risco, onde serão encaminhados conforme sua necessidade e 22 gravidade aos consultórios e ambulatórios; os que chegam de ambulância são atendidos no box de emergência. Observa-se um comprometimento de todos os servidores na tentativa de se adequarem para prestar um atendimento mais digno e humano aos usuários, mas ainda há dificuldades a serem superadas, como o baixo salário, a quebra de aparelhos e a histórica morosidade dos serviços públicos. Para melhorar o atendimento e descongestionar o pronto socorro, tem de haver uma eficiente comunicação e integração do sistema à rede básica de saúde, às policlínicas, aos centros de especialidades e aos serviços de atendimento móvel urgente (SAMU). Esta comunicação possibilitará um atendimento mais adequado e em tempo menor, reduzindo assim o tempo de espera, proporcionando melhor resolutividade. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH. Brasília: Ministério da Saúde, 2001a. ____________. Secretaria de Políticas da Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: 2001b. ____________. Executivo Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Política Nacional de Humanização. Brasília – DF 2004. ____________. Ministério da Saúde. Agência de Notícias Humanização. Brasília - DF 2006. ____________. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1342>. Acesso em 30 out. 2007. ____________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. 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