UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA A SAÚDE THAÍSA AMORIM NOGUEIRA ACOMPANHAMENTO FARMACEUTICO: UMA ESTRATÉGIA PARA O AUMENTO DE ADESÃO AO TRATAMENTO DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS NITERÓI 2012 i THAÍSA AMORIM NOGUEIRA ACOMPANHAMENTO FARMACÊUTICO: UMA ESTRATÉGIA PARA O AUMENTO DE ADESÃO AO TRATAMENTO DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Aplicada a Produtos para a Saúde da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Interdisciplinar. Orientadora: Profª. Drª. SABRINA CALIL-ELIAS Co- Orientador: Prof. Dr. LEANDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA BARBOSA Niterói 2012 N778 Nogueira, Thaísa Amorim Acompanhamento farmacêutico: uma estratégia para o aumento de adesão ao tratamento de pacientes em cuidados paliativos oncológicos/ Thaísa Amorim Nogueira; orientadora: Sabrina Calil-Elias. – Niterói, 2012. 91p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, 2012. 1.Uso de medicamento. 2. Assistência farmacêutica. 3. Terapêutica. I. Calil-Elias, Sabrina I.Título CDD 615.1 ii THAÍSA AMORIM NOGUEIRA ACOMPANHAMENTO FARMACEUTICO: UMA ESTRATÉGIA PARA O AUMENTO DE ADESÃO AO TRATAMENTO DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Aplicada a Produtos para a Saúde da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Interdisciplinar. Aprovado em _____ / _____ / 2012. BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Profa. Drª. Sabrina Calil-Elias (UFF) Orientadora _______________________________________________ Prof. Dr Marcelo Amorim Tomaz (UFRJ) _______________________________________________ Prof. Drª Débora Omena Futuro (UFF) _______________________________________________ Prof. Drª. Selma Rodrigues de Castilho (UFF) iii “...o farmacêutico faz misturas agradáveis,compõe unguentos úteis à saúde e seu trabalho não terminará, até que a paz divina se estenda sobre a face da terra...” (Eclo 38, 7b-8) iv AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade única de me colocar a disposição com toda a minha capacidade intelectual a ajudar o próximo e ainda crescer com isso. A minha mãe que além de compreender minha ausência, sempre me incentivou a buscar o saber, me fazendo entender que posso ir mais além. A minha família pelo apoio, que me fez ir em frente, mesmo quando quis ficar. Ao meu marido, Leandro Cabral, por ser suporte com corpo, palavras, estrutura, tudo que foi necessário pra que eu construísse mais este sonho. Aos amigos, que me fizeram crescer, compreenderam o cansaço, apoiaram minhas decisões, lutaram comigo por este objetivo e nunca me deixaram desistir. Aos amigos da Divisão Técnico-Científica do Hospital do Câncer IV: Dr. Carlos, Dr. Pedro, Dr. Paulo, Sandra e Cláudia, que me acolheram carinhosamente em seu ambiente de trabalho com mais que amizade e apoio. Aos profissionais do ambulatório do Hospital do Câncer IV, que me permitiram participar do dia a dia e trocar experiências que possibilitaram meu crescimento. À minha orientadora Sabrina Calil-Elias pela paciência, carinho e direcionamento que foram essenciais neste caminho, além de todo incentivo, apoio e cofiança. Ao Prof. Dr. Leandro Augusto de Oliveira Barbosa, por toda a presença mesmo que a quilômetros que distância. Ao Prof. Dr. Joel Maurício Rosa, que colaborou com inúmeras análises estatísticas. Aos pacientes que se dispuseram a participar desta pesquisa, pela receptividade, boa vontade e contribuição para melhoria de toda assistência. v RESUMO Os pacientes considerados pouco aderentes à terapia além de risco de morte e agravamento de sua doença, também contribuem para o aumento dos custos do tratamento. Para este estudo o objetivo foi observar a relação entre o fornecimento da orientação farmacêutica e a adesão ao tratamento em Cuidado Paliativo Oncológico. O trabalho foi dividido em duas etapas, a primeira durante a confecção da prescrição junto ao médico e a segunda em atendimento direto ao paciente. O estudo teve ainda dois grupos de pacientes, grupo controle, que recebeu apenas as orientações básicas, denominado “GRUPO C”, e um o “GRUPO E” que recebeu orientações farmacêuticas específicas (verbal e documentada). Este estudo mostrou que o grupo de pacientes que receberam orientação sobre o uso de medicamentos pelo farmacêutico pode descrever melhor os medicamentos utilizados e tem a adesão ao tratamento aumentada. Pacientes e cuidadores demonstraram que a informação, principalmente com relação à forma de administração de comprimidos por via oral, ajudou nos resultados da terapia. Palavras-chave: Adesão ao tratamento, Cuidado Paliativo, Atenção Farmacêutica, Uso de medicamentos. vi ABSTRACT Patients poorly adherents to therapy, besides the risk of death and worsening of their illness, also contribute to the increased costs of treatment. The aim of this study the objective was to observe the relationship between the provision of pharmaceutical care and adherence in Palliative Care Oncology Unit. The work was divided into two stages, first during the elaboration of prescription by the physician and the second in direct contact with patient. The study had two groups of patients, control group that received only the basic guidelines, called "Group C", and the "Group E", which received pharmaceutical care (verbal and documented). This study showed that the group of patients who received guidance on the use of drugs by pharmacists can better describe the medication and had increased adherence to treatment. In this work it was observed that the pharmacist monitoring and guidance on the use of drugs contributed positively to the increased levels of adherence to treatment. Patients and caregivers have demonstrated that information, especially related to orally administred drugs, improved the results of therapy. Keywords: Adherence, Palliative Care, Pharmaceutical Care, Drug Use vii LISTA DE SIGLAS ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária DeSC Descritor em Ciência da Saúde HCIV Hospital do Câncer IV INCA Instituto Nacional de Câncer IAHPC International Association for Hospice & Palliative Care IOELC International Observatory on End of Life Care KPS Karnofsky Performance Status OMS Organização Mundial de Saúde PaP Score Palliative Prognostic Score PNAF Política Nacional de Assistência Farmacêutica PNM Política Nacional de Medicamentos TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFF Universidade Federal Fluminense UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSJ Universidade Federal de São João Del Rei viii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Níveis de desenvolvimento de cuidados paliativos no mundo 2 Quadro 1 Resumo sobre cuidados paliativos em países da América Latina adaptado de Vigil e colaboradores 4 Quadro 2 Indicação de Cuidados Paliativos levando em consideração os critérios de terminalidade das doenças de base, adaptado de Arantes 6 Quadro 3 Relação de medicamentos essenciais para uso em cuidados paliativos e suas indicações 9 Figura 2 Atividades a serem exercidas pelo farmacêutico antes do atendimento ao paciente 26 Figura 3 Primeira parte do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial 29 Figura 4 Segunda parte do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial 30 Figura 5 Questões diretas ao paciente contidas no Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial 30 Figura 6 Quadro onde o farmacêutico preencherá sobre o uso de medicamentos não fornecidos pelo INCA ou plantas medicinais 31 Figura 7 Teste de Morisky adaptado para Cuidado Paliativo Oncológico 33 Figura 8 Condutas farmacêuticas aplicadas pós consulta 33 Figura 9 Sugestão ao prescritor e descrição da consulta farmacêutica 34 Figura 10 Primeira parte do Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial 35 Figura 11 Seção questionário e uso de medicamentos do Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial 36 Figura 12 Avaliação do paciente sobre o processo de acompanhamento farmacêutico 37 ix Figura 13 Quadro de contagem dos medicamentos trazidos pelo paciente 38 Figura 14 Questão destinada à análise de itens em excesso 39 Figura 15 Quadro para determinação de amostra para uso do Teste Exato de Fisher 41 Tabela 1 Perfil demográfico da amostra da população do estudo 43 Tabela 2 Número médio de itens prescritos e número médio de administrações por prescrição 44 Tabela 3 Medicamentos prescritos para o Grupo Controle 45 Tabela 4 Medicamentos prescritos para o Grupo Estudo 46 Tabela 5 Medicamentos não padronizados usados pelos pacientes 47 Figura 16 Mudança no padrão de quantidade de líquido para administração de medicamentos 48 Figura 17 Proporção do grupo de estudo que receberam orientação prévia de outros profissionais de saúde, não farmacêuticos sobre o uso de medicamentos 49 Tabela 6 Respostas as questões do Teste de Morisky 50 Figura 18 Modificação entre a distribuição nas faixas de classificação do Teste de Morisky de acordo com os grupos e consultas 51 Tabela 7 Freqüência de contagem de medicamentos separados por grupo 52 Tabela 8 Quantidade de medicamentos recolhidos por paciente e total 53 Tabela 9 Comparação entre o número médio de itens prescritos, número médio de itens relatados e número médio de administrações das prescrições em 24h 53 Tabela 10 Estratificação de acordo com a faixa de identidade entre os itens relatados e os itens prescritos 54 Tabela 11 Comparação entre proporções de itens prescritos e itens relatados 54 Tabela 12 Notas dadas pelos pacientes as orientações recebidas em consultas farmacêuticas 54 x Tabela 13 Julgamento da informação fornecida em consulta farmacêutica pelo paciente 55 xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. Cuidado Paliativo 1 1.2. Polifarmácia 10 1.3. Adesão ao tratamento 11 1.4. Contribuições para alcançar melhores resultados da terapia 15 1.5. Uso Racional de Medicamento 17 1.6. Política Nacional de Assistência Farmacêutica 20 1.7. O paciente em cuidados farmacêuticos 21 1.8. Local do Estudo 22 2. OBJETIVOS 24 2.1. Objetivo Geral 24 2.2. Objetivos Específicos 24 3. METODOLOGIA 3.1. Instrumentos de pesquisa 3.1.1. Questionário de Identificação do uso de medicamento pelo 25 28 28 paciente ambulatorial 3.1.2. Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo 34 paciente ambulatorial 3.2. Critérios de participação no estudo 39 3.2.1. Critérios de inclusão no estudo 39 3.2.2. Critérios de exclusão do estudo 39 3.3. Questões Éticas 40 3.4. Análise Estatística 40 4. RESULTADOS 42 4.1- Perfil da população do estudo 42 4.2- Número médio de medicamentos prescritos 44 4.3- Medicamentos prescritos 44 4.4- Medicamentos não padronizados 46 4.5- Administração de medicamentos 47 4.6- Orientação sobre uso de medicamentos por profissionais de saúde 48 4.7- Teste de Morisky 49 4.8- Contagem de medicamentos 51 xii 4.9- Comparação entre o relatado pelo paciente e o prescrito 53 4.10- Avaliação do paciente sobre o processo 54 4.11- Condutas pós consulta farmacêutica 55 5- DISCUSSÃO 57 6. CONCLUSÃO 62 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 64 8. APÊNDICES 73 8.1- - Documento de Orientação Farmacêutica fornecida aos pacientes do 74 grupo E 8.2- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 75 8.3- Questionário de Identificação do Uso de Medicamento pelo paciente 78 ambulatorial - GRUPO C 8.4- Questionário de Identificação do Uso de Medicamento pelo paciente 80 ambulatorial - GRUPO E 8.5- Questionário de Acompanhamento do Uso de Medicamento pelo 83 paciente ambulatorial - GRUPO C 8.6- Questionário de Acompanhamento do Uso de Medicamento pelo 85 paciente ambulatorial - GRUPO E 9. ANEXOS 88 9.1- Ficha de Avaliação Interdisciplinar do Hospital do Câncer IV 89 9.2- Aprovação em Comitê de Ética e Pesquisa do INCA 91 1 - Introdução 1.1 - Cuidado Paliativo O cuidado paliativo tem seu relato pautado desde a existência do homem na Terra, com registros desde 2500 a.C., tendo como objetivo principal o alivio do sofrimento humano (SANTOS, 2011). O cuidado paliativo atualmente pode ser definido por cuidados ativos e totais aos pacientes terminais e aos familiares, com conotação do cuidado integral, abrangendo as dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais, com enfoque interdisciplinar (RODRIGUES, 2004). Na recente história da humanidade temos o destaque para a criação dos hospices. A primeira vez que esta denominação foi usada em 1842, em Lyon, França, relacionado ao lugar onde se cuidava de moribundos, fundado por Madame Jeanne Garnier. Porém foi em Londres, em 1967, que Cicely Saunders, com a criação do St. Cristopher’s Hospice, que o cuidado paliativo teria seu marco pioneiro, integrando pesquisa, cuidado e assistência em cuidados paliativos, agrupando cuidados domiciliares, apoio às famílias e acompanhamento pós morte, com ajuda especializada sobre luto (SANTOS, 2011). Em pouco tempo outras instituições começaram a oferecer serviços de cuidado paliativo. Como exemplo em 1974, o St. Luke Hospital em Nova York (EUA) inicia a oferta de serviços, e em 1975 houve a criação do serviço de cuidado paliativo no Royal Victoria Hospital, em Montreal, Canadá, após períodos de treinamento da equipe no St. Cristopher’s Hospice (SANTOS, 2011). 1 Hoje em dia, o cuidado paliativo se distribui no mundo de acordo com a figura 1, onde podemos observar os níveis de desenvolvimento desta atividade. Figura 1: Níveis de desenvolvimento de cuidados paliativos no mundo Fonte: SANTOS, 2011. Com o objetivo de padronizar minimamente os princípios e atendimentos sobre cuidado paliativo a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabeleceu 9 regras fundamentais, a saber: 1. Proporciona alívio da dor e outros sintomas angustiantes; 2. Afirma a vida e encara a morte como um processo natural; 3. Não pretende apressar ou adiar a morte; 4. Integra os aspectos psicológicos e espirituais da assistência ao paciente; 5. Oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ativamente quanto possível até a morte; 6. Oferece um sistema de apoio para ajudar a família a lidar durante a doença e aos pacientes em seu próprio luto; 7. Utiliza uma equipe para abordar as necessidades dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento de luto, se indicado; 8. Reforça e aprimora a qualidade de vida, e pode também influenciar positivamente o curso da doença; 2 9. Ser aplicável no início do curso da doença, em conjunto com outras terapias que visam prolongar a vida, como a quimioterapia ou radioterapia, e incluir as investigações necessárias para melhor compreender e gerenciar complicações clínicas angustiantes. (WHO, 2011a) Na América Latina, especificamente na Argentina, Brasil, Cuba, México e Peru, a situação do cuidado paliativo é similar ao cenário mundial. Nota-se que nestes países a maioria dos profissionais é do sexo masculino, médicos, cirurgiões, atuando no serviço privado, especializado em câncer. No Brasil, chama atenção a não oferta de serviços de cuidado paliativo na capital federal, porém em 59 capitais já existe algum tipo de assistência. Podendo ser descrita resumida pelo quadro 1 (VIGIL et al, 2007). 3 País Argentina (26% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) Brasil (17% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) Cuba (12% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) México (29% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) Peru (13% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) Todos (n= 777; 20% dos especialistas atuam em Cuidados Paliativos) Tipo de cidade % Especialidade Capital federal 58 Médicos Outras Capitais 25 Cirúrgico Não Capitais 17 Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro Capital federal - Médicos Outras Capitais 59 Cirúrgico Não Capitais 41 Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro Capital federal 35 Médicos Outras Capitais 58 Cirúrgico Não Capitais 7 Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro Capital federal 37 Médicos Outras Capitais 38 Cirúrgico Não Capitais 25 Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro Capital federal 93 Médicos Outras Capitais 7 Cirúrgico Não Capitais - Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro Capital federal 29 Médicos Outras Capitais 44 Cirúrgico Não Capitais 27 Anestesista Radioterapeuta Pediatra Oncológico Enfermeiro Outro % 63 9 6 14 6 2 41 34 14 4 6 1 52 18 4 9 3 13 1 29 26 24 15 5 1 43 13 8 7 29 44 25 13 8 5 4 1 Prática Principal Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário Privado Privado Secundário Privado Terciário Hospice Centro Esp.em Câncer Público Secundário Público Terciário % Sexo % Total (%) 29 Masculino 61 126 (16%) 9 Feminino 39 7 2 21 24 8 22 Masculino 78 352 (45%) 8 Feminino 22 12 1 24 12 21 - Masculino 49 - Feminino 51 16 76 (10%) 39 33 12 28 Masculino 85 147 (19%) 3 Feminino 15 3 1 36 17 12 6 Masculino 55 1 Feminino 45 3 - 76 (10%) 54 16 20 21 Masculino 71 6 Feminino 29 7 2 777 30 18 16 Quadro 1: Resumo sobre a quantidade de profissionais em cuidados paliativos em países da América Latina Fonte: Vigil e colaboradores (2007). 4 Segundo o IOELC Study, que visa desenvolver competências na avaliação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas, que melhora a gestão da dor e outros sintomas no final da vida no Brasil, em 2008, havia disponível à população 14 serviços de cuidados paliativos, sendo quase todos localizados na região sudeste, com maioria em São Paulo. Em 2011, em São Paulo são aproximadamente 20 unidades, e no Brasil, 61. Nestas condições hoje o país conta com aproximadamente 300 leitos para cuidado paliativo (SANTOS, 2011). Porém estes números estão longe de serem ideais. Segundo as normas e diretrizes da European Association for Palliative Care, para atender às demandas de cuidado paliativo devem-se ter como indicadores: • Pacientes internados em unidades hospitalares tipo enfermarias, clínicas ou cirúrgicas: - 50 leitos (até 80) por milhão de habitantes; - 1,2 enfermeira por leito; - 0,15 médico por leito; • Equipes de cuidados paliativos: - uma equipe para cada hospital com 250 leitos; - uma equipe de cuidados paliativos home care para cada 100 mil habitantes, tendo como núcleo central da equipe 4 ou 5 profissionais de dedicação exclusiva. Com estes indicadores, o Brasil precisaria de pelo menos mais 10 mil leitos, 12 mil enfermeiras, 1500 médicos especialistas, 1000 equipes para grandes hospitais, 2000 equipes para home care e 4 a 5 mil profissionais com dedicação exclusiva (SANTOS, 2011). Mas outros países também sugerem que haja dificuldade em estimar o número de pacientes em atendimento de cuidados paliativos. Na Austrália, McNamara e colaboradores (2006) trazem informações sobre a dificuldade em estimar o número de pacientes em cuidados paliativos, por ser alto o número de doenças que limitem a vida, porém o diagnóstico sobre esta situação poderá auxiliar a construção de políticas que fomentem este tipo de assistência. As condições que exigem cuidado paliativo de acordo com os critérios de terminalidade da sua doença base são descritos no quadro 2. 5 Indicação de Cuidados Paliativos levando em consideração os critérios de terminalidade das doenças de base Câncer Qualquer paciente com câncer metastático ou inoperável Sintomas de insuficiência cardíaca congestiva durante o repouso Fração de Ejeção < 20% Doenças cardíacas Uma nova disritmia Ataque cardíaco, síncope ou acidente vascular cerebral Idas frequentes ao pronto-socorro devido aos sintomas Dispneia durante o repouso Sinais ou sintomas de insuficiência cardíaca direita Doenças pulmonares Saturação de O2 < 88% pressão parcial de CO2 > 50 Perda de peso não-intencional Incapacidade para andar Incontinência Demência Menos de seis palavras inteligíveis Albumina < 2,5 ou menor ingestão por via oral Idas frequentes ao pronto-socorro Tempo de protrombina > 5 s Albumina < 2,5 Ascite refratária Doenças hepáticas Peritonite bacteriana espontânea Icterícia Desnutrição ou perda de massa muscular Não candidato à diálise Doenças renais Depuração da creatinina < 15 ml/min Creatinina sérica > 6 Idas frequentes ao pronto-socorro Albumina < 2,5 Síndrome da Perda de peso não-intencional fragilidade Úlceras de decúbito Confinamento ao leito/domicílio Quadro 2: Indicação de Cuidados Paliativos levando em consideração os critérios de terminalidade das doenças de base, adaptado de Arantes (2009). No entanto, o cuidado paliativo tem evoluído ao longo dos anos como relata a revisão de Finlay e colaboradores (2002). Neste estudo, os autores descrevem que embora possa se pensar em diferenças entre a assistência oferecida em hospitais, hospices e em domicílio, isto não foi significativo para o tratamento dos pacientes. Porém há destaque. de maneira geral, para a evolução do controle de sintomas melhorado ao longo dos anos, enfatizando o bom resultado com equipes multidisciplinares (FINLAY et .al., 2002). Este dado evolutivo converge com a informação de que a OMS tem feito esforços para aumentar a rede de assistência nos países, sobre cuidados paliativos, somando esforços a governos e organizações não governamentais 6 (SEPÚLVEDA et al., 2002). Para que essas equipes possam prestar melhor assistência ao paciente, alguns instrumentos foram criados. Pode-se destacar escalas de prognóstico, que sintetizam em escores a previsão de sobrevida dos pacientes. O “Palliative Prognostic score” (PaP score) tem como objetivo auxiliar os profissionais compilando dados clínicos e laboratoriais, fornecendo em maneira de pontuação o prognóstico. O paciente pode ser enquadrado em um dos três grupos, os quais irão estimar a sobrevida do paciente em dias. (GLARE & VIRIK, 2001). Esta escala foi validada por Maltoni e colaboradores em 1999 e desde então ela tem sido utilizada por diversos serviços de saúde. Pode-se exemplificar seu uso no Brasil para câncer de colo de útero (NAYLOR et al., 2010) e, na Austrália, para diferentes tipos de cânceres (GLARE & VIRIK, 2001). Outras escalas podem ser utilizadas, como o método de Edmonton, desenvolvido no Canadá especificamente para cuidados paliativos oncológicos, que destaca 10 sintomas, e possibilita a equipe acompanhar e priorizar os sintomas relatados a cada consulta pelo paciente. Neste método o paciente avalia os sintomas e os pontua em escala, o que facilita a comunicação inter profissional, e por sua vez viabiliza a comunicação entre as diversas instituições onde esse paciente possa ser atendido, hospitais, hospices, home care (FAINSINGER et al, 2007). Essa evolução de métodos para melhorar a assistência em cuidados paliativos tende a ser aplicável em todo o mundo visto que o perfil de pacientes em cuidados paliativos oncológicos, em termos de sintomatologia, responde a um padrão previsível, descrito por Potter e colaboradores (2003). Os sintomas mais prevalentes para pacientes com câncer em cuidados paliativos são fadiga, dor, depressão, dispnéia e náusea, respectivamente. A gestão destes sintomas representa um alvo importante para a melhoria da qualidade de vida porque dispneia ou dor são comumente a causa de intervenções em emergências ou internação hospitalares para pacientes em cuidados paliativos (BARBERA, 2010). Desta forma, a erradicação ou controle destes sintomas perpassa pelo uso de medicamentos e outras terapias. Porém, alguns medicamentos poderão ser usados para controle de sintomas gerados pelo uso prolongado de outros medicamentos, como os utilizados para o desconforto gástrico, ou para erradicar efeitos adversos de outros 7 medicamentos, como o uso de laxantes quando há o uso prolongado de opióides. Com isso cresce a precoupação de que possa haver interações medicamentosas importantes, erros de medicação, duplicidade de medicamentos, entre outros (RIECHELMANN et al, 2007). Para atender a estes múltiplos sintomas, a International Association for Hospice & Palliative Care (IAHPC), determinou a lista de medicamentos essenciais para uso em cuidados paliativos, com indicações dos sintomas para os quais estes devem ser indicados, quadro 3 (DE LIMA et al, 2007). 8 9 Quadro 3: Relação de medicamentos essenciais para uso em cuidados paliativos e suas indicações (BARBOSA, 2011). Todavia a prática clínica pode envolver o uso de múltiplos medicamentos ao mesmo tempo, podendo configurar a polifarmácia. 1.2 – Polifarmácia Na prática do cuidado paliativo, muitas vezes lança-se mão de múltiplos medicamentos, em múltiplas doses para se conseguir eficácia no controle de sintomas, configurando a polifarmácia. A prescrição em cuidado paliativo possui número médio de cinco itens prescritos, como demonstrado por Goh (2002). Tal prática não somente representa um potencial aumento dos fatores de risco do uso de medicamentos para o paciente, como o deixa susceptível a maiores interações medicamentosas, aumento do custo do tratamento, 10 aumento das chances de efeitos adversos a medicamentos e diminuição da adesão à terapêutica (RIECHELMANN et al, 2007). Para terapias em que há diversos medicamentos prescritos, várias posologias e horários, bem como forma farmacêutica e via de administração, como no caso do cuidado paliativo, é comum o paciente ter dificuldade em assimilar e entender a prescrição. Assim, atribui-se ao farmacêutico o papel de esclarecer como será cumprida a terapêutica e o modo correto de seguimento, para que não haja dúvidas no momento do uso (HILL, 2007, CUA & KRIPLANI, 2008). Atualmente médicos prescritores têm sido orientados a seguir alguns procedimentos, a fim de minimizar os riscos da polifarmácia, principalmente no que diz respeito a idosos com câncer. Estas orientações são: fazer uma revisão cuidadosa sobre os medicamentos disponíveis para tratamento, incluindo dose e posologia mais adequados; inquirir os pacientes diretamente sobre o uso de medicamentos não prescritos, plantas medicinais ou suplementos; avaliar com antecedência interações medicamentosas potenciais, especialmente entre quimioterápicos e outros medicamentos, minimizando problemas subsequentes, procurando informações mais precisas; uso de base de dados eletrônicos, levando em consideração suas limitações, tendo como referência a farmácia da unidade como apoio; manter um canal aberto de comunicação com o paciente sobre os serviços prestados ou medicamentos usados, para que haja melhorias nos serviços e na lista de medicamentos; e por último ter continuidade em processos de reconciliação em conjunto com farmacêuticos (MAGGIORE et al, 2010). Este processo de reconciliação envolve a obtenção de uma lista completa e precisa de cada medicamento em uso por um paciente em casa, incluindo as indicações de nome, dose, frequência e via de administração, e comparação da admissão, transferência e/ou finalização do medicamento (DeSC - Descritor em Ciência da Saúde, 2012b). 1.3 - Adesão ao tratamento Para que os objetivos terapêuticos sejam atingidos além de uma boa prescrição, há necessidade do uso correto de medicamentos. Esta ação de 11 cumprimento do regime terapêutico proposto pode ser denominada de adesão ao tratamento. A adesão ao tratamento pode ser definida como a adaptação do comportamento individual ao regime médico proposto, sendo interpretado como um acordo entre paciente e profissional de saúde (CHISHOLM-BURNS & SPIVEY, 2008). Fresnadillo e colaboradores (2008) demonstraram que a não adesão à terapêutica ocorre em 40-70 % em pacientes com idade maior que 65 anos. Neste mesmo estudo, observou-se que os pacientes que não aderem ao tratamento permitem demonstram os motivos desta ação. Assim, sugerem-se atitudes para que esse quadro seja revertido podem ser divididas em três partes: a consulta médica, a dispensação na farmácia e o uso propriamente dito em casa. Neste cenário é de suma importância a presença do farmacêutico, seja prestando orientação farmacêutica, que é o processo de explicação de como seguir a terapia proposta apenas com orientações verbais (AL-RASHED et al., 2002), seja pela atenção farmacêutica, interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida (DeSC - Descritor em Ciência da Saúde, 2012a), consolidando a presença do farmacêutico na equipe de saúde e fazendo deste profissional mais um apoio ao paciente em tratamento. Atualmente existem vários métodos que avaliam a adesão do paciente ao tratamento. Estes métodos se dividem basicamente entre diretos e indiretos. Os métodos diretos podem ser: aferição de dosagem sérica do medicamento e dosagem do metabólico excretada. Dentre os métodos indiretos os mais utilizados e estudados são: a utilização de questionários, contagem de medicamentos e aferição de parâmetros clínicos ligados à terapia. Os métodos diretos envolvem dosagem do fármaco na corrente sanguínea e/ou outros fluidos corpóreos para determinação dos níveis da substância circulante e desta forma pode-se determinar se sua administração foi correta para cumprir o objetivo terapeutico. Outros meios de acompanhamento como o monitoramento eletrônico de doses, vêm sendo usados como padrão-ouro para validação de métodos de avaliação da adesão 12 ao tratamento, pois permitem estimar a quantidade de doses administradas e respectivos horários (SANTA HELENA, et al., 2008). Métodos indiretos para a avaliação da adesão ao medicamento são amplamente aplicados. Um método muito acessível e barato vem sendo utilizado, a contagem de comprimidos para um determinado intervalo, efetuando-se a comparação entre a quantidade estimada e o valor real (SANTA HELENA, et al., 2008) O método apresentado por Dader e colaboradores (2008) aplicado para programas de atenção farmacêutica propõe que o paciente traga para consulta a “sacola de medicamentos”, considerando todos os medicamentos existentes em seu domicílio. Nesta proposta relacionam-se os medicamentos e as “doenças” para as quais são utilizados. Neste modelo, também se permite fazer uma revisão extensa orientada por partes e áreas do corpo com identificação de problemas de saúde. Entre os métodos que utilizam questionários destaca-se o Teste de Morisky, aplicado pela primeira vez em 1986, que consiste em quatro perguntas onde a resposta positiva a uma delas considera o paciente não aderente. Morisky e colaboradores (1986) desenvolveram o teste para aferir a adesão ao tratamento em um grupo de 290 pacientes hipertensos. Este teste desenvolvido consiste em quatro perguntas: 1: “Você alguma vez se esquece de tomar seu remédio?” 2: “Você ,às vezes, é descuidado para tomar seu remédio?” 3: “Quando você se sente melhor, às vezes, deixa de tomar seu remédio?” 4: “ Às vezes, se você se sente pior quando toma o remédio, você para de tomá-lo?”. Nesta proposta, a cada resposta positiva no teste o paciente é considerado não aderente. Logo o paciente com todas as respostas negativas é considerado aderente, se uma ou duas respostas forem positivas o paciente é considerado como tendo adesão moderada e com três ou quatro respostas “sim” o paciente é considerado não aderente ao tratamento. Este teste foi adaptado para diferentes trabalhos (SANTA HELENA, et.al, 2008; ROCHA, et al., 2008; KROUSEL-WOOD, et al., 2009.) No entanto, em 2008, Morisky aprimorou seu teste adicionando mais 4 perguntas que confeririam ao método 13 maior capacidade de determinar a adesão ao tratamento. Neste novo arranjo o método passou a ser ordenado da seguinte forma: 1: “Você às vezes se esquece de tomar os seus medicamentos?” 2: “Ao longo das últimas duas semanas, houve algum dia quando você não tomou o seu medicamento?” 3: “Alguma vez você já cortou ou parou de tomar o seu medicamento sem avisar o seu médico, pois você se sentia pior quando tomava?” 4: “Quando você viaja ou sai de casa, você às vezes se esquece de trazer os seus medicamentos?” 5: “Você quis tomar o seu remédio de hipertensão ontem?” 6 : “Quando você sente que sua pressão está sob controle, você às vezes pára de tomar seu medicamento?” 7: “Tomar os medicamentos diários é um verdadeiro transtorno para algumas pessoas. Você já se sentiu incomodado sobre furar o plano do tratamento?” 8: “Com que freqüência você tem dificuldade em lembrar de tomar todos os remédios da pressão?” Com este novo teste, os parâmetros para aderente e não aderente ao tratamento passaram a ser determinada pela pontuação alcançada após o teste. Para as perguntas de 1 a 4 e 6 e 7: para cada resposta negativa, 1 ponto, e resposta positiva 0 ponto. A pergunta 5: o “não” correspondia a 0 ponto e o “sim” a 1 ponto. Para a pergunta 8, o “nunca” equivalia a 1 ponto, “de vez em quando” 0,75 pontos, “às vezes” 0,5 pontos, “quase sempre” 0,25 pontos e “sempre” 0 ponto. Pacientes que pontuassem 8 pontos seriam considerados aderentes, de 6 a 7,75 com aderência média e abaixo de 6 pontos pouco aderente ao tratamento. Porém, estudos apontam diferenças entre níveis de adesão de acordo com a doença relacionada. Nemes e colaboradores (2009) demonstraram que para hipertensão arterial foi determinado como aderente o paciente que cumprisse 80% do tratamento proposto, já para SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) este índice subia para 95%. A Organização Mundial de Saúde orienta que para que os pacientes em cuidados paliativos oncológicos fossem considerados aderentes ao tratamento deveriam cumprir 80% da prescrição médica (WHO, 2003a). 14 1.4 - Contribuições para alcançar melhores resultados da terapia Na terapia medicamentosa, resultados satisfatórios somente serão obtidos quando o paciente estiver aderente ao tratamento, visto que a não adesão poderá levar ao agravamento da sintomatologia (CARDOSO & GALERA, 2006). Os pacientes considerados pouco aderentes à terapia além de significarem risco de morte e agravamento de sua doença, também contribuem para o aumento dos custos do tratamento. Nos Estados Unidos estima-se que de todas as internações hospitalares cerca de 33 a 69% são devidas a má adesão, representando um custo em torno de 100 bilhões de dólares ao ano (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). Para que a adesão seja alcançada, a prescrição deve estar adequada em relação ao número de itens com a sintomatologia apresentada. O alto número de medicamentos em uma prescrição contribui para a não adesão ao tratamento, mesmo quando todos os medicamentos são fornecidos. Além disso, há de se relatar o fato de efeitos colaterais que deverão ser explicitados para que a ocorrência deles não resulte em abandono do tratamento (LEITE & VASCONCELLOS, 2003). Sabe-se também que para que os benefícios do tratamento sejam alcançados deve-se ter o mínimo de seguimento correto da terapêutica prescrita (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). O cumprimento correto da prescrição exige no mínimo o entendimento desse documento. Desta forma, Denathé e Cunha (2008) demonstraram que existe a separação dos pacientes em três grupos distintos quanto à compreensão da prescrição: compreensão adequada, dificuldade de compreensão e compreensão equivocada. O grupo com compreensão adequada da prescrição seria aquele que foi capaz de descrever corretamente as informações contidas no documento, com clareza sobre nome dos medicamentos, dose, posologia, sequência de administração e tempo de tratamento. O grupo com dificuldade de compreensão apontou como fatores que justificavam a situação a caligrafia inadequada do prescritor, o uso de abreviatura na receita médica ou ainda analfabetismo. E o grupo caracterizado como com compreensão equivocada, seria composto pelos pacientes que julgavam ter compreendido adequadamente a prescrição, porém havia divergência em seu relato. Pacientes analfabetos ainda merecem 15 atenção especial. Todos os pacientes podem ser expostos à compreensão equivocada, muitas vezes motivada pela ansiedade de seguir adequadamente as instruções de cuidado. Um grupo de profissionais que apóie o tratamento, como farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, poderá contribuir para a melhoria na adesão ao tratamento, especialmente no aprimoramento da comunicação entre médico e paciente, podendo ser eficaz na estratégia de aumentar a capacidade do paciente em cumprir o regime medicamentoso (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). Especificamente o farmacêutico poderá contribuir para o esclarecimento das informações contidas na prescrição para que o uso correto dos medicamentos seja realizado. Ratificando o que relatam Pepe e Osório de Castro (2000), o fluxo da troca de informação entre médicos e pacientes, inicia-se na consulta médica, e deve ser continuado na farmácia no momento da dispensação. O conteúdo destas informações deve privilegiar o uso adequado dos medicamentos como posologia, horário e forma de administração. Esta relação entre farmacêutico e paciente dá a oportunidade de novo vínculo assistencial, tornando o farmacêutico mais um profissional da equipe multiprofissional de saúde com o qual o paciente poderá contar. A Organização Mundial de Saúde, em 2011, publicou um documento para orientar os governos de todo o mundo a mensurar o número e setor de farmacêuticos em seus países. Este incentivo tem o propósito de mensurar a oferta de serviços farmacêuticos à população e seus pontos a serem melhorados (WHO, 2011a). Todo este trabalho pode ser sustentado por diversos artigos que afirmam que a intervenção farmacêutica pode ajudar os pacientes em seu tratamento, como o de controle da pressão arterial por exemplo. Embora os farmacêuticos tenham consciência de que a orientação sobre utilização dos medicamentos seja sua responsabilidade profissional, ainda são poucos os que realmente a fazem (ADEPU & NAGAVI, 2009). No entanto os farmacêuticos que prestam este tipo de serviço relatam grande satisfação profissional, porém, há que se preparar com formação acadêmica (ADEPU & NAGAVI, 2009). Esta prática é relatada por Schnipper e colaboradores (2010), que afirma que farmacêuticos podem ajudar pacientes com doenças cardiovasculares a aumentarem a adesão ao tratamento fornecendo informações sobre medicamentos, durante e após alta hospitalar. 16 Já Lim e colaboradores (2004), destacam que a participação do farmacêutico na assistência a idosos pode contribuir para aumento da adesão ao tratamento, com aumento do conhecimento sobre medicamentos, bem como prevenir e diminuir custos com reações adversas. A oferta de serviços farmacêuticos de maneira continuada pode ter impacto significativo sobre o médico prescritor (ANGALAKUDITI & GOMES, 2011). 1.5 - Uso Racional de Medicamento Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos foi definido em 1985, como um modelo onde pacientes recebem medicamentos apropriados para suas necessidades clínicas, em doses que atendam às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado, e ao menor custo para eles e sua comunidade. Com a preocupação de traçar estratégias para estruturar o uso racional de medicamentos, a OMS definiu o que seria considerado como uso irracional ou não racional, sendo todo aquele que discorda da proposta de uso racional de medicamentos (WHO, 2011a). Números alarmantes retratam que em todo o mundo mais de 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inapropriadamente, enquanto 50% dos pacientes deixam de usá-los corretamente, além de cerca de um terço da população mundial não ter acesso aos medicamentos essenciais (WHO, 2002). Podemos detalhar este cenário mundial mais finamente se levarmos em conta dados da OMS, que retratam o gasto em com medicamentos é de 25 a 70% em países em desenvolvimento, em contra partida em países desenvolvidos este gasto é menos de 15%. Corroborado ainda por 50 a 70% das consultas médicas, em todo o mundo, gerarem prescrição medicamentosa (AQUINO, 2008). No cenário nacional já é conhecido que aproximadamente que um terço das internações ocorridas tem como origem o uso incorreto de medicamentos; os medicamentos respondem por 27% das intoxicações no Brasil e que 16% dos casos de morte ocorrem por intoxicações (SINITOX, 2012). Nos últimos anos a OMS preocupada em alertar os países sobre o tipo mais comum de medicina irracional, lançou diversos alertas como: uso de 17 demasiados medicamentos por paciente (polifarmácia); uso inadequado de antimicrobianos, muitas vezes em dose inadequada, ou para infecções nãobacterianas; o uso de medicamentos injetáveis quando as formulações orais seriam mais apropriadas; não adequação da prescrição ao protocolo clínico da doença; automedicação. (WHO, 2002). Desta forma a OMS recomenda aos países que avaliem a sua situação para que medidas eficazes de intervenção possam ser propostas. Ela sugere que o uso não racional, a prescrição, a dispensação e o uso de medicamentos pelo paciente deve ser monitorado regularmente. Este monitoramento deve ser em termos de: conhecer os tipos de uso irracional, de modo que as estratégias possam ser direcionadas para a mudança de problemas específicos; quantificar o uso irracional, de modo que o tamanho do problema seja conhecido e o impacto das estratégias para revertê-lo possa ser evidenciado; as razões pelas quais medicamentos são utilizados irracionalmente, estratégias para que se torne apropriado, eficaz e viável. Causas de uso irracional incluem: a falta de conhecimento sobre o medicamento, falta de habilidade para o uso ou informação independente do agente produtor, disponibilidade irrestrita de medicamentos, excesso de trabalho do pessoal de saúde, inadequadas promoção de medicamentos e lucro que é o motivo da venda de medicamentos. (WHO, 2002). Para orientar a forma como essas medidas devem ser aplicadas a OMS sugere 12 passos para o uso mais racional: 1. Criação de um organismo nacional multidisciplinar para coordenar políticas sobre uso de medicamentos; 2. Utilização de protocolos clínicos; 3. Desenvolvimento e uso de listas nacionais de medicamentos essenciais 4. Criação de comissões de farmácia e terapêutica em distritos e hospitais 5. Inclusão da discussão de problemas baseados em farmacoterapia nos currículos de graduação 6. Educação continuada em serviço de medicina como uma exigência de licenciamento 7. Auditoria, supervisão e feedback 18 8. Uso de informações independentes sobre medicamentos 9. Educação pública sobre medicamentos 10. Evitar os perversos incentivos financeiros 11. Uso de uma regulamentação adequada e aplicada 12. Despesas do governo, suficientes para garantir a disponibilidade de medicamentos e pessoal. (WHO, 2011b). No Brasil em 2001, o Ministério da Saúde publicou a Política Nacional de Medicamentos (PNM), seguindo as orientações prévias da OMS. Nela, em cenário nacional, definiu-se uso racional de medicamentos como o processo que compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e preços acessíveis; a dispensação em condições adequadas; o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade (BRASIL, 2001). Esta política tem parte dedicada a promoção do uso racional concedendo atenção especial a concessão de informações relativas às repercussões sociais e econômicas da prescrição médica, principalmente a nível ambulatorial, para o tratamento de doenças prevalentes. Especial ênfase também foi dada ao processo educativo dos usuários ou consumidores acerca dos riscos da automedicação, da interrupção e da troca da medicação prescrita, bem como quanto à necessidade da receita médica, no que diz respeito à dispensação de medicamentos sob controle. Paralelamente, todas essas questões devem ser dirigidas aos profissionais prescritores dos produtos e aos dispensadores com ações como a adequação dos currículos dos cursos de formação dos profissionais de saúde. Assim como a importância da adoção de medicamentos genéricos, envolvendo etapas de produção, comercialização e dispensação, dentro de um contexto onde a farmácia, deverá ser considerada como estabelecimento comercial diferenciado (BRASIL, 2001). Outro importante destaque dado na PNM, orientado pela OMS, é da adequação a legislação vigente sobre a propaganda de produtos farmacêuticos, tanto direcionados aos médicos, ao comércio farmacêutico, quanto à população leiga (BRASIL, 2001). 19 Neste cenário havia de ser definido o grupo de ações que privilegiasse o uso racional envolvendo especificamente os medicamentos. Com isso a PNM, definiu a Assistência Farmacêutica como sendo o grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informações sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos (BRASIL, 2001). No entanto, mesmo com a definição sobre assistência farmacêutica e uma política sobre medicamentos, outras perspectivas deveriam ser determinadas. Assim em 2004, o Ministério da Saúde publicou a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF). 1.6 - Política Nacional de Assistência Farmacêutica Pelos princípios da PNAF, a Assistência Farmacêutica deve ser compreendida como política pública norteadora para a formulação de políticas setoriais. Trata-se de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional (BRASIL, 2004). Assim o farmacêutico, como profissional ligado ao medicamento, pode tomar duas posturas, promover ações que permitam o diagnóstico da racionalidade na utilização de medicamentos ou ações que “tratem” os problemas encontrados (BERGSTEN-MENDES,et al., 2008). Independente de sua escolha, ou possibilidade, o farmacêutico se torna cada vez mais integrado a equipe de saúde, sendo fundamental sua troca de informações com prescritores e pacientes, a troca de informações entre estes três atores pode contribuir para o benefício da terapêutica (PEPE & OSÓRIO DE CASTRO, 2000). O intercâmbio de informações com o médico prescritor, ressalta a função do farmacêutico na prestação de assistência e sua 20 responsabilidade nesta ação, podendo ser considerado peça-chave na garantia da qualidade do cuidado. Este intercâmbio das informações pode ser facilitado quando há existência de uma equipe multiprofissional de saúde. No entanto, a presença desta equipe não pressupõe a extinção das especificidades técnicas de cada profissional, pelo contrário, expressa a possibilidade de contribuição da divisão de trabalho com melhoria do atendimento prestado ao paciente. Esta melhoria poderá ser notada ao passo que com a formação de uma equipe há o aprimoramento do conhecimento e do desempenho técnico de cada profissional envolvido (PEDUZZI, 2001). O Ministério da Saúde vem ampliando as ações que fomentam a divulgação de informações à população, como podemos observar no lançamento da campanha “A informação é o melhor remédio”, com publicação de cartilhas, cartazes e panfletos, orientando a prática de consultas com profissionais de saúde (ANVISA, 2008a). Ainda neste mesmo período também foi lançada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a cartilha intitulada “Educação e informação em saúde - A experiência brasileira na promoção do uso racional”, cujo objetivo é divulgar para população as ações relativas ao tema. 1.7 - O paciente em cuidados farmacêuticos O paciente é o sujeito principal envolvido em uma terapia, quem irá receber as ações de qualquer processo assistencial, cura, piora ou melhora. Com isso, se torna evidente a necessidade de sua participação ativa no processo de tomada de decisões quanto à sua terapêutica, pois sua atuação define o êxito de qualquer prática assistencial (DADER, et al., 2008). O interesse e a participação do paciente no processo de cuidado são evidenciados por situações como busca ativa de informação não só com profissionais de saúde, mas por outros meios de comunicação, como por exemplo, a internet (GARBIN, et al., 2008). Esta informação se torna extremamente necessária quando a terapia envolve o uso de medicamentos nos quais a presença de efeitos adversos, ainda que leves e transitórios, possa comprometer a adesão ao tratamento (ARRAIS, et al., 2007). Bakirtzief (1996) relata que a informação sobre o medicamento e o seu uso adequado 21 se faz necessária para que o paciente possa sair vitorioso na batalha contra a doença e a favor da vida. Em pacientes com câncer há este tipo de situação no manejo da dor, principalmente no uso de opióides, cujos efeitos adversos como constipação, boca seca e vômito, além de náuseas podem dificultar o controle eficaz deste sintoma. Em especial, os últimos podem ainda comprometer a eficácia do medicamento visto que comprometem a absorção do mesmo (MERCADANTE, 1999). Neste cenário, a informação para o paciente se faz importante principalmente no que diz respeito ao entendimento da dor no câncer, saber características da dor, como intensidade e duração, quais são as opções para o controle dela e como lidar com ela. 1.8 – Local do Estudo O Hospital do Câncer IV do Instituto Nacional do Câncer é responsável pelo atendimento dos pacientes em Cuidados Paliativos Oncológicos. Foi criado em 1998 e está sediado em Vila Isabel – Rio de Janeiro. Esta unidade tem como objetivo tornar a prática da cancerologia mais associada à oferta equilibrada dos serviços prestados à população (História do INCA, 2012). Atende pacientes de outros hospitais do instituto cujo tratamento com finalidade curativa não seja viável. Neste momento estes pacientes são transferidos para o HC IV e recebem assistência integral nesta unidade. Atualmente o hospital conta com quatro setores de atendimento ao paciente: internação hospitalar, ambulatório, assistência domiciliar e pronto atendimento (emergência direcionada apenas para pacientes institucionais). Na internação hospitalar podem ser atendidos até 56 pacientes concomitantemente. Na assistência domiciliar há uma média de atendimentos de 200 pacientes por mês para aqueles que residam em um raio de 70 km da sede. O ambulatório da unidade atende cerca de 500 pacientes por mês. Neste setor são assistidos pacientes com KPS (Karnofsky Performance Status Scale) superior a 50%, sendo caracterizados como aqueles que ainda mantém algum tipo de autonomia e não necessitam de cuidados em tempo integral, podendo se locomover para receber assistência. Nesta modalidade de atendimento, o paciente é assistido na sede da unidade por médicos, enfermeiros, 22 nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais e psicólogos, com prévio agendamento. O ambulatório conta com seis consultórios multiprofissionais, onde os pacientes são acomodados. Contrariamente ao modelo tradicional, onde o consultório é fixo para o profissional de saúde e é o paciente que se movimenta, neste modelo os profissionais de saúde se movimentam para o atendimento do paciente. Isto proporcionou maior conforto para o paciente em cuidado paliativo visto que, para alguns deles, mesmo que a locomoção esteja preservada, a mobilidade pode estar dificultada. Assim o ambulatório também conta com uma sala central que pode ser caracterizada por um espaço de discussão dos profissionais sobre cada caso atendido. Ao final do atendimento, caso haja a prescrição de medicamentos, o paciente se dirige à farmácia da unidade para retirada integral da prescrição. Na unidade não existe atendimento especializado para orientação de uso dos medicamentos prescritos no ambulatório, como, por exemplo, programas de atenção farmacêutica. 23 2 – Objetivos 2.1- Objetivo Geral Observar a relação entre o fornecimento da orientação farmacêutica e a adesão ao tratamento em Cuidado Paliativo Oncológico. 2.2- Objetivos Específicos 1. Demonstrar a adesão ao tratamento de pacientes em cuidados paliativos oncológicos atendidos pelo ambulatório do Hospital do Câncer IV do Instituto Nacional de Câncer. 2. Observar se há diferença na adesão ao tratamento a partir do fornecimento da orientação farmacêutica sobre o uso adequado de medicamentos, bem como observação da prática pelo paciente e/ou seu cuidador da orientação fornecida. 24 3- Metodologia O trabalho de natureza quali-quantitativa foi dividido em duas etapas, a primeira durante a confecção da prescrição junto ao médico e a segunda com o atendimento direto ao paciente (figura 1). O estudo teve ainda dois grupos de pacientes, grupo controle, que recebeu apenas as orientações básicas, denominado “GRUPO C”, e um o “GRUPO E” que recebeu orientações farmacêuticas específicas (verbal e documentada). A orientação fornecida ao grupo C foi prioritariamente a leitura da prescrição, reforçando dose e posologia como descrita pela prescrição eletrônica e correlação entre nomes comerciais dos medicamentos fornecidos pela farmácia com anotação na própria prescrição. O grupo C respondeu um questionário que priorizava as questões ligadas à adesão ao tratamento sem que nenhuma orientação que visasse aumentá-la fosse fornecida (apêndice 3). Já para o grupo E, as orientações, além da leitura da prescrição, foram fornecidas explicações detalhadas da posologia e forma de uso do medicamento, enfatizando os prescritos pela primeira vez, bem como o fornecimento de orientação farmacêutica documentada onde constava a correlação entre nomes comerciais dos medicamentos fornecidos pela farmácia, conforme (apêndice 1). O questionário apresentado ao grupo E (apêndice 4) privilegiava informações que esclareciam o uso correto dos medicamentos prescritos. Na primeira fase, o farmacêutico observava a confecção da prescrição pelo médico que fazia o atendimento ao paciente. A partir desta prescrição o farmacêutico fazia uma primeira análise para avaliação de interações medicamentosas clinicamente relevantes e padrões de dose, posologia e forma farmacêutica dos medicamentos não preconizados. Caso houvesse algum fator passível de intervenção, esta era realizada junto ao prescritor. 25 Após a avaliação da prescrição era confeccionada uma orientação (conforme apêndice 1). Figura 2: Atividades a serem exercidas pelo farmacêutico antes do atendimento ao paciente. Com a orientação farmacêutica em mãos, o farmacêutico se dirigia ao consultório privativo onde se encontrava o paciente e fazia o convite para participação do estudo. Em caso de aceitação, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (apêndice 2), era apresentado. Era esclarecido a gravação da consulta para posterior transcrição e uso de trechos dos relatos dos pacientes de ambos os grupos. Após leitura e assinatura do TCLE o farmacêutico instruía o paciente sobre o uso correto dos medicamentos prescritos. Para ambos os grupos as questões referentes ao Teste de Morisky, parâmetro de adesão ao tratamento, foram aplicadas. Outras questões que pudessem determinar algum tipo de orientação não foram aplicadas aos pacientes do grupo controle (apêndice 3). No entanto para pacientes do grupo estudo, foram privilegiadas questões que ampliassem a orientação farmacêutica (apêndice 4). 26 Nova consulta era agendada conforme critério médico, e o farmacêutico fazia o acompanhamento necessário a esse paciente. Para a segunda consulta, os pacientes, de ambos os grupos, eram convidados a trazer todos os medicamentos que possuiam em sua residência, para que fosse realizada a contagem manual destes. Esta contagem também fazia parte da avaliação de adesão ao tratamento com o parâmetro não aderente para pacientes que consumissem menos de 80% da quantidade fornecida (SANTA HELENA, et.al, 2008). Em caso de excesso de medicamentos, o paciente era convidado a devolver à farmácia os que foram fornecidos pelo INCA. O intuito desta devolução era diminuir os riscos de uso incorreto para medicamentos disponíveis em domicílio. Caso o paciente não concordasse com a devolução ele não era prejudicado em seu tratamento ou participação no estudo. Nesta consulta o atendimento do farmacêutico se dava após consulta médica. O objetivo desta ordem de atendimento se fez necessário para que a orientação farmacêutica fosse fornecida de acordo com a nova prescrição. A partir da nova prescrição, nova orientação farmacêutica era realizada e em atendimento ao paciente era aplicado o questionário de acompanhamento de uso de medicamentos (apêndice 5 e 6). Para pacientes do Grupo Controle, em todos os atendimentos eram fornecidas orientações sucintas sobre o uso de medicamentos, se atendo à leitura da prescrição a ser dispensada e aplicação do questionário de acompanhamento. Foram realizados no mínimo dois atendimentos a cada paciente, com intuito de acompanhar o tratamento e sua evolução clínica. Para que este número de atendimentos mínimo fosse cumprido foi estabelecida à análise do PAP Score (escala especialmente desenvolvida para cuidado paliativo) (anexo 1). Esta escala prevê avaliação de vários parâmetros clínicos pelo médico durante a consulta ao paciente. Cada um destes itens avaliados correspondem a um parâmetro com um determinado peso na escala, onde o PAP Score será determinado. Este score corresponde a uma classificação de acordo com a pontuação, classificando os grupos em A, B e C, onde o Grupo A tem mais de 70% de probabilidade de sobrevivência em 30 dias, o B entre 30 e 70% e o C menos de 30%. 27 3.1 - Instrumentos de pesquisa Os questionários desenvolvidos para este estudo foram denominados como Questionário de Identificação do uso de medicamento pelo paciente ambulatorial e Questionário de Acompanhamento do uso de medicamento pelo paciente ambulatorial, sendo ainda diferenciados de acordo com o grupo em que seriam aplicados. Para o grupo E foi usado o questionário completo. Já o do grupo C, contém somente as questões que envolvem avaliação da adesão ao tratamento, sem fomentar o aumento da adesão ao tratamento. Especificamente o questionário de identificação para o grupo E difere do grupo C pela presença de perguntas sobre quantidade de líquido para administração de medicamentos e quanto ao recebimento de orientações sobre o uso de medicamentos. Já o questionário de acompanhamento para o grupo E difere ao do grupo C por conter relato das condutas a serem aplicadas, como recolhimento de medicamento, orientação específica sobre o uso de medicamentos e orientação farmacêutica. 3.1.1 - Questionário de Identificação do uso de medicamento pelo paciente ambulatorial A primeira parte do questionário (figura 3) de identificação do uso de medicamento pelo paciente ambulatorial (apêndice 3), era preenchia de acordo com dados contidos em prontuário no momento posterior a aceitação do convite de participação no estudo e atendimento pelo farmacêutico. 28 Figura 3: Primeira parte do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial Na segunda parte do questionário (figura 4), os dados eram preenchidos de acordo com a prescrição médica vigente. Era necessário o cálculo pelo farmacêutico do número de itens correspondentes a 80% e 50% do total de itens prescritos. Este cálculo tinha como objetivo fazer a correlação entre o relatado pelo paciente e o prescrito pelo médico após a resposta a questão sobre descrever o uso dos medicamentos que deveria ser respondida diretamente pelo paciente e/ou seu cuidador (número 12 no questionário do Grupo C e 15 no questionário do grupo E). Esta comparação era feita pelo farmacêutico após a consulta, como parte da avaliação do paciente. 29 Figura 4: Segunda parte do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial (Grupo C e E) Em seguida o paciente do grupo de estudo era questionado diretamente sobre as questões que dizem respeito ao uso de medicamentos (figura 5). Os horários do paciente eram questionados com intuito de conhecer seus hábitos diários para que a prescrição pudesse ser adequada ao seu dia-a-dia, facilitando a administração dos medicamentos. A quantidade de líquido para administração de medicamentos também foi perguntada. Ao paciente também era perguntado sobre a existência anterior de orientação sobre o uso de medicamentos seja de outro farmacêutico ou de outro profissional de saúde, com intuito de revelar quais são os pacientes que nunca receberam qualquer tipo de informação sobre o uso de medicamentos. Figura 5: Questões diretas ao paciente contidas no Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial (Grupo E) 30 A próxima parte do questionário envolveu o relato do paciente sobre o uso de medicamentos, fornecidos pela unidade ou não. Este questionamento tinha o intuito de que o paciente e/ou seu cuidador revelasse a forma como os medicamentos são usados incluindo os não fornecidos pelo HCIV e plantas medicinais, prescritos por outro profissional ou ainda fruto de automedicação (figura 6). Figura 6: Quadro onde o farmacêutico preencherá sobre o uso de medicamentos não fornecidos pelo INCA e quadro onde haverá anotações sobre o uso de medicamentos não padronizados ou plantas medicinais A décima quinta questão (figura 6) do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial era uma avaliação do farmacêutico após relato do paciente sobre o uso de medicamentos na questão anterior, onde eram considerados como resposta correta para dose tanto a quantidade de ativo do medicamento quanto o número correspondente da forma farmacêutica, por exemplo, paracetamol 750 mg ou 1 comprimido. Para posologia eram consideradas respostas certas aquelas que contivessem o número de administrações ao dia ou o intervalo posológico ou a descrição dos horários de administração de cada dose. Por exemplo, para medicamentos prescritos na posologia de 8 em 8 horas, eram consideradas 31 respostas corretas 3 vezes ao dia, de 8 em 8 horas ou citar os horários de administração do medicamento. Foi analisada a correspondência da prescrição completa, avaliando todos os itens prescritos. Neste caso, não era avaliado qualquer item que estivesse prescrito pela primeira vez, visto que este medicamento ainda não tinha sido usado pelo paciente. Plena identidade (100%) era alcançada para aquele paciente que respondesse de forma idêntica à prescrição com relação ao item prescrito bem como sua dose e posologia. E para os pacientes que não descrevessem de forma idêntica ao prescrito era calculada esta porcentagem de identidade pela razão, número de medicamentos corretamente descritos divididos medicamentos prescritos, multiplicado por 100. pelo número de Da mesma forma era analisada a descrição sobre medicamentos não padronizados ou plantas medicinais na questão 16. A décima sétima questão do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial envolve a aplicação de uma adaptação do Teste de Morisky que envolve a resposta de 8 perguntas sobre o regime terapêutico (MORISKY et al, 2008) (figura 7). Estas questões envolvem a freqüência com que o paciente esquece de administrar os medicamentos. Na aplicação do Teste de Morisky foram consideradas duas abordagens: o regime paliativo como um todo e o cumprimento do tratamento de cada sintoma separadamente. Ou seja, se há adesão ao tratamento de um sintoma específico, por exemplo não há adesão ao tratamento do enjôo mas há ao tratamento da dor. 32 Figura 7: Teste de Morisky adaptado para Cuidado Paliativo Oncológico. Foram considerados aderentes ao tratamento aqueles pacientes que obtiveram pontuação igual a 8, parcialmente aderentes aqueles que obtiveram mais de 6 pontos e não aderentes os com 5 pontos ou menos (KROUSELWOOD, et al., 2009). As condutas farmacêuticas aplicadas pós consulta dizem respeito às ações realizadas para o próximo atendimento, como se houve necessidade de mudança no padrão de orientação para que o paciente compreendesse melhor as informações dadas, por exemplo. E com relação ao formulário de orientação farmacêutica, se houve algum tipo de adaptação pertinente (figura 8). Figura 8: Condutas farmacêuticas aplicadas pós consulta. 33 A última seção do Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial (figura 9) diz respeito às sugestões ao prescritor quando identificada necessidade de qualquer modificação na prescrição para melhoria da adesão do paciente ao tratamento. Estas modificações podiam ser adequação de forma farmacêutica, adequação da posologia, troca por equivalente terapêutico, dentre outros. Nesta seção também era descrita a atitude do prescritor frente à intervenção, com relato à aceitação ou não e sua justificativa em caso de negativa. Este espaço final do questionário também foi destinado para breve descrição da consulta farmacêutica pelo farmacêutico pesquisador, com dados relevantes para atendimento subseqüente. Figura 9: Sugestão ao prescritor e descrição da consulta farmacêutica. 3.1.2 - Questionário de Acompanhamento do uso de do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial Este questionário medicamentos pelo de paciente Acompanhamento ambulatorial visava estruturar as consultas de acompanhamento, com o objetivo de captar qualquer mudança de comportamento sobre o uso de medicamentos. Este questionário assim como o de avaliação, aplicado para o grupo E continha maior número de questões. Foi mantida a pergunta sobre 34 quantidade de líquido para administração de medicamentos por via oral. E a neste grupo também foi perguntada a avaliação (por parâmetro numérico) do atendimento farmacêutico e se houve maior facilidade para administração dos medicamentos após entrevista. Já para o grupo C somente três aspectos foram avaliados, identidade do relato da administração dos medicamentos pelo paciente e sua prescrição vigente, teste de Morisky e a contagem de medicamentos trazidos pelo paciente Assim como no questionário de identificação, a primeira parte contemplou a identificação sobre uso de cateteres de alimentação, o que determinaria a forma de administração de medicamentos via oral, necessitando de orientação especial (figura 10). Figura 10: Primeira parte do Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial Assim como no Questionário de Identificação do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial do Grupo E, a seção “Questionário” e as primeiras perguntas da seção “Uso de Medicamentos” que envolviam a quantidade de líquido e como era realizada administração dos medicamentos, foram mantidas (figura 11). 35 Figura 11: Seção questionário e uso de medicamentos do Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial Foram introduzidos dois novos questionamentos para participantes do grupo E (figura 12) para análise do paciente e avaliação da consulta anterior e do acompanhamento prestado, que auxiliaram a compreensão do ouvinte do atendimento prestado. O paciente foi convidado a dar uma nota de 0 (zero) a 10 (dez) para o acompanhamento farmacêutico, deixando claro que não foi levada em 36 consideração a empatia do entrevistador e sim a avaliação do processo. O paciente também foi questionado se houve benefício para a administração dos medicamentos depois de iniciado o acompanhamento pelo farmacêutico. Figura 12: Avaliação do paciente sobre o processo de acompanhamento farmacêutico. Novamente foi aplicado para os dois grupos o teste de Morisky com a intenção de determinar se houve alguma mudança da consulta anterior para esta. Bem como avaliação da descrição do uso de medicamentos não fornecidos pelo INCA e plantas medicinais. Neste Questionário de Acompanhamento do uso de medicamentos pelo paciente ambulatorial foi possível a anotação da contagem de medicamentos trazidos pelo paciente após convite a esta ação na primeira consulta (figura 13). Neste quadro pode haver a previsão da quantidade que o paciente deveria mostrar e comparar com o trazido, avaliando então se a quantidade estava correta ou não. Desta forma a adesão ao tratamento também foi analisada, levando-se em consideração o padrão de paciente aderente aquele que apresentasse, no mínimo, 80% dos medicamentos em quantidade correta. Esta contagem foi realizada para os dois grupos. 37 Figura 13: Quadro de contagem dos medicamentos trazidos pelo paciente Apenas o questionário destinado ao grupo E continha a seção condutas a serem aplicadas pós consulta farmacêutica, diferindo do de identificação por conter a questão sobre excesso de medicamentos fornecidos pelo INCA (figura 14). Esta seção só foi contemplada para pacientes que tiveram contagem de medicamentos. Em caso de excesso foi sugerido o recolhimento do medicamento e encaminhamento à Farmácia da unidade. Este excesso poderia ser justificado por algumas alternativas como fornecimento excessivo (em caso de medicamentos com blister múltiplos de 30 dias e o atendimento ser realizado em intervalo menor), não adesão (para aqueles pacientes que apresentarem menos de 80% do cumprimento do tratamento), suspensão do tratamento (quando entre as consultas houve suspensão do tratamento e o medicamento foi deixado em domicílio) e ainda excesso oriundo de unidade de origem (nos casos de encaminhamento à unidade de cuidado paliativo com previsão de cobertura de 30 dias de tratamento, sendo que o atendimento no HCIV é realizado em intervalo menor). Em caso de recolhimento foi relatado qual o medicamento, a quantidade recolhida, e em caso de excesso, qual foi a quantidade remanescente. 38 Figura 14: Questão destinada à análise de itens em excesso. 3.2 - Critérios de participação no estudo 3.2.1 - Critérios de inclusão no estudo Usuários de ambos os sexos matriculados na unidade de cuidados paliativos do HC IV atendidos em regime ambulatorial, com KPS superior a 60% e que estivessem enquadrados no grupo A pelo PAP Score realizado pelo médico (ficha utilizada para análise médica. Anexo 1). Os pacientes e seus cuidadores só participariam do estudo mediante assinatura do termo de Consentimento livre e esclarecido, fornecido pelo farmacêutico pesquisador em duas vias, uma via foi arquivada com o farmacêutico e outra entregue ao paciente e/ou seu cuidador. Todos os pacientes receberam ao menos 2 consultas farmacêuticas. 3.2.2 - Critérios de exclusão do estudo Usuários com menos de 18 anos de idade, e pacientes e/ou cuidadores que questionamentos não tivessem condições do farmacêutico, de exemplo responder pacientes aos com 39 comprometimento de entendimento sem cuidador definido. Pacientes que residiam fora do município do Rio de Janeiro não participaram do estudo por terem maior chance de problemas logísticos para comparecer às consultas no período pré-determinado. 3.3 – Questões Éticas O projeto foi submetido à análise ao Comitê de Ética em Pesquisa do INCA em 17 de janeiro de 2011, sob inscrição 158/10, intitulado “Acompanhamento farmacêutico ambulatorial para pacientes em cuidados paliativos oncológicos do HCIV” e obteve sua aprovação em 28 de fevereiro de 2011, conforme apresentado em carta, anexo 2. Foi aprovado também o termo de consentimento esclarecido especialmente elaborado para este estudo (apêndice 2). 3.4 - Análise Estatística Populações especiais como pacientes com câncer envolvem algumas particularidades como a não homogeneidade de casos (envolvendo desfechos particulares de doença), óbito durante a realização da pesquisa, bem como desfechos clínicos não previstos. Logo estes fatores limitam a amostra em um pequeno número de indivíduos da população. Assim Chow, e colaboradores, (2008) apresentam como alternativa para essa situação o teste exato de Fisher que trabalha neste trabalho com: H0: proporção de adesão ao tratamento igual nos dois grupos H1: proporção de adesão ao tratamento maior no grupo de estudo Desta forma tem-se que para diferença de 0,25 entre as proporções dos grupos e com erro do tipo 1 igual a 0,05 e erro do tipo 2 igual a 0,10, onde o grupo de estudo terá 0,35 da amostra e o grupo controle 0,60, o número mínimo de indivíduos para amostra deve ser de 77. Assim para que fosse garantida uma amostra onde pudéssemos distribuir os indivíduos aleatoriamente entre os dois grupos e de maneira proporcional foram recrutados 80 pacientes e acompanharmos durante no mínimo duas ou três consultas ambulatoriais. Logo o primeiro indivíduo recrutado ao estudo 40 pertenceu ao grupo controle e o segundo ao grupo de estudo e assim sucessivamente para que pudéssemos então manter as condições preconizadas pelo teste exato de Fisher como demonstrado pela figura 15, adaptada de Chow e colaboradores (2008). Figura 15: Quadro para determinação de amostra para uso do Teste Exato de Fisher, adaptado de Chow et al, 2008. Para comparar os resultados do Teste Morisky para os grupos Controle e Estudo foi utilizado o teste de Wilcoxon-Mann-Whitney. Este teste verifica a hipótese nula de igualdade entre as medianas dos grupos Controle e Estudo contra a alternativa de que há diferença entre eles. A aplicação deste teste justifica-se pelo fato da variável analisada não ser contínua e provavelmente não ser aproximada pela curva normal. Para comparar os resultados entre itens prescritos e itens relatados entres os grupos Controle e Estudo foi utilizado o Teste Exato de Fisher, verificando a hipótese nula de igualdade entre as medianas dos grupos contra a alternativa de que há diferença entre eles. Justificado pela distribuição normal destes dados. O pacote estatítico utilizado para as analises foi o “R”. 41 4- Resultados 4.1- Perfil da população do estudo O perfil demográfico da amostra estudada (n = 80) pode ser considerado predominantemente feminino, idoso, de baixa escolaridade, com sítio do câncer primário localizado predominantemente em cabeça e pescoço (13,8% para os dois grupos) e ginecológico (13,8% para controle e 11,3% para estudo). O tempo médio de diagnóstico foi de 16 anos, o tempo de admissão na unidade de cuidados paliativos entre 4 e 7 anos, sendo em torno de 3,5 anos a média de tempo de diagnóstico quando admitidos nesta unidade. A maioria da amostra não tem comorbidades, tem cuidador presente, não faz uso de cateteres para alimentação e não faz uso de medicamentos não padronizados na unidade (tabela 1). 42 Tabela 1: Perfil demográfico da amostra da população do estudo População do Estudo Sexo Feminino Masculino Idade em anos Média (± desvio padrão) Controle Estudo 26 14 24 16 62 (± 12,75) 60 (± 12,61) Escolaridade Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental Ensino médio incompleto Ensino médio Ensino superior incompleto Ensino superior 4 20 6 1 7 0 2 1 19 10 1 6 2 1 Sítio Doença Cabeça e Pescoço Ginecológico Mama Próstata Pulmão Outros Estômago Rim 11 11 1 0 5 9 3 0 11 9 2 1 2 8 2 5 Tempo Diagnóstico em anos Máximo Mínimo Média 16 0,4 4,5 16 0,3 4,5 Tempo de Admissão no HCIV em anos Máximo Mínimo Média 16 0,1 4,4 12,5 0,1 6,8 14,8 0,2 3,4 14,6 0,1 3,6 Comorbidades Cardiopatia Diabetes Hipertensão Feocromocitoma Trombose Cadiopatia + Hipertensão Diabetes + Hipertensão Cardiopatia + Diabetes + Hipertensão Sem Comorbidades 0 0 9 0 1 1 2 0 27 2 1 7 1 0 1 0 1 27 Cuidador Presente Ausente 33 7 35 5 Uso de Cateteres para alimentação Nasoenteral Gastrostomia Não faz uso 5 2 33 3 0 37 Uso de medicamento Não Padronizado Sim 12 12 Não 28 28 Tempo de Diagnóstico quando admitido no HCIV em anos Máximo Mínimo Média 43 4.2- Número médio de medicamentos prescritos Quanto ao número médio de medicamentos prescritos para os pacientes é possível observar que não há grandes diferenças entre as consultas e entre os grupos controle e estudo. No entanto quando leva-se em consideração o número de itens prescritos e sua posologia, gerando o número de administrações por prescrição em 24 h, este dado se modifica consideravelmente, podendo, algumas vezes, dobrar o número de administrações em relação ao número de itens prescitos (Tabela 2). Tabela 2: Número médio de itens prescritos e número médio de administrações por prescrição 1ª Consulta 2ª Consulta 3ª Consulta nº de itens prescritos Controle Estudo Controle Estudo Controle Estudo Máximo 12 12 15 12 14 11 Mínimo 1 1 2 1 1 11 Média 6,62 6 6,87 6,64 7,03 6,76 nº de administrações Controle Estudo Controle Estudo Controle Estudo Máximo 35 35 32 35 32 31 Mínimo 1 1 2 1 3 1 Média 16,7 15 17,13 16 17,64 18 4.3- Medicamentos prescritos Os medicamentos prescritos para os pacientes deste estudo correspondem ao padrão de medicamentos usados em cuidados paliativos, como pode ser observado nas tabelas 3 e 4, onde estão listados os medicamentos prescritos separados por grupo e consultas. A dipirona foi o medicamento mais prescrito para ambos os grupos em todas as consultas, seguida pela lactulose e omeprazol. 44 Tabela 3: Medicamentos prescritos para o Grupo Controle 1ª Consulta Código ATC N02BB02 A06AD11 A02BC01 H02AB02 N03AX12 2ª Consulta Código ATC N02BB02 A06AD11 A02BC01 H02AB02 N03AX12 3ª Consulta Código ATC N02BB02 A06AD11 A02BC01 N03AX12 A03FA04 H02AB02 nº de vezes Medicamento prescritos para Grupo Controle prescritos DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR LACTULOSE 667 MG/ML – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS DEXAMETASONA 4MG – CP GABAPENTINA 400 MG – CS Total de medicamentos na 1ª consulta Total de Pacientes nº de vezes Medicamento prescritos DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR LACTULOSE 667 MG/ML – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS DEXAMETASONA 4MG – CP GABAPENTINA 400 MG – CS Total de medicamentos na 2ª consulta Total de Pacientes nº de vezes prescritos Medicamento DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR LACTULOSE 667 MG/ML – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS GABAPENTINA 400 MG – CS BROMOPRIDA 10MG – CP DEXAMETASONA 4MG – CP Total de medicamentos na 3ª consulta Total de Pacientes 39 22 22 15 13 59 40 34 23 22 14 13 56 37 29 21 17 12 10 10 54 31 45 Tabela 4: Medicamentos prescritos para o Grupo Estudo 1ª Consulta Código ATC N02BB02 A02BC01 A06AD11 H02AB02 N03AX12 N02AX02 2ª Consulta Código ATC N02BB02 A02BC01 A06AD11 N03AX12 A03FA04 H02AB02 3ª Consulta Código ATC N02BB02 A06AD11 A02BC01 C09AA01 N05BA01 Medicamento prescrito para o Grupo Estudo DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS LACTULOSE 667 MG/ML – FR DEXAMETASONA 4MG – CP GABAPENTINA 400 MG – CS TRAMADOL, CLORIDRATO - 50MG – CP Total de medicamentos na 1ª consulta Total de Pacientes nº de vezes prescritos nº de vezes Medicamento prescritos DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS LACTULOSE 667 MG/ML – FR GABAPENTINA 400 MG – CS BROMOPRIDA 10MG – CP DEXAMETASONA 4MG – CP Total de medicamentos na 2ª consulta Total de Pacientes nº de vezes Medicamento prescritos DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO – FR LACTULOSE 667 MG/ML – FR OMEPRAZOL 20 MG – CS CAPTOPRIL 25MG – CP DIAZEPAM 10MG – CP Total de medicamentos na 3ª consulta Total de Pacientes 38 22 19 12 10 10 54 40 38 23 21 17 14 14 57 40 31 22 21 17 14 51 33 4.4- Medicamentos não padronizados O relato de uso de medicamentos não padronizados pelos pacientes pode ser observado pela tabela 5, onde estão descritos os medicamentos exatamente como descritos durante consulta. Alguns pacientes não relatavam a dose do medicamento. Todos os pacientes nesta condição relatavam que o médico prescritor não pertencia ao quadro do HCIV e o uso de chás e plantas medicinais era feito por automedicação. 46 Tabela 5: Medicamentos Não Padronizados usados pelos pacientes Paciente 14C 20C 21C 26C 29C 32C 36C 10E 12E 15E 17E 18E 23E 30E 32E 33E 37E 38E 39E 40E Medicamentos Diovan HCT 160/25 Ticloban 250mg Vasotiv 50mg Talerc 10mg Atacand Rivotril Rivotril Enalapril Rivotril 2mg Aldactone Losartana Enalapril 20mg Chá verde Chá de camomila Clonazepam 2mg Camomila AAS 75mg Sustrate Olcadil Acido Folico Complexo B Zaspress 25mg Chá de Trançagem Chá de Cana do Brejo Chá de Cabelo de milho Losartana 50mg Deparen Neutrofer Glucerna Garrafada de Babosa Enalapril/HCTZ 25mg Chá de quebra pedra Maxtrol colírio Sustrate Sinvastatina 1ª Consulta x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 2ª Consulta x x x x x x x x x 3ª Consulta x x x x x x x x x Observação Suspenso pelo médico prescritor x x x x x x x x x x Automedicação Automedicação Suspenso pelo médico prescritor x x x Automedicação x Automedicação x x x x x x x x x x x x Automedicação x Automedicação x x x 4.5- Administração de medicamentos Quanto à administração dos medicamentos somente o grupo de estudo foi instruído sobre a forma correta de administração de comprimidos, líquidos e cápsulas. Foi observada a mudança de padrão considerável (p< 0,001) entre as consultas, como demonstra figura 16. 47 40 Número de Pacientes 35 30 Sem água 25 Com um copo de água 20 Com pouca água 15 Com líquido diferente de água 10 5 0 1ª Consulta 2ª Consulta 3ª Consulta Figura 16: Quantidade de líquido para administração de medicamentos segundo relato dos pacientes Grupo E Após a explicação sobre a quantidade correta de água para administração de comprimidos por via oral, pacientes e cuidadores, em sua maioria, justificavam a administração incorreta por acreditar que a quantidade de água diminuiria o efeito do medicamento. “Ah eu sempre tomei com pouca água, porque se tiver muita água o remédio dissolve e perde a força. Aí a dor num vai embora!” (Paciente 25E) Porém após a orientação correta houve uma mudança de conduta, relatando ainda benefícios com o aumento da ingestão de água. “Nossa, agora tomando com um copo de água o comprimido num para na garganta, nem dói no estômago. Já falei pra todo mundo lá em casa, remédio é com um copo cheio de água!” (Paciente 16E) 4.6- Orientação sobre uso de medicamentos Aos pacientes do grupo de estudo foi perguntado sobre orientações prévias sobre o uso de medicamentos, 95% não teve orientação prévia de farmacêuticos. Entretanto, 35% dos pacientes já haviam recebido orientações sobre o uso de medicamentos, por médicos, enfermeiros e nutricionistas. Estas proporções podem ser observadas pela figura 17. 48 Não 11 Médico 26 14 2 Enfermeiro Nutricionista 1 Figura 17: Proporção do grupo de estudo que já tinha recebido orientação prévia de outros profissionais de saúde, não farmacêuticos sobre o uso de medicamentos 4.7- Teste de Morisky Com relação às oito questões do Teste de Morisky o padrão de resposta pode ser observado na tabela 5. A estatística do teste de Wilcoxon-Mann-Whitney foi W=289 e o p-valor igual a 0,001376 indicando que há forte evidência de que os dois grupos Controle e Estudo, apresentam diferentes resultados no teste de Morisky na 3ª consulta. Isto evidencia que após as consultas e orientações dadas ao grupo de estudo houve aumento na adesão ao tratamento. 49 Tabela 6: Respostas as questões do Teste de Morisky Teste de Morisky Você às vezes se esquece de tomar os seus medicamentos? Ao longo das últimas duas semanas, houve algum dia quando você não tomou o seu medicamento? Alguma vez você já cortou ou parou de tomar o seu medicamento sem avisar o seu médico, pois você se sentia pior quando tomava? Quando você viaja ou sai de casa, você às vezes se esquece de trazer os seus medicamentos? Você quis tomar o seu remédio ontem? Quando você sente que os sintomas estão sob controle, você às vezes pára de tomar seu medicamento? Tomar os medicamentos diários é um verdadeiro transtorno para algumas pessoas. Você já se sentiu incomodado sobre furar o plano do tratamento? Com que freqüência você tem dificuldade em lembrar de tomar todos os remédios? 1ª Consulta Controle Estudo Sim 14 14 Não 26 26 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 11 8 Não 29 32 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 16 16 Não 24 24 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 8 3 Não 32 37 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 36 37 Não 4 3 40 Total pacientes 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 10 6 Não 30 34 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sim 4 4 Não 36 36 Total pacientes 40 40 1ª Consulta Controle Estudo Sempre 2 1 Quase Sempre 0 0 Às vezes 5 7 De vez em quando 1 6 Nunca 32 26 Total pacientes 40 40 2ª Consulta Controle Estudo 9 3 29 37 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 12 4 26 36 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 8 3 30 37 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 7 1 31 39 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 34 39 4 1 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 6 1 32 39 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 2 2 36 38 38 40 2ª Consulta Controle Estudo 2 1 0 0 6 6 1 3 29 30 38 40 3ª Consulta Controle Estudo 7 1 24 32 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 8 2 23 31 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 3 1 28 32 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 8 0 23 33 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 30 32 1 1 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 4 1 27 32 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 1 1 30 32 31 33 3ª Consulta Controle Estudo 2 0 0 0 4 6 2 6 23 21 31 50 33 Observando as respostas apresentadas na tabela anterior, na primeira consulta a maioria dos pacientes, dos dois grupos, estava classificada como adesão baixa ou média, segundo a classificação do Teste de Morisky. A partir da segunda consulta o panorama do grupo de estudo já se modifica e na terceira a maioria para o grupo de estudo (21 pacientes) tem sua classificação com alta adesão. Em termos de pontuação no teste, o crescimento da “nota” é de 6,51 para 7,70. Pode-se observar evolução para o grupo que foi orientado Número de pacientes sendo bastante diferente em relação ao outro grupo. 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Alta Média Baixa Controle Estudo 1ª Consulta Controle Estudo Controle 2ª Consulta Estudo 3ª Consulta Figura 18: Modificação entre a distribuição nas faixas de classificação do Teste de Morisky de acordo com os grupos e consultas 4.8- Contagem de medicamentos Para a contagem o paciente era orientado a trazer todos os medicamentos remanescentes em seu domicílio no dia da consulta, inclusive os não fornecidos pelo HCIV. No caso de medicamentos não padronizados, o recolhimento em caso de excesso não foi realizado. Todavia a apresentação do medicamento pelo paciente ao farmacêutico era feito sob ação espontânea. Em todas as consultas os pacientes foram indagados se havia medicamento para a contagem. Com relação à quantidade me medicamento contado podemos observar que a maior parte dos pacientes de ambos os grupos não traziam os medicamentos para a consulta, sob alegação de esquecimento em domicílio ou entrega direta na farmácia antes da consulta. Estas duas situações aconteceram para até 90,6% dos pacientes (Grupo C em 3ª consulta), como descrito na tabela 6. 51 Tabela 7: Frequência de contagem de medicamentos separados por grupos 2ª Consulta 3ª Consulta Grupo C Grupo E Grupo C Grupo E Correta 1 14 2 7 Incorreta 3 1 1 1 Não Realizada 34 25 29 24 Total de Consultas 38 40 32 32 Contagem Algumas frases de pacientes retratam o cenário pré consulta em que estão submetidos e justificam a ausência do medicamento para contagem. Porém não se incomodam com o recolhimento porposto. “Sabe que que é? Hoje eu saí atrasada de casa, e quando o taxi chegou eu saí correndo e deixei o saquinho com os medicamentos lá em cima da cômoda. Mas na outra consulta eu trago sim, pode deixar!” (Paciente 11E) “Olha hoje eu trouxe pra Senhora tudo que tinha lá em casa, desde o tempo da Cruz Vermelha. Ah eu trouxe porque depois que me explicou que se o Doutor não receitar eu não devo usar. Eu resolvi trazer! Assim outra pessoa pode usar e não vai faltar pra ninguém.” (Paciente 6C) “Do que adianta ter aquele monte de remédio em casa se eu não uso e aqui pode estar faltando? É melhor trazer pra vocês, assim vocês dão pra quem está precisando!” (Paciente 1C) O recolhimento aconteceu para 19 medicamentos, sendo 4 deles trazidos por mais de um paciente. Especificamente Bromoprida por 3 pacientes, e os demais por dois pacientes, como apresentado pela tabela 7. Nenhum paciente que teve seu medicamento excedente entregue a farmácia foi reincidente, necessitando de novo recolhimento. Todas as ações de entrega de medicamento foram sob justificativa de sobra de tratamentos anteriores agora suspensos. 52 Tabela 8: Quantidade de medicamentos recolhidos por paciente e total Código ATC B02AA01 A3BB01 A03FA04 N06AB04 H02AB02 N02BB02 C03DA01 R03AC04 N03AX12 A06AD11 A03FA01 A07AA02 A06AG06 A02BC01 N02AA59 N06AB06 B05CB01 B03AA07 N02AX02 Medicamento ACIDO ÉPSILON COMP 500MG - CP BROMETO DE N-BUTIL ESCOPOLAMINA 10 MG - DR BROMOPRIDA 10MG - CP CITALOPRAM 20 MG - CP DEXAMETASONA 4MG - CP DIPIRONA SODICA 500MG/ML 10ML SOLUCAO - FR ESPIRONOLACTONA - CP FENOTEROL, BROMIDRATO 5MG/ML 20ML - FR GABAPENTINA 400 MG - CS LACTULOSE 667 MG/ML - FR METOCLOPRAMIDA, CLORIDRATO 10MG - CP NISTATINA 100.000UI/ML 50ML SUSP. ORAL - FR OLEO MINERAL PURO 100ML - FR OMEPRAZOL 20 MG - CS PARACETAMOL 500MG + CODEINA 30MG - CP SERTRALINA 50 MG - CP SODIO, CLORETO 0,9% 20ML - AM SULFATO FERROSO 40MG - CP TRAMADOL, CLORIDRATO - 50MG - CP Quantidade por paciente Total 198 60 258 7 7 61 110 138 309 3 3 5 47 52 2 2 16 16 6 6 40 40 4 4 30 30 5 4 9 10 10 28 28 406 406 10 10 3 3 159 159 20 20 4.8 - Comparação entre o relatado pelo paciente e o prescrito O relato do número médio de itens que o paciente faz uso ficou entre 4 e 5 itens. Não houve caso em que o paciente descreveu de forma diferente os itens, sua quantidade e posologia. Todos os pacientes quando descreveram o item prescrito descreveram corretamente, sua quantidade e posologia. Já a comparação entre o número médio de itens prescritos, número médio de itens relatados pelos pacientes e número médio de administrações por prescrição em 24h dá a dimensão de diferentes aspectos envolvidos na adesão do paciente. Tabela 9: Comparação entre o número médio de itens prescritos, número médio de itens relatados e número médio de administrações das prescrições em 24h Itens em prescrição Média de itens prescritos Média de itens relatados Média de administrações calculado 1ª Consulta Controle Estudo 6,62 6 4,57 4 16,7 15 2ª Consulta Controle Estudo 6,87 6,64 4,62 4,32 17,13 16 3ª Consulta Controle Estudo 7,03 6,76 4,61 5,3 17,64 18 53 Na estratificação dos grupos de acordo com a faixa da porcentagem de identidade entre o administrado e o prescrito, é possível observar que a maioria dos pacientes está abaixo de 80% de identidade entre os itens relatados e os itens prescritos (tabela 8). Estes parâmetros foram estabelecidos em comparação à adesão em cuidado paliativo (80%) (NEMES et al, 2009) e adesão em SIDA (95%) (WHO, 2003a). Tabela 10: Estratificação de acordo com a faixa de identidade entre os itens relatados e os itens prescritos Identidade do relato a prescrição Até 80% de identidade De 80 - 95% de identidade 100% de identidade 1ª Consulta Controle Estudo 22 29 3 2 15 9 2ª Consulta Controle Estudo 21 28 3 3 14 9 3ª Consulta Controle Estudo 19 19 4 4 8 10 A comparação entre o relato do paciente e o prescrito pelo médico apresentou diferenças numéricas, porém a diferença significativa só esteve presente quando a comparação aconteceu na 3ª consulta (tabela 9), com pvalor < 0,001. Tabela 11: Comparação entre proporções de itens prescritos e itens relatados. Comparação entre itens prescritos e relatados Média de itens prescritos Média de itens relatados p-valor (Teste exato de Fisher) 1ª Consulta Controle Estudo 6,62 6 4,57 4 0,636 2ª Consulta Controle Estudo 6,87 6,64 4,62 4,32 0,655 3ª Consulta Controle Estudo 7,03 6,76 4,61 5,3 0,001 4.9- Avaliação do paciente sobre o processo A avaliação dos pacientes sobre a orientação recebida durante as consultas, realizada somente no grupo de estudo, questionados em consultas subseqüentes foi quantificada de 0 a 10, obtendo média 9. Tabela 12: Notas dadas pelos pacientes as orientações recebidas em consultas farmacêuticas Nota para Orientação Farmacêutica Média Máxima Mínima 2ª Consulta 9 10 5 3ª Consulta 9 10 6 54 Os pacientes também foram questionados sobre a importância da informação recebida, julgando como a informação dificultou, foi indiferente ou facilitou o uso do medicamento. A maior parte das respostas indicou que a informação facilitou o uso dos medicamentos em domicílio (80% na 2ª consulta e 85% na 3ª consulta). Tabela 13: Julgamento da informação fornecida em consulta farmacêutica pelo paciente. Avaliação sobre 2ª Consulta 3ª Consulta Dificultou Indiferente Facilitou 0 8 32 0 5 28 Após este questionamento pacientes e cuidadores expressavam a vontade de ter o farmacêutico acompanhando durante todo o tratamento e disponível para retirada de dúvidas constantemente. “Seria tão bom se tivesse um farmacêutico lá na quimioterapia.” (Paciente 5E) “Quando o médico passa um remédio novo, às vezes a gente fica perdido. Mas num dá tempo de perguntar.” (Paciente 8E) “Ah! É muito bom quando você explica, é que pro doutor eu conto o que eu sinto, mas você fala pra que o remédio serve e o que ele faz. Muito melhor assim.” (Paciente 37E) 4.10- Condutas Pós Consulta Farmacêutica Esta parte do questionário aplicado ao Grupo E, havia como objetivo relatar as considerações feitas aos médicos e as próximas consultas. Porém com o desenvolvimento do trabalho constatou-se que: 1. Não houve necessidade por parte dos pacientes de adaptação a orientação farmacêutica fornecida. As orientações aos pacientes analfabetos eram fornecidas pelo serviço de farmácia conforme rotina do setor. 2. O recolhimento de medicamentos excedentes foi realizado quando houve contagem dos mesmos e constatação de excesso, como relatado em seção anterior. 55 3. Não houve nenhuma interação medicamentosa que representasse risco ao paciente e merecesse intervenção para troca de medicamento 4. A descrição da consulta farmacêutica auxiliou o farmacêutico na consulta subseqüente, principalmente nas questões que tangiam sobre dúvidas do uso de medicamentos e orientações de uso. 56 5- Discussão Este estudo mostrou que o grupo de pacientes que receberam orientação sobre o uso de medicamentos pelo farmacêutico pode descrever melhor os medicamentos utilizados e teve a adesão ao tratamento aumentada. Tais resultados são confirmados pela literatura, quando DrudgeCoates (2010) relata que a interação com profissionais de saúde possibilita alívio de sofrimento e maior qualidade de vida para pacientes com câncer avançado e múltiplas metástases ósseas. Cutler e Everett (2010) discutem sobre o potencial da orientação correta para o uso de medicamentos na consecução da adesão dos pacientes ao tratamento. O número de medicamentos prescritos está diretamente ligado à adesão ao tratamento, visto que em terapias com menor número de medicamentos há chance de maior adesão ao tratamento pelo paciente (MAGGIORE et al, 2010). No entanto, neste trabalho foi possível observar que o grande número de medicamentos não é impeditivo de adesão, mas uma grande barreira, sendo necessário agregar outras estratégias para que o paciente consiga cumprir o plano terapêutico. O grande número de medicamentos mostrou que há dificuldades, porém com orientação sobre o uso a melhora na adesão foi alcançada. Esta orientação também dependerá da resposta do paciente e/ou cuidador, conforme entendimento e habilidade no manejo com os medicamentos (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). Neste estudo, observamos que três consultas já apresentaram aumento na adesão e melhoraram a relação descritiva sobre a terapêutica, apresentando diferença significativa em relação à primeira consulta. Ainda relacionado aos itens prescritos é possível observar o padrão repetido das prescrições, tendo como medicamento mais prescrito a dipirona. 57 Este padrão facilita o conhecimento sobre o medicamento a ser tomado, contribuindo assim para a fixação do esquema terapêutico, mesmo para uma doença crônica, de adesão ao tratamento mais difícil se comparado a doenças agudas (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). O fato de ser um analgésico o medicamento mais prescrito era esperado visto que a dor é um dos sintomas predominantes em cuidado paliativo (POTTER et al, 2003; BARBERA et al, 2010). Porém, o tratamento e controle desse sintoma nem sempre é alcançado com apenas um analgésico, implicando no uso de múltiplos medicamentos, de diferentes classes, em esquemas terapêuticos que podem ser caros, complexos e inacessíveis (CARACENI et al, 2012; LAMAS & ROSENBAUM, 2012). Mas, como descrito por Riechelmann e colaboradores (2007), outros medicamentos serão associados, especialmente para conter efeitos adversos do uso de opióides, como laxantes preventivos a constipação, justificando a lactulose ter sido amplamente prescrito. Outra observação a se destacar é o uso de chás e plantas medicinais como automedicação, na maioria para pacientes do Grupo E, descontinuado após a 1ª consulta farmacêutica. Demonstrando que o contato estreitado com o farmacêutico é necessário para informar a população sobre o uso adequado de medicamentos diminuindo o índice de automedicação, assim como sugere Arrais e colaboradores (1997). A baixa adesão à terapêutica é comum, porém pode ser revertida com atitudes simples como salientar ao paciente a importância do seu esquema terapêutico, simplificar esquemas complexos ou personalizar o tratamento de acordo com a necessidade do paciente (OSTERBERG & BLASCHKE, 2005). Embora seja sabido que a polifarmácia está diretamente ligada a baixa adesão à terapia (GOH, 2002; KOH & KOO, 2002; MAGGIORI et al, 2010), ela é em cuidados paliativos quase inevitável visto os múltiplos sintomas apresentados por estes pacientes (POTTER et al, 2003; BARBERA et al, 2010). Com isso outras estratégias deverão ser adaptadas. Tsai e colaboradores (2011) propõem como estratégia para o aumento da adesão, para pacientes idosos e polimedicados, com aulas sobre o uso do medicamento para que o manejo do medicamento seja facilitado, aliado a avaliação constante de médicos para mensurar os benefícios da terapia. Neste estudo observou-se que estratégias simples de orientação de uso 58 trouxeram benefícios significativos para adesão do paciente ao tratamento. Assim como o incentivo ao acompanhamento detalhado sobre a quantidade de medicamentos em domicílio podem reforçar a conscientização da população para o uso adequado de medicamentos. Os pacientes recebem medicamentos adequados para o período inter consultas, no entanto há várias possibilidades de justificavas para o não uso. Alguns relatam incômodo, esquecimento, restrição ao uso daquele medicamento entre outros. Cabe ao farmacêutico compreender o não uso e proporcionar outras possibilidades de terapia. Nesta busca pela adequação da terapia o médico prescritor deverá participar ativamente do processo (PEPE & OSÓRIO DE CASTRO, 2000), visto que informações fornecidas ao farmacêutico podem ter sido privadas a ele, como vimos em relato do paciente. O Teste de Morisky pode ser bem utilizado para diagnóstico da adesão em primeiro contato (MORISKY et al, 2008). No entanto, para o acompanhamento da evolução da adesão pode não ser tão eficaz, como demonstrado por Bloch e colaboradores (2008), isso por que sua aplicação repetida pode determinar ao paciente qual deva ser a melhor resposta, e não a resposta real, trazendo inúmeras críticas ao trabalho. Há de se avaliar se outro método mais eficaz para acompanhamento de uso de medicamentos sob ótica da adesão não deva ser utilizado. O relato do paciente, somado a melhora do quadro clínico pode ser bastante eficaz, desde que respeitados intervalos determinados para que o acompanhamento ocorra com regularidade. Este método de relato pode ainda estreitar a relação paciente e equipe de saúde, trazendo questões não identificadas anteriormente, ou mesmo reforçando a importância da terapia (WHO, 2003b). A interação com os farmacêuticos também será necessária em outros métodos de avaliação. Pode-se observar que o método de contagem de medicamentos, proposto no presente estudo, não foi tão eficaz quanto o esperado, visto que a maioria dos pacientes não trouxeram os medicamentos para a contagem. Assim não pôde-se ser comparar este resultados com os dos outros métodos aqui descritos. Vários aspectos estão relacionados a esta atitude, medo de perder o medicamento, medo de haver alguma repressão devido ao grande número de medicamentos em contagem ou simplesmente esquecimento. Para este método de contagem há que existir uma aproximação maior ao paciente, para 59 que haja confiança no profissional e que o medo de repressão não impeça o desenvolvimento desta metodologia (ZWEBEN et al, 2008). Mas vale ressaltar que diminuição da oferta de medicamentos em domicílio pôde ser constatada, com números alarmantes para alguns medicamentos como para um único paciente o recolhimento de mais de 400 comprimidos de opióide. Desta forma ações de educação sobre o uso de medicamentos devem ser realizadas freqüentemente como propõe Ribeiro e Heineck (2010).No entanto cada serviço terá de observar a sua clientela para escolher o melhor método, incentivando o uso correto do medicamento e atendendo plenamente as necessidades dos pacientes. Pelos resultados do Teste de Morisky aplicado aos pacientes deste estudo, houve crescimento da adesão para os pacientes que receberam orientação. Ainda que estes pacientes tenham a polifarmácia evidente em sua terapia. Mostrando que a orientação aumenta a adesão ao tratamento trazendo benefícios aos pacientes. Os resultados do teste fizeram diagnóstico de que parte dos pacientes do grupo controle ainda relatam esquecimento, freqüente ou quando ocorre mudança de ambiente, parada no tratamento por piora ou melhora dos sintomas, como descrito pelo autor do teste (MORISKY et al, 2008). Sobre a contribuição do farmacêutico à terapêutica, é sabido que para doenças crônicas como o diabetes, a intervenção do farmacêutico pode ser bastante eficaz nos resultados terapêuticos. Ela determina a melhora no acesso ao conhecimento sobre a doença e aumenta a quantidade de tempo gasto em comunicação com pacientes (MAGGIORE et al, 2010). Programas estruturados podem demonstrar que as interações, ainda que pequenas, mas focadas, podem melhorar a adesão do paciente ao tratamento (AMERICAN PHARMACISTS ASSOCIATION, 2012). Assim, neste estudo, pode-se evidenciar pequenas contribuições que fizeram diferença, como a maneira de administrar comprimidos por via oral. Na primeira consulta apenas 12 pacientes sabiam qual era a quantidade correta de água com que deveriam ingerir os comprimidos. O número de pacientes que administravam os medicamentos com água suficiente triplicou na segunda consulta, chegando à totalidade dos entrevistados na última consulta. Os relatos também se modificaram e a informação foi divulgada para o meio onde o paciente vive, 60 sendo isso de grande importância para que a população seja educada para o uso racional de medicamentos como sugere a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2011b). Assim como diversos autores destacam que o conhecimento sobre a terapêutica é importante e que os farmacêuticos podem contribuir para o aumento deste conhecimento (SCHNIPPER et al, 2010; AHMAD et al, 2010; HAKONSEN et al, 2008). Neste estudo pode-se perceber que a população que tem acesso a este profissional ainda é muito pequena. Apenas 5% dos entrevistados do grupo de estudo já tinham conversado com um farmacêutico antes, entretanto a maioria apresentava interesse e aprovava a consulta farmacêutica. Pacientes e cuidadores expressam sua satisfação com a consulta relatando alto grau de aprovação e tendo plena consciência entre a diferença da consulta médica e da farmacêutica. A realização de acompanhamento aos pacientes que usam múltiplos medicamentos mostrou que a interação com o farmacêutico pode ser bastante eficaz na adesão ao tratamento. Os resultados deste trabalho podem fomentar a discussão de que a orientação farmacêutica é capaz de aumentar a adesão ao tratamento. 61 6- Conclusão Neste trabalho percebeu-se que o acompanhamento farmacêutico e a orientação sobre o uso de medicamentos influenciaram positivamente para o aumento nos níveis de adesão ao tratamento. A metodologia aplicada proporcionou à pacientes e cuidadores que demonstrassem que a informação, principalmente com relação à forma de administração de comprimidos por via oral, ajudou nos resultados da terapia. A metodologia empregada também foi capaz de comprovar a capacidade de demonstrar o aumento na adesão ao tratamento através do acompanhamento farmacêutico. Porém não permitiu que a contagem de medicamentos fosse realizada de forma plena devido a não participação dos pacientes nesta ação, minimizando a possibilidade de retirada de excessos de medicamentos do domicílio. Especificamente, o Teste de Morisky, foi eficaz para o diagnóstico da adesão ao tratamento, mas pouco eficiente para o acompanhamento por permitir ao paciente julgamento da resposta desejada pelo entrevistador. Assim, este método que combinou, análise de relato da terapia medicamentosa, Teste e Morisky e contagem de medicamentos, foi elaborado especificamente para o trabalho no modelo de atendimento ambulatorial do HCIV, devendo ser revisto para aplicação em outras unidades ambulatoriais. A prescrição médica quando bem estruturada, mesmo com a presença da polifarmácia, poderá ser cumprida. Informações, conhecimento sobre os medicamentos e métodos adequados de acompanhamento do paciente, como observação do relato do paciente podem trazer grandes benefícios ao paciente e sua terapia. Assim como gerar acúmulo de conhecimento e os pacientes demonstrarem interesse por ações deste tipo, relatando grande satisfação ao receber as orientações farmacêuticas. O contato estreito com o 62 paciente pode também permitir ao farmacêutico saber de informações que auxiliam no subsídio ao médico para uma prescrição mais adequada, por exemplo, qual o medicamento prescrito que de fato está sendo usado e contribuindo para o quadro clínico. Outros estudos devem ser desenvolvidos nesta área para que se aprimore a oferta de informações aos pacientes e cuidadores, bem como estruture melhor metodologia para que todos os pacientes atendidos pelo serviço possam ser atendidos, com número adequado de profissionais disponíveis para tal. 63 7- Referências Bibliográficas ADEPU, R., NAGAVI, B.G., Attitudes and Behaviors of Practicing Community Pharmacists Towards Patient Counselling, Indian J Pharm Sci, 71(3): 285– 289, 2009. 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