Gênero e Juventude. ST 1 Leonardo Turchi Pacheco UFMG

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Gênero e Juventude. ST 1
Leonardo Turchi Pacheco
UFMG
Palavras-chave: Masculinidade, Identidade, Grupos Juvenis Urbanos
“Som de Macho”: Uma reflexão sobre identidade, masculinidade e alteridade entre os
headbangers
Esse trabalho tem como proposta fazer uma reflexão sobre os códigos culturais dos
“headbangers” enfocando as relações existentes entre a construção de identidade, a masculinidade
e a percepção da alteridade. No primeiro passo será identificar o gênero musical denominado
heavy metal e o estilo de vida denominado headbanger. Nesse momento será importante fazer um
relato sobre os gostos musicais e a estética desse grupo urbano. Em seguida, serão analisadas as
resenhas dos discos, as cartas de leitores contidas nas três maiores publicações nacionais do estilo
– as revistas Rock Brigade, Roadie Crew e Valhalla – e as entrevistas realizadas com tatuadores e
body piercers entre o período de 1998 á 2005. A ênfase recairá sobre as relações de gênero e sobre
as relações de poder. A partir dos conflitos instaurados por essas relações é que a representação das
garotas, dos outsiders e dos desviantes, bem como a representação dos garotos, dos estabelecidos e
dos normais serão construídas.
Os headbangers, que também são chamados de heavys, metaleiros, metalheads, metal,os de
camisas pretas, formam um grupo urbano que estabelecem redes de relações sociais por
compartilharem, entre outros aspectos, os mesmos gostos musicais; ou seja, apreciam um tipo de
música rotulada heavy metal. O heavy metal é um sub gênero do rock que surge no final da década
de 60, início da década de 70. Suas raízes estão ligadas as bandas de rock inglesas e norteamericanas, como o Cream, The Who, Jimi Hendrix e The Doors, que abusavam das distorções e
solos de guitarra, dando assim, um novo direcionamento para o que então se chamava de Rock and
Roll.
Não há um consenso sobre a origem desse gênero de musica. O que se sabe é que o termo
surge primeiramente na música “Born to be Wild”1 da banda Steppen Wolf e é utilizado para se
referir à potência do motor da motocicleta Harley Davidson: “Heavy metal Thunder”. O termo
heavy metal se popularizou porque os críticos de revistas especializadas em rock, como a
americana Creem, utilizavam-no para denominar as bandas – Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep
Purple, MC5 e outras – que faziam um som repleto de distorções de guitarra, de ritmos sincopados
e de outros elementos que se tornariam códigos musicais desse gênero.
Os códigos musicais são essenciais para a formação e desenvolvimento desse estilo2. Como
aponta Deena Weinstein (2000), a comunicação de potência mediante o som dos instrumentos é
um elemento importante para o código e a identificação do heavy metal como um gênero musical e
estilo de vida. É através de gradações de potência, técnica3, velocidade e melodia que as bandas
serão classificadas4 e julgadas como boas ou ruins, masculinas ou femininas, verdadeiras ou
falsas5, pelas revistas especializadas e conseqüentemente pelos membros da subcultura.
As
resenhas dos discos das bandas nas revistas Roadie Crew e Rock Brigade revelam essa associação:
ARCH ENEMY “Doomsday machine” nota 8,5 “(...)Eis que Michael Amott , em 2002, surge com a
vocalista Angela Gossow e então conseguiram explorar de vez o potencial, além de colocarem uma
dose a mais de curiosidade. Afinal, o Arch Enemy não é nenhuma banda gótica ou criando músicas
tranqüilas para ter uma mulher no vocal. Ângela canta de maneira gutural em uma banda que faz
som brutal.” (CV, Roadiecrew, nº 81, Outubro/2005, pg 40)
NELSON “Life” nota 4 “Nessa época em que poser era sinônimo de viadagem, um rapaz admitir
que gostava de Nelson tinha praticamente o mesmo resultado de que se resolvesse fazer implante de
peito” (RF,Rock Brigade, nº 159 Outubro /99, pg 29)
HATE ETERNAL “Conquering the throne” nota 9 “ (...) mais isso aqui tem que vir com um aviso,
alguma coisa que prepare o ouvinte para o massacre que vai tomar de assalto seus alto-falantes! Que
desgraça, que massacre, que porrada! (...) sem tecladinhos para dar clima (...) o que existe – e em
profusão – são riffs insanos, peso assustador, velocidade anormal, vocais guturais e grosserias
generalizadas” (RF, Rock Brigade, nº 159 Outubro /99, pg 31)
Mas a potência não está localizada somente no som, ela o transcende e se instaura no cultivo do
corpo e no comportamento agressivo como evidencia Caiafa:
“Para os heavys a força só vem da força. É o máximo para produzir o máximo. O corpo no auge de
seu desenvolvimento (músculos) e o cabelo longo compõem também uma espécie de figura do
bárbaro, uma posição anticivilização em que a destruição é estritamente trabalho muscular. Para
produzir intensidade de som, o máximo de equipamentos: guitarras potentíssimas, toda sorte de
pedais, muitos distorcedores. Também na performance: para impactuar, ficar o máximo possível de
tempo utilizando esses recursos, daí solos longuíssimos de guitarra hiperdistorcida e tudo ligado no
maior volume possível de som (...) como acontece com a pornografia que por mostrar demais parece
distorcer tudo sob uma lente de aumento” (Caiafa,1985:132).
Segundo Deena Weinstein (2000), nos Estados Unidos os headbangers são na sua maioria
jovens brancos, do sexo masculino, provenientes dos extratos menos abastados da sociedade, mas
especificamente relacionadas com trabalhadores braçais (“blue collar”). A autora aponta que a
partir da década de noventa houve uma agregação muito grande de jovens de origem hispânica na
subcultura em questão, o que acaba por desvirtuar esta característica de uma cultura de jovens
brancos (“whiteness”). No Brasil o grupo apresenta praticamente as mesmas características: eles
também são na sua maioria jovens do sexo masculino das classes médias e baixas, porém não
podemos afirmar que são em sua vasta maioria composta por brancos, mas sim que há uma mistura
de raças resultando daí, na maioria dos casos, uma maior tolerância.
O visual é um elemento não musical importante para o grupo. Eles se vestem de jeans,
jaqueta de couro e camisa preta estampadas com o emblema da banda favorita, ou mesmo com
desenhos que remetem as capas dos discos dessas bandas. O cabelo é sempre bem longo, mas
ultimamente devido às misturas com outros estilos, também podem ser bem curtos, ou
simplesmente raspados. Os corpos são tatuados e cheio de piercings.
A música continua sendo o elemento agregador, mas o visual adquire importância no
sentido em que é a partir dele que o indivíduo torna-se visível e identificável na multidão. Neste
caso a estética visual revela quem é de dentro e quem é de fora dotando o grupo de um estilo
particular. Para o iniciado o estilo passa a ser um texto que pode ser lido. Assim, o cabelo longo, as
tatuagens, os piercings, as camisetas pretas, o jeans surrado se apresentam como símbolos de
pertencimento e de ligação entre os indivíduos.
“Nunca será demais insistir: à autenticidade dramática do social corresponde a trágica
superficialidade da socialidade. Já demonstrei, a propósito da vida quotidiana, como a profundidade
pode ocultar-se na superfície das coisas. Daí a importância da aparência. (...) ela é vetor de
agregação. (...) a estética é um meio de experimentar, de sentir em comum e é, também, um meio de
reconhecer-se. Parva esthetica? Em todo o caso, os matizes da vestimenta, os cabelos multicoloridos
e outras manifestações punk, servem de cimento. A teatralidade instaura e reafirma a comunidade.”
(Maffesoli,1998: 108)
O cabelo longo e as tatuagens aparecem como marcas de identidade e de lealdade para com
o movimento e como aponta Mafessoli são elementos reafirmadores da comunidade. O cabelo
longo é uma marca, entre outras coisas, pela sua visibilidade. O seu tamanho é geralmente
associado com a longevidade da lealdade pelo movimento, isto porque o cabelo para ficar de um
tamanho considerado longo demanda anos e anos de cultivo. O cabelo longo é utilizado para
acompanhar o ritmo das músicas nos shows em um movimento onde a cabeça se movimenta para
frente e para trás ou de forma circular e o cabelo segue estes movimentos, encobrindo o rosto para
depois revelar uma expressão de prazer e raiva, na qual a boca se abre e os dentes são cerrados.
Afinal não é à toa que a tribo se chama headbanger: literalmente as cabeças que balançam. O
cabelo longo é, também, um atrativo para o sexo oposto, já que as garotas muitas das vezes se
referem ao pretendente como “um cabeludo bonito”.
As tatuagens implicam uma lealdade ainda maior. Os cabelos podem ser cortados, as
tatuagens são permanentes. Os desenhos da tatuagens são relativos as capas de discos, aos
logotipos das bandas, ou algum detalhe de uma pintura relevante para o estilo.“Eles tatuam muito
cara de demônio, olhos gosmentos, tribal e capas de discos do Morbid Angel, Sepultura e
Biohazard” (T.O. tatuador, Belo Horizonte).
Como aponta Clastres (2003), quando trata dos rituais de torturas nas sociedades primitivas, o
corpo marcado traz em suas feridas lembranças de pertencimento a uma determinada sociedade.
Para esse autor ,“um homem iniciado é um homem marcado” e além disso “o corpo é uma
memória” (Clastres, 2003: 201).
“Elas marcam uma passagem do meu dia a dia fazendo um diário (...) mas meu diário é de
revolta, sacou?!” (L. tatuador e tatuado de Belo Horizonte).
Este ritual de memória e individualização do corpo é uma das formas de diferenciação
dentro do grupo. Existe uma relação entre mostrar e esconder as tatuagens. Elas não se apresentam
em toda a visibilidade, quando aparecem podem até gerar reações de admiração por indivíduos do
mesmo sexo. É importante notar que apesar de ser uma cultura que preza muito a masculinidade –
olhar para o corpo de um outro homem pode conotar homossexualismo, “viadagem”, ‘boiolagem”
– olhar para um tatuado em algumas situações pode ser considerado um gesto de admiração e de
respeito. Não é raro que os tatuados, já iniciados na arte, mostrarem entre si as tatuagens que
possuem no corpo. Elas são associadas ao prazer proveniente da dor e ao vício de se tatuar, uma
espécie droga que injeta rajadas de adrenalina no corpo. O respeito é conquistado através da
coragem, da valentia, do enfrentamento da dor. Por fim elas se apresentam como a forma máxima
de demonstrar a união entre o tatuado e o movimento heavy metal. É uma forma de identificação
de delimitação da comunidade.
“dá para definir uma pessoas pela tatuagem que tem (...) geralmente um cara tatua uma coisa que
tem relação com a personalidade dele. Um cara cheio de caveira (sic) e demônio (sic) não vai ser
crente, pode até ser mais arrependido (...). você nunca vai ver uma pessoa que gosta de Cannibal
Corpse e Napalm Death, com uma tatoo de florzinha, nunca!!! Pode até ter, mais em baixo vai ter
uma caveira de todo tamanho” (N. body piercer, Belo Horizonte).
As camisetas pretas com emblemas desenhados são vendidas em shows e em lojas
especializadas. As camisetas vendidas em shows possuem maior valor simbólico do que as
vendidas em lojas. Isto ocorre porque as camisetas de show, também conhecidas como de turnês,
dão autoridade para o headbanger falar da performance de determinada banda. As camisetas de
turnês são as que mais dão status ao headbanger, porque atestam a longevidade da fidelidade de
seu portador ao movimento.
Neste momento se percebe uma relação de hierarquia que se apresentava nas cartas das
revistas especializadas: a relação entre os novos headbangers e os velhos headbangers. Os
indivíduos mais velhos do movimento acusavam os mais novos de não serem verdadeiros
headbangers, por seguirem modas, por não compartilharem dos mesmos ídolos, por não
reconhecerem as bandas clássicas como fundamentais para o movimento e assim por diante. É
muito importante ser considerado verdadeiro. Ser verdadeiro é “ter atitude”, “não seguir modas”,
“não escutar sons comerciais”, enfim, seguir os códigos do estilo, reconhecer as bandas pelo nome,
as músicas pelo nome, a ordem em que estão no disco entre outras coisas.
Por outro lado, o falso metal é sempre associado com os“boys”, com os “cuzões”, com as
pessoas que falam besteiras, não sabem nada de música, não tem integridade e nem atitude. E ser
um “boy” e um “cuzão” é ser o outro hostilizado, não partilhar da comunhão do grupo.
“Maxwell, quando um fdp passar mexendo, faça como a grande maioria: jogue uma pedra! Ou
quando estiver em grupo e reconhecer o camarada, de umas porradas nesse playboy e fode este
cuzão” (AG. F. São Paulo, Rock Brigade n.165, ano 19, abril / 2000, p.47).
Como se percebe, o aspecto mais marcante e constantemente reafirmado para a construção
da identidade e da alteridade é a masculinidade. Os estereótipos masculinos estão presentes na
forma de representação da força, da agressividade e do auto-controle do corpo masculino e
também na representação da mulher e do homossexual como sendo submissos e passivos. Nesse
sentido é que ser um “falso”, um “cuzão”, uma “patricinha”, uma “groupie”, um “clubber”, um
“boy”, um “mélódico” está associado a passividade e a desmoralização perante os pares.
Como aponta Connell (1995) há uma relação de poder, que estabelece graus de
dominação/autoridade e subordinação/marginalização, entre os diversos tipos de masculinidade,
dependendo da posição em que o indivíduo ocupa em relação aos outros. Em outras palavras, ser
mais ou menos masculino está ligado com o poder – simbólico ou material – que um grupo ou
indivíduo possui em relação a outros grupos ou indivíduos. É nesse sentido que Nolasco (1993),
Mosse (1996) e Oliveira (2004) apontam para instabilidade da identidade masculina. Para esses
autores a masculinidade – “ser homem” – não é algo dado, mas sim uma construção social e
histórica que está em constante mudança e por isso precisa ser reforçada a todo instante. E essa
reafirmação da masculinidade dita hegemônica, se dá através de ações que são prenhes de
misoginia, desmoralização, degradação, desumanização e violência física ou simbólica contra
aqueles que são vistos como desviantes. No caso dos headbangers esses desviantes são as
mulheres, os homossexuais e todos aqueles que são representados como efeminados.
O homossexualismo é condenado. Há uma intolerância contra os homossexuais que não
chega a ser tão agressiva quanto aos do skinheads6. Aqui não há o hábito skin de “queer bashing”
(espancamento das bichas). Na realidade o que se percebe é que os headbangers fazem uma
relação entre música e comportamento. Desta forma se a música não é tida como agressiva, ela
será associada à falta de masculinidade. Logo, a falta de agressividade é associada à um
comportamento “delicado” e “afetado”, comportamento que destoa do que ditaria o código de
masculinidade do grupo:
“seu filho da puta, você não sabe de nada, não entende de música. Aquela sua namorada é uma puta,
transformou você num gay, abriu seus olhos para a viadagem. O heavy metal é música de homem e
nunca irá morrer. Se eu te conhecesse pessoalmente, você tomaria jeito de homem de tanta porrada
que ia levar” (B.T.G. João Pessoa/PB Rock Brigade nº 163, ano 18, fevereiro/2000, p.46).
Este comportamento machista implica uma ambivalência em relação as mulheres que
partilham da mesma subcultura. Elas são vistas como “quase iguais”, se não exibem em demasia a
sua feminilidade, provam que gostam do som e amam a música. São referidas como “vadias que
estão no local para agarrar cabeludos” ou “patricinhas sismadas (sic) a anti cristo” se expõem em
demasia a feminilidade e não mostram interesse pela música.
“se você não fosse apenas uma dessas clubbers piranhas ou alguma patricinha sismada (sic) a anti
cristo só porque não conseguiu que um headbanger te fodesse, saberia que a maioria das bandas
black (metal) idolatra o heavy metal (...)sua puta, vadia, égua” (T.D. de Belo Horizonte/MG, Rock
Brigade de janeiro de 97/ nº150, p.46).
Esta representação feminina na subcultura heavy metal é tão evidente que leva algumas
headbangers a protestarem e lamentarem o machismo que permeia a “cena” e não raro, culparem
outras mulheres – “as falsas”, as “groupies” – pela atitude dos homens:
“é extremamente desagradável ir para um show e ser molestada sexualmente por pseudo-homens que
precisam passar a mão para se sentirem mais machos. Mas atribuo somente parte dessa culpa a esses
frustrados, pois a outra parte se deve a incrível arte das saracoteantes groupies. Elas podem usar e
abusar de seus dotes artísticos, pois para mim é indiferente. O problema é que nós garotas que vamos
ao show para curtir heavy metal e fazer amizades e não para caçar cabeludos, somos vítimas das
ações dessas garotas, que queimam nosso filme. Isso faz com que nossa imagem no cenário heavy
seja tipificada como sinônimo de putaria” ( M. Várzea Grande Paulisat/SP, Rock Brigade nº 157
agosto/99, pg 46)
Percebe-se a misoginia como uma estratégia de demarcação das diferenças intra-grupais. A
exacerbação da misoginia reflete um conflito que visa colocar as garotas no seu devido lugar, ou
seja, fora da cena. É o que os leitores através de suas cartas expressam de forma enfática.
Novamente, as mulheres são associadas ao elemento desagregador e negativo da subcultura. Elas
são “falsas”, “posers”, “não entendem nada de som” e além disso, são vistas como objeto de desejo
sexual. Elas são rejeitadas, não são percebidas como iguais, a não ser, que se comportem como
homens.
“sou contra as mulheres no meio do metal pois elas não curtem porra nenhuma. Digo uma coisa pra
elas : vão lavar roupa e varrer o chão, esse é o lugar de vocês” (L. Rio de Janeiro/RJ, Rock Brigade
nº152, ano 18, março/ 99 p.47).
“ não existem garotas reais no black metal. Todas são umas falsas e modistas que não manjam nada.
Em vez de apreciarem o som da banda, elas apreciam as rolas dos caras. Mulheres só servem para
trepar e ficarem na cozinha fazendo comida. Black metal é coisa de homem” ( N. São Paulo/SP,
Rock Brigade nº 157 agosto/99, pg 46)
“gostaria de deixar bem claro que sou totalmente contra garotas no meio underground.todas são
falsas, posers e não entendem nada do verdadeiro som, o heavy metal. Em vez de escutar o som da
banda, ficam pensando no tamanho da pica dos integrantes. Garotas só servem para chupar nossas
rolas e fazer missin miojo” (H.W.C.F, Poços de Caldas/MG, Rock Brigade nº 161 Dezembro/99, pg
47)
Enfim, como foi percebido mediante a análise das cartas de leitores e das resenhas de
discos, contidas nas principais revistas especializadas em heavy metal no Brasil entre 1998 e 2005,
a música e o visual são os dois códigos principais da subcultura. É primeiro o som, através do peso
e agressividade, fruto das distorções e altos decibéis, que afirma toda a identidade da subcultura.
Em seguida o visual vem reforçar, através de sua estética corporal, como relatam os tatuadores, os
parâmetros masculinos que imperam nas relações de poder que definem os lugares e posições de
cada indivíduo dentro do grupo. As garotas, assim como todos aqueles, que por seu
comportamento ou gosto musical, se aproximam delas são vistas como desagregadoras e
perturbadoras da homosocialidade que identifica a subcultura.
Referências
CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade-a invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed,1989.
CLARKE, John. STYLES. In: HALL, Stuart e JEFFERSON, Tony (org.). Resistance through
Ritual: youth subcultures in post-war Britain. London: Routledge, 1998.
CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosak & Naify, 2003.
CONNELL, R.W. Masculinities: knowledge, power and social change. Berkeley and Los Angeles,
Califórnia: University of California Press, 1995.
COSTA, Márcia Regina da. Os “Carecas de subúrbio”: os caminhos de um nomadismo moderno.
Petrópolis: ed Vozes,1993.
MAFESSOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
MOSSE, George. The Image of Man. New York/ Oxford: Oxford University Press, 1996.
NOLASCO, Sócrates. O mito da Masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
OLIVEIRA, Pedro Paulo. A construção Social da Masculinidade. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2004.
WEINSTEIN, Deena. Heavy Metal: the music and its culture. United States: Da Capo, 2000.
1
Essa música ficou conhecida por fazer parte da trilha sonora do filme “Easy Rider”, épico da contracultura hippie de
1968. “Easy Rider” é um filme que enfoca as experiências de dois motoqueiros que decidem cruzar os Estados Unidos
em suas motocicletas Harley Davidson.
2
Aqui uso a categoria estilo como denominou Clarke (1998): um processo interno e externo de identificação dos
grupos envolvidos em uma relação. Processo que estabelece fronteiras delimitativas, posições e lugares definidos para
os “de dentro” e os “de fora”, “o nós” e “o eles” a partir de elementos estéticos e comportamentais que são valorizados
e reforçados ou desvalorizados, negados e rechaçados.
3
Ao contrário do que ocorre com os punks, que enfatizam a simplicidade no tocar, os headbangers valorizam a
habilidade para tocar um instrumento. A técnica é um elemento importante para o estilo: os solos de guitarras, os
ritmos na bateria só podem ser executados se forem praticados incansavelmente em uma rotina intensa de estudos
individuais ou em grupos de músicos.
4
É a partir dessas gradações de andamento da música e da potência que as bandas são distinguidas. É assim que se
identificam os diversos subgêneros dentro do gênero heavy metal. Aprender que tipo de som cada banda faz e
reconhecer cada disco profundamente é uma “obrigação” para os membros desse grupo urbano. Isso demanda tempo
livre e paciência, mais é extremamente importante. Só para se ter uma idéia da complexidade do aprendizado cito os
nomes das bandas e os subgêneros que elas pertencem: Poison – Light rock, também de chamado de poser ou rock
farofa, Aerosmith – Hardrock. Judas Priest, Iron Maiden – Heavy clássico, tradicional, Angra, Stratovarius –
Heavy Melódico, Dream Theater – Progmetal, Korn – Newmetal, Rage – Speed metal, Metallica, Sepultura –
Thrash metal, Obituary, Entombed – Death metal, Arch enemy, Inflames – Melodic death metal Cannibalcorpse –
Splatter metal, Krisium, Hate eternal – brutal death metal, Darkthrone, Mayhem – Black metal, Dimmu Borgir –
Melodic black metal e assim por diante.
5
Verdadeiro e Falso são duas categorias nativas muito relevantes para a subcultura. Essas são categorias que se
revelam muito complexas e fluídas, pois que mudam dependendo da posição dos atores que as enunciam. Os conflitos
do grupo giram em torno dessas duas categorias que são usadas para estabelecer quem são os outsiders e quem tem a
autoridade para se definir como um “verdadeiro bangers”.
6
Para um estudo abrangente dos skinheads e dos “carecas de subúrbio” ver Costa, 1993.
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