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ARTIGO
EXERCíCIO AERÓBIO E O NíVEL DE DEPRESSÃO: ESTUDO DE
CASOS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
Tatiana Pagliarin1
Alexandre Ramos Lazzarotto2
Resumo
A depressão é uma doença associada ao sistema nervoso central. O
exercício pode ser uma estratégia de tratamento, porém é necessário
o desenvolvimento de pesquisas que possibilitem a sua inserção nesse
contexto. A partir das premissas anteriores, desenvolveu-se uma
pesquisa com o objetivo principal de avaliar um programa de exercícios
aeróbios no nível de depressão dos pacientes de uma unidade básica
de saúde do Vale dos Sinos. Os objetivos específicos foram comparar
os níveis de depressão antes e após o programa, verificar a diminuição
ou substituição de fármacos e compreender a concepção das
participantes do programa. As participantes, via consentimento
informado, foram cinco mulheres na faixa etária entre 34 e 49 anos,
com diagnóstico depressivo, em condições clínicas de realizar exercício
físico. Na coleta dos dados foram utilizados: o inventário de Beck, que
tem por finalidade avaliar o nível de depressão através de escores; e a
ficha de coleta dos dados, contendo registros de medicação de cada
participante, datas de consultas com respectiva avaliação e registro
das freqüências cardíacas durante as sessões - esta ficha foi de
avaliação constante durante o programa. No término do programa,
realizou-se entrevista semi-estruturada, com a finalidade de demonstrar
a concepção das participantes em relação a: percepção corporal,
relações interpessoais e continuidade do exercício. O inventário de Beck
foi usado em dois momentos: ao se iniciar o estudo e ao fim deste,
para comparação dos resultados. Após a avaliação inicial, as
participantes vivenciaram o programa na forma de ginástica aeróbica,
durante 10 semanas, numa freqüência de duas sessões por semana,
Recebido para publicação em 10/2006 e aprovvado em 11/2006
1
Graduada em Educação Fisica pelo Centro Universitário Feevale
2
Centro Universitário Feevale
130
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com duração de 60 minutos, começando com 45% e finalizando com
70% da freqüência cardíaca máxima. Os resultados evidenciaram
diminuição do nível de depressão das participantes A, B, C e E, que
tiveram seus escores diminuídos em 78,57%, 86,66%, 72,77% e 6,6%,
respectivamente, enquanto a paciente D não apresentou diminuição. A
concepção das participantes foi relatada como positiva; o convívio do
grupo, segundo as participantes, proporcionou troca de experiências e
crescimento de aprendizagem, auto-imagem, auto-estima,
coordenação motora, flexibilidade, condicionamento físico e
sociabilização. Considerando o período de realização da pesquisa, não
foi possível verificar a diminuição ou substituição dos fármacos. A partir
dos resultados, é possível afirmar que, no contexto estudado, o exercício
pôde ser utilizado como tratamento complementar à depressão.
Palavras-chave: exercício físico, depressão.
INTRODUÇÃO
No mundo, aproximadamente 121 milhões de pessoas sofrem
de depressão. As estatísticas apresentadas pela Organização Mundial
da Saúde (2004) apontam para um crescimento considerável nesse
número. Segundo Guariente (2000) e Terra (1999), a depressão é uma
desordem mental, um desequilíbrio químico, na qual os níveis de
neurotransmissores são insuficientes na fenda sináptica. Esse
desequilíbrio pode desencadear sintomas neurológicos e também
psiquiátricos (NERO, 2004). É pelo agrupamento e duração dos
sintomas que se diagnostica o tipo de transtorno de humor apresentado
pelos pacientes depressivos (FIRST, 2000).
O tratamento-padrão para a depressão constitui-se de fármacos
antidepressivos, que têm por finalidade inibir a recaptação dos
neurotransmissores, mantendo os níveis destes elevados por mais tempo
na fenda sináptica. Os fármacos apresentam particularidades, por isso
é importante levar em consideração alguns fatores, como: idade do
paciente, características clínicas individuais e específicas (existência de
doenças clínicas ou psiquiátricas) e as características do transtorno
depressivo em questão (ANDRADE, 2003; MORIHISA, 2003).
O exercício físico, por sua vez, pode ser uma via complementar
para o tratamento da depressão, já que pode influenciar o metabolismo
e a quantidade de hormônios. A regulação destes é feita pelo sistema
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endócrino. Os hormônios exercem efeito sobre todos os tecidos do
corpo, mas a maioria deles desempenha seu efeito sobre um órgãoalvo específico (SHARKEY, 1998; MCARDLE, 1998; FOSS, 2000).
Fisiopatologia da Depressão
Durante as sinapses químicas, as informações são medidas
por moléculas químicas neurotransmissoras liberadas pela terminação
nervosa (LENT, 2004). O potencial de ação estimula a entrada de Ca²,
o qual, por sua vez, induz a exocitose das vesículas sinápticas; os
neurotransmissores se difundem na fenda sináptica e interagem com
seu receptor. Após um período, ele se dissocia do receptor e a resposta
é terminada. Para impedir nova associação entre transmissor e
receptor, o neurotransmissor é destruído pela ação catabólica de uma
enzima ou absorvido novamente pela terminação pré-sináptica
(SILVERTHORN, 2003; CARDOSO, 2000).
Qualquer desequilíbrio na quantidade de neurotransmissores
ou receptores pode desencadear sintomas neurológicos e também
psiquiátricos. O mecanismo da sinapse apresentado por Nero (2004)
requer que a ligação do neurônio “A” com o neurônio “B” possibilite a
passagem de uma informação; para que isso ocorra, é necessário
que a quantidade de neurotransmissores na fenda sináptica, bem como
seus receptores, estejam disponíveis em quantidade suficiente.
Fármacos Antidepressivos
As principais teorias que buscam elucidar a fisiopatologia da
regulação do humor surgiram a partir dos estudos sobre os efeitos
terapêuticos dos fármacos antidepressivos e o seu mecanismo de
ação, como afirmam Kapczinski et al. (2004). Essas descobertas sobre
as drogas antidepressivas vêm auxiliando no entendimento da própria
doença; na depressão, os níveis de neurotransmissores são
insuficientes na fenda sináptica. Segundo Andrade et al. (2003), os
antidepressivos têm por objetivo inibir a recaptação dos
neurotransmissores e manter um nível elevado destes na fenda
sináptica. Esse aumento de neurotransmissores na fenda se dá através
do bloqueio da recaptação da NE e da 5HT no neurônio pré-sináptico,
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ou, ainda, através da inibição da monoaminaoxidase (MAO), que é a
enzima responsável pela inativação desses neurotransmissores.
Conforme Moreno et al. (1999), os antidepressivos são
atualmente classificados pela sua ação farmacológica em:
- Antidepressivos Tricíclicos (ADTs) – seu mecanismo de ação é
bloquear na fenda pré-sináptica a recapturação de monoaminas,
principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT), e em menor
proporção a dopamina (DA), permitindo que estas fiquem mais tempo
disponíveis na fenda sináptica.
- Inibidores da monoaminaoxidase (IMAOs) – o mecanismo de ação
desses fármacos está associado à enzima monoaminaoxidase (MAO).
O uso dessa droga reduz a atividade da MAO. O resultado é um aumento
na concentração dos neurotransmissores nos locais de
armazenamento no sistema nervoso central (SNC) e no sistema
nervoso simpático.
- Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) – inibem de
forma potente e seletiva a recaptação de serotonina, resultando em
potencialização da neurotransmissão serotonérgica. Os ISRSs são
rapidamente absorvidos, ligam-se fortemente a proteínas plasmáticas
e são primeiramente metabolizados pelo fígado. Os ISRSs citalopram,
fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina são o resultado de
pesquisa com finalidade de encontrar medicamentos tão eficazes
quanto os ADTs, mas com poucos problemas de tolerabilidade e
segurança.
- Há diversidade de outros fármacos, como: inibidor seletivo de
recaptura de dopamina (ISRD), inibidor seletivo de recaptação de
norepinefrina (ISRN) – cabe citar a Trazodona, que envolve a inibição
da recaptação de serotonina e noradrenalina; e os inibidores de
recaptura de serotonina e antagonista alfa 2 (IRSAs) Nefazodona se
dá por meio da inibição da captação neuronal de serotonina e
noradrenalina. É antagonista de receptores 5-HT2 e de receptores alfa1 adrenérgicos.
Exercício Físico no Contexto da Depressão
As pesquisas envolvendo exercício físico e depressão
apresentam problemas metodológicos, como nos mostram Silveira e
Duarte (2004): populações heterogêneas, diferentes instrumentos de
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avaliação e intervenções terapêuticas, o que dificulta correlação entre
os estudos.
No presente estudo, o emprego dos termos atividade física e
exercício físico segue a contextualização segundo ACSM (2003).
Atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos
músculos esqueléticos e que apresenta gasto de energia. Já o exercício
físico é apresentado como uma subclasse da atividade física, sendo
definido como movimento corporal planejado e estruturado, que tem
por finalidade manter um ou mais componentes da aptidão física.
O exercício moderado (55% do VO2max) pode diminuir a
ansiedade e a depressão, principalmente pelo aumento da concentração
dos opióides endógenos, os quais produzem efeitos imunorregulatórios,
destacando-se dentre eles o peptídeo opióide denominado B-endorfina
(GARRETT; KIRKENDALL, 2003). O aumento da produção das
catecolaminas (epinefrina e noradrenalina) contribui para a estimulação
neuropsíquica. As catecolaminas atuam de maneira conjunta, e seus
efeitos incluem aumento da taxa de metabolismo e da força de contração
do coração, liberação de glicose e ácidos graxos livres, entre outros
benefícios (FERRETTI, 1997; MCARDLE, 1998; BERNE; LEVY, 1996).
Os benefícios fisiológicos relacionados ao exercício ocorrem
quando o hormônio é lançado na corrente sanguínea e alcança sua
célula-alvo, interagindo com seu receptor localizado dentro da
membrana desta célula. Essa interação ativa a enzima adenil ciclase,
também localizada dentro da membrana celular; por sua vez, a enzima
adenil ciclase ativada induz a formação de AMP cíclico (adenosina
monofosfato) a partir do ATP (adenosina trifosfato). Depois do AMP
cíclico formado, as respostas fisiológicas podem começar a ocorrer,
como ativação das enzimas, alteração da permeabilidade celular,
indução da contração ou relaxamento muscular, síntese protéica e
secreção (FOSS, 2000).
No que se refere à área psicológica, segundo Samulski (2002),
o exercício físico induz aumento da auto-estima, redução do estado de
estresse, ansiedade e produção de efeitos emocionais positivos,
possivelmente por manter os níveis de endorfina elevados na fenda
sináptica. De acordo com Silveira e Duarte (2004), as endorfinas
encontram seus receptores em áreas do cérebro que estão associadas
a emoções, dor, prazer; com o estímulo do exercício, a produção
aumenta, ajudando as pessoas a sentirem-se melhor.
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METODOLOGIA
O delineamento desta pesquisa caracterizou-se por um estudo
de casos. O campo de estudo foi uma Unidade Básica de Saúde de
Vale dos Sinos, tendo como participantes, via consentimento informado,
pacientes com diagnóstico de depressão com condições clínicas de
realizar exercícios físicos. Determinaram-se como critério de perda
duas faltas consecutivas ou cinco alternadas durante o programa, bem
como alguma interferência clínica.
Instrumentos de Pesquisa
Para realização do presente estudo, foram utilizados:
a) Ficha de coleta de dados: registro de dados como: nome,
idade, endereço, telefone, profissão, medicação, data e observação
das consultas junto ao psicólogo ou psiquiatra e freqüência cardíaca
durante as sessões de exercício, com objetivo de acompanhar a zonaalvo de cada participante.
b) Inventário de Beck: instrumento de medida para avaliar o
estado de depressão. A versão utilizada foi validada por Cunha (1998)
e publicada pela Casa do Psicólogo em 2001. Segundo Gorenstein et
al. (1998), o inventário de Beck consiste em uma auto-avaliação com
21 itens, incluindo sintomas e atitudes, com intensidade que varia de 0
a 3 pontos. Os itens referem-se a sensação de tristeza, culpa, fracasso,
pessimismo, relações sociais, distúrbios do sono e de apetite, distorção
da auto-imagem, entre outros aspectos. As respostas devem ser
pontuadas de acordo com a vivência das duas últimas semanas. O
somatório dos escores indica o nível de depressão (GORENSTEIN;
ANDRADE, 1998; CHEICK, 2003).
-Menos de 10 pontos: mínima
-De 10 a 18 pontos: leve a moderada
-De 19 a 29 pontos: moderada a grave
-De 30 a 63 pontos: grave
c) Entrevista semi-estruturada estratificada em três dimensões:
participação no programa, bem como continuidade do exercício,
percepção corporal e relações interpessoais.
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Característica da Amostra
As participantes eram mulheres com idade entre 34 e 49 anos,
todas com diagnóstico depressivo realizado pela equipe de saúde
mental, com condições clínicas aptas a realizar exercício físico. Todas
as participantes eram atendidas pela equipe de saúde mental, porém
uma havia interrompido o uso de medicação e para uma outra não
havia necessidade. No início do programa, todas as participantes
dedicavam seu tempo às atividades do lar; duas delas eram costureiras
e uma cabeleireira, mas nenhuma exercia função.
Dentre os possíveis motivos que desencadearam o quadro de
depressão das participantes, observa-se perda de entes queridos,
depressão pós-parto, conflitos familiares.
Tabela 1 - Desenho da Amostra
Participantes
Idade
Ocupação
A
39
Costureira
B
49
Do Lar
C
34
Cabeleireira
D
44
Do Lar
E
44
Costureira de Calçados
Motivos registrados para presente
estado de depressão
Perda de entes queridos, mudanças
constantes de endereço e doença do
marido.
Separação do casal
Marido alcoólatra e suicídio do primo a
levaram a sentir-se sem vontade de
viver.
Crise no relacionamento.
Pós-parto (nascimento de uma criança
com limitações físicas, expressava
sentimento de culpa)
Programa de Exercícios
As aulas eram realizadas duas vezes por semana, com
duração total de 60 minutos, distribuídas em aquecimento, exercícios
aeróbios, com predomínio de 25 a 30 minutos, exercícios de resistência
localizada e alongamento e relaxamento; o programa apresentou
variações nos exercícios, com o objetivo de motivar o grupo.
Segundo a ACMS (2003), as adaptações cardiovasculares
significativas têm sido obtidas com sessões de exercícios de 5 a 10
minutos de duração e intensidade superior a 90% da capacidade
funcional. Para os pacientes sedentários, são recomendadas sessões
moderadas, com duração de 20 a 30 minutos e intensidade entre 40 e
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60% da capacidade funcional. Considerando que, pelo contexto
estudado, não seria possível a determinação do VO 2máx por
ergoespirômetro, optou-se pela fórmula de Karvone e, a partir dela, foi
calculado o percentual de treinamento pela freqüência cardíaca. As
primeiras aulas iniciaram-se com intensidade moderada de 40%, para
adaptação das participantes, e posteriormente passaram a ter
intensidade de 50 a 60% da freqüência cardíaca máxima, culminando
com 70%, mantido num período entre cinco e oito minutos.
ResultadosDiscussão
O inventário de Beck foi aplicado em dois momentos: no início
do programa e no término; a interpretação dele foi realizada e fornecida
pela equipe de Saúde Mental da Unidade, composta por psicólogos e
psiquiatras, que acompanhavam as pacientes.
Escores
25
Aval. Inicial
15
10
Aval. Final
20
20
16
15
14
16
13
10
6
7
5
1
0
A
B
C
D
E
Participantes
Figura 1 - Escores obtidos pelo inventário de Beck.
Os resultados evidenciaram que as participantes A, B, C e E
tiveram seus escores diminuídos em 78,57%, 86,66%, 72,77% e 6,6%,
enquanto a participante D não apresentou diminuição. Na interpretação
dos escores da participante D, salientou-se uma discussão familiar
recente, o que deve ser levado em consideração, uma vez que o
inventário de Beck sugere uma análise das duas últimas semanas
(GORENSTEIN; ANDRADE, 1998).
Os itens que sofreram alteração na pontuação estão
relacionados a auto-imagem e estado emocional: diminuição do estado
de tristeza, fracasso, desânimo, irritabilidade e culpa, além de melhora
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da qualidade do sono, apetite e interesses interpessoais – embora ainda
limitado para alguns casos.
No que se refere à medicação, os estudos com antidepressivos
têm demonstrado uma determinada eficácia. A equipe de saúde mental
preconiza procedimentos na Unidade, correspondentes à adaptação,
manutenção e acompanhamento do medicamento, reavaliação e
retirada gradativa deste (MORIHISA, 2003; DEF, 2002/03). Considerando
o quadro clínico das participantes e os procedimentos preconizados
pela equipe de saúde mental da Unidade, não foi possível verificar a
diminuição ou substituição dos fármacos usados no seu tratamento.
A participante B teve a dose de fluoxetina aumentada de 20 para
40 mg/dia; ressalta-se que a paciente estava em fase de adaptação ao
fármaco. A participante D, por sua vez, não conseguiu disciplinar-se e
utilizar a medicação de acordo com o solicitado, mantendo o uso
interrompido. As participantes A, C e E não tiveram nenhuma mudança
no que se refere a este item.
Tabela 2 - Medicação utilizada pelas participantes
Participantes
A
B
C
D
E
Medicação Inicial
Carbonato de lítio 900 mg/dia
Clorpomazina 25 mg/dia
necessário)
Tempo de Uso
6 meses
Medicação Final
Idem à medicação inicial
(se
Fluoxetina 20 mg/dia
1mês
Fluoxetina 40 mg/dia
Fluoxetina 20 mg/dia
7 meses
Fluoxetina 20 mg/dia
XXXXX
Manteve interrompido o
uso
Não havia necessidade
Fluoxetina 20 mg/dia - havia interrompido o
uso
Não havia necessidade
XXXXX
Nos relatos da entrevista semi-estruturada referente ao item
relacionado à participação no programa e à continuidade do exercício,
o depoimento da participante E expressou a falta de vontade ao iniciar,
mas relata que a motivação das aulas substituiu esse sentimento pela
vontade de melhorar sem precisar voltar a tomar algum fármaco. As
demais participantes expressaram otimismo e aumento da auto-estima.
Como afirma Samulski (2002), o exercício físico atua na área psicológica
como fator para aumento da auto-estima, produzindo efeitos emocionais
positivos. Todas demonstraram interesse em continuar um programa
de exercícios.
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Quanto à percepção corporal, ocorreu melhora na auto-imagem,
pois foi relatada a facilidade em realizar tarefas domésticas antes
executadas com dificuldade. A participante E relembrou o desconforto
das primeiras sessões e que só depois de um mês percebeu que havia
mudado. As participantes B e D emagreceram e receberam elogios
dos seus familiares; a participante D recebeu elogio inclusive do médico,
que enviou um atestado, relatando melhora da sua paciente. A participante
B também relatou aumento de disposição física; ao iniciar o programa,
tinha apenas vontade de dormir – agora ela realizava as atividades da
casa e ainda começou a cuidar do jardim. Segundo o ACSM (2003), os
efeitos do exercício físico aparecem a partir da quarta semana.
As últimas sessões do programa apresentavam clima
descontraído entre as participantes. Quando questionadas sobre as
relações interpessoais, obteve-se resposta unânime e surpreendente,
pois as participantes viam o grupo como uma nova família. Relataram
que já conseguiam dialogar com os filhos e até com alguns vizinhos,
mas que o gostoso era poder estar com o grupo. Cleick et al. (2003)
afirmam que o exercício físico proporciona ao indivíduo maior
participação social, resultando no seu bem-estar biopsicofísico,
melhorando a qualidade de vida. As participantes A e E retomaram as
suas atividades profissionais.
A participação no programa dessas cinco participantes foi total.
Embora o estudo tenha apresentado limitações, como, por exemplo,
reunir participantes e motivá-los, duas pessoas convidadas iniciaram
o estudo realizando as avaliações clínicas e inventário de Beck, porém
nunca participaram de nenhuma sessão do programa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vários estudos estão sendo realizados sobre efeitos do exercício
físico em pacientes depressivos, porém as conclusões são prematuras
devido à padronização das medidas e aos problemas metodológicos.
O objetivo principal da pesquisa foi avaliar se o programa de
exercícios aeróbios seria capaz de interferir no nível de depressão. Ao
finalizar o estudo e as devidas avaliações, verificou-se que, no contexto
estudado, o programa auxiliou na diminuição dos escores na maioria
das participantes, tendo como melhora significativa aspectos
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relacionados a auto-imagem, estado emocional e interesses
interpessoais. Já a verificação da variável fármacos não foi possível.
Esta variável está interligada ao quadro clínico das participantes e aos
procedimentos preconizados pela equipe de saúde mental da Unidade.
Segundo a equipe, se o programa pudesse ter continuidade,
respeitando o ambiente em que estava, a hipótese de diminuição
farmacológica seria repensada.
A concepção das participantes no programa foi positiva, embora
exista perda na amostra neste estudo, a qual não está presente nos
resultados obtidos. A dificuldade encontrada foi motivar um paciente
depressivo a sair de casa.
Em vista dos resultados obtidos, propõem-se novas
investigações, viabilizando grupos maiores, de ambos os sexos e de
faixa etária diferenciada, uma vez que no presente estudo verificou-se
melhora dos participantes, proporcionada pelo exercício físico.
ABSTRACT
AEROBIC EXERCISE AND THE LEVEL OF DEPRESSION: STUDY
OF CASES IN A HEALTH BASIC UNIT.
Depression is an illness associated to the central nervous system.
The exercise can be a treatment strategy; however the development of
researches is necessary to make possible its insertion in this context.
From the previous premises, a research with the main objective was
developed to evaluate a program of aerobic exercises in the level of
depression of the patients from a health basic unit of the Bells Valley.
The specific objectives had been to compare the depression levels
before and after the program, to verify the reduction or substitution of
pharmacos and to understand the conception of the participants of the
program. The participants, with informed assent, were five women in
the age band between 34 and 49 years, with depressive diagnosis, in
clinical conditions to carry through physical exercise. In the data collection
were used: the Beck inventory, which has the purpose to evaluate the
level of depression through props up; and the report of data collection,
containing medication registers of each participant, dates of
consultations with respective evaluation and register of the cardiac
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frequencies during the sessions - this report was used as constant
evaluation during the program. At the end of the program, a halfstructuralized interview was fulfilled, with the purpose to demonstrate
the conception of the participants in relation to: corporal perception,
interpersonal relations and continuity of the exercise. The Beck inventory
was used on two moments: at the beginning of the study and at the end
of it, for comparison of the results. After the initial evaluation, the
participants had lived deeply the program in the form of aerobic
gymnastics, during 10 weeks, with frequency of two sessions per week,
with duration of 60 minutes, starting with 45% and finishing with 70% of
the maximum cardiac frequency. The results had evidenced reduction
of the depression level of the participants, A, B, C and E, whom had had
its prop up diminished in 78,57%, 86.66%, 72.77% and 6.6%, respectively,
while patient D did not present reduction. The conception of the
participants was told as positive; the conviviality of the group, according
to participant, provided exchange of experiences and growth of learning,
auto-image, auto-esteem, motor coordination, flexibility, physical
conditioning and socialization. Considering the period of research
accomplishment, it was not possible to verify the reduction or substitution
of the pharmacos. From the results, it is possible to affirm that, in the
studied context, the exercise could be used as complementary treatment
to the depression.
Keywords: physical exercise, depression.
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