Imagem da Semana: Fotografia Figura: Fotografia da região anterior do punho direito. Enunciado Paciente feminina, 22 anos, previamente hígida, estudante de biologia, residente em condomínio na região metropolitana de BH. Há cerca de 1 mês, iniciou com lesão nodular única, hiperemiada, na região anterior do punho direito, que evoluiu para a lesão crostosa mostrada na imagem . Associam-se ao quadro, nodulações dolorosas ao longo do antebraço direito e linfoadenomegalia da cadeia supratroclear direita. Nega alergias. Relata que tem 3 gatos e que possui o hábito de cuidar das plantas da casa. Baseado na história clínica e na imagem da lesão, qual o diagnóstico mais provável? a) b) c) d) Impetigo Esporotricose Doença da arranhadura do gato Leishmaniose tegumentar americana Análise de imagem Fotografia da região anterior do punho direito, evidenciando nódulo ulcerado com crostas hemáticas e purulentas, medindo 1cm de diâmetro. Diagnóstico A lesão dermatológica de evolução subaguda com linfoadenopatia regional, associada à epidemiologia (atividades de jardinagem e contato com gatos), é compatível com esporotricose. O diagnóstico definitivo foi feito por meio do isolamento do fungo Sporothrix schenckii após cultura de fragmentos da lesão colhidos por biópsia. O impetigo é uma doença cutânea comum da infância causada por bactérias do tipo Staphylococcus ou Streptococcus. Pode iniciar-se como vesículas ou bolhas e evolui para uma lesão crostosa. Mais comum em áreas com populações de higiene pessoal precária. A doença da arranhadura do gato é causada pela bactéria Bartonella henselae. Cursa com uma pápula no local da arranhadura, que em geral melhora em alguns dias, persistindo apenas uma linfoadenopatia regional significativa e sintomas sistêmicos leves. A leishmaniose tegumentar americana é uma doença causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida por fêmeas do mosquito flebótomo. Na forma cutânea localizada, apresenta-se como úlceras de fundo granular e "bordas em moldura". É endêmica em BH e região metropolitana. Discussão do caso A Esporotricose é uma micose profunda subaguda ou crônica, causada pelo fungo dimórfico ubíquo Sporothrix schenckii. Este pode ser isolado de diversos reservatórios, como madeira e terra, e é mais comum em áreas de clima tropical, sendo endêmico nas Américas Central e do Sul e na África. A transmissão ocorre, em geral, por meio da inoculação traumática do fungo através da pele, feita por espinhos de plantas, pedaços de madeira ou materiais perfurantes contaminados. Por isso, pode ser considerada doença de cunho ocupacional, acometendo principalmente pessoas que realizam atividades como jardinagem, agricultura e carpintaria. A transmissão por arranhadura de gatos ou outros animais domésticos também pode ocorrer. A esporotricose pode ter apresentações clínicas distintas, dependendo de fatores como a quantidade de fungo inoculada, sua virulência, a profundidade da lesão de entrada ou o estado imunológico do hospedeiro. São mais comuns as formas cutâneo-linfática ou cutânea fixa. Na forma cutâneo-linfática, a lesão inicial aparece 7 a 30 dias após a inoculação como uma pápula ou nódulo indurados, de 1 a 4 cm de diâmetro, que progride para ulceração. Posteriormente, outros nódulos e úlceras surgem no trajeto linfático adjacente à lesão inicial. Linfoadenopatia regional também é comum. Os membros superiores são os mais afetados, especialmente em adultos. Quando não há disseminação linfática, a forma é chamada de cutânea fixa. Pode ocorrer também a forma articular (punhos) e pulmonar (principalmente em pacientes com comorbidades como alcoolismo, diabetes, sarcoidose ou em uso de corticóides.) Raros casos de doença disseminada podem ocorrer em pacientes imunocomprometidos. O diagnóstico definitivo padrão ouro é feito com biópsia da lesão seguida de cultura para fungos nos meios ágar sabouraud-dextrose ou ágar dextrose-batata. O exame histopatológico não é específico, mas pode ser útil na investigação, quando associado à epidemiologia e aos dados clínicos. Lesões cutâneas como leishmaniose tegumentar, impetigo, doença da arranhadura do gato são importantes diagnósticos diferenciais. O tratamento de primeira escolha é o itraconazol via oral por 3 a 6 meses, o que, em geral, leva à completa remissão das lesões. Iodeto de potássio pode ser uma escolha de custo mais baixo, porém com efeitos colaterais menos toleráveis. Aspectos relevantes - A Esporotricose é uma micose profunda subaguda ou crônica, causada pelo fungo Sporothrix schenckii; - A transmissão ocorre, em geral, por meio da inoculação traumática do fungo através da pele, (atividades como jardinagem, agricultura) e pela arranhadura de gatos contaminados; - Mais comumente apresenta-se nas formas cutâneo-linfática ou cutânea fixa; - O diagnóstico definitivo padrão ouro é feito com biópsia da lesão, seguida de cultura para fungos; - O tratamento de primeira escolha é o itraconazol via oral por 3 a 6 meses. Referências - Ramos-e-Silva M, Vasconcelos C, Carneiro S, Cestari T. Sporotrichosis. Clin Dermatol. 2007;25:181-7. - Cordeiro FN, Bruno CB, Paula CDR, Motta JOC. Ocorrencia familiar de esporotricose zoonotica. An Bras Dermatol. 2011;86(no Supl 1):S121-4. - Freire, G. Doença da Arranhadura do Gato: Relato de Caso. Rev Med Minas Gerais 2011; 21(1): 75-78 Responsável Emília Valle Santos, acadêmica do 10º período de Medicina da FM-UFMG. Email: emivalle[arroba]gmail.com Orientador Prof. Unaí Tupinambás, Professor do Departamento de Clínica Médica da FMUFMG. Email: unaitupi[arroba]gmail.com Revisores Acadêmicos Júlio Guerra e Fernanda Foureaux e Professora Viviane Parisotto