RAraujo Futebol

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34º Encontro Anual da Anpocs
ST11P1 – ESPORTE E SOCIEDADE
Futebol e política continuam a caminhar juntos
Rogério Bianchi de Araújo
Futebol e política continuam a caminhar juntos
Rogério Bianchi de Araújo1
INTRODUÇÃO
Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o
que é lógica.
Stanislaw Ponte Preta
O título do projeto recém-iniciado na Universidade Federal de Goiás –
Campus Catalão é: "O Futebol como uma manifestação simbólica da sociedade
catalana". Com esse projeto pretendo desenvolver uma análise sócio-cultural e
histórica do Clube Recreativo Catalano e sua influência sobre a cidade.
O futebol está profundamente ligado à sociedade, capaz de construir
fatos sociais e manifestações imaginárias passíveis de estudos antropológicos
e sociológicos, proposta desse projeto. O universo do futebol é um importante
campo de observação e de análise social, além de fornecer um manancial de
reflexões sobre a existência e as condições humanas, bem como as nossas
relações interpessoais e sociais que circundam nosso ambiente.
Saber a representação social do futebol no imaginário coletivo pode
dizer muito sobre o que uma sociedade pensa de si mesma e como ela se vê
inserida em processos sócio-econômicos mais amplos. O futebol sofreu
inúmeras transformações ao longo da história, tanto no que diz respeito ao
preparo físico, quanto ao uso de tecnologias e apropriação econômica e
financeira. No entanto, sua representação simbólica e significação cultural não
se abalam frente a essa nova realidade.
Ainda continua com sua fleuma apaixonante e seus seguidores
apaixonados. Como fenômeno contemporâneo, o significado e influência do
futebol na cidade de Catalão só podem ser abordados na sua complexidade e
se o compreendermos como um fenômeno social e historicamente produzido.
Por isso, esse projeto traça alguns objetivos e questões que pretendo
1
Doutor em Antropologia pela PUC/SP e Mestre em Filosofia Social pela PUC/CAMP.
Atualmente é professor de Antropologia e coordenador do curso de Ciências Sociais da
Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão.
desenvolver. Como as mentalidades podem se manifestar por intermédio da
prática futebolística? Como o futebol na cidade de Catalão é apropriado pelas
distintas classes sociais? Outra peculiaridade da cidade de Catalão é que há
uma grande quantidade de pessoas que vêem de outras cidades ou de outras
regiões. Como o CRAC é visto por essas pessoas?
A metodologia adotada nesse projeto é a da observação participante,
trabalho de campo, entrevistas e pesquisas quantitativas e qualitativas. Para
isto, optei em realizar duas formas de abordagens (histórica e antropológica),
as quais somadas com a teorização sociológica, formam o arcabouço teórico
da maior parte dos estudos realizados e, além disso, são áreas fundamentais
para auxiliar na ruptura da visão tradicional com que se estuda este esporte.
O futebol vem sendo alvo de muitos estudos antropológicos,
sociológicos e históricos. O foco desse projeto é, portanto, tratar do fenômeno
do futebol enquanto uma prática cultural permeada de diferentes experiências e
significados, e presente na vida social de muitos catalanos, ou daqueles que
adotaram a cidade como moradia.
O futebol pode ser visto como meio de expressão e mediação de
conflitos intrínsecos a uma sociedade de classes antagônicas, propicia um
repertório comum aos vários segmentos que dele se aproximaram e é capaz de
articular tanto diferenças quanto identidades, não apenas em termos raciais,
mas também sociais, regionais e mesmo nacionais. O sucesso do futebol
profissional como espetáculo de massa esteve intimamente relacionado com a
sua conversão em principal opção de lazer das camadas “médias” e “baixas”
da população urbana.
Segundo Elias (1990), o esporte é um importante exemplo de regulação
e gerenciamento das emoções desempenhando um papel signficativo no
cotidiano das sociedades modernas. Elias credita o fascínio exercido pelo
futebol ao sucesso que este obteve ao criar uma dinâmica de jogo na qual se
restringe a violência, sem, contudo, tirar o excitamento da partida – ou seja,
criando uma tensão progressiva que produz uma catarse no praticante e no
espectador.
Em sua obra, “O Processo Civilizador”, faz uma longa e interessante
análise sobre a história do controle das emoções que ocorreram e ainda
ocorrem na sociedade humana, mais exatamente no Ocidente. O que devemos
nos perguntar é como o controle das emoções pode estar entrelaçado no
discurso direcionado ao atual contexto em que se encontra a cultura corporal
de movimento. O que se percebe hoje é que cada vez mais as pessoas que
conseguem controlar suas atitudes, suas emoções, suas expressões são as
que se destacam.
Enquanto que no tênis o atleta é uma pessoa introspectiva, concentrada,
individualista, não permite nenhum tipo de contato físico com o adversário
durante o jogo, no futebol que é esporte da massa, há muito contato corporal,
objetivos no jogo que representam uma luta corpórea e há regras para o atleta
se controlar emocionalmente.
No caso específico do futebol, talvez seja o único fenômeno de massa
que é ao mesmo tempo consumido e praticado em escala global. Para o
sociólogo e jornalista Juca Kfouri2, somente em anos recentes o Brasil
começou a gerar uma produção intelectual consistente sobre o futebol, o que
tem contribuído para que o esporte seja pensando para além dos temas
propostos pelas mesas-rondas transmitidas pelas emissoras de televisão.
Isso significa dizer que o envolvimento da sociedade com a prática
futebolística vai muito além do mero entretenimento ou do espírito competitivo.
Ciente dessas profundas modificações sob as quais o futebol vem sofrendo,
tanto em âmbito administrativo, quanto político e especulativo, o futebol passa
a ser um objeto de estudo importante para as Ciências Sociais. Além disso, há
ainda a espetacularizacão do esporte como evento midiático com grande apelo
publicitário.
Segundo Wisnik (2008), no seu livro Veneno remédio, o futebol não é
mero "reflexo" da sociedade, mas tampouco se desenvolve à margem dela. É,
como mostra Wisnik, uma instância em que as linhas de força e de fuga do
embate social e da construção do imaginário se apresentam de modo ao
mesmo tempo claro e cifrado, como costuma acontecer com as expressões
2
José Carlos Amaral Kfouri, conhecido como Juca Kfouri (São Paulo, 4 de março de 1950) é
um importante membro do jornalismo esportivo do Brasil. Juca Ficou conhecido ao organizar,
em 1982, uma matéria que denunciava a chamada "Máfia da Loteria Esportiva", na qual
jogadores eram comprados por apostadores, a fim de garantir que os resultados dos jogos da
loteria seriam aqueles em que haviam apostado. A matéria, feita por Sérgio Martins, quase
ganhou o Prêmio Esso de jornalismo naquele ano. O tema rendeu mais reportagens em Placar,
e Juca chegou a ser ameaçado em telefonemas anônimos. O trabalho de Juca na revista
priorizou o viés investigativo no esporte, coisa que havia sido feita por poucas vezes na história
da imprensa esportiva brasileira.
artísticas. Para Wisnik, no Brasil, os estudos sobre futebol tendem a ser mais
sociológicos,
históricos,
biográficos,
e
menos
interpretativos,
menos
especulativos, menos ensaisticamente ousados. Sobre a sociologia do esporte,
Bourdieu (2004) dizia que os sociólogos geralmente não praticam esporte e,
por isso mesmo, são incapazes de conhecer o esporte de dentro.
Wisnik afirma que o futebol é uma língua geral que acontece numa zona
limiar entre tempos culturais que se entremeiam. Passam pelo futebol brasileiro
linhas incontornáveis das interpretações do Brasil, que se irradiam pela música,
pela literatura e pelas formas de sociabilidade. Para o bem e para o mal, uma
das mais reconhecíveis maneiras pelas quais o país se fez ser foi o futebol.
Para o ensaísta argentino Sebreli (1998), o futebol se ombreia, de
maneira usurpadora, “com os grandes sistemas religiosos e políticos” e fez da
“insignificância do seu conteúdo” a coisa mais importante que acontece a
milhões de seres humanos, e a “única” que dá sentido em suas vidas vazias.
O futebol vem a ser a mais reconhecível e intercambiável das atividades
supérfluas, e, por mais interesses econômicos que estejam envolvidos,
expande-se historicamente por um fundo de motivações gratuitas – e,
sintomaticamente, poucas vezes sondadas como tal.
No futebol, o conteúdo está ali como se não estivesse: na ausência de
significado, mas fazendo sentido e pondo em cena o conflito, a catarse, a glória
e a violência. A combinação de violência com a festa, da ordem com a
desordem, do profano com o sagrado, cria uma simbiose complexa em que a
ritualização dos choques contribui para o fortalecimento dos laços comunitários
e escreve na história partidas apoteóticas, situações constrangedoras,
conquistas inatingíveis, sofrimentos atrozes e felicidades arrebatadoras.
Pode-se dizer que o futebol submete a oposição de classes a uma outra
lógica que a sociologia tem dificuldade em captar. Por outro lado, há autores
como Hobsbawn (2007) que define o futebol como a “religião leiga da classe
operária”, tendo em mente a maneira intensa pela qual a massa da população
trabalhadora se envolveu nas batalhas simbólicas dos campos de futebol
durante a expansão das cidades industriais.
O futebol é um instrumento de elaboração de diferenças, um campo
festivo e polêmico de diálogo não verbal, projetado no terreno da disputa
lúdica, que atualiza a necessidade de que haja um outro para que eu seja, de
que um outro me afirme ao me negar.
É uma atividade que promove sentimentos básicos de identidade
individual e coletiva entre nós. É inequívoca a vocação do futebol como
fenômeno que pode ser compreendido sob vários pontos de vista, além de ter
se tornado um importante ingrediente da indústria cultural de consumo de
massa. Como conseqüência, há uma mistura de valores culturais locais,
nascidos de uma visão de mundo tradicional e particular, com uma lógica
moderna e universalista.
Em linhas gerais, esse artigo, fruto de uma pesquisa que se iniciou na
Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão em 2010, vai em direção ao
que foi exposto acima. Neste início, a pesquisa realizada foi fundamentalmente
de levantamento bibliográfico e por meio de observação participante nos jogos
do Clube Recreativo Atlético Catalano nos campeonatos goianos de 2009 e
2010 e na Série D do Campeonato Brasileiro no ano de 2009.
Inicio o artigo fazendo uma pequena reflexão sobre aspectos relevantes
da representatividade social do futebol no Brasil, para em seguida refletir sobre
o fosso que existe entre os clubes grandes e pequenos, assim como a
profissionalização do esporte e as inferências do mercado. Isso nos remete a
entender um pouco mais sobre o posicionamento do CRAC no cenário
futebolístico nacional em contraponto com o que ele representa para a cidade
de Catalão enquanto mecanismo de identidade e pertencimento. Finalmente, é
importante perceber como a identificação de uma cidade por um clube de
futebol, mesmo que em dimensões reduzidas perante às grandes forças do
cenário nacional, influencia políticas publicas e populistas de grande
repercussão e gera em conseqüência uma falsa impressão de competência e
gestão dos bens públicos.
I – Alguns apontamentos sobre o futebol no Brasil
Os brasileiros aprendem desde cedo que o futebol é como uma espécie
de patrimônio cultural nacional. A herança africana é justificativa para a jinga
quase que inata do brasileiro para a prática desse esporte. Outro fato
considerado importante são os espaços públicos que foram transformados em
campinhos de futebol, principalmente nos finais de semana. Alguns mais
nostálgicos acreditam que o futebol brasileiro está perdendo seu encanto
justamente e, em boa parte, por causa da perda desses espaços e devido ao
aumento do número de escolinhas de futebol que ajudam ainda mais a
promover a burocratização desse esporte.
O futebol chegou ao Brasil por meio de um bem documentado processo
de difusão cultural. Foi introduzido sob o signo do novo porque estava
diretamente atrelado à ideia de modernização. Nos primeiros anos de sua
aparição, no inicio do século XX, era um jogo de elite. A primeira equipe de
futebol predominantemente brasileira foi formada na Universidade Mackenzie,
em 1898, por jovens das camadas superiores, na maioria filhos de fazendeiros
que buscavam seus títulos de juristas.
O futebol, tal como foi incorporado e praticamente reinventado no Brasil,
tem muito a dizer, com sua linguagem não-verbal, sobre algumas de nossas
forças e fraquezas mais profundas, ajudando a ver sob outra luz questões
centrais da nossa formação e identidade.
O Brasil é um país em que se respira futebol. Está culturalmente
enraizado na nossa forma de ser e propicia a efetiva experiência da vida em
coletividade, e também é uma atividade esportiva que pode ser compartilhada
por diferentes classes sociais. Exalta emoções e proporciona sensações que
vão da mais pura felicidade à frustração, ou vice-versa, em questão de
minutos.
Da Matta (1994) afirmou que o futebol constitui-se em veículo para uma
série de dramatizações e representações da sociedade brasileira, permitindo a
expressão e vivência de problemas nacionais. Segundo Da Matta, um dos
traços essenciais do drama é sua capacidade de chamar a atenção, revelar,
representar e descobrir relações, valores e ideologias que podem estar em
estado de latência ou virtualidade em dado sistema social. O drama provocado
pelo futebol não é só um temporário gozo ou depressão momentânea. É
também uma manifestação das frustrações, ambições, desejos, etc. Com isso,
o futebol mostra-se veículo de uma série de dramatizações no campo individual
e no mundo social.
O mundo do futebol é um Brasil pequeno porque as tendências
principais de nossa vida social o constituem. Ele, de certa forma, pode ser
considerado o DNA do Brasil. Poderíamos recriar o Brasil se, numa hecatombe,
só tivesse sobrado o noticiário de futebol. Um esporte que se confunde com as
nossas emoções mais profundas e, por isso, ajuda a entender quem somos
(Santos, 1981)
Para Caldas (1986), o futebol é visto por muitos estudiosos como uma
das três maiores expressões de nosso povo, ao lado da religião católica e do
samba. Falar sobre esse esporte com outras pessoas é também um evento
socializador e um acontecimento social.
Ser forasteiro na cidade de Catalão e ir a um jogo do CRAC sugere um
sinal de respeito e homenagem àquela cidade, faz aproximar das pessoas e
demonstrar que não há qualquer ranço de preconceito, principalmente por
parte daqueles que vêem de regiões metropolitanas bem populosas.
O futebol originariamente era um esporte elitizado. Hoje ele se
popularizou de tal forma que não se vê distinção de classe pela sua ótica, mas
não sejamos ingênuos, quando digo que as desigualdades sociais são extintas,
refiro-me às conversas, a discussão sobre o futebol, os palpites, comentários,
etc., principalmente fora dos estádios.
Nos grandes centros esportivos do país, onde as disputas envolvem
interesses econômicos muito maiores, o que se percebe é que dentro do
estádio há cada vez mais torcedores com uma renda mais elevada. As próprias
brigas, até então comuns entre torcedores das torcidas organizadas, está cada
vez mais rara dentro dos estádios de futebol. Não se pode dizer o mesmo
sobre o que acontece nas ruas, nas estações de metrô, pontos de ônibus, etc.,
quando elas se encontram.
Entretanto, em Catalão, o preço dos ingressos de um jogo do CRAC
ainda pode ser considerado relativamente baixo em relação ao que é cobrado
nos jogos dos clubes grandes das capitais. Além disso, a Federação Goiana de
Futebol faz promoções em que o ingresso pode ser trocado por notas fiscais
com a promoção “Nota Show de Bola”. O resultado disso é a formação de
imensas filas em frente ao estádio na véspera dos jogos, desde as primeiras
horas da manhã, mesmo que seja entre um jogo do CRAC contra a
Canedense, por exemplo.
II – A situação dos clubes pequenos do Brasil
Enquanto os grandes clubes são cotidianamente cobertos pela grande
mídia, os times pequenos lutam para não cair no anonimato e ser motivo de
chacota. Os clubes pequenos, em termos econômicos, ocupam um lugar
marginal no “mercado futebolístico”, mas no que diz respeito à paixão da
torcida as semelhanças são claramente perceptíveis.3
Algumas características são peculiares dos clubes pequenos. Primeiro,
ele pode ser um celeiro de jogadores que estão sempre dispostos a abandonar
a cidade e o clube na primeira oportunidade. Há também a possibilidade de
que times pequenos se transformem em “filiais” dos grandes.
Em segundo lugar, o clube pequeno é geralmente comandado por
dirigentes que estão dispostos a sacrifícios para ver sua equipe disputar o
3
Estes são alguns textos extraídos do Mural de Recados (2010) do site www.cracnet.com.br
que servem para ilustrar um pouco a paixão do torcedor catalano.
Recado: CRAC-PodemOs naum ser o mais forte... o mais inteligente, mais bonito e neim o
mais legal... Mais somOs somente fortê o suficiente para lutar.... inteligente o bastantê para
aprender... legal a altura de naum sêr xato.... E bonito ao ponto de não ser feio.... enfim, nem
melhor, nem pior apenas diferentê e unico !
Recado: CRAC - PAIXÃO DA FAMÍLIA FONSECA - MESMO ENTANDO NA SUA MAIORIA
EM BRASÍLIA, SOMOS TODOS APAIXONADOS PELO NOSSO LEÃO.
Recado: confiamos no time porque vemos q e um time de raça e vontade e por isso q vou em
todos os treinos e jogos por q sei q o crac merece
Recado: EU,sou fanatico pelo o crac e mando p/ torcida do leao do sul em peso amanha no
gernevino da fonseca torcendo pelo crac o jogo inteiro e fazendo a festa de arrepiar o coraçao
na labobonera.
Recado: Crac vc é muito bom parabéns. Tenho amigos que dormem no estadio pra tocar
ingressos
Recado: poderiam fazer promoção de quem ir com camisa do CRAC pagar menos
esta ridiculo o estadio com camisa De flamengo , Corinthians ...
Recado: força crac não deixa a peteca cair não vamos detonar o itumbiara no proximo sábado,
e depois dar 2 tacas no vila rosa........CRAC,CRAC ..
Recado: crac voce esta jogando de mais,,, a cada jogo que passa eu fico mais convicto q
teremos uma grande possibilidade de sermos CAMPEAO... FORÇA MEU LEAO. VAMOS COM
TUDO nesse goianao
Recado: olha o elenco de 2010 esta mostrando um belo futebol, mais estamos precisando de
um volante melhor porque ali todos estão vendo que tem que melhorar bom assim seremos
TRI-CAMPEÃO GOIANO . CRAC até morrer .
Recado: CRAC...AGORA EU QUERO VER AQUELES COMENTARISTAS AMADORES QUE
SEMPRE DIZEM QUE OS TIMES DA CAPITAL SÃO FAVORITOS E BLA,BLA,BLA, KD O
TODO PODEROSO DRAGÃO??? HAHA O PLACAR FICOU BARATO SE NÃO TIVÉSSEMOS
COM 5 JOGADORES RESERVAS...KD O ATLETIQUINHO.........KKK.
Recado: valei crac voce ta com a moral no goianao e pode ter certeza que nois vamos ser
campeao... eu te amo incodicionalmente
Recado: crac vc é minha paixao, eu nunca perdi um jogo si quer, por voce eu morreria,,, mais
o que importa é voces continuar ganhando os jogos e nos consagrar tri- campeao. força meu
leão
campeonato principal do seu Estado. Isto, sem dúvida, se transforma numa
poderosa força de marketing político com potencializador de votos significativos
na base eleitoral a qual o clube pertence.
Em âmbito político, o time pequeno se assemelha ao grande no que
tange às lutas internas, as facções e até a disputa pelos postos de mando. São
cargos de risco, mas que nunca estão vagos.
Os clubes de futebol do interior não conseguem disputar o Campeonato
Estadual sem a ajuda das prefeituras de seus respectivos municípios.
Geralmente, o dinheiro oriundo dos cofres públicos corresponde a 50% ou mais
do total da receita dos clubes.
Clubes do interior montam times efêmeros, com dia e hora marcada para
seu fim, visando apenas o torneio em questão. O clube pequeno hoje é quase
que um time de aluguel, onde jogadores participam da equipe por no máximo
um único semestre, tentando alguma visibilidade para que seus empresários
possam negociá-los com alguma vantagem para ambas as partes. Procuram
mostrar seu futebol sempre com a esperança de que algum dia possa ser
notado por técnicos ou observadores de um grande clube.
Melhor opção, no caso dos clubes chamados pequenos, continua sendo
montar uma estrutura especializada na revelação de novos talentos e operar
nas margens do mercado.
Estima-se que os vinte times que atualmente integra o Clube dos Treze
(representando 4% do total das equipes profissionais) mobilizam cerca de 90%
dos torcedores e responde por mais de 75% das receitas do futebol brasileiro.
Por outro lado, é provável que algo em torno de 80% das equipes responde por
menos de 5% das receitas.
Outro problema é que com um maior número de partidas sendo
transmitidas ao vivo, o público nos estádios pode se reduzir, afetando
particularmente as equipes menores.
Falar que quem ganha bem no Brasil é o jogador de futebol, onde não
precisa nem estudar, é uma opinião descabida e de senso comum. Sabe-se
que a maioria dos jogadores profissionais do Brasil que não está na elite do
futebol, ganha salários bem abaixo da média. Às vezes, no CRAC, algum
jogador veterano é contratado - como foi o caso recente do atacante Alex Dias
- e os salários são pagos pela prefeitura com auxilio de algum patrocinador.4
Apenas aquelas federações que conseguirem inserir seus torneios na
programação da televisão, encontrar patrocinadores e atrair sólidos parceiros
comerciais conseguirão sobreviver na nova fase do futebol-empresa.
Por outro lado, a torcida que se identifica com o clube e espera que o
time tenha alguma identificação com ela, fica indignada por jogadores que
jogam “sem amor à camisa”. É um paradoxo indissolúvel criado pela própria
mercantilização do futebol enquanto prática esportiva.
“Como ensinaram os historiadores, precisamos olhar para o passado
para entender o presente. Precisamos saber que papéis desempenham
os clubes de futebol, que significado tinham as partidas das tardes de
domingo para a sociedade brasileira dos anos trinta, cinqüenta, setenta.
Só assim poderemos compreender as mudanças em curso e avaliar a
extensão das rupturas que a modernização vem provocando. E verificar
até que ponto está avançada a identidade cultural que o futebol ajuda a
formar, ou até que ponto as novas promessas poderão se realizar.”
(PRONI, 2000:261)
Numa relação entre futebol e cultura, destaco a contribuição decisiva
desse esporte para alavancar um processo de ruptura das rígidas fronteiras
entre a chamada “alta e baixa cultura”, entre o exclusivo e o popular. Outro
ponto fundamental é o caráter híbrido que o futebol manifesta no Brasil com
uma grande mistura entre o tradicional e o moderno, o culto e o massificado. O
“drama” da organização do futebol brasileiro poderia ser entendido como
resultado do choque entre um modelo “moderno” com um modelo “tradicional”.
O futebol é um microcosmo das nossas contradições socioculturais. A
forma como o futebol se estrutura e se organiza reflete o “padrão cultural” de
um país.
4
Alex Dias, bicampeão brasileiro com Cruzeiro e São Paulo, atuou no CRAC durante o
Campeonato Goiano de 2009 ganhando 35 mil reais líquidos por mês, segundo a imprensa
local. E não fez sucesso: só seis gols em três meses. Enquanto isso, poucos jogadores da
categoria de base, inclusos na conta os atletas da cidade, tiveram oportunidades reais. O
orçamento de 2010 previu gastos municipais de pelo menos 800 mil reais com o time, divididos
entre Prefeitura e Câmara. O serviço de abastecimento de água da cidade, controlado pelo
Executivo catalano, também auxilia financeiramente, assim como as multinacionais John Deere
e Mitsubishi, tradicionais apoiadoras.
“O futebol é uma caricatura – no sentido de que traz em si os traços
essenciais – da sociedade brasileira. De fato, seja nos momentos de
glória, seja nos fracassos, tanto nos períodos de crise como de auge, a
história do futebol no país esteve sempre vinculada com a dinâmica
sócio-cultural, econômica e política da nação. E às voltas com a tal da
modernização.” (PRONI, 2000:259)
A comercialização do espetáculo pode ser a sua solução, desde que
resgate os elementos mágicos, espetaculares, que sempre caracterizaram o
futebol brasileiro. A grande dificuldade que se coloca é perceber que o “ideal
modernizante” vai sendo redefinido com o passar do tempo, do mesmo modo
que a tradição pode ser recorrentemente reiventada.
A transformação do futebol em negócio gerido de modo empresarial,
inserido na dinâmica da indústria do entretenimento, é uma novidade que
acarreta rupturas profundas com o passado. Talvez não seja socialmente
benéfico, ou desejável, trocar a ética do esporte associativo pela ética da
maximização dos lucros.
III – A identificação da cidade de Catalão com o CRAC
O Clube Recreativo e Atlético Catalano (CRAC) é um clube brasileiro
de futebol, da cidade de Catalão, no Estado de Goiás. Suas cores são o azulclaro (ciano) e o branco. Seu mascote é o leão. É a única equipe do interior do
Estado de Goiás a ganhar mais de uma vez o título estadual da divisão
principal e também que mais participou da decisão, (4 vezes), sendo vicecampeão em 1969 e 1997.
Seu estádio se chama Estádio Genervino Evangelista da Fonseca
(homenagem ao ex-deputado federal que doou o terreno para a construção do
estádio), e é um dos estádios mais antigos ou o mais antigo do Estado de
Goiás e o primeiro a ter o campo de jogo totalmente gramado.
Apesar de pertencer ao CRAC, atualmente o estádio é administrado pela
Prefeitura Municipal de Catalão através de um contrato de comodato. Com a
ajuda da comunidade através de doações e mão-de-obra, hoje tem capacidade
para 10.000 espectadores. O estádio possui um gramado regular, 13 cabines
para imprensa e tribuna de honra e costuma estar cheio em jogos do Clube
Recreativo e Atlético Catalano. Fato significativo para uma cidade interiorana
com pouco mais de 80 mil habitantes, situada a 255 quilômetros da capital
Goiânia.
O CRAC é o clube de futebol mais antigo do Estado de Goiás, foi
fundado no dia 13 de julho de 1931, disputando inicialmente somente torneios
locais. Conquistou a segunda divisão goiana em três oportunidades e a
Primeira Divisão em duas oportunidades. É também uma das equipes que mais
vezes disputou a Segundona estadual: 14 vezes.
Em 1965 foi campeão da Segunda Divisão, invicto. Para manter este
time profissional a diretoria pedia auxílio à comunidade. Algo muito difícil na
época, pois a cidade ainda não tinha aquela paixão fortalecida. Criaram uma
loteria (semelhante à tradicional loteria esportiva) com 5 jogos e quem fizesse
mais pontos passava na “Construtora” do diretor Osires Pimentel Ulhôa e
levava para casa o prêmio.
Em 1967, dois anos após entrar na divisão de elite goiana e um ano
após o primeiro título do Goiás EC, o CRAC sagrou-se campeão goiano da
primeira divisão. Terminado o jogo a cidade de Catalão ficou toda empolgada.
As pessoas se abraçavam, corriam pelas ruas e quando finalmente a equipe
campeã chegou à cidade houve uma comemoração tão vibrante como nunca
se viu até então.
Na conquista do campeonato goiano de 2004, o apoio do prefeito Adib
Elias foi fundamental. Na apresentação do elenco o prefeito Adib Elias,
“torcedor n° 1” e grande incentivador do time, pediu coragem, determinação e
união ao grupo para conseguir levantar pela segunda vez a taça de campeão.
A diretoria oferecia aos jogadores as condições, dentro e fora das quatro
linhas, necessárias para que o rendimento nos jogos fosse o melhor, a diretoria
com o apoio do prefeito torcedor pagou em dia os salários e prêmios.
Hoje, pensando as dimensões do CRAC, a transição do cenário local
para o nacional é algo inconcebível. O time é conhecido apenas na região de
Goiás, tendo participado pouquíssimas vezes das divisões secundárias dos
campeonatos nacionais.
O CRAC tem suas atividades atualmente reduzidas ao primeiro
semestre do ano, quando disputa o campeonato goiano da primeira divisão
estadual. Disputa em média 18 jogos, podendo chegar a 22 caso chegue às
finais do campeonato.
É perceptível a vitalidade do futebol. Embora o poder da mídia mostre os
grandes clubes e os campeonatos mais rentáveis, o futebol enquanto
fenômeno cultural é tão poderoso que a rivalidade se estende a todas as
regiões do país.
Em Catalão, o CRAC trava algumas boas batalhas com os clubes da
capital, com destaque para a rivalidade que se estabeleceu particularmente
com o Vila Nova, clube tradicional da cidade de Goiânia.
A regionalidade é um traço estrutural que distingue o futebol brasileiro. À
medida que ligas municipais eram constituídas e torneios estaduais eram
organizados, o hábito de ir ao estádio de futebol para torcer por uma equipe se
difundia rapidamente, assim como o costume de comentar os jogos com os
colegas, elegendo ídolos e relembrando os lances mais espetaculares.
Os times são parte de nossas vidas, pois nos proporciona a ideia de
continuidade. Depois de velhos, um time de futebol pode nos conectar com o
nosso passado. É possível ser muito emocional em relação ao futebol e ao
mesmo tempo pensar o futebol racionalmente.
O torcedor só quer ter uma tarde agradável vendo seu time jogar. A
graça do futebol está no fato de ele ser um esporte com as portas abertas para
o imprevisível. Além disso, há a qualidade catártica do futebol, como uma
expressão simbólica de energias primitivas, até destruidoras.
Os torcedores são atraídos pela imagem do clube, o status dele como
símbolo de uma cidade ou comunidade. Se só os times vencedores tivessem
torcedores a maioria dos estádios do mundo estaria sempre vazia.
O pertencimento clubístico é o sentimento que os torcedores têm de
pertencerem a um clube em particular, sem precisar ser “associados”,
sentimento que se baseia numa escolha aparentemente fortuita, mas que
reflete o desejo de partilhar com outros “iguais” certos códigos, valores e
atitudes. Fazer parte de uma torcida significa, segundo Damo (2002), pertencer
a uma “comunidade de sentimento”, que permite expressar coletivamente as
emoções conflitantes que os torcedores sentem no seu cotidiano.
Geralmente se observa que a própria população das cidades
interioranas não apóia, ou pouco apóia os times do interior e torcem para os
times da capital. No entanto, a peculiaridade do CRAC, é que a população
catalana não segue a risca esta cartilha. Não é característica da cidade de
Catalão torcer para os clubes da capital Goiânia, tais como Goiás, Vila Nova ou
Atlético, pelo contrário, a rivalidade com os times da capital é acentuada. O que
se observa é que muitos torcem para os grandes clubes cariocas e paulistas,
tendo em vista a maior visibilidade dos jogos que são transmitidos pela TV.
Esse fato faz com que a torcida de Catalão seja fanática pelo seu clube no
Estado de Goiás e gera um sentimento de identificação.
VI – Futebol e Política em Catalão
Com o profissionalismo e a nova dimensão social alcançada pelo
esporte, estreitou-se a relação entre política e futebol: por um lado, houve uma
maior aproximação entre dirigentes esportivos e políticos locais; por outro, as
autoridades governamentais passaram a se preocupar com a definição de uma
“política” nacional para o esporte.
É bastante conhecida a simbiose entre a projeção como dirigente
esportivo e a atuação em cargos políticos, simbiose que se tornaria recorrente
na história recente da sociedade brasileira. Hoje existe uma numerosa bancada
da bola no Congresso Nacional que é composta por parlamentares conectados
ao futebol.
É importante frisar que algumas das transformações estruturais mais
marcantes do futebol brasileiro ocorreram durante regimes políticos nada
democráticos. Durante mais de 50 anos, o futebol profissional precisou da
tutela estatal para se estruturar e crescer.
Autores como Elias e Bourdieu, procuram analisar a relação indivíduo e
sociedade, e procuram integrar ações e instituições fundamentais: Relação
entre jogadores; jogadores e torcida; jogadores e técnico; torcedores; todos
estes e a regra; fora deste contexto não há jogo de futebol.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu utilizava a idéia de jogo como
metáfora para o entendimento dos fenômenos sociais. No grupo social é assim:
não há separação entre individuo e sociedade, tudo deve ser entendido de
acordo com o contexto; caso contrário, perde-se a dinâmica da realidade e o
poder de entendimento. Enquanto uma atividade da sociedade, o futebol é a
própria sociedade, sendo expressa através de seus atores, regras, objetos,
ideologias, etc.
O futebol, enquanto modalidade esportiva tem uma grande força
aglutinadora sobre as coletividades, criando uma poderosa identificação entre
esporte e coletividades sociais em geral, além de caracterizar um episodio da
historia social, da inclusão social e étnica, da consolidação da cidadania. Tratase de uma paixão coletiva capaz de mover multidões, mobilizar milhares de
pessoas e encher estádios.
Segundo Santos (1981), estimulando a disseminação do esporte pelas
classes inferiores, a imprensa teria contribuído para que ele funcionasse como
substituto para atividades sindicais e para as maltas de capoeiras que
perturbavam a ordem das grandes cidades brasileiras no início do século XX.
O Estado Novo teria utilizado sistematicamente os eventos esportivos
para difundir seus ideais nacionalistas de integração regional e racial, contando
com apoio de empresários e jornalistas. Santos afirma que o Estado Novo
forneceu as diretrizes básicas para uma utilização política do esporte, ao
perceber no futebol um canal de comunicação com as massas, deixando um
legado que seria seguido por outros governos populistas.
Para o brasilianista Levine (1982), o futebol não é só o ópio do povo
brasileiro, como ainda serve de instrumento da classe dominante para
manipular as massas como forma de sublimar a miséria e as desventuras da
pobreza. Entende que o significado principal do futebol tem sido o uso pela elite
para apoiar a ideologia oficial e dirigir a energia social por caminhos
compatíveis com os valores sociais prevalecentes.
O futebol brasileiro seria um instrumento ideológico utilizado pelas elites
(pensantes) como um meio de desviar a atenção das massas (irracionais) dos
seus problemas sociais. No entanto, penso que não seja aceitável reduzir o
futebol a um elemento alienante que seria o ópio do povo. Futebol é muito mais
que isso. Por outro lado, não podemos desprezar também a sua força política a
serviço de interesses exclusivos de alguns comandantes. Usar politicamente o
esporte não é uma novidade.
Não teria nexo dizer que o CRAC nasceu com o intuito de ludibriar os
interesses sociais e políticos da sociedade catalana, mesmo porque, assim
como a maioria dos clubes brasileiros, o futebol começa em Catalão como
esporte praticado pelas elites. O futebol, assim como qualquer outro esporte
não pode ser interpretado de forma linear. O esporte não é em si mesmo
alienante, o problema é o uso político que se faz dele.
Os clubes são sociedades civis com duração temporal indefinida,
personalidade jurídica e patrimônio distinto de seus associados.
Possuem
estatutos e conselhos deliberativos. Geralmente esses conselhos deliberativos
priorizam as ideias diretivas da cúpula diretiva e não representam a vontade e
os interesses dos torcedores. No entanto, está havendo uma transição política
que
passa
a
exigir
a
implantação
de
processos
de
modernização
administrativa, assim como a profissionalização de gestões em diferentes
departamentos. Nesse sentido, o futebol passa a ser visto como um negócio e
passa a ocupar um espaço privilegiado no mundo global das empreitadas
capitalistas e na industria do entretenimento.
Quando pensamos a relação entre futebol e política percebemos que
esses elementos continuam caminhando juntos, em alguns lugares é muito
mais evidente do que em outros. Na cidade de Catalão/GO é destacada a
influência da prefeitura na gestão e ingerência econômica no clube. Esse fato
já se tornou uma tradição a ponto de alguns torcedores deixarem claro que
política e futebol caminham juntos na cidade. Sem a prefeitura o CRAC não
existiria.
Campeão da segunda divisão goiana em 2003, o título da primeira veio
logo em 2004. Para isso, foi fundamental o apoio de Adib Elias (PMDB)5, então
prefeito de Catalão. Gandula do CRAC em seus tempos de adolescente, Adib
não deixou que salários e prêmios do clube atrasassem e ainda deu apoio em
algumas contratações. Neste mesmo ano, Adib foi reeleito prefeito de Catalão
com quase 80% dos votos válidos.
5
Desde criança, quando gandula do CRAC, que já era sua paixão, se tornou fanático torcedor
do Leão. Adib cresceu jogando futebol, e quando jovem, jogava rachas e peladas na quadra
que existia na praça de Esportes do Leão. Como prefeito elevou o time à 1ª Divisão dando
apoio moral, financeiro e jurídico, fazendo com que o time se sagrasse campeão da 2ª Divisão.
Hoje o CRAC é um clube financeiramente livre de dívidas, com pagamentos em dia de todos os
compromissos, tudo graças ao incentivo e conduta implantada pelo prefeito Adib Elias Júnior.
Para o prefeito, o clube pode ser definido “como o resultado de uma história de sucesso,
construída com muita luta e sacrifício, e pela paixão de seus torcedores os quais se mantêm
fiéis ao compromisso de fazer cada vez mais uma equipe responsável e profissional, e
fortalecer o seu nome, dando credibilidade e seriedade. Tudo isso para corresponder às
expectativas dessa grande torcida apaixonada que vive intensamente uma paixão chamada
CRAC”. Fonte: Revista Bicampeão / Revista Clube Recreativo e Atlético Catalano - Uma
Paixão.
A cidade ficou em polvorosa: “O título foi uma loucura. O Adib ajudava o
time e dava comida e ônibus pra torcida acompanhar quando jogava fora
de Catalão. E o povo vai mesmo”, relembra Zé Preto. A cultura do
futebol na cidade é realmente bem forte, como afirma o aposentado
Adão Gonçalves: “As empresas dão uma ajuda, a prefeitura sempre
ajuda, o povo gosta mesmo. E não tem nada pra fazer aqui no domingo,
só barzinho. Aí enche o Genervino”. Zé Preto arremata: “Em dia de jogo,
o povo vai de uma vez. Desce todo mundo do centro, duas horas antes
do jogo já tá todo mundo descendo. Vai homem, mulher, criança. Só não
vai evangélico”.6
Hoje, a Prefeitura de Catalão administra o CRAC num contrato de
comodato que o cede por 20 anos. É o Poder Executivo, então, que banca
grande parte do investimento, trata dos problemas e busca patrocínios para o
clube. Em 2001, quando Adib Elias assumiu pela primeira vez como prefeito,
fez o acordo e cobriu a dívida do clube, que já ultrapassava os 500 mil reais.
“Claro que parte da população critica, mas em Catalão tem coisas que não dá
pra não ajudar, que são a paixão do catalano. O CRAC é uma dessas coisas”,
defende o secretário de Esportes, José Borges.
Quando questionado se o esporte pode ser plataforma eleitoral, José
Borges desconversou: “É mais barato que recuperar, gera economia com
saúde, com problemas sociais no futuro”. Para o secretário, esporte não é um
gasto simples, mas sim prevenção e investimento.
Recentemente o TRE negou o registro da candidatura de Adib Elias ao
Senado pelo PMDB em 2010 em razão de condenação do Tribunal de Contas
dos Municípios, que rejeitou as suas contas como prefeito de Catalão e
apontou atos de improbidade administrativa. Adib devolveu R$ 126.327,40 aos
cofres da Prefeitura de Catalão. A sua estratégia, ao fazer a devolução, é tentar
aprovar as contas da sua gestão e afastar os processos a que foi condenado
por improbidade administrativa, no âmbito do Tribunal de Contas dos
Municípios. Entre as várias denúncias, está o fato de ter contratado um time de
futebol, o CRAC de Catalão, para prestar serviços de transporte escolar.
6
Este depoimento é de Zé Preto, um dos mais ilustres e antigos torcedores do CRAC de
Catalão, publicado na Revista Reportagem de 20 de Setembro | 2010 | Edição VIII, Brasília. Zé
Preto afirma que mora em Catalão há 45 anos e há 45 anos freqüenta os jogos do CRAC.
Considerações Finais
Sem dúvida, as discussões sobre futebol são referenciais importantes
numa sociedade como a brasileira, tais como as representações sociais que
fazemos o tempo todo nos assuntos relacionados a esse esporte. O futebol
ensinou, em certa medida, um pouco de democracia ao Brasil. O jogo, que
sempre começa em zero a zero e submete as duas equipes às mesmas regras,
coloca seus praticantes em condições de igualdade no momento da disputa.
Mas a relação entre futebol-empresa e democracia é bastante delicada. É
preciso muito cuidado ao afirmar que o futebol tem sido um “espaço
democrático”. Um argumento falacioso para sustentar a tese de que o futebol
tem sido um esporte democrático é a constatação de que a paixão pelo time
perpassa todas as classes sociais, e o sentimento de que um time não
pertence apenas aos seus associados, mas a toda uma nação de torcedores.
Formula-se um quadro imaginário fornecido pelo esporte (e por outras
atividades de lazer), destinado a autorizar a excitação. Isto acontece em função
da representação de muitas situações da vida real, só que sem os seus perigos
e riscos. Isto é o mesmo fenômeno que Geertz (1989) descreveu para os
balineses, que afirmavam que “as brigas são como brincar com fogo, porém
sem o risco de se queimar”. Seria então possível preservar no imaginário
popular a ideia do futebol como “festa do povo”, na qual as diferenças de status
e credo são momentaneamente suspensas, no qual é permitido expressar a
indignação e extravasar emoções?
Se pensarmos a partir de Clifford Geertz, antropólogo americano,
poderemos afirmar que o futebol é, ao mesmo tempo, um modelo da sociedade
e um modelo para uma determinada sociedade apresentar-se. O futebol seria
assim, parte da teia de significados que os seres humanos, em sua dinâmica
social, vão construindo, constantemente atualizando e revivendo, teia essa que
constitui a própria cultura de um povo.
De acordo com Geertz, a cultura é pública porque o significado também
o é. Somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e nos
acabamos através da cultura – não através da cultura em geral, mas através de
formas altamente particulares de cultura.
A partir dessas incursões iniciais desse projeto de pesquisa, onde os
atores ainda não tiveram sua voz transcrita no texto, nem o relato de suas
vivências, perspectivas, projeções e representações, vários aspectos já se
levantaram para a continuação desse trabalho.
A proposta inicial desse artigo foi ressaltar a inferência política em um
clube pequeno de uma cidade de porte médio do interior do Brasil e que
representa o 5º. PIB do Estado de Goiás. Espero que esse objetivo tenha sido
alcançado, muito mais no sentido de instigar os leitores do que propriamente
oferecer diagnósticos e críticas no sentido de alterar algo que se constrói
historicamente, mas que também não pode deixar de ser problematizado e
refletido, mesmo que o futebol seja um objeto de estudo, ainda visto por muitos
com certo desprezo e identificado como um campo de pesquisa de pouca
representatividade científica no campo das Humanidades.
O futebol não é apenas um mero espetáculo consumível, embora aja um
esforço premente nessa direção. O futebol consiste num fato da sociedade,
linguagem franca de domínio público, dos fundamentos às representações
coletivas, que reencanta a dimensão da vida cotidiana através da sua estética
singular.
Nos últimos anos tem crescido no Brasil o interesse dos estudiosos das
ciências humanas em relação ao futebol. No entanto, esse fenômeno ainda
apresenta carência de estudos que o tomem como uma entidade com status
científico que produza, reproduza e veicule significados públicos da população.
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