OFICINA DE MEMÓRIA COMO RECURSO TERAPÊUTICO DE TERAPIA OCUPACIONAL NA FACULDADE DA TERCEIRA IDADE XIII INIC / IX EPG - UNIVAP 2009 Autor: Lucianne de Carvalho Querubino de Oliveira. Orientador: Maria Lucia Alvarenga Michalichen. Universidade do Vale do Paraíba/ Faculdade de Ciências da Saúde Campus Urbanova Av. Shishima Hifumi, 2911- Urbanova CEP: 12244-000 São José dos Campos - SP tel.: (12) 3947-1000 Resumo- A Terapia Ocupacional é uma das profissões que compõe os programas de reabilitação do idoso. Entre os procedimentos que têm como mote fundamental manter a sua independência e autonomia o maior tempo possível, está o engajamento do idoso em atividades significativas que treinam funções sensóriomotoras, perceptivas, cognitivas e sócio-afetivas. Segundo David G. Amaral, ( in Princípios da Neurociência, pg331) no nosso Sistema Nervoso Central, existem “sistemas modulatórios”, envolvidos na analise do significado emocional ou motivacional dos estímulos sensoriais e na coordenação das ações de uma variedade de sistemas encefálicos que permitem ao indivíduo dar uma resposta apropriada a diferentes situações do seu cotidiano. Atenção e motivação interagem com os sistemas sensoriais e motor, sendo fundamentais para o nosso entendimento de aprendizagem e armazenamento de memória. A Oficina de Memória utilizada como recurso terapêutico com abordagem dos cinco sentidos (visão, tato, olfato, audição e paladar), proporcionou conteúdo elucidado aos seus participantes, contribuindo para maximizar a independência e autonomia dos idosos, favorecendo a vivência da corporeidade e o melhor conhecimento de si mesmos no meio em que cada qual está inserido, possibilitando o resgate das memórias que fazem parte do acervo reunido ao longo do exercício dos papéis sociais de cada um. Palavras-chave: ( Idoso, memória, os cinco sentidos). Área do Conhecimento: Terapia Ocupacional. Introdução Com o desenvolvimento da tecnologia e da medicina, Serviços sanitários e de Saúde, o controle de muitas doenças fatais melhorou nas últimas décadas, aumentando a expectativa de vida de homens e mulheres. Porém, com o aumento da expectativa de vida, uma questão é levantada: o envelhecimento sadio. Daí a preocupação crescente em melhorar a qualidade de vida do idoso. Neste contexto a Terapia Ocupacional objetiva agir como um facilitador para a manutenção do melhor uso possível das capacidades remanescentes, extimulando os seus sentidos básicos (tato, olfato, audição, visão e paladar). Facilitando a tomada de decisões de homens e mulheres da terceira idade e lhes assegurando uma conscientização de alternativas realísticas, preliminares, que permitam uma avaliação de mérito. O presente trabalho vem tentar contribuir com a classe acadêmica no intuito de acrescentar informações significativas subtraídas da oportunidade de vivenciar a Oficina de Memória realizada como recurso terapêutico na Faculdade da Terceira Idade, pois como nas palavras de Izquierdo (2002, p.9) “somos aquilo que recordamos”. Neste sentido, a memória desempenha um importante papel, nas construções dos papéis sociais de cada indivíduo, constituindo num acervo das lembranças de suas vivências, fazendo com que cada um seja aquilo que ele é, indivíduo único em sua existência. Metodologia Para a realização deste Trabalho de Conclusão de curso, buscou-se a autorização da Diretoria da Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade do Vale do Paraíba para a execução da Oficina de memória realizada pela aluna autora deste projeto, junto a um grupo de alunos da Faculdade da Terceira Idade. Antes de iniciar foram necessárias pesquisas bibliográficas para coleta de dados teóricos em livros, periódicos e bases eletrônicas de dados como Scielo. Em seguida foi apresentado o projeto de trabalho para aprovação junto à direção da XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Faculdade da Terceira Idade da Universidade do Vale do Paraíba, onde se reúne o grupo com quem este trabalho seria desenvolvido, adultos de ambos os sexos, com mais de 60 anos. A execução das oficinas se deu da seguinte forma: 1ª Encontro: “A Terapia Ocupacional e a promoção da saúde do idoso”. Foi apresentado aos participantes. O que é a Terapia Ocupacional, e sua atuação junto a homens e mulheres na terceira idade. Foi usado “data show” para apresentação do tema abordado contendo fotos de adaptações desenvolvidas por profissionais da Terapia Ocupacional. 2ª Encontro: “Visão”. Com enfoque na importância do uso de associações visuais como estratégias para o melhor desempenho do córtex visual, foram fornecidas informações sobre o funcionamento do mesmo, a seguir realizou-se uma dinâmica onde cada aluno falava seu nome associando-o a um gesto. Com o objetivo de favorecer a lembrança dos nomes de cada colega. Em todos os outros encontros procurou-se relembrar esta atividade fixando assim os nomes dos colegas. 3ª Encontro: “Tato”. Aula esta que contou com abordagem das características da pele como receptor e condutor de impulsos nervosos ao cérebro. Foram oferecidas estratégias visando à manutenção e melhor desempenho desta função. A atividade proposta para esta aula foi a estimulação sensorial por meio do manuseio de argila onde o mote era a produção de estímulos táteis acrescidos da troca de experiências mnemônicas vividas por exemplo, na infância. Os alunos participantes receberam a orientação de realizar esta atividade a principio, em silêncio e de olhos fechados, a seguir todos os alunos experimentaram o manuseio da argila. Observouse o entusiasmo dos participantes que modelaram figuras variadas. 4ª Encontro: “Olfato”. Nesta aula foram discutidas as relações existentes entre o bulbo olfativo e o sistema límbico cerebral. Bem como formas de como tornar o olfato um aliado para as práticas de associação de cheiros à, por exemplo, números de telefones, fornecendo informações para facilitar a memorização. A dinâmica vivenciada baseou-se na experimentação da impressão produzida no sentido do olfato pelas partículas odoríferas quando expostas aos aromas de flores, especiarias como cravo da índia, “pau de canela”, hortelã, orégano, “tempero baiano”, pimenta do reino, entre outros. 5ª Encontro: “Audição”. Encontro em que foram abordadas questões sobre o hipocampo e como o excesso de estímulos pode confundi-lo, enfatizando-se a necessidade de concentração para o aprimoramento deste sentido bem como estratégias para usá-lo como recurso mnemônico. A seguir realizou-se uma atividade valendo-se de 30 sons comuns ao cotidiano dos alunos. Ao serlhes apresentados, um de cada vez, seguido da orientação de escrever, em silêncio, a que se referia o som que acabou de ouvir. A atividade alcançou o objetivo proposto, em meio a um clima de descontração, foi observada assimilação da importância de se introduzir momentos de tranquilidade e concentração ao cotidiano dos adultos idosos que vivenciaram esta experiência. 6ª Encontro: “Fixando as estratégias para melhorar a memória”. Neste dia foi realizada revisão e discussão dos temas abordados. 7ª Encontro: “Paladar”. A abordagem foi sobre o quanto este sentido contribuí para as atividades mnemônicas, fornecendo informações ao córtex por meio dos neurônios interconectados a especificidade deste comportamento, usando diretamente os circuitos e memória mais aguçada. Foram acrescentadas dicas para a melhor eficácia do paladar. Por exemplo, a importância do uso consciente do sal e do açúcar no cotidiano alimentar, visando aprimorar este sentido assimilando o sabor de cada alimento propriamente dito. Em seguida realizou-se um momento de confraternização. Foi possível experimentar alimentos trazidos pelos alunos sob a orientação de que possuíssem memórias sobre os mesmos a serem compartilhadas com os colegas presentes. 8ª Encontro: “Encontro final”. Foi entregue aos participantes o seguinte conteúdo informativo: As falhas de memória que ocorrem na 3ª idade, na maioria das vezes é absolutamente normal, mas frequentemente, por falta de melhor informação nos traz angústias. Prestar mais atenção aos fatos, procurar se utilizar das associações como aprendemos em nossas oficinas e utilizar uma agenda para anotações dos fatos recentes, ajudam a conviver satisfatoriamente com o problema. Aqui vão outras dicas de estratégias para serem utilizadas durante as férias: A contínua atividade intelectual como: leitura, jogos de memória, palavras cruzadas e jogos de estratégia auxiliam a manutenção da memória, sempre procurando estimular nossos sentidos: visão, tato, olfato, audição e paladar. Atividades físicas regulares e dieta saudável são muito importantes para manter a oxigenação do sangue e consequentemente a melhor nutrição do cérebro. 1) Mude sua rotina diariamente. Tome banhos de olhos fechados. Escove os dentes com outra mão. Compre o jornal em banca diferente. Escolha outro trajeto para ir da casa ao escritório. Abasteça o automóvel em outro posto de gasolina. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 Razão: circuitos sensoriais e motores normalmente pouco utilizados serão ativados. De acordo com Lawrence Katz e Manning Rubin, no livro Mantenha o seu Cérebro Vivo, a rotina é um veneno para o cérebro. 2) Quando estiver estudando uma matéria e tiver que passar para outra, faça um resumo do que foi visto. 3) Tente se lembrar dos nomes e das fisionomias dos amigos da infância. 4) Quando tiver que estudar um texto desagradável, faça-o através de perguntas. 6) Antes de dormir, procure relembrar tudo o que aconteceu durante o dia. Reconstrua cenas e diálogos, com detalhes e na ordem em que ocorreram. Os alunos escreveram um texto livre avaliando a oficina freqüentada . Todos os encontros contaram com a apresentação dos temas em “data show”. Resultados Este projeto contou com uma avaliação dos participantes em relação à oficina de memória, sob a forma de texto livre. Cada aluno relatou a importância da mesma em suas vidas bem como, quais as efetivas contribuições inseridas em seu cotidiano. Foi observado conteúdo informativo unânime de aceitação e satisfação pelos objetivos alcançados, em contribuição ao aprimoramento dos cinco sentidos e o desenvolvimento de estratégias mnemônicas. Além de vísivel interesse dos participantes, dada à freqüência dos mesmos aos encontros e a participação nas atividades usadas como recurso terapêutico, tornando o ambiente propício, agradável e descontraído em cada encontro, que por sua vez, contou com trocas de ricas experiências e vivências até então adquiridas por cada sujeito ao longo de suas vidas. Discussão . O Sistema Nervoso Central comanda todo o corpo estando a par da homeostase. O nosso corpo vive em constante homeostase (vários ajustes fisiológicos que servem para restaurar o estado de constância do organismo). Por exemplo, em situações de estress são desencadeadas funções simpáticas (de luta e força), as pupilas se dilatam (para ampliar o alcance visual), ocorre a vaso constrição, diminuindo o fluxo sanguíneo. Podemos pensar que, sendo assim, existem situações do nosso dia a dia em que o sangue que é bombeado em nosso corpo, é distribuído conforme a necessidade do mesmo para aquele dado momento. A mais simples ação envolve a atividade integrada de múltiplas vias sensoriais, motoras e motivacionais no sistema nervoso central (David G. Amaral, in Princípios da Neurociência, pg335). Se compararmos nosso sistema circulatório a uma via (ruas) por onde vão passar os nutrientes e oxigênio que são necessários para o funcionamento do nosso organismo, veremos que somos responsáveis por melhorar nossa qualidade de vida e nos mantermos ativos por mais tempo, “ouvido o som deste trânsito local”. Nosso organismo necessita de: Nutrientes – o que estamos consumindo determina grande parte da nossa saúde. Oxigênio – oxigenação do sangue, para que este leve com maior eficiência os nutrientes necessários ao organismo. Em se tratando de memória, não podemos nunca separar o nosso cérebro do resto do corpo. Ele necessita de constante irrigação sanguínea. Sendo assim, vamos pensar: Em que estamos contribuindo, para que nossas veias e artérias estejam levando nutrição para o nosso cérebro? O que podemos fazer para melhorar? Como podemos exercitar o cérebro para que este permaneça ativo por mais tempo? Como aprimorar os nossos sentidos? O que fazer para lidar com a agústia que muitas vezes acomete o idoso quando as falhas de memória ocorrem e na maioria das vezes é absolutamente normal? Conclusão As atividades oferecidas na Oficina e Memória, contendo abordagem terapêutica de estimulação dos cinco sentidos (visão, tato, olfato, audição e paladar) possuem importante contribuição para a maximização das funções senso-perceptivo e mnemônicas cerebrais. As atividades físicas regulares e dietas saudáveis são importantes para manter o cérebro em atividade eficaz, prestar mais atenção aos fatos, procurar se utilizar das associações, a utilização de uma agenda para anotações dos fatos recentes, etc., ajudam a conviver satisfatoriamente com o problema dos lapsos de memória. Os temas abordados nas oficinas de memória proporcionaram conteúdo elucidado aos alunos da Faculdade da Terceira Idade, enriquecendo-os com novas possibilidades, fato reforçado pelas palavras de Carlos Gomes: A compreensão de que somos capazes de constantes superações faz de nós pessoas mais saudáveis, capazes, alegres e consequentemente, mais amadas.” XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 Agradecimentos À direção da Faculdade da Terceira Idade, e principalmente aos alunos que tanto contribuíram com sua atenção e experiência de vida. Referências Bibliográficas -COLAVITTI Fernanda, da revista Galileu -CORPO HUMANO Enciclopédia Multimídia do – Planeta De Agostini- Ed. Planeta do Brasil LTDA -DELEUZE, 1992;Galletti, 2004). VASCONCELOS Lygia M. da Costa Ribeiro Terapia Ocupacional Aplicada à Geriatria e Gerontologia, Prática Supervisionada Aplicada à Geriatria e Gerontologia. -ÉPOCA Revista n.º 331, 20/09/04, p. 89 a 95. --GUYTON, A.C. Fisiologia Humana. 5ª ed., Rio de Janeiro, Ed. interamericana, 1981. -GARDNER; Gray; Ohahilly – Anatomia Humana -Gomes Carlos, Memorização Dinâmica – A Arte de Valorizar a Tolice. - Ed. Arte Gráfica. -Kendal Éric R. et al Princípios da neurociência –. 4ª Edição. Ed. Manoele. Pg 334. -LAWRENCE Katz e Manning Rubin, Mantenha o seu Cérebro Vivo 5ªed.,2004. -PENSANDO em Adaptações para perdas funcionais do Idoso. (aula Profª Mari Zulian, UNIVAP, curso de Terapia Ocupacional.) XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4