(tipo i) toracolombar grau v em cão

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42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR
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TRATAMENTO CONSERVATIVO E CIRÚRGICO DE HÉRNIA DE
DISCO (TIPO I) TORACOLOMBAR GRAU V EM CÃO – RELATO DE
CASO
LYS DE BARROS FOGAGNOLI1, MILTON MIKIO MORISHIN FILHO2.
1- Graduanda – Medicina Veterinária – Universidade Tuiuti do Paraná
2- Prof Adj. do Curso de Medicina Veterinária – Universidade Tuiuti do Paraná
Resumo - A doença do disco intervertebral (DDIV) é uma das afecções
musculoesqueléticas
degenerativas
mais
comuns
na
medicina
veterinária, sendo a região mais afetada a toracolombar. O prognóstico
depende da severidade dos sinais clínicos, lesões, e agilidade no início
do tratamento. Relata-se o caso de um paciente com DDIV inicial em
grau II e evolução para grau V após tentativa de tratamento
conservativo. A literatura indica a cirurgia descompressiva em até 48
horas da lesão, mas neste paciente a hemilaminectomia foi realizada 52
dias após os primeiros sinais. Contrariando o prognóstico, após 4 meses
o paciente apresentou melhora parcial no controle da micção e
desenvolveu o andar medular, com consequente melhoria na qualidade
de vida, o que indica que pacientes com lesões com maior tempo de
evolução podem ser candidatos a cirurgia descompressiva.
Palavras-chave: discopatia, coluna vertebral, hemilaminectomia, cão.
CONSERVATIVE AND SURGICAL TREATMENT IN DISC
HERNIATION (TYPE I) THORACOLUMBAR IN DOG - CASE REPORT
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Abstract - The disease intervertebral disc (IVD) is one of the most
common degenerative musculoskeletal disorders in veterinary medicine ,
being the most affected thoracolumbar region. The prognosis depends
on the severity of the clinical signs, lesions and speed at the start of
treatment. We report the case of a patient with initial DDIV in grade II
and progression to grade V after attempt to conservative treatment. The
literature indicates decompression surgery within 48 hours of the injury,
but in this patient hemilaminectomy was held 52 days after the first signs.
Contrary to the prognosis after four months the patient showed partial
improvement in controlling urination, with consequent improvement in
quality of life, indicating that patients with lesions with greater evolution
time may be candidates for decompressive surgery .
Keywords: disc disease , spine , hemilaminectomy , dog
Introdução – A DDIV é caracterizada pela extrusão ou protrusão discal.
Pode acometer os discos vertebrais cervicais, torácica e lombares,
sendo a região toracolombar (de 65 a 80% dos casos) (Slatter, 2007).
Pode ser classificada como I (mais leve) a V (mais grave), classificação
importante para determinar a escolha do tratamento mais adequado.
Geralmente atinge animais entre três e sete anos (Slatter, 2007). O
tratamento conservativo está indicado para animais com apenas dor
aparente, mas que ainda mantenham deambulação (grau I e II) (Sharp &
Wheeler, 2005), já as técnicas cirúrgicas descompressivas são
indicadas em DDIV em graus I e II (quando não houver resposta ao
tratamento conservativo), III, IV e V (Slatter, 2007).
Relato de caso - Cão da raça Teckel, macho, seis anos, 10,6 Kg,
apresentou ao exame neurológico, estado mental normal, ataxia
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proprioceptiva em membros pelvicos, reflexo (r) patelar aumentado
bilateral, r.flexor presente nos 4 membros, r. perineal presente e dor a
palpação em região toracolombar e retenção urinária. No exame
radiográfico sedado, observou-se opacificação de forâmen intervertebral
em T13- L1, e calcificações de discos intervertebrais em T12-13, T13L1, L1-2, L2-3 e L3-4 e discretos osteófitos ventrais ao longo da coluna
toracolombar. O tratamento instaurado foi o conservativo, com restrição
total de espaço por 30 dias e movimentação. Administrado prednisona
2mg/kg na seguinte forma: BID por dois dias, após SID durante 3 dias e
a cada 48 horas por 4 dias, Etna® (2,5 mg/kg SID) e cloridrato de
tramadol (3 mg/kg TID), ambos até novas recomendações. Após 15 dias
do início do tratamento, houve evolução do quadro para grau V. Devido
à impossibilidade do proprietário em realizar a cirurgia, o paciente
seguiu em tratamento conservativo até a possibilidade de intervenção
cirúrgica. O tratamento que se seguiu apenas foi Etna®, fisioterapia e
acupuntura, porém sem mudança no quadro neurológico. Realizada
tomografia computadorizada em região de coluna toracolombar, que
confirmou estenose de aproximadamente 90% do canal medular ventro
lateral esquerdo. A hemilaminectomia foi realizada 52 dias após
diagnóstico inicial permanecendo sob cuidados intensivos por 48 horas,
pelo risco de mielomalácia pós-operatória. Administrado cloridrato de
tramadol, 3mg/kg TID por 5 dias, meloxicam 0,1 mg/kg SID por 5 dias,
cefalexina 30mg/kg BID por 10 dias, Etna® 1 comprimido, SID por 120
dias. Não foi observada nenhuma complicação pós operatória. Sete dias
após a cirurgia, paciente já não apresentava mais sinais de dor em
coluna toracolombar e apatia. Em 15 dias, houve melhora do tônus
muscular. Em 30 dias, os membros pélvicos começaram a apresentar
sinas de resposta a estímulo, com início de movimentação inconsciente
(resposta medular). Em 90 dias, animal desenvolveu o “andar medular”.
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Após 9 meses, animal não reabilitou a propriocepção, dor superficial e
profunda, mas recuperou controle parcial da micção. Consegue andar
com um pouco de dificuldade e ter certa autonomia sem depender
integralmente da cadeira de rodas.
Figura 1Tomografia e radiografia de paciente com DDIV toracolombar evidenciando as lesões (setas)
Discussão- Poucos profissionais indicam a cirurgia em lesões de grau V
mais crônicas. Slatter (2007) não indica a intervenção cirúrgica em
lesões desse grau com mais de 48 horas, até mesmo considerando a
eutanásia como alternativa, porque as chances de recuperação
diminuem drasticamente depois desse tempo. Além do caso relatado,
outros dois artigos mostram resultados positivos em lesões com mais de
48 horas: No primeiro, Voll (2010) avaliou a evolução do quadro de 60
cães, divididos em dois grupos de 30 animais: um com cirurgia
descompressiva
em
até
48
horas,
e
outro
com
cirurgias
descompressivas após 48 horas de evolução e concluiu que “a alegação
de que ausência de percepção à dor profunda (PDP) por mais de 48
horas impede a recuperação funcional é imprecisa”. No segundo, Santos
e colaboradores (2012) avaliaram a evolução do quadro de 15 animais
paraplégicos,
sem
percepção
à
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dor
profunda,
submetidos
a
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hemilaminectomia, dos quais 7 apresentavam lesão superior a 48 horas.
Seis tiveram algum grau de recuperação funcional. Concluíram que
“cães paraplégicos sem PDP em decorrência da DDIV toracolombar
podem apresentar recuperação funcional satisfatória quando submetidos
ao tratamento cirúrgico mesmo sem percepção a dor profunda com
tempo superior a 48 horas.”.
Conclusão- A descompressão cirúrgica apresenta bons resultados,
constituindo sempre uma opção de tratamento. Apesar da literatura não
o indicar em lesões com mais de 48 horas, pode haver sucesso nesse
tipo de terapia principalmente na recuperação das funções fisiológicas,
justificando sua indicação para lesões mais graves, mesmo sem
percepção de dor profunda por mais tempo. Todo paciente (exceto em
casos de restrições financeiras ou alterações graves na saúde geral do
paciente) deve ser considerado apto à intervenção.
REFERÊNCIAS
SANTOS, Rosmarini P. et al. Recuperação funcional de cães
paraplégicos com doença do disco intervertebral toracolombar sem
percepção à dor profunda submetidos ao tratamento cirúrgico: 15 casos
(2006-2010). Pesq. Vet. Bras. 32(3):243-246, março 2012.
SHARP, Nicholas J. H.; WHEELER, Simon G. Small Animal Spinal
Disorders. 2ª edição. Londres. Ed. Elsevier, 2005.
SLATTER, Douglas. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. 3ª
edição, v. 1. Barueri. Ed Manole, 2007.
VOLL, Juliana. Recuperação funcional em daschunds paraplégicos sem
percepção de dor profunda submetidos à hemilaminectomia.
Dissertação para mestrado em ciências veterinárias. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012
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