210 ARTIGO ________________________________________________________________________________ O resgate das brincadeiras tradicionais para o ambiente escolar Eliziane Pereira dos Santos Felipe Aliende de Matos Viviane Cristina de Almeida INSTITUTO ADVENTISTA DE SÃO PAULO Resumo Para o bom desenvolvimento de nossa pesquisa, temos por referencial metodológico a pesquisa bibliográfica, sendo o mesmo constituído de livros, textos, artigos científicos e monografias, relacionadas a Brincadeiras Tradicionais e a Educação Física, e temos como proposta e objetivo geral deste estudo, resgatar para a realidade da Educação Física escolar as Brincadeiras Tradicionais e fazer com que as crianças vivenciem nas escolas, brincadeiras que lhe trarão um desenvolvimento harmônico visando os aspectos físicos, morais, cognitivos e sociais, sem precisar fazer das aulas de educação física, algo monótono e tecnicista. Palavra-Chave: Educação Física, Brincadeira e Educação Abstract For the sound development of our research, we have a methodological reference to literature search, and it consists of books, documents, scientific papers and monographs, related to Traditional Games and Physical Education, and as we have proposed and aim of this study, to redeem the reality of Fitness school Transactional and the Games to make children experiencing school, it will play a harmonic development aimed at the physical, moral, cognitive and social, without the need to make physical education classes, somewhat monotonous and technicist. Key Words: Physical Education, Just kidding and Education Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 211 Introdução Deparando-nos com a sociedade em que vivemos, onde a tecnologia é o centro das atenções de nossas crianças observamos que a importância das brincadeiras tradicionais é muito grande, o que, no entanto, muitas pessoas na sociedade desconhecem. Sendo assim, as aulas de educação física poderiam influenciar no resgate dos valores culturais e o melhor desenvolvimento das crianças da sociedade. Pois, é lamentável o fato de que estas brincadeiras tradicionais não se tenham sido incorporadas ao conteúdo pedagógico das aulas de Educação Física. Pois, aprender a trabalhar com essas brincadeiras poderia garantir um bom desenvolvimento das habilidades motoras sem precisar impor as crianças uma linguagem corporal que lhes é estranha (FREIRE, 2003). Nesta perspectiva pesquisamos então, o papel das brincadeiras dentro do universo infantil, facilitando o grau de compreensão da criança e enriquecimento do conteúdo pedagógico da escola, procurando resgatar as brincadeiras tradicionais para o ambiente escolar. Portanto, para que as brincadeiras tradicionais ocupem seu espaço na Educação Física escolar, dando suporte no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, o professor é a figura fundamental. I. Resgate Histórico: Lúdico, Jogo e Brincadeira Considerada como parte da cultura popular, a Brincadeira Tradicional guarda de certa forma, alguns costumes espirituais de um povo em certo período histórico, e para nós, algumas destas brincadeiras tem seu período histórico desconhecidos. Principalmente aqui no Brasil por ser um país de grande mistura de raças, fica bem difícil saber sobre as origens destas brincadeiras. O primeiro indício de brincadeiras veio com o folclore lusitano com os primeiros colonizadores, incluindo contos, histórias, lendas, superstições e também os jogos, festas e valores. Não se conhece a origem destes jogos. Seus criadores são anônimos. Sabe-se apenas que são provenientes de praticas abandonadas por adultos, de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos. A tradicional idade e universalidade dos jogos assentam-se no fato de que povos distintos e antigos como da Grécia e orientes brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas, e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Estes jogos foram transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil. (KISHIMOTO, 2003, p.15) Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 212 Ou seja, segundo a mesma autora, jogos e brincadeiras infantis provêm dos tempos passados, de fragmentos de contos, mitos, praticas religiosas e culturais, sendo fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil, tanto no aspecto físico e motor, quanto também no aspecto cultural. Velasco (1996), afirma que na antiguidade as crianças brincavam e participavam das festividades, lazer e jogos dos adultos, mas ao mesmo tempo tinham também um espaço reservado para que elas realizassem suas próprias atividades. O que incluía nestas atividades o que hoje chamamos de brincadeiras populares, pois naquela época a brincadeira era considerada um elemento cultural, do riso e do folclore. Enfim, podemos notar então, que as brincadeiras utilizadas naquela época, ainda hoje se fazem presentes em nosso dia-a-dia, porém com um fim diferente, mas como o mesmo prazer trazido á criança. Mas este seria um entre centenas de outros jogos como, por exemplo, as Cantigas de Roda, o jogo de Pedrinhas e o Amarelinho, que estão lutando por sua existência em nossa sociedade, recheada de jogos eletrônicos e computadores. Desde tempos passados, a educação reflete a transmissão da cultura, o acervo de conhecimentos, competências, valores e símbolos. E entre os métodos de se transmitir esta cultura, há as Brincadeiras Tradicionais que até hoje, tem um objetivo muito importante na educação, por auxiliar no desenvolvimento motor, social e afetivo da criança. Portanto, no conjunto destas atividades, podemos notar quem há três formas de expressão muito usadas em nossa sociedade, que são: jogo, brincadeira e lúdico. Porém, o que significa cada uma delas, será o que iremos buscar responder nesta etapa de nosso trabalho. Kishimoto (2000), afirma que definir a palavra brincadeira ou jogo não é tarefa fácil. Pois quando se pronuncia estas palavras, cada um pode entendê-la de modo diferente. Vamos então buscar o que autores afirmam a este respeito, buscando identificar cada palavra com um significado. Mas vamos começar com o lúdico, definiremos esta palavra para clarear nosso interesse de investigar brincadeiras e jogos. 1.1. Lúdico O lúdico é uma atividade que nos concede o prazer de estarmos realizando-a, nos proporciona um momento de descontração, onde realmente conseguimos atingir a Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 213 recreação em sua totalidade, sendo uma atividade livre, ajustada ao nosso gosto e maneira, sendo esta, um jogo ou uma brincadeira. Porém além de estarmos em um momento de recreação estará passando por momentos de desenvolvimento, conhecimento e muita aprendizagem. Quando estivermos passando para nossos alunos atividades que além do prazer, lhe trarão conhecimentos para a vida, estaremos trabalhando com eles o lúdico. [...] o lúdico esta distante da concepção ingênua de passa tempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. Ela é uma ação inerente na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo. (ALMEIDA, 2000, p.13) 1.2. Jogo O jogo pode ser visto como um instrumento pegagogico muito rico, que todos os professores podem utilizar para desenvolver em seus alunos varias habilidades e trazer varios conhecimentos, pois o jogo é reconhecido como meio de fornecer a criança um ambiente agradável, motivador e prazeroso que possibilita a aprendizagem de varias habilidades. É difícil estabelecer-se que uma determinada atividade é uma brincadeira, um pequeno jogo ou um grande jogo. Para podermos definir, temos que ver como esta atividade será desenvolvido no caso estudado e assim chegar a uma conclusão. O próprio professor pode utilizar uma mesma atividade em forma de brincadeira, pequeno jogo ou grande jogo, adaptando-a ao publico a ser atingido. Para transformar uma brincadeira em jogo ou vice—versa, basta utilizar as regras de acordo com as características da atividade. (CAVALLARI e ZACHARIAS, 1994, p.57) Podemos observar na abordagem feita pelos autores que há sim uma diferença entre jogos e brincadeiras, porém, o que faz a atividade ser uma coisa ou outra, é o próprio professor e a faixa etária a ser atingida por ele. Podendo este variar a mesma atividade como jogo ou brincadeira. 1.3. Brincadeira Tudo o que leva a criança a pensar, descobrir, inventar, e procurar soluções para situações problemas que há nas brincadeiras e jogos, é muito importante na sua formação psicomotora, e no conhecimento infantil, e isso só a brincadeira pode fazer e Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 214 muito bem, com espontaneidade, sem compromisso e obrigatoriedade, pelas atividades individuais e atividades em grupos seguindo de suas vivencias, a criança consegue alcançar movimentos que são desenvolvidos em aulas tecnicistas, por exemplo, em escolinhas de esportes, enquanto brincam. E por ser de interesse da criança, promove a atenção e concentração da mesma, levando-a a criar, pensar e conhecer novas palavras, situações e habilidades. O valor da brincadeira dá-se em três aspectos: desenvolvimento, socialização e aprendizagem. Brincando a criança desenvolve suas capacidades físicas, verbais ou intelectuais. Quando a criança não brinca, ela deixa de estimular, e ate mesmo de desenvolver as capacidades inatas, podendo vir a ser um adulto inseguro, medroso e agressivo. Já quando brinca a vontade, tem maiores possibilidades de se tornar um adulto equilibrado, consciente e afetuoso. (VELASCO, 1996, p.78) Sendo assim, notamos que entre as diversas discussões sobre a diferença entre brincadeiras e jogos, e analisando estas várias abordagens a respeito destas atividades, concluímos que nas brincadeiras podemos ver que ela simplesmente acontece e segue se desenvolvendo enquanto houver interesse por ela. Também não tem um fim determinado, a brincadeira acaba quando todo mundo cansa, e as crianças são livres podendo colocar ou não regras nela, podendo assim ter várias mudanças de acordo com o interesse do momento e com a vontade dos participantes. Diferenciando-se, o jogo busca sempre um vencedor, tendo já em mente o final da atividade. O jogo também tem regras já estabelecidas e raramente são mudadas, e se assim desejarem, o jogo deverá ser interrompido e depois reiniciado. Portanto, para esclarecimento deste estudo iremos concluir esta etapa dizendo que o jogo e a brincadeira são elementos distintos podendo estes estar na mesma atividade. Pois o jogo é sim uma atividade em que envolve mais competição, porém não deixa de ter a ludicidade - ou seja, trazer um bom aprendizado para quem o pratica quando esta é envolvida pelo educador ao desenvolver sua aula. Já a brincadeira em todo o seu contexto é uma atividade lúdica, porém esta com pouco menos competição, e sim, o simples gosto de estar brincando, sendo sozinho, com um colega, ou com um grupo de amigos. Sendo esta de muito prazer ao realizá-la, traz a criança todo o desenvolvimento necessário, e sem qualquer esforço. Independente de sociedade, época ou cultura, a criança sempre brincou. E isso sempre trouxe a ela conhecimentos que ninguém lhe transmitira. Sem contar que ela irá aprender da forma que mais gosta: brincando. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 215 Sabendo que a criança é um ser que sempre brincou, que brinca e irá brincar sempre, podemos afirmar que o brincar é muito importante na formação da mesma. Por isso daremos continuidade em nosso trabalho relatando a importância do brincar no processo educacional da criança, ou seja, a importância da criança ter na escola o espaço para fazer do jeito que ela mais aprende. II. A Importância do Brincar no Processo Educacional Os vários tipos de brincadeiras que as crianças desenvolvem têm mostrado como elas se constituem como indivíduos, pois quando a criança chega a fase da préescola ela já traz consigo toda uma história, ou seja, um conhecimento que foi construído a partir de suas vivências em seu meio familiar e cultural, e grande parte desta historia é montada através de brincadeiras. O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações de ensinoapredizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança aprende de modo intuitivo adquire noções espontâneas, em processos interativos envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la. (KISHIMOTO, 2000, p.36) A brincadeira se constitui num exemplo de uma atividade no qual a criança poderia ser vista como se estivesse num mundo só seu. Mas, estudada em detalhes, ela tem revelado como as crianças estão engajadas umas com as outras, construindo e compartilhando significados. De acordo com a citação de Lopes (2001, p.35), o jogo e o exercício, é a preparação para a vida adulta. “A criança aprende brincando, e é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades.” Os educadores gastam muitos anos com um só método de ensino, e por isso, hoje a maior preocupação está em descobrir qual o método de ensino mais eficaz para o desenvolvimento da criança. As variadas metodologias podem ser ineficazes se não forem adequadas ao modo de aprendizagem de cada criança. Entretanto, uma forma de abordarmos um grande número de criança no momento da aprendizagem é usar o que elas nunca deixaram de fazer: o brincar. A criança sempre brincou independente de épocas ou de estruturas de civilização esta é uma característica universal; portanto, se a criança aprende brincando, por que então não ensinar da forma em que elas aprendem melhor? “A criança vive para brincar, e é através do jogo que se manifesta plenamente e se desenvolve.” (VELASCO, 1996, p.96) Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 216 Também Zacharias (2007) diz que educadores estão de acordo em dizer que o jogo infantil é uma atividade física que favorece o desenvolvimento pessoal com a sociedade de forma harmoniosa. A criança evolui com a brincadeira e a brincadeira se evolui integrado ao seu desenvolvimento, a brincadeira esta na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo. Através das brincadeiras a criança explora os objetos que a cerca, melhora sua agilidade, experimenta seus sentidos e desenvolvem seu pensamento. Em algumas vezes, estando sozinho, e em outras vezes estando na companhia de outras crianças, desenvolvendo comportamento em grupo. Por isso e de grande importância que os educadores utilizem destas brincadeiras ou jogos como algo privilegiado em sua intervenção educativa. Pois apesar destas atividades serem espontâneas nas crianças, isso não significa que o professor não necessite de uma atitude ativa sobre a criança, inclusive, a observação do comportamento delas nestas atividades permitira conhecer mais sobre as crianças com a qual trabalha. Brincar faz parte de toda à infância de uma criança, pois assim a criança aprende de si mesma, e sobre as pessoas que a cercam. Sendo assim, não podemos separar o brincar da Educação Física escolar, pois é nestas aulas que as crianças passam a maior parte do tempo de seu dia, pois muitas destas crianças não têm a vivencia destas brincadeiras tradicionais em casa, pois preferem estar em frente ao computador ou assistindo televisão, e muitas vezes, é pelo fato da sociedade ter abandonado estas brincadeiras que fazem parte de sua própria cultura, e por não haver mais espaço para que as crianças brinquem na rua, pelo aumento de uso de automóveis, o que acaba colocando medo nos pais, preferindo que seus filhos fiquem dentro de casa. Por isso, o professor deverá contemplar a brincadeira como principal item das atividades didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais das crianças. Assim como Piccolo (1995) afirma quando diz que o professor deve prever o compromisso que cada uma das atividades de seu conteúdo tem com a formação do ser humano, e deve abrir a possibilidade de executar dentro de seu plano de aula todas as operações importantes no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades. As aulas de Educação Física Escolar, portanto, deverá ser o lugar que promova às crianças o espaço necessário para que elas possam brincar, correr, pular, explorar todas as suas habilidades e conhecer mais sobre sua cultura, e a melhor forma de chegar a estes objetivos é através das brincadeiras populares e tradicionais. No próximo ítem, falaremos sobre a relevância destas brincadeiras para a Educação Física Escolar. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 217 III. Relevância das Brincadeiras Tadicionais para a Educação Física Atualmente a Educação Física escolar deixou de ser aquele espaço de novas experiências de movimento – onde o aluno se integra socialmente, desenvolvem seus domínios cognitivos, motor afetivo – social, com oportunidade de criar, experimentar, tomar decisões, avaliar e se relacionar – para ser o espaço reservado às crianças que possuem bom desempenho no esporte, geralmente escolhido pelo professor para preparar equipes competitivas ou demonstrativas representando a escola. É claro que isso vem contrariar o que diz a legislação, tornando-se uma pratica discriminatória, ou seja, oferecendo atividades apenas aos mais habilidosos. O tempo dedicado a Educação Física dentro do currículo é insuficiente se comparado a outras disciplinas, levando-se em conta tudo que pode atingir viando a formação de um individuo independente, reflexivo e critico. (PICCOLO 1995) Através da Educação Física a criança aprende de uma forma diferente do tradicional, por possuir uma pedagogia tal que cativa a todos os alunos, e com isso a aprendizagem torna-se mais prazerosa. 3.1. A Educação Física A Educação Física, assim como as demais disciplinas que compõem o currículo no ensino fundamental, tem como objetivo geral através da ação pedagógica do professor, atuar no processo de formação do aluno. E necessário lembrar, mais uma vez, que este e o objetivo de todos os que convivem no ambiente escolar, eleger como objetivo da educação física a formação integral do aluno, desenvolver seu conteúdo de forma sistematizada, articulada ao projeto pedagógico da escola (PAES, 2001). Freire (2003) faz uma abordagem sobre a importância das brincadeiras na Educação Física escolar dizendo que se uma professora recém contratada for trabalhar em uma escola de primeira infância e não tiver muito conhecimento teórico sobre o assunto ou não tiver uma boa experiência prática, corre sério risco de atrapalhar muito mais do que ajudar, pois as crianças ao arrumarem amiguinhos, se dedicam ao que melhor sabem fazer: brincar. E por sinal faz isto muito melhor que os professores, apesar do pouco espaço físico que as escolar reservam para as atividades corporais. Aprender a trabalhar com as brincadeiras poderia garantir um bom desenvolvimento das habilidades motoras sem precisar impor as crianças uma Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 218 linguagem corporal que lhes é estranha. Do mesmo modo Silva (2003) afirma que toda criança tem o direito de brincar e isso é fundamental para seu próprio desenvolvimento físico, psíquico e social. É muito importante para os alunos das aulas de Educação Física, ter em seus professores a confiança de poder brincar e se expressar, a cada minuto da aula. Brincar com as crianças e permitir o tempo necessário para que elas possam criar, requer do adulto – educador - conhecimento teórico sobre o brinquedo e o brincar e muita paciência e disciplina, observar sem interferir em determinadas atividades infantis, além da disponibilidade para (re) aprender a brincar recuperando/construindo sua dimensão brincalhona. (FARIA, 1999, p.213) Para o professor de Educação Física as brincadeiras são de suma importância para o desenvolvimento do objetivo de aula, que é dar um grande suporte para o desenvolvimento da criança. Por isso, podemos afirmar que há um vinculo muito forte entre a Educação Física e as Brincadeiras Tradicionais, que será o que abordaremos com mais detalhes neste próximo momento. 3.2. As Brincadeiras Tradicionais e a Educação Física Cavalleri (1994) comenta que as rodas e brincadeiras cantadas são atividades em que as pessoas podem cantar e brincar ao mesmo tempo, coordenando sempre as brincadeiras com as musicas entoadas. São compostas por letras simples e acopladas, gestos e movimentação divertida. As rodas e brincadeiras podem ainda ajudar no desenvolvimento da sociabilização e aprendizagem motora (ritmo, coordenação, e desenvolvimento de percepção, observação e atenção). Do mesmo modo diz Freire (2003) ao abordar que a amarelinha basicamente, em termos cognitivos exige da criança coordenação espacial. Poderíamos ter dito ao invés, de em termos cognitivos, termos motores, que daria no mesmo. Ora, a noção espacial que se forma a partir desta relação da criança com o espaço, esta entre outras na base da formação de noções lógicas como a classificação e a seriação. Por isso, o brincar é eminentemente educativo no sentido em que constitui meios para desenvolver a curiosidade e o princípio de toda descoberta, apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana, assim na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. As brincadeiras populares são um fenômeno histórico social de irrefutável significação cultural, independentemente de gênero, ideologia, etnia, credo, raça, condições socioeconômicas etc., e cabe a Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 219 escola socializar os indivíduos com patrimônio cientifico e cultural produzido historicamente pela humanidade, de modo que os homens possam adquirir a autonomia necessária a sua interação e intervenção no processo de construção e direção da sociedade. Sendo que também ao trabalhar com estas atividades eles poderão usar o próprio conhecimento do aluno, aprendendo os seus valores, habilidades, convivência social e coordenação motora, pois a escola é uma grande aliada para o bom desenvolvimento integral da criança, e os professores devem se colocar como os transmissores destes conhecimentos culturais, além de aproveitarem a própria bagagem cultural trazida pelo aluno. E assim como afirma Oliveira (1983), o objetivo mais importante dos professores de Educação Física, é desenvolver a qualidade física de seus alunos. Porém, não é necessário que isto seja feito através de exercícios sem significado, como por exemplo, mandar os alunos correr em volta da quadra para enfatizar a qualidade física chamada de resistência. E principalmente com as crianças, é preciso que, ao professor desejar desenvolver as potencialidades físicas de seus alunos, ele não use exercícios físicos que sejam o fruto de pura imitação mecânica. Mas sim, usar de todas as manifestações culturais, através de danças, cantigas de roda e brincadeiras, para que os alunos consigam se desenvolver sem a pressão de estar fazendo movimentos repetitivos, mas sim de um jeito que toda criança gosta que é: brincando. Portanto, as brincadeiras não só dão prazer às crianças, quanto é parte da cultura lúdica infantil e, utilizá-los é uma forma de resgatá-los. Podem servir como um recurso metodológico destinado a diagnosticar necessidades e interesses dos diferentes grupos de crianças e, também destinado a contribuir para o desenvolvimento da inteligência e de aprendizagens especifica (FRIEDMANN, 1996) Considerações Finais Através deste estudo, buscamos salientar a importância das brincadeiras tradicionais para a Educação Física escolar, pois as mesmas são parte do desenvolvimento integral das crianças, além de propiciar á criança o conhecimento de sua cultura. Pois, ao entrar para a escola a criança já possui certos conhecimentos. Ela traz consigo certa bagagem cultural do meio onde vive, e isso não poderá ser deixado de lado pela escola e principalmente pelos professores. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 220 Nós, como professor temos que ser um especialista em interagir com o aluno sua preocupação deve ser o como fazer para possibilitar uma aprendizagem mais eficiente e mais divertida, é menos trabalhosa para a criança sendo assim o professor acaba se passando por um orientador um guia facilitando da aprendizagem e não o dono da verdade que fica na frente da sala numa aula totalmente centrada na sua capacidade de abordar o tema falando sobre ele. Sendo assim, em torno de todo o conteúdo bibliográfico que levantamos, podemos concluir que o professor de Educação Física, não só pode, como deve se aproveitar da cultura de nosso povo, e da sua sociedade, através das cantigas de roda e brincadeiras, para alcançar seu objetivo de desenvolvimento das habilidades motoras e de raciocínio das crianças. E podemos notar também que em nossa atual sociedade, os professores de Educação Física estão se despertando para esta realidade, e já estão procurando fazer um bom uso das Brincadeiras Tradicionais de nossa sociedade nas escolas. Infelizmente, ainda há alguns professores que desacreditam desta metodologia de ensino para o desenvolvimento das crianças, mas o número de escolas que busca se aperfeiçoar a cada dia mais, em melhores formas de se trabalhar com as nossas crianças, está aumentando. E nós como professores de Educação Física da era atual, não podemos deixar de fazer uso de toda a cultura de nosso povo, através das Brincadeiras Tradicionais, para auxiliar no desenvolvimento integral das crianças em período pré-escolar e escolar. Referências ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica; técnicas e jogos pedagógicos. 10 ed. São Paulo, Loyola, 2000. CAVALLARI & ZACHARIAS. Trabalhando com Recreação. São Paulo: Ícone, 1994. FARIA, Ana L.G. de. Educação Pré-Escolar e Cultura. 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