Acta Scientiae Veterinariae, 2012. 40(Supl 1): s1-s60. ISSN 1679-9216 (Online) Estado epiléptico refratário em uma cadela Verônica Metz Weber¹, Graciane Aiello², Diego Villibaldo Backmann², Rosmarini Passos dos Santos², Amanda Oliveira de Andrades², Alexandre Mazzanti³, Josiane de Oliveira Marques¹, Matheus Macagnan1 & Anieli Luize Polh1 RESUMO Introdução: Estado epiléptico é definido como repetidas crises convulsivas ou uma crise convulsiva com duração superior a cinco minutos. O estado epilético resulta em hipóxia devido baixa oxigenação ocasionada por contrações musculares rápidas, ocasionando edema cerebral. Portanto, esta afecção é caracterizada como uma emergência médica, que requer um tratamento imediato para prevenir morbidades neurológicas graves ou até mesmo óbito. O objetivo deste relato é descrever um caso de estado epiléptico refratário ao uso de benzodiazepínico em uma cadela. Caso: Foi encaminhada ao setor de neurologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) uma cadela da raça Collie, de seis meses de idade, apresentando crises convulsivas recorrentes há cinco horas. A paciente apresentava histórico de crises convulsivas há 20 dias, que se tornaram mais frequentes quatro dias anterior ao atendimento médico. A paciente apresentava histórico familiar de diagnóstico de epilepsia idiopática. Durante o exame clínico foi observado crise convulsiva generalizada do tipo tônica-clônica. A terapia inicial adotada foi a administração de três aplicações de diazepam, na dose de 0,5mg/kg pela via intravenosa (IV) num intervalo de tempo de dois minutos entre elas, porém a paciente voltava a apresentar as crises convulsivas pós este período. Em seguida, optou-se pela administração de infusão contínua com diazepam na dose de 0,5mg/kg/hora, pela via IV, diluída em solução salina 0,9% durante três horas. Ao término deste período iniciaram novamente as crises convulsivas. Portanto, optou-se pela administração de infusão contínua de propofol. Inicialmente realizou-se a indução anestésica com propofol na dose de 3,0mg/kg/IV, seguido de infusão contínua do mesmo fármaco na dose de 0,2mg/kg/minuto pela via IV durante 24 horas. Durante esse período não foram observadas crises convulsivas. Concomitante ao tratamento emergencial, iniciou-se a administração do anticonvulsivante, fenobarbital na dose de 2,5mg/kg/IV, com intervalo de aplicação de 12 horas. Foram realizados exames laboratoriais complementares e não foram observadas alterações. Após 48 horas ao término da terapia inicial, foram realizados exames neurológicos seriados e não foram evidenciadas alterações. Baseado nos dados da resenha, anamnese e por não apresentar alterações neurológicas no período interictal, foi determinado o diagnóstico presuntivo de epilepsia idiopática. Discussão: O tempo decorrente para o controle das crises convulsivas durante o estado epiléptico é crucial na prevenção de dano cerebral permanente. A atividade convulsiva contínua pode ocasonar complicações tais como hipertermia, hipóxia, hiperglicemia, acidose, e colapso cardiopulmonar. O tratamento basea-se na administração de diazepam intraretal ou intravenoso. As crises convulsivas que não respondem a este fármaco, são consideradas refratárias e requerem um tratamento mais agressivo. A infusão contínua de diazepam tem se mostrado efetivo no tratamento de estado epileptico refratário em humanos e animais, porém o mesmo não foi observado neste caso relatado. Fármacos anestésicos de curta duração são comumente utilizados nesses casos, pois apresentam rápido início de ação, meia-vida curta e reduzem acentuadamente as taxas metabólicas cerebrais. A atividade anticonvulsivante do propofol vem sendo descrita como bastante eficácia, e em comparação aos barbitúricos, o propofol controla mais rapidamente o estado epiléptico, além de apresentar depuração mais rápida e menores efeitos hipotensivos. Portanto, neste caso relatado o uso da infusão contínua de propofol foi fundamental para o controle das crises convulsivas recorrentes refratária ao uso do diazepam. Descritores: emergência, neurologia, crise convulsiva, propofol. ¹Acadêmicos em Medicina Veterinária, Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. [ [email protected]]. ²Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da UFSM. ³Professor Doutor do Departamento de Clínica de Pequenos Animais, CCR, UFSM. s60