CAPÍTULO IV INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA NUTRIÇÃO MINERAL 1- Introdução A Nutrição Mineral é uma ciência complexa cuja base se alicerça em princípios bioquímicos e fisiológicos. Devido a natureza complexa da relação solo-planta-atmosfera, estudos na área de nutrição mineral têm envolvido participações de químicos, pedologistas, microbiologistas, hidrologistas e fisiologistas. Os nutrientes minerais constituem, ao lado de outros elementos do ambiente como radiação, temperatura, água e da fração microbiota do solo, os principais fatores da produção vegetal, somados aos fatores de natureza genética. Altas produtividades agrícolas dependem em grande escala da fertilização com minerais. Ao longo da última década, o consumo de nutrientes minerais como N; P; K chegou a ordem dos 143 milhões de toneladas. Do total de nutrientes minerais adicionados no solo através das adubações, menos da metade são absorvidos e assimilados pelas plantas, sendo os restantes, lixiviados por águas superficiais e subterrâneas e uma parte aderida às partículas do solo. Nos Estados Unidos da América, os fertilizantes lixiviados tem contribuído de forma significativa para a contaminação da água, sobretudo, com altos níveis de nitratos. 2- Nutrientes Essenciais A essencialidade é definida como na ausência de um determinado nutriente na planta, esta é impedida de completar o seu biociclo (Arnon & Stout); Epstein; Arnon & Hougland ou ainda, aquele que exerça algum papel fisiológico e/ou bioquímico, é claro. No início da década de 50, Arnon & Hougland na Universidade da Califórnia, Campus de Davis, estabeleceram os critérios de essencialidade, como sendo: a) um elemento é considerado essencial quando ele é parte integrante de uma molécula vital, como o ATP, dentre outras; b) um elemento é essencial quando ele participa de uma reação metabólica como cofator enzimático, como por exemplo, o molibdênio, dentre outros; c) um elemento é essencial quando ele participa de um processo fisiológico em níveis celular, tecido, órgão ou planta inteira. Como exemplo, destaca-se o papel do K no mecanismo estomático e no transporte de assimilados, dentre outros. Dos elementos minerais detectados na biosfera e nos tecidos vegetais, somente 13 são considerados essenciais às plantas. Atualmente, alguns autores, no entanto, afirmam que níquel (Ni), silício (Si) e sódio (Na) podem ser considerados também essenciais. Carbono, oxigênio e hidrogênio, embora não sendo elementos minerais, são considerados nutrientes essenciais, sendo obtidos pelas plantas primariamente a partir do dióxido de carbono e da água. Os nutrientes essenciais são classificados em duas categorias (macronutrientes e micronutrientes), de acordo com a sua demanda e concentração no tecido. No entanto, alguns autores tem tido dificuldades neste tipo de classificação, por ser meramente arbitrária, sendo que em muitos casos, não satisfaz as exigências das plantas. Por exemplo, algumas plantas exigem Fe e Mn em maior quantidade que S ou Mg. Diante desse fato, tem se optado por uma classificação de acordo com suas funções sob os pontos de vista bioquímico e fisiológico. A tabela 4.1, mostra essas duas classificações dos nutrientes, em termos de grupo, a saber: O grupo 1 de elementos essenciais é formado por compostos orgânicos a base de C. As plantas assimilam esses nutrientes por meio de reações bioquímicas, envolvendo reações do tipo redoxi. O grupo 2 é importante em reações de armazenamento de energia e na manutenção da integridade estrutural. Esses elementos estão comumente presentes sob a forma de fosfato, borato e ésteres silicato. O grupo 3 é representado por íons livres ou ligados a substâncias tais como ácidos pécticos da parede celular. Esses íons agem-se como cofatores enzimáticos e na regulação de potenciais osmóticos. Os constituintes do grupo 4, desempenham importantes funções ligadas às reações de redoxi, associadas às cadeias de transporte de elétrons (CTE). Outros elementos como alumínio, selênio e cobalto podem acumular nos tecidos, porém não são considerados elementos essenciais ou nutrientes. A expressão máxima das desordens metabólicas e/ou fisiológicas resultantes da insuficiência ou deficiência de um nutriente na planta conduz ao aparecimento de sintomas característicos. Estes sintomas são decorrentes das funções que esses nutrientes desempenham na planta ou de suas capacidades de translocação ou de retranslocação de acordo com a idade das folhas. De acordo com a mobilidade de cada nutriente na planta, os sintomas de deficiência poderão ser notados em folhas velhas (caso o nutriente seja móvel) ou em folhas jovens (caso seja pouco móvel). A tabela 4.2 caracteriza os principais sintomas de deficiência, mobilidade de nutrientes e formas de absorção. Tabela 4.1: Níveis elementares adequados nos tecidos e classificação dos nutrientes inorgânicos de acordo com suas funções fisiológicas ou bioquímicas. Nutriente mineral Conc. MS % ppm Grupos Macronutrientes N 1 1,5 P 2 0,2 K 3 1 S 1 0,1 Ca 3 0,5 Mg 3 0,2 Si 2 0,1 Micronutrientes Zn 4 Funções Constituinte de biomoléculas: aminoácidos, amidas, proteínas, ácidos nucléicos, nucleotídeos, co-enzimas, etc. ATP, açucares fosfatados, ácidos nucléicos, nucleotídeos, co-enzimas, fosfolipideos, acido fitico, etc. Co-fator de cerca de 40 enzimas, cátion associado ao turgor celular e manutenção da eletroneutralidade celular. Constituinte dos aminoácidos cistina, cisteína e metionina; proteínas, acido lipóico, co-enzima A, tiamina, pirofosfato, biotina, glutationa, 3fosfoadenosina, etc. Integrante da lamela media, cofator de algumas enzimas envolvidas na hidrólise do ATP e de fosfolipideos. Atua como mensageiro secundário na regulação metabólica. Cofator de enzimas envolvidas na transferência de fosfatos, constituinte da clorofila. Associa-se às propriedades mecânicas das paredes celulares (rigidez e elasticidade); depositado como sílica amorfa 20 Constituinte da desidrogenase alcoólica e glutâmica, anidrase carbônica e etc. B 2 20 Associado ao alongamento celular, metabolismo de ácidos nucléicos, integrante de complexos constituintes das paredes celulares (Complexo com manitol, manans) Cu 4 6 Componente da acido ascórbico oxidase, tirosinase, uricase, citocromo oxidase, fenolase, e plastocianina. Fe 4 100 Constituinte de citocromos e ferro-proteinas envolvidas na fotossíntese, respiração e fixação de N2. Mn 3 50 Envolvimento na evolução de O2 fotossintetico e cofator de algumas desidrogenases, descarboxilases, quinases, oxidases e peroxidases. Mo 4 0,1 Cofator da nitrato redutase, nitrogenases e xantina desidrogenase. Cl 3 100 Participa na reação de Hill e evolução do O2 fotossintético. Ni 4 0,1 Integrante da urease e hidrogenases. Participa no processo de fixação do N2 Na 3 10 Participa na regeneração do PEP em plantas C4 e CAM, substitui o K em alguns casos. Grupo 1: nutrientes que fazem parte de compostos de carbono; Grupo 2: nutrientes ligados ao armazenamento de energia e integridade estrutural; Grupo 3: nutrientes que permanecem na forma iônica; Grupo 4: nutrientes envolvidos em reações redox. Fonte: Evans e Sorger (1966); Mengel e Kirkby (1987) Tabela 4.2: Formas de absorção, mobilidade e sintomas de deficiência mineral. Nutriente Forma de absorção Mobilidade Compostos presentes Principal Sintoma de deficiência N NO-3; NH+4; uréia Alta (forma orgânica) Aminoácidos, amidas, Folhas mais velhas amareladas aminas, poliaminas, fitohormônios, clorofilas, alcalóides, vitaminas, coenzimas, dentre outros P H2 PO-4 ; HPO2-4 ; Nucleotídeos, ácidos nucleicos, ésteres de carbohidratos, fosfolipídeos, coenzimas Coloração verde azulada ou bronzevioleta em folhas velhas PO3 – 4 Alta (forma orgânica) e baixa(forma iônica) K K+ Alta Sais orgânicos Necrose marginal de folhas mais velhas Ca Ca2+ Muito baixa Componente de parede (pectatos de cálcio) Clorose marginal d efolhas jovens e morte de gemas apicais Mg Mg++ Alta Clorofilas Clorose internerval, seguindo todo o limbo foliar S SO4 2- no solo e SO2 no ar alta B HBO32- ; HBO3 Baixa Zn Zn2+, quelatos Baixa Alguns aminoácidos, Clorose da nervura central até o centro sulfolipídeos, coenzimas, do limbo de folhas jovens metabólitos secundários Boratos em geral Morte d egemas apicais, folhas estreitas, retorcidas com bordas irregulares Anidrase carbônica, Folhas pequenas e irregulares, nervuras aldolase verdes contra fundo amarelado Cu Cu2+, quelatos Baixa Polifenoloxidases, plastocianina Mn Mn2+ , quelatos Média Predominam naf orma iônica Fé Fe2+, quelatos Baixa Mo MoO42- Baixa Cloro Cl- Alta Folhas novas curvadas p/ cima em “S” Folhas jovens com regiões internervais verde-clara com pontuações amareladas. Folhas velhas apresentam necrose nas pontas, progredindo p/ o ápice Citocromos, ferredoxina, Lâmina foliar verde claro com nervuras catalase, peroxidase, verde escuro. Alto graus de deficiência, redutase do nitrato, folhas amareladas e em seguida, nitrogenase esbranquiçadas Redutase do nitrato, Manchas verde-amareladas com nitrogenase necrose central do limbo, as folhas curvam-se para baixo Sais de cloreto Enrolamento das folhas Além da importância da classificação dos nutrientes, torna-se de fundamental importância saber a relação entre as concentrações no tecido, desenvolvimento da planta e sua respectiva produção (figura 4.1). A figura mostra as faixas correspondentes à deficiência, ideal e de toxidade. A demanda dos nutrientes minerais pela planta varia de acordo com a sua idade, ou seja, de acordo com a fase do seu desenvolvimento, visando a produtividade máxima de grãos, tubérculos, raízes e mesmo de biomassa verde, no caso particular de espécies forrageiras. Para alcançar esses objetivos, recomenda-se o acompanhamento dos níveis de nutrientes nas folhas, assim como a análise dos níveis de nutrientes no solo. Cada espécie vegetal apresenta níveis crítico, adequado e tóxico específicos. Com relação aos micronutrientes, deve-se ter uma atenção especial devido a amplitude entre as faixas de deficiência e de toxidez serem muito estreitas. Pequenas quantidades adicionadas em excesso poderão criar condições de toxidez iônica, com reflexos negativos para o desenvolvimento da planta. Faixa de deficiência Faixa adequada Faixa de toxidez Nível crítico Figura 4.1. Relações entre níveis de deficiência, adequado e de toxidez com as respectivas concentrações dos nutrientes inorgânicos no tecido. 3- Reposição de Nutrientes para as Plantas Práticas agrícolas convencionais e culturas de subsistência promovem a reciclagem de nutrientes minerais. Entretanto, isto não é suficiente para a reposição dos nutrientes absorvidos pelas plantas. Outro aspecto que deve ser considerado é a perda de nutrientes por lixiviação. Diante desse quadro, torna-se importante e necessário devolver ao solo agrícola esses nutrientes por meio da adição de fertilizantes. A fertilização foliar também é uma prática recomendada como forma de suplementação nutricional e, ainda, como forma de corrigir as deficiências, sobretudo, de micronutrientes. A grande maioria dos fertilizantes contém os macronutrientes N; P; K, podendo ser classificados em duas categorias (fertilizantes simples, que contém apenas um desses nutrientes ou fertilizantes compostos, que contém mais de dois desses nutrientes). Na primeira categoria, incluem nitrato de amônio e superfosfatos, enquanto na segunda categoria, incluem as formulações de N:P:K, contendo diferentes proporções de N; P2O5 e K2O. Nesta segunda categoria, incluem os fertilizantes corretivos como os calcáreos e sulfatos, recomendados para solos ácidos e alcalinos, respectivamente. No caso de solos alcalinos, o gesso agrícola ou a adição de enxofre elementar é absorvido pelos microrganismos, os quais liberam hidrogênio, acidificando o solo. Além dos fertilizantes inorgânicos, também merecem destaque os adubos orgânicos provenientes de resíduos de vegetais e animais. Entretanto, eles necessitam ser degradados, geralmente por microrganismos do solo, por um processo conhecido por mineralização. Uma outra vantagem adicional dos fertilizantes orgânicos é contribuir para a melhoria da estrutura física do solo, favorecendo a retenção de umidade na época da seca e drenando melhor a água na época das chuvas. Como discutido anteriormente, o fornecimento de nutrientes pode ser também realizado via foliar, através de pulverizações. Este tipo de adubação, apresenta algumas vantagens em relação à adubação de solo, como por exemplo, o tempo mais curto de resposta da planta, devido ser mais rapidamente absorvido pela planta. Outra vantagem seria a maior eficiência de absorção de alguns elementos como ferro, manganês e cobre quando comparados com a aplicação no solo. Para aumentar a eficiência de absorção via folha predominantemente através da cutícula, recomenda-se o uso de químicos surfactantes, como o Tween 80 que reduz a tensão superficial. No contexto da nutrição mineral, considerando-se o solo como um substrato complexo do ponto de vista físico, químico e biológico, deve ser dada uma atenção especial às relações entre raízes das plantas e a flora microbiana do solo, devido a forte competição por nutrientes existente entre esses dois elementos do ecossistema solo. Raízes e microrganismos podem estabelecer laços de estreita aliança para benefício mútuo, denominado de simbiose, com destaque para a fixação simbiótica de nitrogênio e associações micorrízicas, fatores essenciais na produtividade das plantas. 4- Assimilação de Nutrientes Minerais 4.1- Nitrogênio A fonte preferencial de nitrogênio para as plantas superiores é o nitrato (NO-3). No entanto, antes dessa forma ser incorporada em compostos orgânicos, ela necessita ser reduzida a amônio (NH4+). Este processo de redução, que ocorre tanto em folhas como em raízes, consiste basicamente de duas etapas, inicialmente a redução do NO-3 a nitrito (NO-2) em nível de citoplasma, reação essa catalizada pela enzima Nitrato Redutase. Nesta fase, a Nitrato Redutase utiliza como doador de elétrons, principalmente o NADH proveniente da via glicolítica; podendo em tecidos aclorofilados, fazer uso também do NADPH, oriundo da rota oxidativa da pentose fosfato. O segundo passo se caracteriza pela redução do NO-2 a NH4+, reação essa catalizada pela enzima Nitrito Redutase, que depende da ferredoxina reduzida (fd red) como doadora de elétrons, considerando-se, no caso, tecidos clorofilados. No caso das raízes, o poder redutor vem da via oxidativa da pentose fosfato. A figura 4.2 mostra de maneira geral e simplificada, as seqüências metabólicas da redução do NO-3 a NH+4 em tecidos clorofilados (folhas) e aclorofilados (raízes). Tecidos clorofilados Citoplasma NADH+ + H+ Cloroplasto NAD+ + H2O NO3- NO2Redutase do Nitrato Fdred Fdox NO2- NH4+ Redutase do Nitrito Tecidos aclorofilados Citoplasma NADH+ + H+ NO3- plastídeos NAD+ + H2O NO2- NADPH+ + H+ NO2- NADP+ + H2O NH4+ Figura 4.2. Seqüência metabólica da redução do nitrato a amônio Um aspecto que deve ser considerado nesse contexto, é que o nitrato similarmente ao nitrito podem ser tóxicos acima de certos limites, tanto para animais como para as plantas. No primeiro caso, altos níveis de nitrato podem levar o fígado a reduzí-lo a nitrito, que combina com a hemoglobina causando a metemoglobinemia, uma doença que impede que a hemoglobina combine com o oxigênio. O homem e outros animais podem converter o nitrato em nitrosaminas, substâncias potencialmente carcinogênicas. No caso do nitrito, também altos níveis nos tecidos podem ser tóxicos tanto para animais quanto para plantas. Nas plantas, especialmente, o nitrito é capaz de dissipar os gradientes de prótons transmembrana, fundamentais no transporte de elétrons tanto na fotossíntese como na respiração. Fatores que afetam a atividade das enzimas de redução Nitrato Redutase A concentração de nitrato no tecido, luz e carboidratos são fatores que interferem na atividade dessa enzima em nível de transcrição e tradução. Pesquisas em alguns representantes de poáceas de inverno tem demonstrado que a atividade do mRNA da nitrato redutase aparece nos primeiros quarenta minutos após a adição de nitrato no meio de cultivo. Embora tenha sido observado um aumento rápido na síntese de mRNA, verificouse também um aumento gradual e linear na atividade da enzima, refletindo numa síntese mais lenta da proteína. Carboidratos e radiação bem como outros fatores do ambiente, favorescem a atividade da fosfatase que desfosforila resíduos de serina na proteína nitrato redutase, aumentando sua atividade. Por outro lado, o escuro e o Mg2+ agem antagonicamente, estimulando a quinase que fosforila os mesmos resíduos de serina, interagindo com uma proteína inibidora, inativando a nitrato redutase. Dessa maneira, a planta pode regular os níveis de nitrito e de amônio, que acima de certos limites, poderão ser fitotóxicos. A figura 4.3 mostra as relações entre tempo e atividade da Redutase do Nitrato em partes aérea e radicular após o início da biossíntese de mRNA . Figura 4.3: Atividade da Redutase do Nitrato na parte aérea e raízes de plantas de cevada após a indução da biossíntese de mRNA desta enzima de redução (Fonte: Kleinhofs e cols., 1989). Nitrito Redutase O nitrito é um íon potencialmente fitotóxico, por isso, deve ser imediatamente reduzido a amônio. Para isto, ele deve ser sistematicamente transferido do citosol para os cloroplastos (folhas) ou para outros plastídeos (raízes, ou outros órgãos aclorofilados). As concentrações de nitrato no tecido bem como a luz são fatores que induzem a transcrição de mRNA da nitrito redutase. Os produtos finais da redução do nitrito, asparagina e glutamina reprimem esta indução. Parte aérea e raízes assimilam nitrato A disponibilidade de nitrato no solo constitui o fator determinante da taxa de assimilação de nitrato nas diferentes partes da planta e em diferentes espécies. A medida que se aumenta o suprimento de nitrato no solo, a maior parte do nitrato absorvido se transloca para a parte aérea onde o mesmo é assimilado, o que está de acordo com a afirmativa de que a maior atividade da nitrato redutase ocorre sob condições de maior disponibilidade de nitrato. As plantas em geral, assimilam nitrato tanto pelas raízes como pelas folhas; no entanto, em algumas espécies essa assimilação pode ser restrita às partes aérea como é o caso de Xanthium strumarium (cardo), ou ao sistema radicular, caso de Lupinus albus (tremoço). Muitas espécies subtropicais e tropicais no entanto, assimilam mais nitrato pelas raízes. Assimilação do amônio A principal via de conversão do amônio a aminoácidos essenciais às plantas envolve as participações de duas enzimas, a glutamina sintase e a glutamato sintase, também conhecida por GOGAT (glutamina 2-oxo-glutarato aminotransferase). Esta via também se caracteriza por ser uma maneira das células vegetais de evitarem a toxicidade pelo amônio, além do amônio proveniente da fotorespiração. Como foi dito anteriormente, essa conversão depende de duas classes de enzimas GS, uma localizada no citosol e outra localizada nos plastídeos (raízes) ou cloroplastos (folhas). As formas citosólicas operam em sementes durante a germinação formando glutamina para o transporte intracelular, enquanto a GS de raízes forma nitrogênio amida para o consumo local. Por outro lado, a GS dos cloroplastos, reassimila o NH4+ proveniente da fotorespiração. Tanto a luz como os níveis de carboidratos regulam a expressão dessas formas enzimáticas. O sistema GS é a via preferencial para a incorporação do N-amoniacal em aminoácidos em plantas superiores. A glutamato sintase (GOGAT) dependente de NADH localiza-se nos plastídeos de tecidos não fotossintéticos (raízes), assimila o NH4+da rizosfera, enquanto a outra GOGAT NADH do feixe vascular assimila a glutamina translocada das raízes e de folhas velhas. A GOGAT cloroplastídica dependente de ferredoxina reduzida converte o NH4+ oriundo da fotorespiração em aminoácidos (figura 4.4). O amônio também pode ser assimilado por uma via alternativa através da glutamato desidrogenase (GDH) dependente de NADH mitocôndrial ou dependente de NADPH cloroplastídico (figura 4.4). Esta via, de forma alguma substitui a GS-GOGAT, sendo a principal função da GDH, desaminar o glutamato e reduzir os altos níveis de NH 4+ nos tecidos. O papel da aminotransferases O nitrogênio uma vez assimilado em glutamina e glutamato, ele poderá ser incorporado em outros aminoácidos por meio de reações catalizadas por aminotransferases, enzimas essas encontradas no citoplasma, mitocôndrias, cloroplastídeos, glioxissomos e peroxissomos. Essas aminotransferases presentes nos cloroplastos desempenham importante função na biossíntese de aminoácidos como glutamato, aspartato, serina, alanina e glicina. Um exemplo é a conversão de glutamato em aspartato, de acordo com a reação que segue: Glutamato + Ácido oxalacético (Oxalacetato) Aspartato + 2-oxoglutarato Aspartato aminotransferase (Asp-AT) Essa reação ocorre através da transferência do grupo amino do glutamato para o átomo carboxil do aspartato (figura 4.4). Figura 4.4: Rota de síntese de um aminoácido a partir do amônio (Fonte: Taiz, L. e Zeiger, E. 2004. Plant Physiology; 3. ed.,trad. Santarém, E.R. et al.) O papel da asparagina e glutamina no metabolismo do C e N Altos níveis de luz e carboidratos são condições que favorescem a GS e a GOGAT dependente de ferredoxina (fd); todavia, inibem a expressão gênica e a atividade da asparagina sintetase (AS). Essa regulação antagônica dessas rotas competitivas auxilia de maneira efetiva o balanço metabólico do carbono e do nitrogênio nas plantas. Nas condições citadas anteriormente, são favorescidas a assimilação do N em glutamina e glutamato, substâncias ricas em carbono e úteis na biossíntese de outras biomoléculas. A situação é antagônica sob baixas intensidades de radiação e baixos níveis de carboidratos. Deve ser enfatizado que a AS encontra-se presente no citosol das células foliares, radiculares e nos nódulos associados à fixação de nitrogênio. A asparagina formada favoresce o transporte de N a longa distância, além de ser um composto rico neste elemento e ainda, de grande estabilidade. Literatura Complementar e Recomendada Taiz, L. e Zeiger, E. Fisiologia Vegetal. Versão traduzida por Santarém, E.R. et al., 3.ed., Porto Alegre, Artmed, 2004, 799p. Bloom, A . J. Nitrogen as limiting factor: Crop acquisition of ammonium and nitrate. In: Ecology in Agriculture, L.E. Jackson, ed., Academic Press, San Diego, CA, 1997, pp.145-172. Bloom, A . J. et al. Nitrogen assimilation and growth of wheat under elevated carbon dioxide. Proc. Natl. Acad. Sci., USA, 2002, 99: 1730-1735.