Behaviorismo Radical x Behaviorismo metodológico

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Behaviorismo Radical x Behaviorismo
metodológico: Paradigmas da abordagem
comportamental
Por: Eduardo Alencar
Resumo
A Psicologia não possui uma única unidade conceitual e / ou metodológica, isso
por que até hoje, tal ciência não chegou a um acordo de como estudar o seu
objeto de estudo (o homem), dentre algumas abordagens, podemos destacar
como unidades de analise deste objeto de estudo: o comportamento, a mente, a
existência, a personalidade, a subjetividade, dentre outras que surgem frente aos
avanços e investimentos científicos que sustentam o deslanche desta ciência.
O presente trabalho visa destacar a importância do comportamento humano como
unidade de análise para a compreensão do homem enquanto objeto de estudo da
psicologia, sob ao olhar da Analise do Comportamento que mantém suas raízes
filosóficas no Behaviorismo Radical do Americano B.F. Skinner diferenciando-a do
Behaviorismo Metodológico de J.Watson que segundo Thomaz, Silva, Alencar,
Bueno e Rocha (2005 ; 2006), uma das causas para o levantamento de injustas
críticas à Analise do Comportamento seria a concepção errada que alunos
recebem na graduação, como por exemplo, generalizar o behaviorismo radical
com o metodológico acreditando que tal abordagem ignora sentimentos,
subjetividade, consciência e outros eventos de “natureza” interna.
Palavras Chaves: Behaviorismo Radical, Behaviorismo Metodológico, Análise do
Comportamento,
Abordagem
Comportamental.
Behaviorismo radical, behaviorismo metodológico, psicologia comportamental,
analise
do
comportamento,
analise
aplicada
do
comportamento,
analise
experimental do comportamento, psicologia cognitivo – comportamental, psicologia
analítico – comportamental, psicologia cognitivista, psicologia experimental,
psicologia da aprendizagem, comportamentalismo….quem passou pela graduação
de psicologia certamente se deparou com uma destas terminologias que muitas
vezes acabam sendo interpretadas como uma única coisa: Abordagem
comportamental.
Assim como as abordagens psicodinâmicas englobam para muitos a psicanálise, a
psicologia analítica, lacaniana….E nas abordagens existenciais encontram-se a
fenomenologia, psicologia humanista, gestalt, psicologia existencial, dentre outras,
verificamos enquanto psicólogos, que cada vez mais, abordagens surgem focando
diferentes unidades de analise, ou defendendo cada vez mais sua concepção, na
(s)
maneira
(s)
em
que
devemos
ou
deveríamos
estudar
o
homem
(comportamento, personalidade, existência, etc.) e dentro destas abordagens (as
consideradas comportamentais, psicodinâmicas, existenciais, etc.) encontramos
uma saudável “discussão” dentro de cada “ramificação”.
Não significa que tais “ramificações” defendam a mesma unidade de analise 100%
iguais. É o caso de Skinner (behaviorismo radical) que contrapões Watson
(behaviorismo metodológico) conforme veremos na seqüência deste artigo. É
importante deixar claro que há ainda, “ramificações” dentro destas abordagens que
servem para estudos específicos, como por exemplo: o Behaviorismo Radical é a
filosofia da analise do comportamento, analise aplicada do comportamento,
psicologia experimental, psicologia analítico – comportamental, psicologia cognitivo
–
comportamental,
ou
seja,
enquanto
filosofia,
visa
trazer
subsídios
epistemológicos para um sólido embasamento teórico, que posteriormente,
fornecerá meios para o deslanche de experimentos (psicologia experimental,
estudos
de
laboratório,
etc.),
de
formação
de
conceitos
(analise
do
comportamento, psicologia comportamental, etc.) e aplicação de conceitos (analise
aplicada do comportamento, psicologia analítico – comportamental, etc.), assim
como o behaviorismo metodológico é a filosofia do comportamentalismo.
Segundo Malerbi (2003), para o behaviorismo metodológico, o ambiente refere-se
apenas às condições externas, neste sentido tal behaviorismo considera
importante o critério de “verdade” via consenso público, ou seja, o qual só pode ser
alcançado para eventos externos e públicos (visto igualmente por mais pessoas
além do observador). Na medida em que os aspectos do ambiente interno não
são, e não podem ser observados por observadores independentes, eles não
poderiam, segundo essa abordagem, ser objeto de uma ciência, neste sentido,
defendem que o objeto de estudo seja somente o comportamento observável,
mesmo que não ignorasse os sentimentos, subjetividade, Watson não acreditava
que estes deveriam ser unidades de analise sobre o homem, enquanto um objeto
de estudo.
Figueiredo e Santi (2003), afirmam que a perspectiva do comportamentalismo de
Watson enquadra-se na busca de uma sociedade administrativa e estritamente
funcional, onde o comportamentalismo na verdade não seria um projeto de
psicologia científica, mas um projeto de uma nova ciência , ou seja, uma ciência do
comportamento que viria ocupar o lugar da psicologia. Esta deveria ser, segundo
Watson, uma ciência natural, um ramo da biologia, onde o sujeito era
caracterizado como um sujeito que não sente, não pensa, não decide, não deseja
e não é responsável pelos seus atos, seria então, apenas um organismo e
enquanto organismo, o ser humano se assemelharia a qualquer outro animal. Por
estas influências é que a forma de conhecer a psicologia científica dedicou grande
atenção aos estudos dos seres humanos com ratos, pombos, cachorros e
macacos, dentre outros animais.
Matos e Tomanari (2002), por sua vez trazem a visão do behaviorismo radical que
propõe que o objeto de estudo da psicologia deva ser o comportamento dos seres
vivos, especialmente do homem. É radical na medida em que nega ao psiquismo a
função de explicar o comportamento, embora não negue a possibilidade de , por
meio de uma estrutura da linguagem, estudar eventos encobertos, tais como
pensamento e as emoções, só acessíveis ao próprio sujeito.
Segundo Forisha e Milhollan (1978), devido a sua preocupação com controles
científicos, Skinner, frente aos rigores científicos, não fez diferente, realizou a
maioria de suas experiências com animais inferiores – principalmente pombo e
rato branco. Desenvolveu o que se tornou conhecido como “caixa de Skinner”, um
aparelho adequado para o estudo animal. Tipicamente, um rato era colocado
dentro de uma caixa fechada que contém apenas uma alavanca e um fornecedor
de alimento, quando o animal aperta a alavanca sob as condições / critérios
estabelecidos pelo experimentador, uma bolinha de alimento cai sobre a tigela,
recompensando-o, após o animal ter fornecido esta resposta, o experimentador
poderia então, colocar o comportamento deste animal sob controle de uma infinita
variedade de estímulos, além disso, tal (is) comportamento (s) poderia ainda, ser
modelado ou modificado gradativamente até que aparecerem respostas que
ordinariamente não faziam parte do repertório comportamental do indivíduo, ou
seja, diferente de Watson, êxitos nestes esforços levaram Skinner a acreditar que
as leis da aprendizagem aplicam-se a todos os organismos vivos, independente de
“entidade” internalista.
Matos e Tomanari (2002), complementam ainda que um grande passo dado por
Skinner que superou os “buracos” do behaviorismo metodológico foi o de
considerar o comportamento como algo que está sempre em reconstrução, ou
seja, acreditar em um modelo de seleção pelas conseqüências, não só frente as
características anatômicas e fisiológicas, mas também as comportamentais que
passam por sucessivos crivos de uma seleção baseada nos contatos com dos
organismos vivos com o seu ambiente, neste crivo, alguns comportamentos são
eliminados, por inadequados, e outros são mantidos, por eficazes em garantir a
adaptação e sobrevivência, isto é, o comportamento humano passou a ser
compreendido, considerando-se que o homem sofre influências de contingências
filogenéticas (atuando no nível do banco genético das espécies), de contingências
ontogenéticas (atuando no nível de repertórios comportamentais dos indivíduos) e
de contingências culturais (atuando no nível das práticas grupais de uma cultura
ou sociedade), ou seja, a integração destes três níveis trouxe aos analistas do
comportamento a ferramenta para avaliar o sujeito como um todo, incluindo os
seus aspectos subjetivos como a consciência e o autoconhecimento por exemplo.
A Analise funcional do comportamento (estimulo antecedente – resposta do
organismo – evento conseqüente à resposta), ferramenta coerente com os
determinantes citados por Matos e Tomanari (2002) busca dar ao observador,
terapeuta, cientista do comportamento uma “luz” que esclareça ordem entre
eventos sujeito – ambiente.
Além de considerar sentimentos, subjetividade, consciência, o analista do
comportamento com base filosófica no behaviorismo radical defende o uso de
laboratório (analise experimental do comportamento, por exemplo) com alguns
diferenciais, que segundo Sidman (2003), podemos citar como exemplos a
possibilidade de acompanhar todas as mudanças nas condições experimentais
relevantes para a pergunta que fazemos (problema de pesquisa), onde tal restrição
permite definições e medidas precisas, objetivas, tanto da conduta que nos
preocupa, como das condições de observação, considerar que o laboratório
permite alterar o ambiente de um sujeito e então retorná-lo ao seu estado original,
neste sentido, obtemos controle sobre as condições experimentais, tornando-as
possíveis de descobertas, como por exemplo, se um evento em particular
realmente faz um indivíduo agir diferentemente, dentre outras variáveis
metodológicas que não restringem o nosso objeto de estudo como o
comportamentalismo de Watson fazia.
Na graduação de psicólogo dos cursos disponíveis no Brasil hoje, estão presentes
até nas abordagens de Desenvolvimento Humano as contribuições da abordagem
comportamental enquanto possibilidade de compreensão do homem. Quando
Carvalho (1999), afirma que ao discriminarmos aquilo que sentimos e falamos
sobre sentimentos, nada mais é do que comportamentos aprendidos, produtos da
comunidade verbal em que interagimos, que nos ensina a descrever o que
fazemos, o que pensamos e o que sentimos e por tanto o que é certo, errado,
tristeza, alegra, estamos considerando, que eventos internos, antes considerado
via determinantes internalistas, começaram a ser compreendidos via unidade de
analise comportamental, o que contrapõe as injustas críticas de que o
behaviorismo radical nega eventos internos.
Oito dias antes de sua morte, Skinner recebeu da APA – American psychologist
Association o prêmio por “Destacada a contribuição à psicologia ao longo da vida”,
deste a fundação desta associação (1974), Behavioristas do Brasil e do Mundo,
cerca de 6.500 espalhados pelo planeta, segundo Hubner (2005), vêem tomando
os cuidados científicos oriundos da filosofia do behaviorismo radical, abandonando
o comportamentalismo de Watson, que no contexto histórico – cultural de hoje,
deixa como marca, contribuições para ter gerado em segunda instância, a ciência
do comportamento de Skinner, mais completa, cientificamente adaptada para
abarcar as demandas que exijam uma intervenção comportamental.
Hubner (2005), parece concordar com Thomaz, Silva, Alencar, Bueno e Rocha
(2005 ; 2006), que no resumo deste artigo, destacou uma das causas das injustas
críticas à Analise do Comportamento como sendo a construção de uma incorreta
concepção de alunos enquanto graduandos de psicologia, quando afirma que no
Brasil, ainda há, mesmo com este reconhecimento internacional (APA), com a
presença da mídia, com as comprovações científicas dos experimentalistas,
profissionais e alunos contrapondo-se a abordagem comportamental por falhas na
compreensão de sua metodologia, como por exemplo, ao generalizar as práticas
de cientistas do comportamento com bases filosóficas do behaviorismo radical com
cientistas do comportamento que utilizam-se de ferramentas embasadas no
behaviorismo metodológico de Watson.
Hubner (2005) ilustra este fato exemplificando que ao se referir a Skinner para
alguns alunos e profissionais, recebemos como palavras chaves: S-R, experimento
com ratos, caixa de Skinner, condicionamento, onde poucos sabem que este autor
dedicou grande parte de sua obra em temas como utopia, educação, amor, humor
e uma das mais reconhecidas: a linguagem e o comportamento verbal.
A Autora destaca ainda que, ao contrário do que muitas pessoas confundem, o
behaviorismo radical se propõe a estudar eventos não observáveis (consciência,
raiva, ciúmes, etc.), neste sentido é que o seu “behaviorismo” é considerado
radical, não de extremo, mas de ir até a “raiz” dos eventos para buscar a ordem
entre os eventos, para isso, suas características enquanto ciência, foca cuidados
para jamais tornar-se uma ciência dualista ou mentalista que transfere e modifica a
função dos eventos encobertos. Ao decorrer seu artigo, Hubner (2005) finaliza esta
discussão com opiniões que vão de encontro com os dados apontados até o
momento separando o behaviorismo radical do metodológico e por tanto as
práticas de cientistas que tomam como embasamento teórico os X ou Y
behaviorismo.
CONCLUSÃO
Hubner (2005), Thomaz, Silva, Alencar, Bueno e Rocha (2005 ; 2006), dentre
outros autores já levantaram dados para nos fazer refletir sobre a importância da
multiplicação adequada de informações na relação entre professores – alunos em
um ambiente escolar. Um aluno que não compreende a teoria, certamente, terá
sua prática comprometida, é neste sentido que este artigo objetivou deixar claro
algumas diferenças entre o behaviorismo radical x o behaviorismo metodológico,
para que sérios analistas do comportamento, não sejam injustamente criticados
pelas suas práticas.
Poderíamos abordar a diferença entre Skinner e Watson durante páginas e
páginas, para quem tiver a curiosidade de checar as produções bibliográficas do
americano B.F. Skinner, terá dados suficientes para dizer que o behaviorismo
radical preocupou-se por demais com as questões sociais, comportamentos de
grupos e individuais, agências controladoras, comportamento verbal, enfim, neste
caminho, o prêmio da APA foi mais do que merecido, sem Skinner, talvez ainda
estaríamos aplicando as práticas do behaviorismo metodológicos, o que, com os
avanços atuais da psicologia, seria uma erro agravante para a prática de
psicólogos.
BIBLIOGRAFIA
Carvalho, S.G. (1999). O lugar dos sentimentos na ciência do comportamento e na
psicoterapia comportamental. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Revista
Psicologia: Teoria e prática, 1(2): 33-36.
Hubner, M.M.C. (2005). O Skinner que poucos conhecem: contribuições do autor
para um mundo melhor, com ênfase na relação professor – aluno. Momento do
professor. Revista de educação continuada, São Paulo, ano 2, número 4, p. 44-49.
Milhollan, F. e Bill, E. F. (1978). Skiner & Rogers: maneiras constrastantes de
encarar a educação. São Paulo: Summus. 8º edição.
Malerbi, F.E.K. (2003). Sobre comportamento e cognição Vol. 1. (página 239). São
Paulo: Esetec
Matos, M. A e Tomanari, G.Y. (2002). A análise do comportamento no laboratório
didádico. Barueri: Manole. Capítulo I, página 4-8.
Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações. Campinas : Livro Pleno.
Thomaz, C.R.C Silva, D.R.S Alencar, E.T.S Bueno, K e Rocha, T. (2005). A
concepção dos alunos sobre o behaviorismo radical e sua concepção de
psicologia. Divulgação de pesquisa e painel no XIV congresso brasileiro de
psicoterapia e medicina comportamental – ABPMC. Campinas.
Thomaz, C.R.C Silva, D.R.S Alencar, E.T.S Bueno, K e Rocha, T. (2006). A
concepção dos alunos sobre o behaviorismo radical e sua concepção de
psicologia. Artigo publicado em meio eletrônico: www.redepsi.com.br . São Paulo
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