n. 224 - julho - 2015 Departamento de Informação Tecnológica Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União - 31170-495 Belo Horizonte - MG - site: www.epamig.br - Tel. (31) 3489-5000 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado1 Emerson Dias Gonçalves2 Luiz Fernando de Oliveira da Silva3 Paulo Márcio Norberto4 Ângelo Albérico Alvarenga5 Vicente Luiz de Carvalho6 Adelson Francisco de Oliveira7 Nilton Nagib Chalfun8 Rafael Pio9 Pedro Henrique Abreu Moura10 INTRODUÇÃO Entre as principais características das frutíferas de clima temperado podemos dizer que as mesmas apresentam: hábito caducifólio e necessidade de frio abaixo de 7,2ºC para sair do repouso vegetativo, além de outras características, como resistência à baixa temperatura e um único surto de crescimento por ano (FACHINELO; NACHITIGAL; KERSTEN, 2009). Para esse grupo de frutíferas, é preconizada uma poda seca ou hibernal, que deverá ser realizada no período de baixa atividade fisiológica que, para as condições do Sul de Minas, mais precisamente na Serra da Mantiqueira, ocorrem de final de maio à primeira quinzena de agosto. Estudos fenológicos com pessegueiros, macieiras, pereiras, figueiras, ameixeiras e marmeleiros têm mostrado que, nestes meses, as plantas apresentam-se em dormência e sem folhas, sendo este período ideal para esta poda. Os principais objetivos desta poda estão relacionados com: a) modificação do vigor da planta; b) preparação da planta apropriadamente para a produção; c) supressão do excesso de ramos produtivos e/ou vegetativos, ou ao contrário; d) maior arejamento e intercepção de luz no interior da copa e) eliminação de ramos doentes mal localizados e improdutivos; f) melhoramento do porte da planta, para facilitar a colheita e os tratos culturais; g) obtenção de colheitas regulares de frutas, evitando-se alternância de produção. Circular Técnica produzida pela EPAMIG Sul de Minas, (35) 3821-6244, [email protected] Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-FEMF/Bolsista FAPEMIG, Maria da Fé, MG, [email protected] 3 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-FEMF/Bolsista FAPEMIG, Maria da Fé, MG, [email protected] 4 Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-FERN, São João del-Rei, MG, [email protected] 5 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Lavras, MG, [email protected]; 6 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Lavras, MG, [email protected] 7 Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas/Bolsista FAPEMIG, Lavras, MG, [email protected] 8 Engo Agro, Prof. Adj. UFLA-DAG, Lavras, MG, [email protected] 9 Engo Agro, Prof. Adj. UFLA-DAG, Lavras, MG, [email protected] 10 Engo Agro, D.Sc., Bolsista CAPES/UFLA, Lavras, MG, [email protected] 1 2 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado FUNDAMENTOS DA PODA Para se podar qualquer planta, é preciso que se entenda o que eliminar e quais são as estruturas que irão produzir frutos. Para isso, devemos saber que: a)a seiva se dirige com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta; b) a circulação da seiva é mais intensa em ramos verticais; c) quanto mais intensa for a circulação da seiva, maior será o vigor dos ramos e maior será a vegetação. Quando isso for ao contrário, mais gemas de flores poderão ser formadas; d) sempre que se cortar uma parte da planta, a seiva se direcionará para as partes remanescentes, aumentando o vigor vegetativo; e) podas severas provocam o desenvolvimento vegetativo, retardando a frutificação; f) ao diminuir a intensidade de circulação da seiva, ocorre uma promoção da maturação de ramos e folhas, levando a planta, nesse período, a acumular grandes quantidades de reservas nutritivas, que serão utilizadas para transformar gemas foliares em frutíferas; g) a posição das gemas e o seu número nos ramos influencia no seu vigor. Em geral, as gemas terminais são mais vigorosas; h) as condições edafoclimáticas do local onde está a planta influenciam diretamente no seu vigor e na sua fertilidade; i) a longevidade das plantas, bem como o seu vigor sofrem influência direta do equilíbrio entre a copa e o sistema radicular. HÁBITO DE FRUTIFICAÇÃO DE ALGUMAS FRUTÍFERAS Plantas que só produzem em ramos especializados Algumas frutíferas produzem apenas em ramos especializados. Os demais ramos dessas plantas produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieira, marmeleiro e pereiras. São ramos geralmente curtos e muitos deles designados esporões, podendo apresentar as seguintes denominações: a) dardos: são estruturas pequenas e pontiagudas, com entrenós muito curtos. Apresentam uma roseta de folhas na extremidade, pouco maior que uma gema; 2 b) lamburda: ramo curto, com nodosidades na base, sem gemas laterais, podendo terminar em gemas vegetativas ou floríferas (coroadas); c) bolsa: parte curta, inchada, constituída por tecido pouco diferenciado, porém com grande acumulação de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de união da fruta colhida com o ramo. É um órgão de transição que pode dar origem a novas gemas florais, dardos, lamburdas, brindilas ou vários deles de cada vez. Geralmente, são formadas a partir de um esporão depois de vários anos; d) brindilas: ramos finos, com diâmetro de 3 a 5 mm e comprimento em torno de 20 cm. Na ponta, podem apresentar uma gema mista ou florífera; e) botão floral: forma arredondada e destacada. Em geral, apresenta maior volume do que as gemas vegetativas. Plantas que produzem ramos mistos São plantas que frutificam sobre esporões e também sobre os ramos do ano anterior, como, por exemplo, o pessegueiro e a ameixeira japonesa. Nas espécies que frutificam em ramos mistos, o ramo frutífero, ao invés de ser formado no inverno, nasce na primavera e floresce abundantemente. Plantas que produzem em ramos do ano Ocorre nas frutíferas onde a frutificação incide em flores que nascem sobre ramos da brotação nova. É o que ocorre com as plantas cítricas, caquizeiro, figueira, framboeseira e goiabeira, dentre outras. Nelas, o ramo frutífero, ao invés de ser formado no inverno, nasce na primavera e floresce abundantemente. TIPOS DA PODA Em relação aos tipos de poda, podem-se elencar os quatro tipos mais utilizados para as frutíferas de clima temperado, conforme demonstrado a seguir. Poda de formação É realizada no período inicial de desenvolvimento das frutíferas até o 3o ou 4o ano e é nesse período que são definidos os ramos que irão formar EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado a planta: quatro ramos se for conduzido em taça e dois ramos se for conduzido em Y. Se a condução for em líder central ou modificado, é nesse período que selecionam-se os andares de produção. 3 ÉPOCA DE PODA A época ideal para a realização da poda depende sempre do objetivo da mesma, e nesse aspecto, as épocas em que as plantas são podadas podem ser assim classificadas. Poda de frutificação É realizada depois de a copa estar formada. Para realizá-la, é importante conhecer o hábito de frutificação da planta, para saber o que eliminar, assegurando, dessa forma, regularidade de produção, pois deve-se controlar de maneira rigorosa e equilibrada as funções vegetativas e produtivas. Pode-se dizer que a poda de frutificação é mais importante para aquelas plantas que frutificam nos ramos novos ou ramos do ano, tais como figueira, videira e quivizeiro. Essa poda é bastante variável com a espécie, cultivar, estado nutricional e fitossanitário da planta, vigor, condições edafoclimaticas e época. Esses aspectos fazem com que em espécies como a macieira para algumas cultivares a poda nem precise ser realizada. Poda de inverno ou poda seca É realizada no período de baixa atividade fisiológica da planta, ou seja, no final de outono e início do inverno. Observa-se que, geralmente, em grandes pomares, esta poda prolonga-se até o início da brotação. Para algumas frutíferas, recomenda-se que as podas sejam realizadas 15 dias antes da floração, após o início da floração e também após a plena floração, quando ocorre uma queda na produção, na quantidade produzida por planta e também no peso médio das frutas. Poda verde ou de poda de verão Outra época em que também se realiza a poda nas frutíferas é no verão, é chamada de poda Poda de rejuvenescimento verde ou poda de verão. Este tipo de poda com- Esta poda geralmente é realizada em poma- preende a realização de operações, tais como: res abandonados, mas que ainda apresentem vigor e desponte, desfolha, desbrota, esladroamento, inci- produção, como é o caso de pomares de laranjeiras, sões e anelamentos. Pode ser realizada em ramos macieiras e pereiras. A finalidade dessa poda é retirar verdes herbáceos ou sobre ramos lenhosos que já ramos atacados por pragas, ramos doentes e tam- produziram. Trata-se de poda complementar à poda bém renovar a copa através do corte total da mesma, de inverno. deixando-se apenas as ramificações principais, com Frutos de pessegueiro, cultivar Maciel, de pelí- o objetivo de reativar a produção. Para a realização cula com coloração vermelha mais intensa e de maior desta poda, cortam-se as pernadas principais, dei- peso médio e diâmetro, são obtidos com o uso de clo- xando-as com 40 a 50 cm. Após este corte, por meio reto de potássio e poda verde, proporcionando menor da poda verde, selecionam-se os ramos que irão per- acidez nos frutos. Também observa-se que a poda de manecer. Os cortes mais severos são realizados no verão, no caso do pessegueiro, pode substituir com inverno, no mesmo momento em que são aplicadas vantagem a poda de inverno em mais de 90% das pastas fúngicas onde se realizou o corte. operações (TREVISAN et al, 2006). Poda de limpeza Poda de outono Esta poda é uma poda leve, que consiste ape- É realizada quando a finalidade for reduzir o nas na retirada de ramos atacados por doenças, pra- crescimento da copa e aumentar o crescimento das gas ou mal localizados. ramificações secundárias e terciárias. Consiste na Geralmente é realizada em frutíferas que re- retirada de ramos verticais (ramos ladrões), secos, querem pouca poda, como no caso de citros, man- indesejáveis e doentes. Consiste também, na retira- gueiras e jabuticabeiras. Também é uma poda que da de frutos mumificados. Este tipo de poda reduz a é feita no período de baixa atividade fisiológica da brotação no início da primavera e permite equilíbrio planta. no desenvolvimento da planta. EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado TRATAMENTO DE INVERNO O tratamento de inverno é uma das práticas que visa não só reduzir os efeitos das doenças, por meio de práticas mais simples e menos agressivas ao homem e ao meio ambiente, mas também melhorar a qualidade final do produto. Este tipo de tratamento consiste em duas etapas: a) eliminar, por meio de podas, todos os galhos e ramos secos, doentes e mal situados, bem como ramos improdutivos (poda de inverno); coletar frutos mumificados e folhas doentes remanescentes nas plantas e/ou no chão; queimar e/ou enterrar esses materiais longe dos pomares; proteger os cortes com pasta bordalesa ou tinta plástica; b) aplicar produtos fungicidas/inseticidas com o objetivo de reduzir ou eliminar a fonte de inóculo das doenças (estruturas vivas de microrganismos que ainda permanecerem na planta após a poda e a limpeza). Os produtos utilizados no tratamento de inverno são: calda bordalesa, pasta bordalesa, calda sulfocálcica e fungicidas cúpricos. Calda bordalesa A calda bordalesa é um defensivo agrícola alternativo de fácil preparo na propriedade e de baixa toxidez para o homem. É uma suspensão coloidal obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre e suspensão de cal. Esta calda, se corretamente preparada e aplicada, atua sobre várias doenças das fruteiras de clima temperado, como ferrugem, crespeira, bacteriose, sarna, cancro-dosramos, podridão-parda e chumbinho, que atacam o pessegueiro; antracnose, míldio, podridões dos frutos e escoriose, que atacam a videira; ferrugem, antracnose e seca-da-figueira, que atacam a figueira; cercosporiose e antracnose, que atacam caquizeiro e entomosporiose, podridão-amarga, podridão-preta, que atacam o marmeleiro. Preparo e uso Para o preparo da calda bordalesa, deve-se usar vasilhame de plástico, cimento ou madeira, pois o sulfato de cobre reage com ferro, latão ou alumínio. 4 O primeiro passo é dissolver o sulfato de cobre, que, se estiver em forma de pedra, deverá ser triturado e colocado dentro de um pano de algodão e mantido imerso, em suspensão, na parte superior de um recipiente, com a metade da água da qual se vai preparar a calda. O sulfato de cobre pode ainda ser adquirido em forma de sais, o que facilita a dissolução. Em outro recipiente, deve-se fazer uma suspensão da cal com a outra metade da água. Todos os componentes deverão ser bem dissolvidos. O leite da cal dissolvida será colocado num terceiro recipiente maior e sobre este será derramada a solução de sulfato de cobre de maneira bem lenta e com forte agitação. O pH da calda deve ser sempre maior que 7 (alcalino). Se a cal não for de boa qualidade ou se a sua quantidade for insuficiente, ela ficará ácida, perderá a tenacidade e poderá causar fitotoxidez. Para medir o pH, usa-se um aparelho chamado peagâmetro ou fita tornassol, adquiridos em farmácias. Estando ácida (pH abaixo de 7,0), deve-se acrescentar mais o leite da cal, até que seja neutralizada a acidez. A calda deve ser usada logo após o preparo. Não se deve aplicá-la quando as folhas estiverem molhadas por orvalho ou garoas. Aplicar com tempo fresco (temperatura de 25ºC a 30ºC e umidade relativa acima de 65%). A pulverização deve ser feita com alta pressão, microgotas, cobrindo toda a planta, preferencialmente de manhã ou no final da tarde, evitando-se as horas mais quentes do dia. O Quadro 1 apresenta as recomendações de aplicação da calda bordalesa nas seguintes fruteiras de clima temperado: pessegueiro, videira, figueira, caquizeiro e marmeleiro. Pasta bordalesa Os ferimentos no tronco das frutíferas, assim como os cortes feitos durante a poda, são porta de entrada para microrganismos, que poderão causar seca dos ramos, dos troncos ou mesmo causar outras doenças. É necessário proteger esses cortes e ferimentos com a pasta bordalesa. A formulação e o preparo são os mesmos da calda bordalesa, apenas reduzindo o volume de água. Essa pasta deve ser pincelada logo após os cortes, o que irá proteger e facilitar a cicatrização. Assim, deve-se dissolver a quantidade de sulfato de cobre e de cal recomendada na calda bordalesa em apenas 10 litros de água. Exemplos: 1:1:10; 2:2:10; 2:2,5:10. EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado 5 QUADRO 1 - Recomendação e concentração da calda bordalesa Proporção (kg de cal: kg de sulfato de cobre: 100 L de água) Época e número de aplicações Cultura Doença Marmeleiro Entomosporiose, podridãoamarga, podridão-preta 1:1:100 Tratamento de inverno/período vegetativo 1a - brotações com aproximadamente 12 cm; 2a - após florada, com frutos visíveis; 3a - 20 dias após e/ou repetir de 30 em 30 dias) Pessegueiro Ferrugem, bacteriose, crespeira, sarna, chumbinho, cancro-dos-ramos 2:2:100 Tratamento de inverno Videira Antracnose, míldio, podridões 0,5:0,5:100 Primeira folha separada 1,5:1,5:100 14 dias após a primeira 1,5:1,5:100 Inflorescência desenvolvida, flores separadas Figueira Ferrugem, antracnose, Seca-da-figueira Caquizeiro 2:2:100 Quatro aplicações: 1a - com bagas tamanho de ervilha; 2a - 14 dias após; 3a - início de maturação; 4a - pós-colheita. 1:1:100 Tratamento de inverno 0,8:1,5:100 Período vegetativo (novembro a abril) Cercosporiose 0,5:2,5:100 Período vegetativo (três a quatro aplicações, logo após o início da frutificação) Antracnose 1:1:100 Período vegetativo (duas a três aplicações) NOTA: O cobre contido na calda pode ser fitotóxico à folhagem do pessegueiro. Calda concentrada causa fitotoxidez na folhagem nova. Calda sulfocálcica A calda sulfocálcica, apesar de poder ser preparada na propriedade, requer maiores cuidados. Esta calda é um composto de cal virgem e enxofre, cuja reação resultará no polissulfeto de cálcio. Esse princípio ativo possui propriedades fungicida, acaricida e inseticida e controla musgos e líquens que, normalmente, formam-se nos pomares mais velhos. Além da possibilidade de ser produzida na propriedade, tem a vantagem de ter baixo custo, baixa toxidez ao homem e ser menos agressiva ao meio ambiente. Em fruteiras de clima temperado, como por exemplo caqui, figo, maçã, pera, pêssego e videira é usada no tratamento de inverno e erradica os micror- ganismos, ácaros, cochonilhas, musgos e líquens, fazendo uma limpeza nas plantas após a prática da primeira etapa do tratamento de inverno. Preparo e uso A fabricação da calda sulfocálcica é feita a quente e requer recipiente de metal (latão ou inox). Para preparar 100 litros dessa calda, utilizar um tambor de 200 litros. Dissolver primeiro o enxofre (25 kg) com um pouco de água quente, formando uma pasta mole, e completar com água. Quando a água esquentar (± 50ºC), derramar lentamente a cal virgem (12,5 kg), mexendo com uma vara comprida. Deixar ferver por 60 minutos, mexendo sempre. Tomar o cui- EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado dado, durante a fervura, de evitar os vapores exalados pela reação e queima dos produtos. Adicionar, sempre que necessário, um pouco de água fria, para evitar que a solução derrame. Quando atingir a coloração pardo-avermelhada (cor âmbar), a calda estará pronta. Tirar do fogo e deixar esfriar. Coar a calda e guardar os resíduos (borra) para caiação dos troncos das fruteiras. Não deixar a calda exposta ao ar, porque perderá a qualidade. A calda concentrada deve ser usada ou guardada em garrafões de plástico ou vidro bem tampados, em locais sombreados, por até 60 dias. A calda considerada boa possui uma densidade de 28 a 32 ºBé, medida com um densímetro ou aerômetro de Baumé. Para cada cultura é recomendada uma diluição da calda concentrada inicial. No Quadro 2, pode-se verificar a diluição desejada ou a quantidade de água a ser adicionada na calda, para se chegar à concentração inicial. Se o produtor tiver uma calda com 31 ºBé e quiser preparar outra com 4 ºBé, verificar, no Quadro 2, 6 a junção das colunas 31 ºBé e 4 ºBé, cuja quantidade de água é 8,6. Isto significa que deverá adicionar 8,6 litros de água a cada litro da calda inicial. A recomendação de aplicação da calda sulfocálcica, nas fruteiras de clima temperado, encontrase no Quadro 3. Fungicidas cúpricos São fungicidas à base de cobre, com grande número de produtos registrados, sendo um dos grupos mais utilizados na agricultura mundial. Isso se deve, talvez, ao baixo custo e à baixa toxidez e por atuarem sobre grande número de patógenos. A maioria dos fungicidas cúpricos atua bem sobre bactérias, sendo, portanto, considerados como fungicida/bactericida. Esses produtos podem ser usados como uma segunda opção, em relação às caldas, no tratamento de inverno. Sua aplicação deve ser feita como nas caldas, após a primeira etapa do tratamento de inverno. QUADRO 2 - Prática de diluição da calda sulfocálcica o Concentração inicial (ºBé) 4,0º 32º 9,0 10,5 12,4 19,3 31º 8,6 9,9 11,9 30º 8,2 9,5 29º 7,8 9,1 28º 7,1 3,5º 3,0º 2,0º Bé 1,5º 1,0º 0,8º 0,5º 0,3º 26,2 38,7 50,0 81,0 137,0 18,5 25,1 38,1 48,0 77,0 131,0 11,3 17,7 24,0 36,5 46,0 74,0 129,0 10,8 17,0 23,0 34,8 44,0 71,0 120,0 65,0 110,0 (1) Água (L) 15,4 31,9 (1) Litros de água a acrescentar de acordo com a concentração desejada. QUADRO 3 - Recomendação e concentração da calda sulfocálcica Cultura Doença Calda sulfocálcica (ºBé) Época Pessegueiro Ferrugem, podridão-parda, bacteriose, crespeira, sarna, chumbinho, cancrodos-ramos 4º Tratamento de inverno Videira Antracnose, podridões, escoriose 4º Tratamento de inverno Figueira Ferrugem 4º Tratamento de inverno Caquizeiro Cercosporiose, antracnose 4º Tratamento de inverno Marmeleiro Entomosporiose, podridão-amarga, prodridão-preta 4º Tratamento de inverno EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015 Aspectos fisiológicos da poda e tratamento de inverno para frutíferas de clima temperado CUIDADOS NO PREPARO E USO DAS CALDAS Para que se obtenham caldas de boa qualidade, alguns cuidados têm que ser observados, a saber: a) a cal deve ser de boa qualidade; b) a calda bordalesa ácida pode causar fitotoxidez a algumas famílias de plantas e à 7 REFERÊNCIA FACHINELLO, J.C.; NACHTIGAL, J.C. KERSTEN, E. Poda das plantas frutíferas. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. Disponível em: <http://www. cpact.embrapa.br/publicacoes/livros/fundamentosfruticultura/1.4.htm>. Acesso em: 23 jun. 2015. vegetação do pessegueiro; c) a calda bordalesa só pode ser aplicada no período de repouso vegetativo em algumas fruteiras temperadas; d) nunca utilizar para armazenagem recipientes de ferro, latão ou outros metais; e) nunca aplicar as caldas com sol muito quente, nem com temperatura muito baixa; f) quando utilizar cal hidratada, usar 30% a mais de cal; g) calda sulfocálcica não pode ser misturada a óleos minerais; h) a calda sulfocálcica é altamente alcalina e corrosiva a metais, roupas, pele e pulverizadores. Assim, após o uso, lavar tudo com solução de limão ou vinagre mais água na proporção de 1:10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CARVALHO, V.L. de; ALVARENGA, A.A. Tratamento de inverno em fruteiras temperadas. Lavras: EPAMIG-CTSM, 2003. 10p. (EPAMIG-CTSM. Circular Técnica, 160). FAUST M. Prunning and related manipulations: physiological effects. In: Physiology of temperate zone fruit trees. Toronto: J. Wiley, 1987. 494 p. PIO, R. Poda em plantas adultas de macieira, pereira, marmeleiro. In: PIO, R. Cultivo de fruteiras de clima temperado em regiões subtropicais e tropicais. Lavras: UFLA, 2014. 622p. TREVISAN, R. et al. Uso de poda verde, plásticos refletivos, antitranspirante e potássio na produção de pêssegos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, n.10, p.1485-1490, out. 2006. Disponível em: http://www.epamig.br, Publicações/Publicações disponíveis. Departamento de Informação Tecnológica EPAMIG. Circular Técnica, n.224, jul. 2015