Revisitando a Hipótese Locacional: algumas razões para voltar atrás... Sergio Menuzzi Departamento de Lingüística e Filologia Instituto de Letras/UFRGS Tardes de Lingüística na USP PPG em Lingüística -- FFLCH/USP São Paulo, 8 de dezembro de 2009 1. Introdução • • Tema geral: "teoria da associação" (ing. linking theory) entre a semântica dos predicados e sua realização sintática Relembrando as questões básicas da teoria da associação: (a) quais os elementos de significado dos predicados são relevantes para a associação com a sintaxe? (b) quais os princípios que regem esta associação? • Exemplos bem-conhecidos do problema, limitando-se às possibilidades de associações para Sujeito [SUJ] e Objeto [OBJ]: (1) "Verbos de ação": 'Agente' = SUJ, 'Paciente' = OBJ João comeu/mordeu/cortou a maçã (2) "Verbos de movimento": 'Tema' = SUJ, 'Trajeto' = OBJ A garrafa atravessou/cruzou/?percorreu o oceano (3) "Verbos de continência": 'Continente' = SUJ, 'Contido' = OBJ O livro tem/contém/inclui três capítulos • Objetivos da "teoria da associação": o que há de comum a 'Agentes', 'Temas' e 'Continentes' nestes predicados? como esta propriedade hipotética resulta na associação com a função de SUJ? • Algumas das concepções em sintaxe gerativa: (a) representação semântica do núcleo do predicado abreviada por uma lista de "papéis temáticos"; algum mecanismo de associação (p.ex., regras de redundância) ligando-os a uma representação lexical própria para a sintaxe (traços de subcategorização, estrutura de argumentos, etc.). Ex.: Stowell, Pesetsky, Grimshaw (b) representação semântica idem; princípio de associação exigindo biunicidade entre "papel temático" e "posição estrutural". Ex.: UTAH de Baker (c) representação semântica do verbo em termos de algum tipo de "estrutura de eventos", diretamente expressa em configuração sintática. Ex.: VP shells de Larson, inventário de configurações lexicais de Hale e Keyser • EM COMUM a estas abordagens: preocupação com propriedades estruturais das sentenças (e.g., relações de c-comando entre complementos, possibilidades de movimento-A, etc.), pouca preocupação com motivação da teoria semântica subjacente. • Para discussão, ver Levin & Rapaport-Hovav 2005 • AQUI: o contrário -- uma teoria cuja preocupação principal é motivar a representação semântica básica dos predicados e a partir dela propor alguma versão da "teoria da associação". Portanto, meu foco é na pergunta: "que elementos de significado são relevantes?" • Especificamente, minha pergunta será: quanto da chamada "hipótese temática/locacional", como formulada em Jackendoff (1983), deve ser abandonada? • • Em Jackendoff (1990), ela é abandonada na análise de duas das noções centrais para a semântica dos eventos complexos: as noções de "incoação" e da "causação manipulativa". O que pretendo sugerir é que isso é um erro: (a) as análises propostas por Jackendoff (1990) apresentam problemas; por exemplo, a análise da "causação manipulativa" é uma tentativa complicada de incorporar os insights de Talmy (1986, 1988, 2000); (b) uma das evidências fundamentais da "hipótese locacional" -- a distribuição de preposições -- indica o contrário. 2. Jackendoff (1983) e a "Abordagem Locacional" • Hipótese básica, especialmente em Jackendoff (1983) (formulada pela primeira vez por Gruber 1965): Semântica dos predicados é uma representação da estrutura de eventos cujo elemento central é uma "relação locacional" -- estática (locação propriamente dita) ou dinâmica (mudança de locação). Isto é: em princípios, todos os eventos refletem um "núcleo locacional"; eventos que não envolvem locação ou movimento são concebidos, por "extensão metafórica", como tal. • Uma das motivações básicas: a polissemia pervasiva de "verbos básicos", que ocorrem em diversos campos semânticos: (4) Verbo ser (predicado primitivo: BE) Campo locacional: O xerox é no segundo andar. Campo temporal: O encontro é às duas. Campo da posse: O livro é do João. (5) Verbo passar (GO) Campo locacional: O sofá passou do quarto para a sala. Campo temporal: A aula passou de terça para quarta Campo da posse: A casa passou do pai para o filho. (6) Verbo manter (CAUSE STAY) Campo locacional: Nós mantivemos o sofá na sala. Campo temporal: Nós mantivemos a aula na terça. Campo da posse: Nós mantivemos as jóias da vovó na família. • • A implementação de Jackendoff (1983): predicados são decompostos em "predicados primitivos", que expressam componentes de significado em comum. Funções básicas para "eventos simples", i.é, de "pura locação ou puro deslocamento"; sentenças da forma [NP V NP/PP]: (7) [PLACE] => [Place IN/AT/ON/etc. (THING)] (8) [PATH] => [Path TO/FROM/etc. (THING/PLACE)] (9) [EVENT] => [Event GO (THING, PATH)] [Event STAY (THING, PLACE)] (10) [STATE] => [State BE (THING, PLACE)] [State ORIENT (THING, PATH)] [State GOExt (THING, PLACE)] • Exemplos de representações semânticas: (11) John entered the house / João entrou na casa [Event GO (JOHN, [Path TO ([Place IN (HOUSE)])])] (12) John approached the house / João se aproximou da casa [Event GO (JOHN, [Path TOWARD (HOUSE)])] (13) John left the house (in a hurry)/João saiu da casa (apressado) [Event GO (JOHN, [Path FROM (HOUSE)])] • "Papéis temáticos" = argumentos das funções conceituais primitivas. Em particular, TEMA = todo o argumento em uma "relação locacional" com um PLACE ou um PATH. • Uma observação empírica importante: "funções locacionais" são mais freqüentemente lexicalizadas pelo verbo em inglês do que em português. Outros dois exemplos: (14) Verbos de contato: The car hit the pole / O carro bateu no poste John touched Mary / João tocou/encostou em Maria John stepped the grass / João pisou no gramado (15) Give/Dar leves expressando contato: John gave the table a kick / *a kick to/at the table João deu um chute na mesa John gave Mary a kiss / *a kiss to/on Mary João deu um beijo em Maria • "Eventos complexos": envolvem CAUSAÇÃO e introduzem o 'Agente/Causador'; sentenças da forma [NP V NP (PP)]: (14) [EVENT] => [Event CAUSE (THING/EVENT, EVENT)] [Event LET (THING/EVENT, EVENT)] (15) Beth threw the ball out the house/jogou a bola para fora da casa [Event CAUSE (BETH, [Event GO (BALL, [TO ([OUT HOUSE)])])] (16) The chief's visit kept Mary in office / A visita do chefe manteve Maria no escritório [Event CAUSE ([Event VISIT], [ STAY (MARY, [IN OFFICE])])])] (17) Bill released the bird from the cage / soltou o passarinho... [Event LET (BILL, [GO (BIRD, [FROM CAGE])])])] • • Estendendo a "semântica locacional" aos demais tipos de eventos: Natureza do argumento: similaridade de inferências semânticas e de realização sintática!! Exs. anteriores: tempo e posse Para o "campo identificacional" (categorização e propriedades) (18) The light is red / O sinal está vermelho [State BEIdent (LIGHT, [Place ATIdent ([Property RED])])] (19) The light went/changed from red to green/ O sinal foi/mudou/trocou do vermelho pro verde ("O sinal abriu") [Event GOIdent (LIGHT, [FROMIdent (RED), TOIdent (GREEN)])] (20) The smoke darkened the sky [Event CAUSE (SMOKE, [GO (SKY, [TO DARK])])])]. • IMPORTANTE: "incoação" expressa por [GO TO]! • Para o "campo circunstancial": eventos como PLACES ou PATHS! (21) Fred is composing a quartet / Fred está compondo um quarteto [St BECirc (FREDX , [ ATCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTET)])])] (22) Fred kept composing the quartet/ Fred se manteve compondo o quarteto [Ev STAY (FREDX , [ ATCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTET)])])] (23) Louise kept Fred composing quartets/ Louise manteve Fred compondo quartetos [CAUSE (LOUISE, [STAY (FREDX, [ AT COMPOSE (X, Q)])])] (24) Fred started composing quartets/ Fred começou a compor quartetos [Ev GO (FREDX , [ TOCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTETS)])])] • Análise de "verbos de manipulação" entram nesta análise: (25) Susie forced Jim to sing / Susie forçou Jim a cantar [Ev CAUSE (SUSIE, [GO (JIMX , [TO ([Ev SING (X)])])] (26) Susie prevented Jim from singing/Susie impediu Jim de cantar [CAUSE (SUSIE, [STAY (JIMX , [NOT AT ([SING (X)])])] (27) Susie allowed Jim to sing / Susie permitiu a Jim cantar/ Susie autorizou Jim a cantar [LET (SUSIE, [GO (JIMX , [TO ([ SING (X)])])] • IMPORTANTE: (26) expressa a idéia de que prevent significa algo como make X stay away from Z, sendo que away from Z é analisado como "not at Z". Como Jackendoff nota, isto torna from in (26) "unrelated to the source-function expressed by from" (p.200). • Algumas observações para lembrar: (a) "funções locacionais" são mais freqüentemente incorporadas ao verbo nas lexicalizações do inglês do que nas do português; (b) "incoação", no sistema de S&C, é na verdade uma "extensão metafórica" de "movimento espacial/mudança de locação" -- é expresso, conceitualmente, por [GO (X, [TO PROPERTY])]. (c) "manipulação" entre agentes também recebe "tratamento temático", sendo concebida como "causação de movimento direcional": [CAUSE (X, [GO (Y, [TO EVENT(Y,...)])])] (d) mas "manipulação negativa" não, com perda para a generalização óbvia que emerge de todos os demais padrões: (e) preposições diagnosticam as "funções locacionais" subjacentes! • Quanto à teoria da associação: o que emerge das várias análises são generalizações muito simples, embora S&C nem as aponte, muito menos as tente explicar: (a) em "eventos simples", o tema é associado ao sujeito e as "funções locacionais" são complementos (OD ou PP, dependendo da lexicalização verbal); (b) em "eventos complexos", o agente/causador é associado ao sujeito, o tema ao OD e as "funções locacionais" por PPs (quando sintaticamente manifestas). 3. Jackendoff (1990): Limitando o Escopo da Hipótese Temática • • Uma observação inicial importante: embora Jackendoff (1983) dê a atender que primitivos adotados são todos "temáticos", isto não é correto: CAUSE não é uma função que envolva PATHS ou PLACES!! Jackendoff (1990) observa outros problemas que o afastam ainda mais a teoria da "hipótese temática" O primeiro: ausência de um tratamento para processos (dormir, roncar) e atividades (dançar, trabalhar); introdução do primeiro primitivo "não locacional" para "eventos simples" = [MOVE(TH)] (28) John danced through the room / João dançou pela sala GO (JOHNX, [THROUGH ROOM]) [BY ([MOVE (X)])] • O segundo, que nos interessa mais aqui: o tratamento dado à "incoação"! Lembrando: "ter uma propriedade" é analisado como [BE AT PROPERTY] e "passar a ter uma propriedade" é analisado como [GO TO PROPERTY]: (29) As páginas estão amarelas (de tão velhas). [BE (PÁGINAS, [AT AMARELO])] (30) As páginas amarelaram (com o tempo) [GO (PÁGINAS, [TO AMARELO])] • • Aparentemente: "tema" e "locação" são os mesmos; o que muda é, simplesmente, é a "relação temática". Mas Jackendoff observa que a alternância entre estado e mudança de estado nem sempre pode ser analisada de modo tão simples. • Em particular: o resultado semântico é incorreto para verbos que já possuem "significado temático": (31) a) A bússola apontava para o norte. [ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])] b) A bússola apontou para o norte. #[GO (BÚSSOLA, [TO NORTE])] Significado: "A bússola foi para o norte" (32) a) A estrada de Santos alcança o litoral. [GOEXT (ESTRADA, [TO LITORAL])] b) A nova estrada alcançou o litoral. #[GO (ESTRADA, [TO LITORAL])] Significado (literal): "A nova estrada foi até o litoral" • Solução de Jackendoff: introdução de uma nova função primitiva, INCH, que denota o evento de incoação/incepção de um estado: (33) [EVENT] => [INCH ([STATE])] (34) As páginas estão amarelas/amarelaram. (cf. (29)-(30)) [BE (PÁGINAS, [AT AMARELO])] [INCH ([BE (PÁGINAS, [AT AMARELO])])] (35) A bússola apontava/apontou para o norte. (cf. (31)) [ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])] [INCH ([ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])])] (36) A nova estrada alcança/alcançou o litoral. [GOEXT (ESTRADA, [TO LITORAL])] [INCH ([GOEXT (ESTRADA, [TO LITORAL])])] (cf. (32)) • • Importante: INCH é uma função de estados, nada tem a ver com "locação" -- portanto, em princípio, nenhuma relação sistemática com preposições espaciais. Uma outra observação importante: Jackendoff reconhece que o tratamento de processos de mudança por meio do primitivo GO e suas "trajetórias" permanece justificado para alguns casos. Por exemplo, o exemplo abaixo não pode ser tratado por INCH: (37) a) A sopa está fria [BE (SOPA, [AT FRIO])] b) A sopa esfriou por minutos (mas continua quente) # [INCH ([BE (SOPA, [AT FRIO])])] [GO (SOPA, [TOWARD FRIO])] • • • Terceiro e último problema: não é bem um problema para os primitivos temáticos, já que faz com que Jackendoff elabore sua teoria da causação. Mas, para ele, o resultado é criar uma "camada conceitual" que, diferente de CAUSE, não se aplica diretamente a "noções locacionais"; o resultado é que torna estas ainda menos fundamentais para a estrutura de eventos e a teoria da associação. A questão básica: as noções básicas de "ator" e "paciente" (ou "afetado"), que estão associadas às funções de SUJ e OBJ, são independentes das "funções temáticas"! Exemplo de Jackendoff: (38) What happened to NP? a) Mary hit Fred b) The car hit the tree c) Mary hit the ball into the field (39) a) Sue hit Fred Tema Meta Ator/Agente Paciente b) The car hit Tema Ator(/Instr) c) Sue Causa Ator hit (Camada Locacional) (Camada Accional) the tree Meta Paciente the ball (Camada Locacional) (Camada Accional) into the field Tema Meta Paciente - (Camada Locacional) (Camada Accional) • • • • A implementação de Jackendoff: introduzir nas representações conceituais dos eventos um "componente accional", correspondente ao que Talmy (1985, 1988, 2000) chama de "sistema de dinâmica de forças": um sistema composto pela interação de dois participantes, um "agonista" e um "antagonista" "Agonista": o participante que tem alguma tendência inerente, dinâmica ("para realizar alguma ação") ou estática, de repouso ("para não realizar alguma ação"). "Antagonista": o participante que interage (ou pode interagir) com o agonista por meio de "transmissão de força", podendo impedir ou auxiliar o agonista em sua tendência inerente. Formalmente: [AFFECT± (X, Y)] • Voltando aos exemplos: (40) a) Sue hit Fred GO (SUE, [TO FRED]) AFFECT− (SUE, FRED) b) The car hit the tree GO (CAR, [TO TREE]) AFFECT− (CAR, TREE) c) Sue hit the ball into the field CAUSE (SUE, [GO (BALL, [TO FIELD])]) AFFECT−(SUE, BALL) • Conseqüências da introdução de AFFECT: são várias (por exemplo, tratamento para verbos psíquicos), mas aqui nos interessa uma: um novo tratamento, mais completo, para os "verbos de manipulação" -- baseado nos três valores possíveis para AFFECT: (a) AFFECT− = verbos em que o "antagonista" vai contra a tendência do "agonista": force, pressure, urge, prevent, hinder (b) AFFECT+ = verbos em que o "antagonista" vai a favor da tendência do "agonista": help, assist, aid (c) AFFECT0 = verbos em que o "antagonista" tem poder de intervir na tendência do "agonista", mas não o faz: let, allow, permit • Tratamento dos verbos de "manipulação negativa" (ver SS, p.131): não mais baseado numa "metáfora temática"!! (41) Susie forced Jim to sing / Susie forçou Jim a cantar S&C: [ CAUSE (SUSIE, [GO (JIMX , [TO ([ SING (X)])])] SS: CAUSE (SUSIE, [SING (JIM)]) AFFECT− (SUE, FRED) (42) Susie prevented Jim from singing/Susie impediu Jim de cantar S&C: [CAUSE (SUSIE, [STAY (JIM, [NOT AT ([SING (X)])])] SS: • CAUSE (SUSIE, [NOT [SING (JIM)]]) AFFECT− (SUE, FRED) Notar: agora, perda completa da relação com as preposições!! • Duas coisas para guardar: (a) a introdução de INCH na análise da "incoação" desvincula esta noção da "base locacional" e, portanto, do domínio das "extensões metafóricas" das "relações espaciais" -- o que inclui a associação sistemática com preposições espaciais. (b) o tratamento da "causação manipulativa" em termos de AFFECT agora permite unificar vários casos; mas elimina a necessidade de recorrer às "relações espaciais" a fim de dar conta dos "conflitos de orientação entre agonista e antagonista"; isso, novamente, ao custo de excluir a noção do domínio das extensões metafóricas das relações espaciais... 4. Alguns problemas e soluções • Os problemas de uma representação primitiva para "incoação": (a) O argumento conceitual de Jackendoff, é falho. Lembrar o problema: resultado incorreto para verbos com "conteúdo temático": (43) A bússola apontava/apontou para o norte. [ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])] #[GO (BÚSSOLA, [TO NORTE])] [INCH ([ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])])] Importante: a origem do problema é conceitual; INCH sugere que "incoação" é uma noção pertinente para entidades estruturadas temporalmente -- estados e eventos; evidente que GO TO, aplicado diretamente a THINGS e PLACES, não pode dar certo. • Mas lembrar "extensão metafórica" das relações temáticas para o "campo circunstancial": (44) Fred is composing a quartet / Fred está compondo um quarteto [St BECirc (FREDX , [ ATCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTET)])])] (45) Fred kept composing the quartet/ Fred se manteve compondo o quarteto [Ev STAY (FREDX , [ ATCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTET)])])] (46) Louise kept Fred composing quartets/ Louise manteve Fred compondo quartetos [CAUSE (LOUISE, [STAY (FREDX, [ AT COMPOSE (X, Q)])])] Importante: em sua leitura "circunstancial", funções temáticas se aplicam diretamente a eventos e estados, concebidos como "locações"!! • O caso crucial: "incoação" de eventos! (47) Fred started composing quartets/ Fred começou a compor quartetos [Ev GO (FREDX , [ TOCirc ([Ev COMPOSE (X, QUARTETS)])])] • A observação crucial: estes verbos selecionam preposição em português, e ela é como se poderia esperar! Notar, em particular, a oposição entre "incoação" e o processo inverso, de "cessação"! (48) Fred começou a compor quartetos Fred iniciou a compor quartetos Fred passou a compor quartetos (49) Fred parou de compor quartetos Fred deixou de compor quartetos • Pergunta: por que não em inglês? Resposta: por causa das tendências gerais de lexicalização das duas línguas!! (50) Fred started/began composing quartets (mas tb. com to) (51) Fred stopped/let composing (sem from) • Proposta de análise para a "incoação" (e a "cessação"): extensões metafóricas de GO TO (e de GO FROM): (52) As páginas estão amarelas/amarelaram. [BE (PÁGINAS, [AT AMARELO])] [GO (PÁGINASX , [TO ([BE (X, [AT AMARELO])])] (53) A bússola apontava/apontou para o norte. [ORIENT (BÚSSOLA, [TOWARD NORTE])] [GO (BÚSSOLAX , [TO ([ORIENT (X, [TOWARD NORTE])])] • As principais conseqüências: (a) INCH não é necessária, e o inventário das funções primitivas permanece pequeno; (b) mais que isso: para "eventos simples" -- especialmente, "eventos nucleares", permanece restrito às funções locacionais!! (Lembrar, entretanto: problema das processos e atividades permanece) (c) correlação entre "verbos de incoação/cessação" e preposições espaciais capturada. (d) analogia entre propriedades de predicados "ascripcionais" e "trajetórias" conservada (cf. obs. de Jackendoff sobre esfriar) • Os problemas da representação da "causação manipulativa" por meio de AFFECT: (a) O principal, como vimos: desvincular a semântica da "causação manipulativa" das relações locacionais; portanto, perda de explicação para a correlação óbvia com preposições espaciais: AFFECT− = verbos em que o "antagonista" vai contra a tendência do "agonista": forçar, pressionar, impelir, persuadir a ; prevenir, impedir, diassuadir de AFFECT+ = verbos em que o "antagonista" vai a favor da tendência do "agonista": ajudar, estimular a (mas assistir em...) AFFECT0 = verbos em que o "antagonista" tem poder de intervir na tendência do "agonista", mas não o faz: autorizar a (mas deixar, permitir diferentes...) (b) De novo, a fonte do problema é conceitual: a teoria dos sistemas de dinâmica de forças ["componente DF"] adotada por Jackendoff é baseada na análise profunda destes sistemas proposta por Talmy; mas AFFECT é implementação inadequada do componente DF, em particular com relação a duas coisas: - CAUSE e AFFECT não são componentes primitivos, mas derivados do sistema DF de Talmy; - a implementação de Jackendoff não consegue expressar de modo adequado a noção de "tendência inerente do agonista" -- que deve ser expressa, claramente, pelas funções locacionais primitivas!! • Para entender do que estou falando, inevitável: é preciso conhecer o sistema de Talmy!! Aqui, para encerrar: vou apresentá-lo brevemente e indicar as propriedades pertinentes. • As configurações DF mais simples: "interações de DF estáticas" • As configurações que mais nos interessam: as "dinâmicas" • O que é importante nas configurações dinâmicas: (a) CAUSE, LET (bem como "incoação" e "cessação") não são primitivos; (b) os primitivos são dois "papéis" e duas tendências: - o agonista, participante "com tendência inerente"; - o antagonista, participante "que interage com o antagonista" - as tendências do agonista: "dinâmica/para movimento" e "estática/para repouso" (c) Obviamente, os elementos mais básicos são os correspondentes do "sistema locacional" de Jackendoff: - as duas tendências são GO e BE; - o "agonista" é o TEMA. (c) Toda "causação" é uma relação entre duas eventualidades locacionais!