Baixar este arquivo PDF

Propaganda
III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Engenharia Florestal
AVALIAÇÃO DA INVASÃO BIOLÓGICA POR UVA-DO-JAPÃO (Hovenia dulcis Thunb.) EM UM
FRAGMENTO DE FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL NO MUNICÍPIO DE
DOIS VIZINHOS – PR.
Íris Cristina Bertolini¹*, Márcia Soares da Silva¹, Cristiano Hossel¹, Adilson José Novachaelley¹, Ailton
Medeiros¹, André Cousseau¹, Fernando Campanha Bechara², Eleandro José Brun², Álvaro Rodrigo Freddo²,
¹ Acadêmico do curso de Engenharia Florestal, Universidade Tecnológica Federal de Paraná- Campus Dois
Vizinhos, [email protected]
² Professor Doutor, Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Dois [email protected], [email protected],
Resumo: O presente trabalho avaliou o grau de infestação por uva-do-japão (Hovenia dulcis Thunb.), espécie
arbórea exótica invasora em uma Floresta Estacional Semidecidual. A área de estudo localiza-se em um
fragmento florestal localizado no Campus Dois Vizinhos da UTFPR. Para o estudo, foi realizado um inventário
florestal com base na instalação de 30 parcelas de 30 m² cada, com distribuição sistemática, onde os resultados
obtidos mostraram que o número médio de indivíduos adultos (CAP ≥ 10 cm) por hectare, ficou em 111 e na
regeneração natural (CAP < 10 cm) desta espécie foram encontradas 911 plantas por ha. A mata apresentava
vários estágios de sucessão (inicial, médio e avançado), sendo que o estágio inicial foi o que apresentou a maior
regeneração natural de uva-do-japão, muito provavelmente explicado pelo fato da espécie ser heliófita.
Palavras-chave: invasão e contaminação biológica, uva-do-japão, inventário florestal.
Introdução
O processo de invasão de um ecossistema por uma planta exótica - a contaminação biológica - se dá
quando qualquer espécie não natural de um ecossistema é introduzida nele e se naturaliza, passando a se
dispersar e a alterar esse ecossistema. A invasão por plantas exóticas afeta o funcionamento natural do
ecossistema e tira espaço das plantas nativas (Ziller, 2000).
As primeiras translocações de espécies de uma região a outra foram intencionais com a tentativa de
suprir necessidades mais voltadas para a área agrícola, bem como culturas para pastagens e também espécies
para a produção florestal, medicinal e ornamental.
Na região sul do Brasil, uma das espécies arbóreas que têm causado invasão biológica é a uva-do-japão
(Hovenia dulcis Thunb.), uma árvore caducifólia que atinge de 10 a 15 metros de altura, sendo originária da
Ásia, pertencente à família Rhamnaceae, a qual foi introduzida em nosso país com a finalidade da utilização de
sua madeira e para formação de quebra-ventos. Esta árvore é amplamente cultivada em parques, pomares e
eventualmente utilizada na arborização de ruas. Seus frutos são consumidos por pessoas e animais, trata-se de
uma planta muito rústica e de rápido crescimento (Lorenzi, 2003).
Em função disso, nas propriedades rurais onde ocorre invasão biológica com a espécie uva-do-japão
(Hovenia dulcis Thunb.), é importante que o agricultor tenha conhecimento dos efeitos danosos do fenômeno e
possa tomar atitudes para o seu controle. Vale observar que foram introduzidas no setor florestal brasileiro,
várias espécies de outras regiões do planeta com fins de produção de madeira e muitas destas têm potencial
invasor em nossos ecossistemas.
Quando discutimos o impacto que as plantas exóticas invasoras causam ao meio ambiente onde se
encontram espécies nativas, as relacionamos como “pragas” ou “erva-daninhas”, porque são plantas indesejadas
que crescem e se reproduzem rapidamente dispersando-se a grandes distâncias. Hoje vemos a dimensão do
problema quando temos a reprodução descontrolada de uma espécie exótica em um determinado local, ainda
mais quando esse local tem como predominância as plantas nativas.
UTFPR - Campus Dois Vizinhos
III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Engenharia Florestal
Porém, esse controle deve estar baseado em métodos tecnicamente testados, que tomem por base,
primeiramente, o grau de infestação da espécie invasora no ecossistema e no controle, através de corte ou morte
dos indivíduos em pé, entre outros métodos, visando, sobretudo a manutenção ou melhoria da floresta natural
sob invasão da espécie exótica invasora.
Segundo Ziller (2001), tamanho é o potencial de espécies exóticas de modificar sistemas naturais que as
plantas invasoras são atualmente consideradas a segunda maior ameaça à biodiversidade. Perdem apenas para a
destruição de habitats e a exploração humana direta, e constituem um problema subestimado.
Dentre as espécies de árvores já consagradas como invasoras no Brasil estão Pinus elliottii, Pinus taeda,
Casuarina equisetifolia, muito comum no litoral, Melia azedarach cinamomo, Tecoma stans amarelinho, Hovenia
dulcis uva-do-japão, Cassia mangium, Eriobothrya japonica nêspera, Cotoneaster sp. e Ligustrum japonicum
alfeneiro, este usado largamente para fins ornamentais. Entre as plantas menores, o gênero Bracchiaria, de capins
introduzidos para pastagens, é dos mais problemáticos (Ziller, 2004).
O problema de invasão por Pinus, no entanto, não é tão recente. O mais antigo relato de invasão por
Pinus em vegetação natural no Hemisfério Sul é 1855, quando a espécie Pinus halapensis foi notada se
disseminando em grandes proporções na África do Sul. Atualmente, pelo menos 19 espécies de Pinus estão bem
estabelecidas no Hemisfério Sul como invasoras de ecossistemas naturais. Dentre as espécies desse gênero mais
invasivas em campos abertos no Brasil estão o Pinus elliottii e o Pinus taeda, que segundo Lima (2003) figuram
entre as 100 maiores invasoras do planeta, listadas pela IUCN.
Materiais e Métodos
O presente trabalho foi realizado em um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em estágio
médio de regeneração (aproximadamente 20 anos de idade), no Campus Dois Vizinhos da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Há um talhão de reflorestamento de uva-do-japão no interior desta floresta, o
qual possui cerca de 0,83 hectares e uma idade aproximada de 4 anos, mas que não apresenta frutificação. Várias
árvores adultas de uva-do-japão são encontradas nas áreas ao redor da floresta, especialmente em pastagens e nas
bordas da mata, as quais estão produzindo frutos.
Para avaliar o grau de infestação da invasora estudada, realizou-se um levantamento piloto da presença
e quantidade dos indivíduos de H. dulcis Thunb, no qual foram amostradas 30 parcelas de dimensões de 10 m de
comprimento por 3 m de largura cada, perfazendo uma área de 30 m² quadrados para cada unidade amostral.
As parcelas foram alocadas ao longo da trilha ecológica existente nesta floresta, com distribuição
sistemática a cada 50 m de trilha, sempre do lado esquerdo da mesma. Para a instalação das parcelas foi deixada
sempre uma bordadura de 10 m de distância, buscando-se com isso a minimização de possíveis interferências da
abertura e uso da trilha na dispersão da espécie, e após isso instalada a marcação do início da parcela. Estas
foram instaladas sempre com seu maior comprimento (10 m) de forma perpendicular ao traçado da trilha
ecológica.
Nas parcelas instaladas, avaliou-se a presença de indivíduos adultos e regeneração de H. dulcis Thunb.
Considerou-se no estudo, que indivíduos arbóreos adultos são todos aqueles com CAP (circunferência na altura
do peito) (CAP ≥ 10 cm). E para computo da regeneração foram considerados todos os indivíduos com no
mínimo (CAP < 30 cm) de altura.
As variáveis ambientais coletadas em cada unidade amostral foram as seguintes:
UTFPR - Campus Dois Vizinhos
III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Engenharia Florestal
- estágio sucessional da floresta (inicial, médio ou avançado), de acordo com a Resolução CONAMA 02/94
(CONAMA 2008);
- presença de flores ou frutos nos indivíduos adultos.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos nas unidades amostrais demonstram que há uma maior quantidade de regeneração
comparada a indivíduos adultos de H. dulcis Thunb. na floresta estudada. Os adultos equivaleram a uma média
de 111 árvores de uva-do-japão por hectare, já na regeneração foram computados 911 indivíduos por hectare.
Este resultado indica que a espécie provavelmente está proliferando-se na floresta, merecendo uma
maior atenção e cuidados para que a invasão biológica não venha causar mais danos ao ambiente estudado. Esse
aspecto deixa claro que, se nada for feito, o grau de invasão da espécie e os danos daí decorrentes poderão se
avolumar em um futuro próximo.
Um indicador da grande quantidade de regeneração da uva-do-japão no ambiente é a quantidade de
matrizes produtoras de sementes. De acordo com o inventário, 73% dos indivíduos adultos estão produzindo
frutos, demonstrando o potencial invasor que a espécie tem no ambiente, pois aves e mamíferos auxiliam na sua
dispersão. A época de coleta de dados, entre os meses de fevereiro e março, foi detectada como período de
frutificação e dispersão para a espécie na região.
O inventário foi realizado através de amostragem sistemática, não levando em consideração os estágios
sucessionais na distribuição das parcelas, mesmo por que não existe um levantamento da quantidade de área
referente a cada estágio. No entanto, visando detectar possíveis diferenças na ocorrência de uva-do-japão entre
os estágios sucessionais, levantou-se em que estágio sucessional cada unidade amostral pertencia.
Das 30 parcelas inventariadas, três encontravam-se em estágio avançado, 5 em estágio inicial e o
restante 22 parcelas encontravam-se em estágio médio de regeneração. Após realizada a estimativa do número de
indivíduos adultos e de regenerantes,foi feita a comparação no número de indivíduos por estágio sucessional
(Tabela 1).
Conclusão
Os resultados obtidos no presente trabalho permitem concluir que:
- a H. dulcis Thunb. tem maior sucesso em sua invasão biológica em matas secundárias de estágio
inicial e médio de sucessão;
- o potencial invasor da uva-do-japão é alto, pois a média de indivíduos de regeneração na floresta
estudada foi de 911 por hectare, com a presença de 111 árvores adultas por hectare, a maioria delas (73%)
produzindo frutos;
- nos estágios sucessionais mais avançados a uva-do-japão perde espaço para as espécies nativas, com a
diminuição da regeneração da espécie, dos estágios iniciais para os estágios médio e avançado de sucessão;
- a presença de matrizes férteis no local está ajudando na disseminação da espécie, muito provavelmente
colaborada pela dispersão realizada por aves e mamíferos nativos do local.
Algumas propostas e recomendações podem ser feitas a partir destes resultados:
UTFPR - Campus Dois Vizinhos
III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Engenharia Florestal
- através da ampliação da amostragem desse estudo, poderão ser observados outros aspectos como o
volume aproveitável de madeira dos indivíduos adultos, visando seu aproveitamento, bem como outras
características do ambiente que influenciam a dispersão e estabelecimento da espécie;
- a eliminação das árvores matrizes através de algum método que seja permitido e que não venha a
danificar a vegetação nativa, faz-se necessário para diminuir a regeneração da uva-do-japão na floresta. A
eliminação destas árvores poderia ser feita cortando-as com queda direcional, tentando danificar o mínimo
possível da vegetação ao redor, assim pode ser utilizada a madeira;
- as matrizes de uva-do-japão podem rebrotar, para evitar isto, deve-se combater a mesma. Por exemplo,
pode-se testar o uso de lona preta para envolver os tocos inibindo a luz à planta, ou cortar os tocos rentes ao solo
e tapá-los com terra e serrapilheira, ou até mesmo testar a utilização de herbicida na rebrota, dentre outros;
- um acompanhamento da evolução da invasão biológica da floresta através da utilização de um
inventário com parcelas permanentes fazendo-se medições anuais, mostrará resultados interessantes de como a
H. dulcis Thunb. se comporta com o desenvolvimento da floresta ao longo do tempo;
- tratando-se de gestão ambiental pode-se afirmar que o tema invasão biológica é assunto preocupante,
pois trata - se de um problema que atinge a conservação da biodiversidade, especialmente em ecossistemas
perturbados por ações antrópicas, onde a uva-do-japão encontrou ambiente propício para seu desenvolvimento,
como no estudo as florestas secundárias da região sul do Brasil.
Referências
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução 02/1994. Define formações vegetais primárias e
estágios sucessionais de vegetação secundária, com finalidade de orientar os procedimentos de
licenciamento de exploração da vegetação nativa no Paraná. Disponível em: http://www.mma.gov.br.
Acesso em 12/03/2009.
LIMA, L. Espécies invasoras. Rev. Galileu, São Paulo, n. 145, p. 45-56, 2003.
LORENZI, H. Árvores Exóticas no Brasil: madeireiras, ornamentais e aromáticas. Nova Odessa, SP:
Instituto Plantarum, 2003, 368p. 28
ZILLER, S. R. A Estepe Gramíneo-Lenhosa no Segundo Planalto do Paraná: Diagnóstico Ambiental com
Enfoque à Contaminação Biológica. UFPR, Curitiba, PR, 2000, Tese de Doutorado, 285p.
ZILLER S. R. Os processos de degradação ambiental originados por plantas exóticas invasoras. Ciência Hoje,
2004.
ZILLER, S. R. Plantas exóticas invasoras: a ameaça da contaminação biológica. Ciência Hoje, v. 1, n. 178, p. 77
– 79, Dez/2001.
Tabela 1. Comparativo entre os diferentes estágios sucessionais da floresta com o número de indivíduos adultos
e de regeneração de Hovenia dulcis Thunb em fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em Dois
Vizinhos, PR, 2009.
Estágios Sucessionais
Adultos (Nº ind./ha)
Regeneração (Nºind./ha)
Inicial
Médio
Avançado
67
121
111
UTFPR - Campus Dois Vizinhos
3267
500
0
Download