a percepção dos familiares e da equipe sobre o

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A PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES E DA EQUIPE SOBRE O ATENDIMENTO AS
CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS EM UM CENTRO DE EQUOTERAPIA1
Perceptions of Family and Team on Children With Special Needs Service in a Hippotherapy Center
Jéssica Reichert STROCHEIN2
Francisco Carlos Pinto RODRIGUES3
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo: Investigar junto aos familiares de crianças com necessidades
especiais de saúde e instrutores os benefícios proporcionados pela equoterapia tanto nos aspectos
físicos quanto cognitivos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tipo descritiva. O local da pesquisa
foi um Centro de Equoterapia do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Os participantes foram
familiares das crianças com necessidades especiais de saúde e que frequentam o Centro de
equoterapia e os membros da equipe multidisciplinar. A coleta de dados ocorreu entre os meses de
setembro e outubro de 2015. Utilizaram-se como instrumentos de coleta de dados a análise
documental e a entrevista semi-estruturada. Respeitaram-se os aspectos éticos estabelecidos pela
resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram analisados mediante análise
temática, surgiram as seguintes categorias: A equoterapia e a melhoria no prognóstico; Aspectos
que contribuem para a interação social dos praticantes; Avaliação e o planejamento do cuidado;
Trabalho multidisciplinar/interdisciplinar; O papel da família no tratamento; A enfermagem na
equoterapia. Concluiu-se que a equoterapia promove aos praticantes ganhos de ordem física,
psicológica e educacional, beneficiando significativamente o cotidiano das famílias. Ficou evidente
a necessidade de se implementar ações de enfermagem dentro dessa modalidade de tratamento.
Palavras-chave: Equoterapia; Familiares; Equipe.
ABSTRACT
The research aimed to investigate together the families of children with special health care needs
and teachers the benefits provided by hippotherapy both the physical aspects as cognitive. The
research site was a therapeutic riding center in the state of Rio Grande do Sul. The research is
qualitative, descriptive. Survey participants were families of children with special health care needs
and who attend hippotherapy center and members of the multidisciplinary team. The data collection
took place between september and october 2015. Data collection tools used to semi-structured
interview. Respect to the ethical aspects established by resolution 466/12 of the national health
council. The data were analyzed using thematic analysis and emerged the following categories: the
equine therapy and improvement of prognosis; aspects that contribute to the social interaction of
practitioners; assessment and care planning; multidisciplinary work/interdisciplinary; the role of the
1
Pesquisa realizada com apoio do GEPESE (Grupos de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, Saúde e Educação).
Enfermeira. Graduada pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Campus Santo
Ângelo/RS.
3
Mestre em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões. Campus Santo Ângelo/RS. Membro do GEPESE.
2
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family in the treatment; nursing in hippotherapy. It was concluded that this research confirms that
the riding therapy promotes practitioners gains physical, psychological and educational,
significantly benefiting the families of the everyday. And it was evident the need to implement
nursing actions within this treatment modality.
Keywords: Equined-Assited Therapy; Family; Team.
1
INTRODUÇÃO
Os animais fazem parte da vida do homem, desde os primórdios, e os benefícios da
convivência ganhou importância ao longo da história a partir do momento em que foram observados
melhoras no quadro clínico de pacientes que mantinham contato com animais durante o processo
terapêutico. Diante disso, os profissionais da área da saúde passaram a dar uma maior atenção a essa
prática visando conhecer e compreender de uma melhor forma os seus efeitos e suas implicações
(REGO, 2010).
No Brasil, somente em 1997, após vários anos de estudos e pesquisas, e através de
resultados comprovados, se deu o reconhecimento da equoterapia. Definindo então, essa prática
como um método terapêutico que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar nas áreas da
saúde, educação e equitação (CIRILLO, 2002).
A equoterapia utiliza o cavalo como um agente promotor de ganhos de ordem física,
psicológica e educacional. Várias pesquisas têm apontado melhorias após intervenções com a
equoterapia nas funções motoras grossas, especialmente no caminhar, correr e saltar de crianças
com paralisia cerebral, na simetria da atividade muscular de tronco e no equilíbrio em pé e em
quatro apoios, além de benefícios psicológicos e melhor interação social (COPETTI et al., 2007).
Segundo estudos de Marcelino e Melo (2006), o movimento causado pelo passo do cavalo
assemelha-se ao da marcha humana, pois o dorso do cavalo realiza um movimento tridimensional
para frente e para trás, para um lado e para o outro, para cima e para baixo, fazendo com que o
paciente obtenha reações de equilíbrio e de alinhamento postural para que se possa se manter sobre
ele. Esses movimentos são transmitidos ao cérebro do paciente pelas inúmeras terminações
nervosas aferentes, o cérebro manda informações ao corpo para que novos ajustes motores sejam
realizados por meio do comportamento adaptativo, resultantes dos estímulos da equoterapia.
O cavalo possui três andaduras naturais: passo, trote e galope. Dentre essas, a mais utilizada
é o passo. Quando se locomove ao passo, o cavalo realiza movimentos que favorecem a cinética,
propriocepção, estimulação sensorial e vestibular, facilitando o equilíbrio e a coordenação,
promovendo resultado logo nas primeiras sessões de terapia (MARCELINO; MELO, 2006).
Segundo a ANDE-BRASIL (RAMOS, 2007, p. 84), a equoterapia possui quatro programas
básicos: hipoterapia, educação/reeducação, pré-esportivo e prática esportiva adaptada:
a) A Hipoterapia foi o primeiro programa da Equoterapia, usado geralmente por
praticantes com comprometimento físico ou mental maior, ou até mesmo alguém que
não saiba ou não queira conduzir o cavalo. Nesse programa, o objetivo não é ensinar o
praticante a conduzir o cavalo, mas usá-lo como instrumento cinesioterapêutico para
melhoria das suas condições físicas e/ou como objeto transicional para seu
desenvolvimento pessoal, seja psicológico, psicomotor, educacional ou da fala.
b) Na Educação/reeducação o paciente tem condições de exercer alguma atuação sobre o
cavalo e conduzi-lo, dependendo, em menor grau, do auxiliar-lateral. A atuação do
profissional de equitação torna-se mais intensa, embora os exercícios necessitem ser
programados por toda a equipe, conforme os objetivos propostos. O cavalo continua
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propiciando melhora pelo seu movimento tridimensional, atuando como facilitador do
processo ensino-aprendizagem e o paciente passa a interagir com mais intensidade.
c) Já no Pré-esportivo o paciente possui boas condições para atuar e conduzir o cavalo,
podendo participar de pequenos exercícios específicos de hipismo. A atuação do
profissional de equitação é intensa, porém precisa de orientação e do acompanhamento
dos profissionais das áreas de saúde e educação. O paciente desempenha grande
influência sobre o cavalo, e este é utilizado como agente de inserção/reinserção social.
A equoterapia, conforme a Associação Nacional de Equoterapia (2005) é formada de
programas específicos organizados conforme as necessidades e potencialidades de cada paciente, do
objetivo do programa e das metas a serem alcançadas.
Segundo profissionais da área, a equoterapia é indicada para o tratamento dos mais diversos
tipos de comprometimentos motores, como: paralisia cerebral, problemas neurológicos,
ortopédicos, posturais; comprometimentos mentais, como a Síndrome de Down, comprometimentos
sociais, tais como: distúrbios de comportamento, autismo, esquizofrenia, psicoses;
comprometimentos emocionais, deficiência visual, deficiência auditiva, problemas escolares, tais
como distúrbio de atenção, percepção, fala, linguagem, hiperatividade, e pessoas "saudáveis" que
tenham problemas de posturas, insônia, stress. Ajudam também na diminuição da agressividade,
antipatias, tornando o praticante mais sociável e ajudando a construir amizades e treinar padrões de
comportamento como: ajudar e ser ajudado, diminuir e aceitar regras, encaixar as exigências do
próprio indivíduo com as necessidades do grupo, aceitar as próprias limitações e as limitações do
outro (LIMAS, 2010).
Segundo Rocha e Lopes (2003), existem algumas contras indicações que se referem às
graves afecções da coluna vertebral como a hérnia de disco, esclerose em evolução, epífise do
crescimento e infecciosos, luxação e sub-luxação de quadril, osteoporose, espinha bífida,
cardiopatias agudas, obesidade, alergia ao pelo do cavalo.
Referindo-se ao ponto de vista psicológico, é contra indicada para medos e fobias em graus
muito acentuados, para distúrbios de comportamento que acarretem risco para o praticante e/o
outros, para forte rejeição ao cavalo e para graves transtornos psiquiátricos (NASCIMENTO, 2006).
Cabe ressaltar que qualquer terapia assistida por animais (TAA) deve ser supervisionada por
profissionais da saúde habilitados e os animais devem ter o acompanhamento de médico veterinário
garantido o bom estado de saúde do animal (MACHADO et al, 2008).
Nesse sentido, a pesquisa se justifica no sentido de reforçar a importância dos animais na
terapia com pacientes, especialmente a equoterapia. A relevância desta pesquisa está na
possibilidade de compreender sob a ótica da equipe de saúde e dos familiares dos praticantes de um
Centro de Equoterapia os benefícios proporcionados pela equoterapia no desenvolvimento dos
praticantes.
2
OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Investigar junto aos familiares de crianças com necessidades especiais e instrutores os
benefícios proporcionados pela equoterapia tanto nos aspectos físicos quanto cognitivos.
2.1 Objetivos específicos
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Investigar como os instrutores da equoterapia percebem os avanços proporcionados junto as
crianças com necessidades especiais e como destacam a participação dos familiares nesse
contexto;
Perceber como a Equipe de saúde planeja o cuidado das crianças com necessidades especiais
junto à equipe multidisciplinar;
Identificar lacunas existentes para atuação da enfermagem nessa prática.
3
PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 Tipo de Pesquisa
Caracterizou-se como uma pesquisa de abordagem qualitativa tipo descritiva. A pesquisa
qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos
valores e das atitudes. Podendo identificar este contexto com o ser humano, pois este também
possui sentimentos e sensações podendo refletir sobre seus atos (GIL, 1999).
É descritiva porque tem como principal objetivo a descrição das características de
determinada população ou fenômeno, também o estabelecimento de relações entre variáveis. Uma
de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de
dados (GIL, 1999).
3.2 Local da pesquisa
Os dados foram coletados junto a um Centro de Equoterapia, localizado na Região Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul. O Centro Missioneiro de Equoterapia Santo Ângelo Custódio –
CMESAC/RS está instalado há mais de dois anos no parque de exposições Siegfried Ritter e tem
como coordenadora técnica a psicóloga Mariliane Adriana Monteiro.
O centro surgiu graças a uma parceria entre a prefeitura municipal, URI e o Núcleo
Missioneiro de Criadores de Cavalos Crioulos (NMCCC). Ele possui uma área coberta de 1200
metros quadrados (picadeiro), duas salas de atendimento individual, uma sala de grupos, sala
administrativa, sanitários adequados para pessoas portadoras de necessidades especiais, ambulatório
e sala de espera.
Conta com o trabalho de uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos,
fisioterapeuta, educadores físicos e equitador. Cada um com sua função, e todos trabalhando com
dedicação para dar sequência a um projeto que tem beneficiado várias pessoas. Uma vez por
semana, durante 45 minutos, dois a quatro profissionais acompanham a criança enquanto está sobre
o cavalo, segurando-a, ao mesmo tempo em que ela equilibra-se.
Os acessórios de proteção incluem capacete e colete. Ali, naquele espaço, e em movimento,
o praticante brinca com jogos, exercita-se fisicamente, raciocina, enquanto é avaliada e adentra um
mundo cada vez menos desconhecido, graças à diminuição de medos e quebra de barreiras.
A prática é gratuita e para participar o praticante precisa de uma liberação médica,
psicológica e fisioterápica. Após, ele passará por uma avaliação da equipe multidisciplinar do
próprio CMESAC. Quando levam os filhos para lá, enquanto estes vão para o picadeiro, os pais
permanecem em uma sala, acompanhados por uma profissional, e ali trocam experiências sobre o
tratamento. O processo terapêutico é praticado com animais da raça crioula, especificamente
treinados.
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3.3 Participantes da pesquisa
A amostra se deu por inclusão, ou seja, conforme as pessoas iam participando da pesquisa
eram sendo incluídas. Essa técnica busca por um critério de representatividade numérica que reflete
a totalidade das múltiplas dimensões do objeto em pesquisa (MINAYO, 2010). Os participantes da
pesquisa foram familiares de crianças com necessidades especiais de saúde que são atendidas no
Centro de equoterapia e a equipe multidisciplinar.
Os critérios de inclusão foram: ser familiar de crianças com necessidades especiais de saúde;
fazer parte da equipe multidisciplinar do Centro de equoterapia e aceitar participar da pesquisa. E,
como critérios de exclusão: não ser familiar do praticante; não fazer parte da equipe multidisciplinar
do Centro de Equoterapia e não aceitar participar da pesquisa.
Participaram da pesquisa um total de 17 participantes, assim distribuídos: 9 familiares e 8
profissionais da equipe de saúde. Os profissionais que participaram foram: 4 psicólogos, 3
educadores físicos, 1 fisioterapeuta e 1 equitador.
3.4 A coleta de dados
O período de coleta de dados aconteceu entre os meses de setembro e outubro de 2015. Em
um primeiro momento foram analisados os prontuários dos praticantes da equoterapia, para um
levantamento sobre os diagnósticos médicos. Em um segundo momento foram aplicadas as
entrevistas semi-estruturadas com os familiares dos praticantes e, por fim, foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas com a equipe multidisciplinar.
Os dados foram coletados no Centro de Equoterapia, em sala específica para realização das
entrevistas, sempre individualmente. Foram realizadas tanto no período da manhã como tarde,
conforme o agendamento dos atendimentos aos praticantes.
3.5 Instrumentos de coleta de dados
Como instrumentos de coleta de dados utilizaram-se a análise documental e a entrevista
semi-estruturada, com perguntas abertas. A análise documental baseia-se em documentos como
material primordial, extraem deles a análise, organizando-os e interpretando-os segundo os
objetivos da investigação proposta (PIMENTEL, 2001).
A entrevista pode ser realizada através da escrita ou verbalmente, sendo que o tema
abordado pode ser mais bem exposto pelo entrevistado (MINAYO, 2010). As entrevistas foram
realizadas com a utilização do gravador e, posteriormente, transcritas na íntegra.
3.6 Aspectos éticos
A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de Santo Ângelo, sob parecer número
607.127. Respeitaram-se os preceitos éticos estabelecidos pela resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS).
Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, declarando sua
livre participação na pesquisa, após ter recebido os devidos esclarecimentos sobre os objetivos e o
método da pesquisa. Também para a instituição solicitou-se o preenchimento de um termo de
coparticipação, autorizando a realização da pesquisa.
Para a preservação da identidade dos participantes utilizaram-se os seguintes códigos: ENT.
EQ. para os dados obtidos através das entrevistas realizadas com a equipe de saúde e ENT. FAM.
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para os dados obtidos dos familiares.
3.7 Análise dos dados
Os dados foram analisados mediante análise temática, que consiste em extrair núcleos de
sentido no qual a frequência denota algo para o objeto visado, desdobrando-se em três etapas: préanálise (escolha dos documentos e retomada dos objetivos iniciais), exploração do material (procura
alcançar núcleo de compreensão do texto através de uma operação classificatória), e tratamento dos
resultados obtido e interpretação (MINAYO, 2010).
As entrevistas foram transcritas na integra e após tal procedimento feita uma leitura
criteriosa das falas. Tal leitura visou à apreensão dos significados contidos nas respostas, a partir
disso agruparam-se as respostas de significados semelhantes, para a contagem das frequências e
outros aspectos que podiam ser quantificados. Foram citados também alguns fragmentos das falas
dos entrevistados a fim de demonstrar os aspectos mais importantes e ilustrar a discussão proposta.
Após o tratamento e análise dos resultados surgiram as seguintes categorias que foram assim
nominadas: A equoterapia e a melhoria no prognóstico; Aspectos que contribuem para a
interação social dos praticantes; Avaliação e o planejamento do cuidado; Trabalho
multidisciplinar/interdisciplinar; O papel da família no tratamento; A enfermagem na
equoterapia.
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A equoterapia e a melhoria no prognóstico
Medeiros e Dias (2002) afirmam que pelo alinhamento do centro de gravidade
homem/cavalo é possível acionar o sistema nervoso, alcançando objetivos neuromotores como:
melhora do equilíbrio, ajuste tônico, alinhamento corporal, consciência corporal, coordenação
motora e força muscular. Segundo Ramos (2007) e Freire (1999), a prática da Equoterapia busca
benefícios físicos, psíquicos, educacionais e sociais de pessoas com deficiências físicas ou mentais
e/ou com necessidades especiais, sendo indicada nos casos de: lesões neuromotoras de origem
encefálica ou medular; patologias ortopédicas congênitas ou adquiridas por acidentes diversos;
disfunções sensório-motoras; necessidades educativas especiais; distúrbios: evolutivos;
comportamentais; de aprendizagem e emocionais.
Sendo assim, dentre as patologias citadas pelos entrevistados, os problemas motores foram
os mais mencionados. Muitos participantes, quando indagados sobre quais patologias a Equoterapia
era indicada, referiam-se inicialmente à patologia do seu filho (a), e depois falavam: para qualquer
tipo. Foi necessário pedir-lhes que citassem algumas, mas alguns pais tiveram dificuldades em citar,
como constatado a seguir:
“Bom, são vários, mas a principal é o equilíbrio, o fortalecimento do tônus,
porque ele teve paralisia cerebral e afetou diretamente a parte motora e com
esse projeto vem só a beneficiar e melhorar a qualidade de vida dele, tem a
tendência a conseguir ficar sentando pelo menos, nem isso ele conseguia
fazer.” ENT. FAM. 3
“Na equo todas as expectativas, principalmente da paralisia a gente encontra
na equo né, pelo tônus muscular que o cavalo fornece, então é uma grande
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expectativa a equo, melhorou bastante assim.” ENT. FAM. 2
“Em tudo ela se desenvolve melhor, assim a parte motora foi a que mais a
gente... visível...” ENT. FAM. 4
“Eu acho que assim ó, que tem dado resultado que eu sei, pelo que eu já li
também, principalmente na parte motora...” ENT. FAM. 6
Segundo estudos de Copetti et al., (2007), observou-se melhorias após intervenções com a
equoterapia nas funções motoras grossas, especialmente no caminhar, correr e saltar de pessoas com
paralisia cerebral, na simetria da atividade muscular de tronco e no equilíbrio em pé e em quatro
apoios, além de benefícios nos campos psicológico e social. Os achados da pesquisa vão ao
encontro dessas afirmativas como alguns fragmentos abaixo:
“Principalmente caminhar, ela não se firmava, não firmava o pescoço, a mão
ela tinha muito pouco coordenação, se firmar as pernas também ela não se
firmava e em pouco tempo, acho que foi 6 meses, não chegou a 6 meses, ela
já começou a firmar o pescoçinho e daí depois ela foi firmando as
perninhas...” ENT. FAM. 7
“Ela começou a firmar o tronco, os ombrinhos, ela começou a sentar com
apoio depois que ela começou a vir na equoterapia, até então ela não firmava
nada, nem o pescoçinho, agora ela já fica sentadinha com apoio e já ta
começando a ficar de joelhinho, apoiadinha pela frente, então tudo isso ela
começou evoluir depois que ela veio aqui.” ENT. FAM. 4
“Outra é a postura, quando a gente começou ele tava bem mais pequenininho,
mas ele não firmava, ele não se firmava, hoje ele já consegue ter um controle
mais da cabeça, ele tinha a cabeça caidinha agora ele já levanta sozinho...”
ENT. FAM. 2
A maioria da população pesquisada citou como benefício da Equoterapia a melhora da
psicomotricidade, esse resultado confere com os dados de Gimenes (2006), em sua pesquisa com
profissionais de saúde, na qual procurou verificar o conhecimento em relação à Equoterapia e notou
que os benefícios físicos e psicomotores foram os mais identificados por eles.
Portanto, dentre as várias patologias que podem ser tratadas através da equoterapia o
trabalho psicomotor encontra, nesta forma de terapia, um excelente campo de atuação, pois essa
modalidade de tratamento reúne o trabalho de uma equipe interdisciplinar, o contato com o animal e
a interação do meio físico e social para proporcionar benefícios.
4.2 Aspectos que contribuem para a interação social dos praticantes
A equoterapia, além de sua função cinesioterápica, produz importante participação no
aspecto psíquico, uma vez que o indivíduo usa o animal para desenvolver e modificar atitudes e
comportamentos, favorecendo a sua reintegração social, que é estimulada pelo contato do indivíduo
com a equipe e com o animal, aproximando-o desta maneira, cada vez mais, da sociedade na qual
convive (FREIRE, 1999).
Constatou-se em vários momentos das falas dos entrevistados a melhoria da interação
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proporcionada pela equoterapia, a qual produz mudanças importantes no cotidiano dos praticantes e
familiares, principalmente na comunicação entre ambos, o que pode ser visto nas seguintes
afirmações:
“É o aspecto cognitivo, porque a gente quer que ela desenvolva né, a gente
busca o desenvolvimento dela, a interação dela com outras pessoas, o
desenvolvimento...” ENT. FAM. 1
“O que a equoterapia proporcionou pra ele foi o desenvolvimento dele com as
pessoas, porque a gente chegava nos lugares e ele chorava, aí hoje com a
equo ele melhorou isso...” ENT. FAM. 2
“(...) a gente consegue interagir melhor com ele, de saber o que é que ele
quer, que antes a gente ‘ah tu quer tal coisa?’ a gente não sabia se ele tava
respondendo não, agora ele não diz que sim e não, mas ele responde, ele olha,
ele vira o rosto, então no cognitivo é uma parte melhor assim.” ENT. FAM. 2
“A equoterapia nos ensinou como proceder com ela, como agir com ela,
como é que tem que conversar, ensinar, porque ela só apontava com o dedo
então eles fizeram todo um, o dia a dia de como nós tinha que fazer com ela,
desde quando ela acordava e a gente fez tudo, e vários livros também
xerocaram e deram pra nós, de como é que a gente tinha que agir com ela,
ensinando várias coisas que agora eu não lembro, mas a ajuda foi muito boa,
ela cresceu aqui dentro.” ENT. FAM. 9
Os autores Toigo, Leal Junior e Avila (2008) em seus estudos tiveram como resultados que a
equoterapia promove sim a interação social, desenvolvendo novas formas de socialização, maior
confiança e aumento da autoestima da criança.
Já Coimbra et al (2006) identificaram que o contato com a natureza e o animal promove uma
maior interação da criança. Aspectos ressaltados pelos entrevistados nos fragmentos abaixo:
“A interação de vir aqui toda semana, de falar pra ele que tem equo amanhã,
‘oh amanhã vamos lá na equo’ então ele já se lembra e já interage, sabe que
vai ter uma atividade que ele gosta então isso já é um avanço, já que ele não
fala.” ENT. FAM. 3
“Faz pouco tempo que ele começou, mas, por exemplo, assim, ele gosta de
vim, então já de ele gostar, é uma coisa que não tem que obrigar já é uma
grande coisa assim sabe...” ENT. FAM. 5
“A gente percebe um pouco assim que quando ela entra aqui ela tenta se
comunicar bastante, ela gosta de fazer os exercícios e coisa e eu acredito que
isso aí, tudo contribui...” ENT. FAM. 6
Diante do exposto, fica claro que a equoterapia torna-se fundamental na promoção da
melhoria da qualidade de vida do praticante, o que estimula sua interação social, comportamento
esse imprescindível para o desenvolvimento de uma vida estável influenciando positivamente no
cotidiano dele e de seus familiares.
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4.3 Avaliação e o planejamento do cuidado
Para Barbosa (2004), o trabalho no cavalo é apenas uma parte de um programa detalhado do
tratamento que começa com uma avaliação inicial. Uma parte importante dessa avaliação é o
estabelecimento de um plano de tratamento que contenha objetivos que se deseja alcançar a curto
tempo.
Os objetivos a longo prazo devem ser funcionais e relevantes à situação da família/escola de
cada paciente. Consequentemente, a consulta com a família do paciente é necessária. A reavaliação
de cada paciente deve ser realizada a cada três a seis semanas, a fim de garantir que o plano de
tratamento e os objetivos permaneçam apropriados para o paciente.
Quando, na reavaliação, os profissionais identificarem que o paciente atingiu os objetivos a
longo prazo e, na opinião da equipe, não houver mais nenhum objetivo mais longo a ser alcançado,
o paciente deve receber alta da equoterapia.
Sendo assim, o que se espera de uma equipe que trabalha na equoterapia geralmente é que a
mesma receba o praticante; realize as avaliações conforme cada área do conhecimento; elabore o
plano terapêutico conforme a necessidade de cada praticante; integre o praticante ao método
terapêutico; realize estudos de casos; reavalie sistematicamente o praticante, reajustando as
condutas terapêuticas; entre outras intervenções. Estas funções podem e devem ser executadas por
todos os profissionais da equipe, o que pode ser identificado nas falas a seguir:
“A gente faz a avaliação pra ver o que a gente percebe, vê quais são as
necessidade de imediato, e dai a gente começa a pensar em alguma coisa.
Então tudo isso a gente vê primeiro, quais são as necessidades e daí a gente
busca atividades relacionadas a essas fases do desenvolvimento, a gente
trabalha com, vê quem tem necessidade de percepção visual, percepção
auditiva, linguagem, que mais... atenção, cognição, todas, vai englobando
várias áreas e vai vendo o que a gente pode fazer.” ENT. EQ. 1
“A gente faz o planejamento a partir de testes, enfim, a gente faz várias
avaliações em cima da demanda que o praticante apresenta a gente vai pensar
em atividades pra desenvolver. Então é bem pensado assim, e a gente debate
bastante, e é a equipe inteira assim, e aí a gente faz mais ou menos um
planejamento pra algumas sessões e daí se não começa a surgir efeito a gente
pensa numa nova intervenção.” ENT. EQ. 2
“Através do diagnóstico a equipe técnica vai escolher uma equipe terapêutica
para o praticante, essa equipe tem um fator que é ela é disciplinar, são várias
áreas juntas, e a partir dessa equipe a gente vai pensar, nas três áreas, o que
pode melhorar pra ela, então o planejamento das crianças é sempre dialogado
com todos os terapeutas da criança, então todos, os dois ou três terapeutas que
existem, que são do atendimento da criança vão tá construindo o
planejamento, vão tá dando alguma contribuição pra esse planejamento,
ninguém fica de fora ou a gente vai trocando, vamos trabalhando mais a parte
física ou psicológica, mas muitas vezes a gente divide o tempo com as duas
partes.” ENT. EQ. 7
“Quando chega um praticante aqui é feito uma avaliação pela equipe, pela
fisio, pela psico, avaliação com a família e a partir disso a gente então senta,
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traça então o perfil desse praticante e de que forma cada profissional pode tá
atuando na melhora da condição dele.” ENT. EQ. 8
A Equoterapia é constituída da interação entre ambiente, praticante, cavalo e equipe formada
por profissionais responsáveis pelo paciente e também pelo tratamento adequado do cavalo. Essa
atuação em conjunto é de suma importância, pois se aglomeram conhecimentos de áreas
específicas, uma complementando a outra, e resultando assim é um único método que pode
solucionar as necessidades dos pacientes.
Walter e Vendramini (2000) falam que o cavalo é o primeiro membro da equipe, e
acrescentam a importância de conhecer o caráter do cavalo, suas andaduras e as reações
manifestadas com cada paciente. O cavalo deve ser selecionado levando em consideração o
paciente, o seu tamanho e a dificuldade que apresenta.
Por isso, é importante escolher o cavalo cujo movimento se ajusta melhor às necessidades do
paciente, e o equipamento apropriado para facilitar as respostas desejadas é uma parte integral do
plano de tratamento. As ações que a equipe executa acabam acontecendo nessa direção e com esse
objetivo. Veja os fragmentos abaixo:
“Após o diagnóstico senta-se com toda a equipe multidisciplinar, o
fisioterapeuta, psicólogo e o profissional de equitação também entra nessa
reunião junto pra nós achar o melhor cavalo pra aquela patologia, então por
isso que antes de iniciar as atividades é feito um estudo, tem toda a
documentação dos cavalos pra saber qual cavalo transpista, que antepista, que
sobrepista, se o praticante precisa de mais estímulo ou menos estímulo, então
cada cavalo tem a sua característica, então como as meninas sabe que
estímulo a criança precisa, se é mais ou se é menos, que cavalo adequado não
é, daí eu vou sentar com elas e conversar sobre o cavalo, então essa parte é
bem importante, não é colocado todos no mesmo saco e vamos fazer
atividade nesse cavalo só, então cada cavalo tem um característica específica
pra cada patologia.” ENT. EQ. 5
“Tem muitas coisas que competem mais ao fisioterapeuta, que é a questão
assim de identificar que tipo de encilha eu vou tá usando, qual o melhor
cavalo, não que os outros profissionais não possam fazer isso, mas quando a
gente faz a formação do curso, pela questão dá biomecânica que a gente
estuda, da ergonomia, então cabe ao fisioterapeuta determinar, porque tem a
ver com o movimento, e pra nós o cavalo é o único recurso terapêutico então
é o fisio que vai determinar qual que é o melhor cavalo para aquele praticante
vai ver qual que é melhor encilha, então a partir disso que a gente se organiza,
assim no caso muitas coisas se define assim junto com a equipe claro, mas
quem tem um pouco mais de responsabilidade em saber e tem que definir é,
acaba sendo a fisioterapeuta tá, mas todos os outros tem conhecimento.”
ENT. EQ. 8
“Então seria interessante ter alguém nessa questão e eu acho que o pessoal da
enfermagem também poderia participar dos atendimentos, nos ajudar quanto
a questão dos cuidados que a gente deve ter, até seria legal de ter alguém que
pudesse fazer um treinamento conosco, vir aqui e dar uma base de primeiros
socorros...” ENT. EQ. 1
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Portanto, na equoterapia a equipe deve ser a mais ampla possível, e deve conter profissionais
da área da saúde, educação e equitação. Os atendimentos são precedidos de um diagnóstico,
indicação médica, psicológica e fisioterapêutica, e avaliação dos profissionais da saúde e educação,
objetivando o planejamento do atendimento individualizado na equoterapia.
Todo trabalho com o ser humano é melhor realizado quando diferentes profissionais
trabalham juntos, cada um em sua disciplina, mas com um objetivo geral semelhante, buscando a
coesão, a complementação e o enriquecimento do tratamento.
A enfermagem, particularmente, deveria se inserir mais fortemente com o intuito de
colaborar no planejamento da assistência e do cuidado tanto com o praticante como com os
familiares. Também pode contribuir e participar dos grupos terapêuticos e nas discussões dos
estudos de casos e contribuir positivamente no redirecionamento da terapêutica.
4.4 Trabalho multidisciplinar/interdisciplinar
Cirillo (2002) e Silva (2004) em seus estudos dizem que a prática da equoterapia é realizada
por uma equipe multidisciplinar, que trabalha de forma interdisciplinar. Esta equipe deve ser mais
ampla possível, composta por diferentes profissionais da área da saúde, educação e equitação. A
composição mínima para trabalhar com equoterapia deve ser de três profissionais, um de cada área,
atuando de maneira interdisciplinar (BOULCH, 1996).
A equoterapia é um trabalho desenvolvido por uma equipe de profissionais de diferentes
formações, em que esses devem assumir uma postura de interdisciplinaridade, proporcionando
assim uma reabilitação completa do praticante, possibilitando um entrosamento entre os
profissionais e que cada um, dentro da sua área de conhecimento, dê sua parcela de contribuição
para o sucesso desse recurso terapêutico. Enfim, o alicerce da equoterapia é a equipe (UZUN,
2005).
As falas a seguir concordam com os estudos acima:
“A gente faz um planejamento em conjunto, fisio, psicólogo, pessoal da
educação física, todo mundo participa desses planejamentos e coloca um
pouquinho a sua opinião, a gente faz as atividades, o programa, baseado em
todas as áreas unidas né...” ENT. EQ. 1
“Então a gente tem aquela forma de trabalho em equipe, então a gente se
junta, a gente debate os assuntos e aí, então a gente junta um pouco de cada
especialidade, da psicologia, da fisio, do educador físico, enfim, de todos e aí
a gente começa a mediar...” ENT. EQ. 2
“Essa multidisciplinariedade que a gente tem aqui ela já foi pensada em
função do tratamento, a gente já tem o pessoal da educação física, da
psicologia, da fisioterapia já direcionado porque a demanda pede isso, porque
a gente atende paciente com autismo, paralisia, Down, então tudo isso, toda
essa equipe precisa, porque se fosse só psicólogo por exemplo não vai suprir
as necessidades dos praticantes e vice-versa.” ENT. EQ. 6
“Eu acho que pra gente conseguir melhorar a saúde dos praticantes é preciso
ter o trabalho interdisciplinar, por isso que é importante que a equipe seja
formada por vários profissionais, porque assim a gente vai conseguir fazer
com que eles tenham um desenvolvimento psíquico, físico junto também.”
ENT. EQ. 8
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Por outro lado, autores como Ribeiro (2006), Arlaque, Zenker, Pens e Carneiro (1996)
dizem que a equipe é transdisciplinar, o que seria a mesma coisa: “diferentes especialistas que
buscam trocar informações para a elaboração de um projeto conjunto. Cada área, envolvida, sai de
uma visão única para uma visão mais abrangente, sendo capaz de reformular seus conhecimentos e
atuações” (SOUZA; RAMOS, 2007).
Por isso que o trabalho de uma equipe interdisciplinar na equoterapia é primordial, pois este
avalia cada caso, estabelece metas e o melhor caminho para alcançá-las. O prognóstico de um
paciente que está se submetendo ao tratamento com a equoterapia, será melhor quando este estiver
sendo estimulado por estes profissionais.
4.5 O papel da família no tratamento e acompanhamento dos praticantes em equoterapia
Os pais acompanham os filhos durante os atendimentos na Equoterapia, o que pressupõe a
partir do momento em que eles observam o que os filhos estão fazendo e percebem os avanços
durante as sessões, eles podem colaborar na estimulação em casa, propiciando um maior incentivo e
adesão ao tratamento. Os resultados de Silva (2006) sobre a participação ativa dos pais nas terapias
mostram que a presença dos cuidadores na terapia de seus filhos possibilitou que se estendesse para
a atividade familiar a experiência da postura correta da criança durante a alimentação.
Segundo o mesmo autor essa participação propiciou um melhor desenvolvimento global das
crianças, tanto na questão alimentar quanto na manipulação e exploração do seu ambiente de
maneira mais eficiente. No entanto, isso demonstra a importância da participação dos pais no
processo de tratamento de seus filhos. Fato que é salientado nos fragmentos abaixo:
“A criança vindo com o familiar é importante, ele sabe que a mãe tá
participando, que não é aquela coisa assim que a criança vai no lugar, entra lá
sozinha, não sabe o que tá acontecendo, e aqui não, desde o início da
avaliação as gurias tem todo esse trabalho, de mostrar pros pais junto com as
crianças tudo que vai ser trabalhado né...” ENT. FAM. 5
“Eu acho que o pai tem que estar junto, dar apoio, acompanhar de perto, ver
como é que é também, não adianta tu trazer e não saber como é que é, tem
que saber se realmente ele tá gostando ou não, não é chegar, largar e sair, ela
tem que se sentir bem, saber que o pai dela tá por trás, ele tá ali no momento
que precisar né.” ENT. FAM. 6
“Eu acho que é importante porque a gente tá sempre acompanhando, a gente
tá sempre no dia a dia, cada dia que a gente vem, a gente acompanha o que é
que tá acontecendo, assim como eles acompanham também o que acontece
durante a semana que a criança não vem, eu acho que é muito importante esse
acompanhamento...” ENT. FAM. 7
“Os pais tem que trazer, senão qual é o desenvolvimento que ela vai ter se os
pais não vem junto, não tem orientação, não sabem como agir em casa, não
sabem como agir com ela, e daí de que que adianta se a família não tiver
junto.” ENT. FAM. 9
Os dados acima caracterizam a importância da presença e o reforço familiar no cotidiano dos
praticantes. Silva (2004) em seu estudo constatou que o desenvolvimento psicomotor ocorre pela
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combinação do prazer que o paciente sente ao ter vivenciado algo novo e pelo reforço familiar em
casa que é feito quando a família percebe a aquisição conseguida. Perceptível também nas falas
abaixo:
“É importante de ta junto com a equipe, de saber o que é que tá acontecendo
com ele, o que é que eu posso fazer com ele fora daqui pra complementar, eu
acho que é muito importante, os pais tem que estar presente sim porque é um
conjunto, não adianta vir uma vez por semana aqui e não fazer as coisas
depois...” ENT. FAM. 2
“Porque não é só eles virem aqui 45 minutos que vai ter um efeito, vai ajudar
sim, porém a gente precisa de um a mais da família dentro de casa, imagina se
eles deixam a criança lá largada e ela só vem aqui fazer 45 minutos, olha que
a maioria do tempo ele fica em casa então a gente precisa desse auxílio dos
pais sempre, então assim os pais fazem sua parte e a gente oferece esse
plus...” ENT. EQ. 1
“É importante eles ter esse acompanhamento, de como é importante eles dar
uma sequência lá fora, às vezes os pais apostam, a equoterapia é válida, ajuda,
é um tratamento que ajuda, mas é um complemento, não é que a criança vai
vim aqui e vai ficar 45 minutos na equoterapia e o resto da semana a criança
fica sentada em casa, o pai não estimula a fazer nada...” ENT. EQ. 5
“A família tem esse papel de corresponsabilidade, como são crianças e
adolescentes a gente não pode colocar só como a criança responsável por essa
evolução, então os familiares tem que estar participando desse processo
porque senão fica um trabalho muito segmentado, que ele vem aqui, faz
atividade, e eu intervenho, o psicólogo intervém, a equipe intervém, mas não
passa do que é feito aqui, e aí a gente não tá pensando em integralidade do
cuidado...” ENT. EQ. 8
A equoterapia permite que a família descubra outras capacidades não identificadas antes no
seu filho e, assim, podendo promover uma redefinição das relações familiares o que favorece a
criança um melhor ajuste do comportamento. Dessa forma, interrompe o círculo vicioso patológico
da relação (FREIRE, 1999).
Ao presenciarem o que é possibilitado aos seus filhos durante a terapia, os pais conseguem
acreditar nas potencialidades de suas crianças e enxergá-las de um modo diferente. Experiência esta
que passa a se estender ao ambiente familiar, o que lhes permite estimulá-los de modo mais
adequado.
Para Lacerda (2000) é importante fortalecer e valorizar o cuidador familiar, mostrando-lhe a
importância de seu papel de cuidador e incentivando-o também a cuidar de si. Py (2004) afirma que
o trabalho profissional com os familiares cuidadores deve conter informação e reflexão.
Portanto, torna-se importante o preparo dos profissionais que trabalham com Equoterapia
para lidar com a família, tornando-se necessário que esses profissionais conheçam as informações e
as percepções dos familiares em relação à técnica e a sua postura profissional. Dessa forma, poderá
contribuir para que os familiares saibam mais sobre a patologia do filho bem como compreendam às
suas reações frente à terapia e as potencialidades que ainda poderão ser exploradas.
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4.6 A enfermagem na equoterapia
O Conselho Federal de Enfermagem, no Parecer Informativo 004/95 (COFEN, 1995),
reconhece a fundamentação da profissão de Enfermagem, na visão holística do ser humano, o
crescente interesse e utilização das práticas naturais no cuidado ao cliente e os aspectos do Código
de Ética dos Profissionais de Enfermagem que permitem a utilização das terapias naturais.
Finalmente, em 19/03/1997, o COFEN, por meio da Resolução 197 "Estabelece e reconhece as
Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional de Enfermagem"
(COFEN, 1997).
Como parte da equipe de terapeutas que trabalham na equoterapia o (a) enfermeiro (a) pode
ser um elemento-chave no grupo de pais e na prestação dos primeiros socorros e a prevenção de
acidentes, bem como na construção do plano de cuidados/terapêutico contribuindo sob a ótica do
cuidado e das ações de educação em saúde. Dessa maneira, poderá fornecer aos pais informações
embasadas sobre as características da patologia que afeta seus filhos.
Também pode garantir a continuidade do tratamento em casa e, assim, obter melhores
resultados. Essa importância do profissional enfermeiro foi constatada durante a coleta de dados e
podem ser identificadas nos fragmentos abaixo:
“Vai que ela caia do cavalo o que pode acontecer, ou até nos caso o cavalo
pise ou enfim, eu acho que é válido, eu não sei que outras áreas que a
enfermagem também poderia atuar além desses cuidados, talvez auxiliar com
os pais também, fazer esse trabalho junto com os pais, alguns cuidados
básicos que vocês teriam mais essa informação.” ENT. EQ. 6
“Às vezes pode se machucar no cavalo, então são coisas assim que eu acho
que seria interessante ter alguém, porque se uma se machuca ou coisa assim e
aí o que é que a gente vai fazer com a criança?, a gente não tem essa parte, e
as vezes assim a criança tá doentinha, a gente não sabe o que fazer, se a gente
pode fazer atendimento ou não pode, porque a gente não tem muita noção da
gravidade daquilo, então eu acho que seria sim importante até pela equipe
inteira.” ENT. EQ. 2
“A enfermagem seria interessante assim no caso de a gente passar por uma
situação durante o atendimento assim, crianças com paralisia cerebral ou
assim eles ter alguma coisa que nem parte da fisioterapia e nem a parte do
educador físico conseguiria intervir, acho que seria legal até em uma
emergência, até a gente lida com cavalo a gente nunca sabe como o cavalo vai
tá, se ele vai tá num dia disposto ou não, então se alguma criança cai ou até
nós mesmos assim levamos um pisão ou alguma coisa, não que o acadêmico
de enfermagem vai solucionar isso, mas a gente já vai ter uma resposta
imediata do que tá acontecendo.” ENT. EQ. 7
“Então eu acho que tem que é possível sim estar inserido nesta questão que a
gente tá falando de saúde, então eu acho que dentro, eu não conheço as
competências da enfermagem, mas acredito que é possível sim se inserir,
pensar nessa questão desde a avaliação inicial, dessa questão assim dos
pacientes que a gente recebe na equoterapia que alguns têm patologias,
algumas tem umas patologias graves, então ter esse acompanhamento, ter
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esse monitoramento assim, e porque não também no picadeiro sabe...” ENT.
EQ. 8
Estes dados evidenciam a necessidade do profissional de enfermagem nesse contexto e nessa
modalidade de tratamento, pois o enfermeiro tem a capacidade de atuar de forma integralizada junto
ao praticante, buscando reconhecer as necessidades de cuidado e colaborando para melhor atender
as necessidades humanas básicas. A equoterapia visará à assistência à saúde do indivíduo, seja na
prevenção, tratamento ou cura, considerando a pessoa como um todo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equoterapia influencia de forma positiva o tratamento dos praticantes, aumentando a
autoconfiança, segurança e diminuindo os sintomas do quadro patológico. Percebeu-se a
importância do trabalho inter/multidisciplinar nesse contexto e o quanto é essencial que todas as
áreas juntas discutam o tratamento de cada paciente respeitando as suas individualidades.
Os participantes confirmam que a equoterapia é mais indicada para patologias que dizem
respeito a problemas motores. Dentre os benefícios proporcionados por esse recurso, o mais citado
foi à melhora da psicomotricidade.
Também se somam a esses benefícios à interação social, proporcionando melhorias
significativas no cotidiano destas famílias. A relevância do acompanhamento dos familiares é fator
positivo, pois a participação e atenção são importantes para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
social da criança.
No entanto, esta pesquisa mostra a necessidade de se divulgar mais os benefícios da
equoterapia enquanto recurso valioso ao atendimento as pessoas com deficiência. Por ser de longo
alcance e exercer grande influência nas pessoas, tem-se a mídia escrita e falada como o meio mais
indicado para esse propósito.
O surgimento de novas pesquisas com amostras maiores e outras abordagens metodológicas
irão complementar e engrandecer a temática. Também poderá fortalecer a presença do enfermeiro
nessa prática, pois no Brasil ainda é recente e pouco divulgada.
A partir dos resultados pretende-se formular um documento com os dados relevantes do
projeto e dispor para a administração do centro. Acredita-se que através dos resultados desta
pesquisa se possa contribuir com a promoção dessa prática, mostrando as pessoas a importância e os
benefícios das terapias envolvendo animais.
Por fim, acredita-se que existe uma lacuna a ser preenchida urgentemente pela enfermagem,
especialmente pelo enfermeiro. Fica o desafio para que os cursos de graduação e formação em
enfermagem apropriem-se dessas questões no sentido de ocupar esses espaços e dar mais
visibilidade a profissão nesse contexto.
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