Finanças Internacionais 11.05.09 Nem todos os países são obrigados a apresentar as suas contas equilibradas. Acontece que, por um lado, uns têm grandes excedentes ou superavits (exportações>importações) e, por outro, há países que têm grandes deficits (importações>exportações). O deficit num país pode ser corrigido através de financiamento externo e da utilização da sua moeda estrangeira. Só há realmente uma situação deficitária porque o governo intervém (senão, a taxa de câmbio não seria controlada e ajustava-se pelo mercado. Haveria equilíbrio mas apareceriam outros problemas). O Sistema Financeiro Internacional Actualmente, os excedentes e os deficits são muito elevados. Países como a China (Japão, etc.) apresentam grandes excedentes, acumulando permanentemente activos. A moeda chinesa deveria sofrer uma valorização, já que a sua procura é bastante superior à oferta mas o governo chinês defende que o valor do renmimbi (yuan) deve ser estável, procedendo por isso à compra de moeda estrangeira e à venda de activos (redução de moeda em circulação). Os países europeus apresentam, por outro lado, as contas mais ou menos equilibradas. Os EUA têm um deficit muito elevado. Gastam muito mais (C+G+I) do que aquilo que efectivamente produzem (Y). É de recordar a equação EXP-IMP=Y-(C+G+I). As reservas em moeda estrangeira têm um papel muito importante no financiamento dos deficits das economias. A China acumula grandes reservas de moeda estrangeira. Portugal teve momentos em que tinha grandes reservas, mas também períodos em que necessitou do apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), tendo de as aumentar. Papel residual do ouro Durante muito tempo, o ouro foi a principal reserva. Portugal Salazarista conseguiu ter grandes excedentes deste metal precioso, que nunca foi vendido pois é pouco rentável, embora a actual crise financeira tenha possibilitado o aumento do seu preço. De qualquer das formas, a sua importância tem cada vez menos expressão, uma vez que as transacções são feitas por moeda. Impacto dos excedentes e deficits na circulação de moeda: O governo de cada país pode (nem todos) injectar moeda ou retirá-la de circulação no sentido de fazer face a uma situação de deficit ou de superavit. Retomando o exemplo inicial, a China devia ver a sua moeda valorizada, isto é, a taxa de câmbio devia aumentar, pois a procura é superior à oferta. O governo opta, pelo contrário, por manter a taxa de câmbio estável, vendendo activos em Yuan (R) e comprando $. Argumentos contra essa política: A taxa de câmbio deve subir pois, assim, a moeda torna-se mais forte, tornando as importações mais baratas e as exportações mais caras. O poder de compra da população aumenta e a economia fica mais próspera. Argumentos a favor da política chinesa: A China prefere manipular constantemente a taxa de câmbio, sacrificando a prosperidade da parte do país que já está razoavelmente desenvolvida para melhorar a parte mais pobre e que não está em contacto com o comércio internacional. A intervenção (manipulação) cambial para funcionar bem tem de ser sistemática, feita todos os dias. O Banco Central, ao pôr moeda em circulação, faz aumentar as reservas do sistema bancário contribuindo este, através do efeito multiplicador, para a acumulação de mais reservas. Logo, a intervenção tem um forte impacto na oferta de moeda. Esta manipulação pode também passar pela venda de moeda estrangeira, cujo efeito contraccionista na economia devia eliminar uma situação de deficit, excepto numa situação: quando a intervenção é esterilizada (situação em que se aumenta a moeda em circulação e que posteriormente se retira (por exemplo, vendendo activos). Neste caso especial, o desequilíbrio não é corrigido e torna-se permanente. Os países que conseguem acumular reservas investem-nas noutros países para as rentabilizar. De facto, a China investe nos EUA, porque este apresenta um mercado muito grande e eficiente, o que dá uma boa rentabilidade ao excedente chinês. Esse investimento impede o dólar de descer e o yuan de subir. No futuro, o euro pode-se apresentar à China como uma boa alternativa ao dólar mas, até lá, é necessário que a política monetária praticada pelos Estados-Membros se consolide. Quando um país se encontra em desequilíbrio convém ser corrigido porque alguma coisa não está bem. Essa correcção é feita através de uma política macroeconómica mais acertada (medida mais suave mas demora mais tempo, o que não é problema pois o país pode-se financiar graças ao sistema financeiro internacional) ou de um ajustamento cambial (efeito imediato mas apresenta desvantagens: overshooting, grandes variações cambiais, o que causa vários problemas como variações brutais no poder de compra das famílias, uma injusta alteração da situação de concorrência, indo negócios à ruína e beneficiando outros, sem prevalecer o factor mérito, etc.). Padrão Ouro Sistema que existiu no séc. XIX, baseado em mercados livres. Não havia controlo das importações nem das exportações, não existia o conceito de passaporte. O movimento de capitais era livre. Segundo este sistema, podia-se pagar no estrangeiro com moeda própria, pois todas as moedas eram convertíveis em ouro a uma determinada taxa fixa. Essa convertibilidade era garantida pelas autoridades de cada país. Se houvesse um deficit, as pessoas que tinham moeda não seriam prejudicadas pela sua desvalorização e procediam à sua conversão em ouro. Nesta situação assistia-se, portanto, a uma diminuição das reservas de ouro no país em causa (diminuição da moeda em circulação). O impacto dos desequilíbrios na oferta de moeda não era esterilizado. O rácio entre moeda e ouro deveria ser estável e, para isso, não se deveria emitir moeda. O sistema do Padrão Ouro tinha inúmeras vantagens: era simples, prático, compreensível e funcionou muito bem, sendo a primeira fase da Globalização. De facto, o comércio internacional cresceu bastante nesta época. O problema apareceu quando surgiam desequilíbrios e a oferta de moeda se reduzia muito. O retorno ao equilíbrio era preciso ser feito de uma forma imediata, já que em situação de superavit aparecia uma grande inflação e em deficit uma recessão. Logo, a sua grande desvantagem era a dificuldade do controlo da política monetária. A alternativa foi a adopção de taxas de câmbio flutuantes. Não há convertibilidade, as taxas não são fixas e há controlo da política monetária (é independente), o que traz efeitos injustos. No seguimento do pós-guerra, tentou-se regressar às taxas fixas e a convertibilidade em ouro era garantida (só por uma questão de confiança) mas tornou-se um sistema impossível por força dos mercados. Surgiram, de facto, grandes desequilíbrios (muita inflação, etc.) o que levou a uma quebra na confiança e o sistema entrou em colapso. As taxas de câmbio geridas estão presentes na maioria dos países em desenvolvimento. Não se quer que sejam flutuantes mas não se podem fixar. Áreas Monetárias Óptimas (Optimum Currency Areas) Situação em que a desvalorização e valorização da moeda é inaceitável. A economia dos EUA é relativamente fechada e, portanto, a variação do valor do dólar não se constitui um problema para o país (só para os restantes países). Por outro lado, as economias muito abertas e os países muito interdependentes (caso da Áustria e Alemanha) ficam bastante mais perturbados com essas variações da taxa de câmbio. Por esta razão se criam áreas monetárias óptimas, segundo as quais a moeda é única. Para se chegar a essa área monetária, alguns países da Europa criaram primeiramente um mercado comum (Portugal aderiu pelo contrário a uma organização de comércio livre, a EFTA: European Free Trade Association). No mercado comum, além de haver a característica de comércio livre, os países membros adoptam a mesma política comercial (conduzida por uma única instituição) em relação a países terceiros (união aduaneira). Fixam, deste modo, a taxa de câmbio para esses países. O passo seguinte foi a criação de uma união monetária (adopção do euro). Deixa de haver taxa de câmbio e passa a existir só um banco central (BCE). Fundo Monetário Internacional Instituição criada pouco depois do final da segunda grande guerra para facilitar o ajustamento gradual dos países que estavam em desequilíbrio. O objectivo consistia em criar liquidez a esses países através de financiamento. O FMI, depois de contactado pelo país em dificuldades, define o programa de política macroeconómica (programa de estabilização) a seguir pelo governo, o que é uma garantia para os bancos internacionais que emprestam a liquidez necessária.