Manejo de Renovação da Solução Nutritiva Para a Alface em

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Manejo de Renovação da Solução Nutritiva Para a Alface em Hidroponia.
Haroldo Xavier Linhares Volpe1; Jairo Augusto Campos de Araújo1; Renato Vigatto2;
Susana Emm Pinto1; Thiago Leandro Factor1
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias ( FCAV / Unesp), Jaboticabal - SP – Departamento de
Engenharia Rural – Setor de Plasticultura. Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, Km 5 - CEP 14884900. 2 Universidade de Campinas (Unicamp), Campinas - SP. Cidade Universitária "Zeferino Vaz"
Barão Geraldo - CEP 13083-970
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo analisar o cultivo de duas cultivares de alface com
três diferentes manejos de renovação da solução nutritiva, visando aprimorar o tempo de
renovação da solução nutritiva. O experimento foi conduzido no Setor de Plasticultura da
FCAV / UNESP - Jaboticabal. O ensaio foi realizado no período de julho a agosto de 2003,
em sistema hidropônico NFT em 4 bancadas de 12 m de comprimento e 2 m de largura, à
altura de 1,2 m do nível do solo na parte mais alta e cerca de 2% de declividade. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 3 tratamentos e 4
repetições. Os tratamentos foram: T1: solução nutritiva trocada semanalmente; T2: solução
nutritiva trocada quinzenalmente; T3: solução nutritiva mantida ao longo de todo o ensaio. A
solução utilizada foi a de Castellane e Araújo (1995). A renovação da solução nutritiva
quinzenalmente apresentou melhores resultados para peso total de massa fresca e seca,
exceto para a cultivar Vanessa quando se analisou a massa seca total. Na avaliação de
número de folhas, os tratamentos T1 e T2 não se diferenciaram, sendo superiores
significativamente ao Tratamento 3. A cultivar Verônica mostrou-se superior para a maioria
das características analisadas. Portanto, indica-se a renovação da solução nutritiva
quinzenalmente e a cultivar Verônica para o cultivo no sistema hidropônico NFT.
Palavras-chave: Lactuca sativa L., cultivo hidropônico, renovação, nutrição de planta.
ABSTRACT
Management of renovation of nutritious solution for lettuce in hydroponics system.
The objective of this research was to analyze the cultivation of two different cultivar of
lettuce, with three different management of renovation of nutritious solution, aiming the best
time to renovate the solution. The experiment was carried out in the Plasticulture section of
FCAV/UNESP – Jaboticabal, from July to August of 2003. It was used NFT hydroponics
system, in four benches of 12m of length, 2m of width, and 1,2m from the ground on the
higher part with 2% of inclination. The experimental design used was blocks randomly
design, with 3 treatments and 4 repetitions. The treatments were: T1: nutritious solution
weekly changed; T2: nutritious solutions biweekly changed; T3: the same nutritious solution
during the whole experiment. The solution used was Castellane e Araújo (1995). The
solution biweekly changed presented better results, for total fresh matter and total dry matter,
expect for dry matter of Vanessa cultivar. The treatments T1 and T2 did not differ on
numbers of leaves, being significantly superior to T3. The Veronica cultivar presented better
results for most of the characteristics analyzed. Then, it is indicated to renovate the nutritious
solution biweekly and Veronica cultivar in NFT hydroponics system.
Keywords: Lactuca sativa L., hydroponics practical, renovation, plant’s nutrition.
Muito dos cultivos hidropônicos não obtém sucesso devido ao desconhecimento dos
aspectos de manejo nutricional desse sistema de produção Furlani et al. (1999).
Segundo Resh (1997), a vida útil de uma solução nutritiva depende principalmente da
porcentagem da acumulação de íons não utilizados pelas plantas de forma imediata. Esse
acúmulo resulta em elevação da concentração osmótica da solução nutritiva.
O tempo ideal de renovação da solução nutritiva é de vital importância para minimizar
o gasto com fertilizantes, já que este é um insumo de alto custo.
Resh (1997) considera ainda que não deveria utilizar a solução nutritiva por um
período superior a três meses, recomendando a renovação completa da mesma após este
período. Já Santos (2000), diz que o período de utilização da solução é de 60 a 90 dias. Em
sistema fechado, Castellane e Araújo (1995) consideram que o período útil da solução
nutritiva varia entre três a quatro semanas.
Assim, o objetivo do trabalho foi avaliar a produtividade de dois cultivares de alface
(Verônica e Vanessa), submetidas a três períodos de troca das soluções nutritivas,
igualmente confeccionadas e balanceadas em termos de qualidade de macro e micro
nutrientes, utilizando em todas as soluções a mesma formulação de adubos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Setor de Plasticultura da Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias – FCAV, Câmpus de Jaboticabal, com latitude de 21º15’22’’S,
longitude de 48º18’58’’W e altitude média de 595 metros.
O transplantio das mudas foi realizado em 15 de julho de 2003, em ambiente
protegido com estrutura metálica do tipo capela, com área total de 10m x 60m e, uma área
específica de 10 m x 30 m, com 3 m de pé direito, coberta com filme de polietileno
transparente aditivado contra radiação ultra-violeta (UV) e com 100 micras de espessura. A
estrutura possuía saia lateral de 1,2 m de altura, feita de tela de nylon com passagem de 50
% de luz. Foram utilizadas 4 bancadas, com 12 m de comprimento por 2m de largura cada,
à altura de 1,2m do nível do solo na parte mais alta, com cerca de 2 % de declividade. Cada
bancada possuía 6 canos de PVC com 100mm de espessura cada, com capacidade de
suporte para aproximadamente 250 plantas, sendo em média 40 plantas por canal.
Todas as bancadas foram alimentadas com solução nutritiva vindas de três
reservatórios de 0,5 m3, onde cada solução nutritiva alimentava 2 canais de cultivo para
cada bancada. A solução utilizada foi a de Castellane e Araújo (1995), com manejo
diferenciado para cada reservatório.
No reservatório 1 (T1), a solução era renovada semanalmente; no reservatório 2 (T2)
a renovação era realizada a cada 15 dias enquanto que no reservatório 3 (T3), a solução foi
mantida inalterada ao longo de todo o ciclo da cultura.
Após 42 dias de cultivo as plantas foram colhidas para avaliação, coletando 10
plantas aleatórias por canal.
O delineamento utilizado para avaliar o efeito das soluções no desenvolvimento das
plantas foi o de blocos ao acaso, com 4 repetições, sendo avaliados em balança eletrônica
peso da matéria fresca e seca da planta e número de folhas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios do número de folhas por planta mostraram haver diferenças significativas
entre manejos de reposição da solução nutritiva e cultivares, ao nível de 1% de
probabilidade. Verifica-se, por intermédio da Tabela 1, que as plantas conduzidas com a
solução nutritiva renovada quinzenalmente (27,58) e semanalmente (27,01), apresentaram
maior número de folhas por planta, as quais diferiram significativamente do manejo sem
reposição, com 23,55 folhas por planta em média.
Já Londero et al. (2000), obteve valor médio de 21,5 folhas para manejo sem renovação de
solução, sendo que esse tratamento mostrou desempenho semelhante aos outros com
reposições de nutrientes realizadas nas soluções com redução de 0,25 mS cm-1 (21,7) e 50
% (21,3) na condutividade elétrica inicial. Tais valores são de desempenho inferiores
quando comparados aos manejos de renovação semanal e quinzenal da solução nutritiva.
No que se refere às cultivares, observou-se que a ‘Vanessa’ apresentou maior
número de folhas 26,43, diferindo significativamente da ‘Verônica’ que apresentou menores
valores (25,67) em média.
Tabela 1. Número de Folhas de dois cultivares de alface, submetidos a diferentes manejos
de renovação da solução nutritiva, em hidroponia. Jaboticabal, FCAV/UNESP, 2004.
Reposições
Semanalmente
Quinzenalmente
Sem Reposição
Cultivares
Verônica
Vanessa
CV(%)
1
Número de folhas
27,01 a1
27,58 a
23,55 b
25,67 a
26,43 b
2,34
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Verifica-se que para o peso da matéria fresca total, independente do tipo de manejo
de reposição da solução nutritiva, a cultivar “Verônica” mostrou-se superior, alcançando
maiores valores e diferindo significativamente da cultivar ‘Vanessa’ (Tabela 2).
A análise dos diferentes tipos de reposição da solução nutritiva revela que
quinzenalmente a reposição da solução nutritiva mostra-se superior, alcançando valores da
ordem de 354,91 g.planta-1 e 296,93 g.planta-1 para as cultivares ‘Verônica’ e ‘Vanessa’,
respectivamente. Esses valores são significativamente superiores ao manejo de reposição
semanal (307,94 g.planta-1) e (281,10 g.planta-1) e por sua vez significativamente superiores
ao manejo sem reposição (194,56 g.planta-1) e (178,99 g.planta-1) para as mesmas
cultivares, respectivamente. Tais valores podem ser explicados devido ao número de
renovações de cada tratamento. A renovação semanal da solução nutritiva manteve os
valores de condutividade elétrica elevados e com valor médio de 1, 96 mS cm-1 . Segundo
Furlani et al. (1999), valores entre 1,4 e 1,6 mS cm-1 são apropriados para alface em
produção. Já Abou-Hadid et al. (1996), observaram que valores superiores a 1,8 mS cm-1,
diminui a matéria fresca da planta. Assim, a condutividade elétrica em níveis superiores a
recomendada para o tratamento 1 pode estar relacionado ao pior desempenho deste em
relação ao tratamento 2 para fitomassa fresca.
Já o menor desempenho para o tratamento 3 condiz com o valor médio de
condutividade elétrica abaixo da faixa recomendada por Furlani et al.(1999), já citado,
atingindo valor médio de 1, 26 mS cm-1.
Figura 1. Valor diário da condutividade elétrica (CE) da solução nutritiva considerando três
diferentes manejos. Jaboticabal, FCAV/UNESP, 2004.
CE (mS cm -1)
3
2,5
2
Renovação semanal
Renovação quinzenal
sem renovação
1,5
1
0,5
36
32
28
24
20
16
12
8
4
0
Dias após o transplante
Tabela 2. Peso de Matéria Fresca Total (g.planta-1) de dois cultivares de alface, submetidos
a diferentes manejos de renovação da solução nutritiva, em hidroponia. Jaboticabal,
FCAV/UNESP, 2004.
Reposições
Cultivares
Semanalmente
Quinzenalmente
Sem Reposição
1
Verônica
307, 94 aB
354,91 aA
194,56 aC
Vanessa
281,10 bB
296,93 bA
178,99 bC
CV(%)
2,80
Na mesma coluna, médias seguidas de letras minúsculas diferentes, e na mesma linha, médias seguidas de
letras maiúsculas diferentes, indicam diferenças estatísticas pelo teste de Tukey ao nível de 1% de
probabilidade.
1
Para a característica peso médio da matéria seca total, verifica-se que para o manejo
de reposição da solução nutritiva semanal não foram observadas diferenças significativas
para as cultivares analisadas. Não obstante, observa-se comportamento semelhante
quando do manejo sem reposição. No entanto, quando houve uma reposição quinzenal da
solução nutritiva a cultivar Verônica apresentou maiores valores (27,20 g.planta-1), diferindo
significativamente da cultivar Vanessa, que apresentou os menores valores (21,48 g.planta).
1
Tabela 3. Peso de Matéria Seca Total (g.planta-1) de dois cultivares de alface, submetidos a
diferentes manejos de renovação da solução nutritiva, em hidroponia. Jaboticabal,
FCAV/UNESP, 2004.
Reposições
Cultivares
Semanalmente
Quinzenalmente
Sem Reposição
Verônica
21,07 aB1
27,20 aA
19,80 aB
Vanessa
18,72 aA
21,48 bA
19,06 aA
CV(%)
7,48
Na mesma coluna, médias seguidas de letras minúsculas diferentes, e na mesma linha, médias seguidas de
letras maiúsculas diferentes, indicam diferenças estatísticas pelo teste de Tukey ao nível de 1% de
probabilidade.
1
Já com relação aos manejos da solução nutritiva, verificou-se que para a
característica analisada não houve diferenças significativas quando cultivada a cultivar
Vanessa.
Para a cultivar Verônica o manejo de reposição a cada 15 dias apresentou
maiores valores (27,20 g.planta-1), diferindo significativamente dos manejos semanal e sem
reposição (21,07 g.planta-1 e 19,80 g.planta-1), respectivamente, que por sua vez não
diferiram entre si.
Quando da não possibilidade de se utilizar aparelhos de monitoramento da
condutividade elétrica no manejo da solução nutritiva e havendo predisposição a se
trabalhar com manejo de renovação da solução nutritiva, utilizando como solução nutritiva
recomendada Araújo e Castellane (1995), indica-se a renovação da solução nutritiva
quinzenalmente e a cultivar Verônica para o cultivo no sistema hidropônico NFT.
LITERATURA CITADA
CASTELLANE, P. D.; ARAÚJO, J. A. C. Cultivo sem solo – hidroponia. Jaboticabal: FUNEP,
1995, 43 p.
FURLANI, P. R.; BOLONHEZI, D.; SILVEIRA, L. C. P.; FAQUIN, V.. Nutrição mineral de
hortaliças, preparo e manejo de soluções nutritivas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.
20, n. 200/201, p. 90-98, 1999.
RESH, H. M. Cultivos hidropônicos: nuevas técnicas de producción. 4 ed. Madrid: Ediciones
Mundi-Prensa, 1997. 509 p.
SANTOS O. S. Soluções nutritivas para alface. In: SANTOS, O. Hidroponia da alface. Santa
Maria: UFSM, 2000. p. 90-91.
LONDERO, F. A. A.; SANTOS, O. S.; PILAU, F. G.; BINOTTO, E. Reposição de nutrientes
para alface na solução hidropônica Castellane e Araújo (1995) – Terceiro cultivo.
Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, p.269-271, 2000, Suplemento Julho.
FURLANI, P. R.; SILVEIRA, L. C. P.; BOLONHEZI. Cultivo hidropônico de plantas. Boletim
Técnico nº 180, Campinas, Instituto Agronômico, 1999, 59 p.
ABOU-HADID, A. F.; ABD-ELMONIEM, E. M.; EL-SHINAWY, M. Z.; ABOU-ELSOULD, M.
Eletrical conductivity effect on growth and mineral composition of lettuce plants in hydroponic
system. Actua Horticulturae, v. 434, p. 59-66,1996.
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