1 ANÁLISE SOBRE A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMILIA NO RECÔNCAVO DA BAHIA. Eliane Maria Araujo Souza Lima1 Simone Pinheiro dos Santos Silva2 Chirlene Oliveira de Jesus Pereira3 RESUMO Este trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão acerca da importância da atuação do assistente social nos espaços ocupacionais dos Programas de Saúde da Família, como profissional capacitado pelo projeto ético político da profissão a intervir nas questões sociais que perpassam a realidade das comunidades tradicionais do Recôncavo da Bahia no que tange ao processo de saúde proposto pela Política Nacional de Saúde Integral da população Negra na ampliação do reconhecimento dos aspectos sociais, históricos e culturais a superar a utilização apenas do modelo biomédico para o avanço no modelo social. Palavras-chave: Política Nacional de Saúde, modelo social, comunidades tradicionais, Recôncavo da Bahia. 1 Graduanda do VII Período do curso de Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/ UFRB e membro do Projeto de Pesquisa - Orun Ayiê: um estudo propositivo em defesa da saúde da População Negra no âmbito do Recôncavo Sul Baiano. E-mail [email protected] 2 SoutoGraduanda do VII Período do curso de Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB e membro do grupo de pesquisa: Orun Ayiê: um estudo propositivo em defesa da saúde da População Negra no âmbito do Recôncavo Sul Baiano E-mail: [email protected] 3 Graduanda 7° período do curso de Serviço Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB e membro do Projeto de Pesquisa: Orun Ayiê: um estudo propositivo em defesa da saúde da População Negra no âmbito do Recôncavo Sul Baiano. E-mail [email protected] 2 I. INTRODUÇÃO Diante do cenário atual da saúde na sociedade brasileira e principalmente nas regiões que ficam afastados dos grandes centros como o caso de alguns municípios localizados no Recôncavo da Bahia, é visível a fragilidade nas interlocuções entre as redes , na qualidade dos atendimentos para com a população usuária dos serviços de saúde, principalmente no que concerne a garantia da qualidade e da equidade. Dessa forma, percebemos à necessidade de refletir acerca da inserção do assistente social no Sistema Único de SaúdeSUS através do Programa de Saúde da Família –PSF. Com olhares voltados para o Recôncavo da Bahia, a partir da realidade apreendida em alguns municípios do Recôncavo, a exemplo das cidades de Cachoeira e Maragogipe, através de pesquisa empírica qualitativa realizada nas comunidades do São Francisco do Paraguaçu e Iguape no município da Cachoeira- Bahia e de Porto da Pedra em MaragogipeBahia em 2010, observamos as relações sociais entre os sujeitos que integram o sistema público de saúde, a partir do seu contexto histórico e cultural que envolve a população da zona rural e urbana destes municípios. Este trabalho visualiza a necessidade de uma política pública de saúde com caráter universal, integral, equânime e de qualidade, uma vez que essa política completa o tripé da seguridade social e tem demonstrado a necessidade da atuação e intervenção do assistente social na defesa e garantia dos direitos dos usuários acerca do acesso aos serviços de saúde. II. O cenário da saúde pública brasileira nos anos 90 No decorrer da década de 90 as políticas sociais brasileiras ganharam uma nova concepção de direito e justiça social que resultou em significativas mudanças no quadro social, através da Lei 8080/90 da Política Nacional de Saúde. Nesse sentido, a atuação do profissional assistente social se torna essencial para acompanhar as transformações 3 sociopolíticas que o Sistema Único de Saúde- SUS4 tem enfrentado diante do movimento auto-regulado do capitalismo diante do Estado e da sociedade civil. Sendo o nosso eixo central, a atuação dos assistentes sociais no âmbito da política pública saúde que compõe o tripé da Seguridade Social no que tange a importância do Programa de Saúde da Família. Com os movimentos sociais já presenciamos mudanças no conceito de família e transformações sociais e culturais que apresentam novos sujeitos sociais, dotados de subjetividade e racionalidade que reclamam a emergência da atuação do profissional assistente social, que a partir da sua intervenção na área da saúde poderá realizar a transversalidade com outras políticas. Considerando também o contingente expressivo da população negra no recôncavo, com seus aspectos culturais, sociais e econômicos analisamos como o assistente social poderá trabalhar essas particularidades na garantia e na defesa dos princípios da universalidade do acesso, na igualdade e equidade em saúde, no combate ao racismo institucional na construção de um atendimento mais justo, com a finalidade de produzir um atendimento qualificado, fortalecendo a autonomia, a prevenção e o combate das múltiplas discriminações (seja de classe, raça, gênero, geracional ou orientação sexual). Os anos 90 foram marcados por processos de democratização política, emergência do projeto neoliberal e pela Constituição Federal de 1988. No decorrer da década de 90 o Brasil vivenciou avanços significativos na reorganização da política de saúde com a implementação do Sistema Único de Saúde - SUS, que com a normatização de seus princípios, nortearam novos rumos para a saúde pública implementando uma saúde baseada nos princípios de universalidade, integralidade e equidade. O SUS tem como principal função proporcionar, a população uma saúde de qualidade e livre de qualquer tipo de discriminação. 4 O sistema Único de Saúde tem por objetivo cumprir o estabelecido na Constituição Federal de 1988 no artigo 196 e no caput do Artigo 3º da Lei 8.080/1990. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. (Lei 8080/1990). 4 A nível Federal houve a descentralização para outras esferas, passando a atuar a nível territorial, o que contribuiu para um planejamento atendendo melhor as demandas locais, conforme afirmam alguns autores: Na década de 1990 com avanço da municipalização a nível federal acarretou em um conjunto de medidas de fortalecimento da atenção básica em seu território. (...) o Programa Saúde da Família (PSF) configura-se como estratégia prioritária para estruturação dos sistemas municipais de saúde com o objetivo de reorientar o modelo de atenção e imprimir uma nova dinâmica de organização dos serviços e ações de saúde (Monnrat, Senna, Souza, 2009, p.97/98, apud, Brasil/ Ministério da Saúde, 1998). Atualmente a saúde pública brasileira tem enfrentado sérias contradições com o processo privatista, causando grandes impactos sociais, uma vez que o setor privado atenderá prioritariamente aqueles que se enquadram na lógica mercadológica que conforme Mota (1995) a defesa do processo de privatização e a constituição do “cidadão consumidor”. Havendo um Estado mínimo para os que necessitam desses atendimentos, favorecendo um atendimento fragmentado na saúde pública, voltado para o cunho neoliberal, objetivando atender aos interesses do capital e fazer com que o cidadão seja um consumidor, ou seja, passe a pagar pelos serviços públicos, resultando na mercantilização da saúde e precarização dos serviços. Tem-se nesta contradição um Estado que se exime de suas obrigações estabelecidas pela Constituição Federal de 1988 de assegurar para a população acesso a uma saúde de qualidade e universal. Entende-se que esses processos que perpassam a saúde pública brasileira reflete o crescimento do mercado privado da saúde, caracterizando o SUS como uma instituição alternativa para a população subalterna, por ser relegada a poucos investimentos para sua ampliação. Tendo esta população acesso a um atendimento sucateado e sem qualidade que contradiz aos princípios da Constituição Federal. A crise na saúde pública há muitos anos vem se disseminando no Brasil nas três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), Neste jogo de contradições encontra-se o assistente social na luta pela garantia dos direitos sociais, na promoção da saúde e na universalidade de acesso, inserido no processo de trabalho em saúde, como profissional de interação entre os níveis do Sistema Único de Saúde - SUS com as demais políticas sociais, sendo que o principal objetivo de seu trabalho no setor é assegurar a integralidade e intersetorialidade das ações. A inserção atual do 5 assistente social na área de saúde não é mais mediada pela prática assistencialista da ajuda, mas pela perspectiva da garantia de direitos sociais, com respaldo ético- político, para atuar diante das contradições existentes no SUS. Destarte, percebe-se que a proposta de um SUS universal não se efetivou, mesmo tendo alcançado alguns avanços. III. Os dilemas e desafios postos ao trabalho do assistente social na saúde O Sistema único de Saúde, mesmo tendo alcançado alguns avanços, muitos são os desafios a serem superados para sua consolidação, de modo a ofertar uma assistência integral e de qualidade às pessoas. Os desafios a serem enfrentados para a construção de um SUS mais eficaz são: financiamento, universalização, modelo institucional, maior investimento em recursos humanos, participação social, mais investimento na atenção básica, etc. Entretanto, mesmo a Constituição Federal de 1998, assegurando a Saúde como direito de todos e dever do Estado, é perceptível que esse direito não tem sido garantido ao cidadão de forma universal e igualitária. É dentro da relação de dever/direito à saúde que o trabalho dos assistentes sociais tem se pautado e vem se desenvolvendo e, a cada dia, tem se tornado uma “prática” necessária para a promoção e atenção à saúde. Sua intervenção tem se ampliado e se consolidado diante da concepção de que o processo de construção da saúde é determinado socialmente, e reforçado pelo conceito de saúde que passa a considerar o atendimento das demandas do setor sob o enfoque relevante das condições sociais. Assim, entendemos que a saúde é construída a partir de necessidades históricas e socialmente determinada que o assistente social a defende como direito de todo cidadão e dever do Estado, propondo-se a contribuir para essa garantia através do fortalecimento dos princípios de universalidade, equidade e integralidade. Na atual conjuntura os assistentes sociais têm enfrentado muitos desafios para garantia de direitos, o projeto neoliberal tem favorecido impactos significativos para a área da saúde desvirtuando os princípios da Lei Orgânica da Saúde instituídos pela Constituição Federal de 1988. 6 A nova configuração da política de saúde vai impactar o trabalho do assistente social em diversas dimensões: nas condições de trabalho, na formação profissional, nas influências teóricas, na ampliação da demanda e na relação com os demais profissionais e movimentos sociais. Amplia-se o trabalho precarizado e os profissionais são chamados para amenizar a situação da pobreza absoluta a que a classe trabalhadora é submetida. (CFESS, 2010, p.12) As atribuições e competências do assistente social no campo da saúde são geridas por Conselhos Municipais e Estaduais e pelo Conselho Federal de Serviço Social além do Ministério da Saúde pela resolução nº 218, de 6/3/1997; [...] Conselho Nacional de Saúde, que reconhece a categoria de assistentes sociais como profissionais de saúde, além da Resolução CFESS nº 383, de 29/03/1999, que caracteriza o assistente social como profissional de saúde. (CFESS, 2010, p.6) O assistente social é requisitado tanto pelos seus empregadores quanto pelos usuários do Sistema Único de Saúde, seja para orientar, encaminhar e desenvolver programas e políticas sociais de cunho público ou privado. Este “procura, nesse sentido, expressar a totalidade das ações que são desenvolvidas (...) considerando a particularidade das ações (...) nos programas de saúde bem como na atenção básica, na média e alta complexidade em saúde”. (CFESS, 2010, p.5) As atribuições e competências do assistente social sejam na saúde ou em qualquer outra área de atuação são norteadas pelo Código de Ética da Profissão de 1993, que materializou conquistas teóricas e práticos revelando um universo profissional mais crítico, dialético e reflexivo. O assistente social desenvolve, ainda, atividades a favorecer a participação da comunidade para atender as necessidades de co-participação dos usuários no desenvolvimento de ações voltadas para a prevenção, recuperação e controle do processo saúde/doença. Nesta perspectiva, tendo a questão social como objeto de intervenção, o profissional deve atuar de modo a compreender a realidade na totalidade, identificando os fatores sociais, econômicos, culturais, para a formulação de estratégias condizente com a realidade dada, com vista à garantia e defesa dos direitos sociais. 7 IV. Particularidades na intervenção do assistente social nos PSFs do Recôncavo: o trabalho com a população negra Sendo nossa região do Recôncavo da Bahia rica em diversidade cultural, costumes singulares na economia, na forma de interagir nas suas relações sociais com diversas histórias étnicas, a política pública da saúde percorre diversos complexos. A saúde da população negra em seus diversos núcleos de comunidades quilombolas, reconhecidas ou não, por parte do governo federal, costumes indígenas perpetuados por gerações nas praticas de rituais para manutenção da saúde, terreiros de candomblé com costumes afrodescendentes, dentre outros hábitos. Caracterizam o Recôncavo da Bahia como espaço privilegiado para uma atenção especializada com ações que sejam de acordo a realidade dada, o que sugere uma prática profissional a aproximar-se do conhecimento das comunidades e efetuar o que propõe a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, quando afirma em suas diretrizes gerais sobre a promoção do reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, inclusive aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas. (PNAS, 2010, p.19) Esses municípios que misturam diversas práticas, não perdem a sua essência, em cada particularidade apresentada. Um fator importante é a área demográfica, sendo que em alguns municípios, a zona rural torna- se distante do atendimento da saúde dos centros urbanos, pois necessitam da criação de órgãos que façam interlocuções com áreas distantes dos núcleos centrais e estes se fazem necessários por meio do Programa de Saúde da Família - PSF. O que abordamos aqui é a necessidade do assistente social nas equipes da Saúde da Família, com a articulação para concretização dos direitos nos Núcleos de Apoio a Saúde das Famílias- NASFs. A política pública da saúde na agenda do assistente social se enquadra no projeto do Ministério da Saúde com seus novos modelos de gestão democrática e descentralizada com participação social, na qual sua formação profissional garante a eficácia, efetividade e eficiência na intervenção e na análise crítica, por conhecer aspectos culturais, históricos e religiosos, o que possibilitaria o conhecimento de demandas nas suas diversas dimensões. A criação dos Programas de Saúde da Família descentraliza o atendimento às famílias, evitando a superlotação em hospitais públicos, pois a sua atuação é básica e requer conhecimento territorial, preservação da cultura local e reconhecimentos destas, as equipes 8 dos PSFs não devem seguir modelos programados que não interagem com a realidade social local. A partir do conhecimento das particularidades regionais do recôncavo marcados por movimentos históricos, políticos, culturais e sociais, esses profissionais inseridos nos PSFs podem viabilizar dentro do seu contexto social ações integradoras e legitimadoras para população dentro da sua realidade, a exemplo, de trabalhadores como pescadores, marisqueiras, artesãos tradicionais, vendedores nas estradas (nas BRs), coletores de dendê, cortadores de cana, de piaçava, agricultores, indivíduos que na maioria das vezes são trabalhadores autônomos precarizados vivendo com a falta de perspectiva de vida, pelo isolamento territorial, dentre outros fatores que envolvem diversas políticas e conhecimento teórico e dinâmico de articulações profissionais. A articulação com outros conhecimentos, é fundamental para melhoria de vida das comunidades que estão isoladas, principalmente as comunidades tradicionais da zona rural. O que se propõe é uma reflexão acerca desta intervenção do assistente social para intermediação de direitos de indivíduos, trabalhadores inseridos no sistema único de saúde que permanece excluído dos direitos à saúde, a partir do instante em que também não são considerados os aspectos sociais e culturais nas regiões do Recôncavo da Bahia, a atuação desse profissional neste espaço, em regiões tradicionais, é para dinamizar esse direito, pois o projeto ético político garante essa intervenção a favor do cidadão, como avalia, Costa sobre os avanços a partir dos anos 90 acerca do trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos assistentes sociais na superação do modelo médico hegemônico a favorecer o avanço e ampliação nas avalições através do modelo social (COSTA, 2008: 311): [...] pode-se dizer que o conjunto das mudanças ainda não avançou no sentido de efetivamente superar o modelo médico- hegemônico, uma vez que para tanto, o sistema de saúde deveria centrar suas ações nas reais necessidades de saúde da população e articular ações intersetoriais com as demais políticas sociais que intervém nas condições de vida da população, como é o caso da habitação, saneamento, das condições de trabalho, da educação, assistência, previdência, acesso à terra etc. Essa capacidade de articulação é que permitiria a identificação e a produção de informações acerca da relação entre as condições de vida e de trabalho e o tipo de doenças que estas produzem. Ou seja, recolocaria a saúde como problemática coletiva e partícipe do conjunto de condições de vida, superando a sua histórica organicidade com as doenças, segundo a ótica da clínica anátomo – patológica e seu enfoque curativo e individual. 9 Essas regiões demonstram suas necessidades não apenas na saúde física, mas também em sua vida social como cidadão brasileiro. As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais devem transpor o caráter emergencial e burocrático, bem como ter uma direção socioeducativa através da reflexão com relação às condições sociohistoricas a que são submetidos os usuários e mobilização para a participação nas lutas em defesa da garantia do direito à Saúde. (CFESS, 2009 p.41). Essa aproximação territorial favorecida pelo PSF – Programa de Saúde da Família favorece uma interação maior com o usuário e maior potencialidade de intervenção referente às questões sociais, por observar os complexos (culturais, históricos, políticos dentre outros) que compõe a totalidade apreendida, uma vez que o contato permanece contínuo, o que propicia um planejamento mais apropriado para intervenção na realidade local evitando assim, ações emergenciais e burocráticas. É fundamental destacar a importância dos movimentos sociais, em especial o movimento social negro que desencadeou uma luta histórica na criação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra para que fosse firmado a equidade em saúde dessa população, reduzindo as desigualdades em saúde desse segmento. Para consolidação dessa política é necessário que se desenvolva estratégias que venham reduzir os indicadores que atinge a maioria dessa população como a diabete mellitus, HIV / AIDS, tuberculose, anemia falciforme, entre outros. Além desses fatores é fundamental que se construa “ações e estratégias de identificação, abordagem, combate e prevenção do racismo institucional nos espaços de trabalho, nos processos de formação e educação permanente de profissionais e, além disso, construir e implementar ações afirmativas para alcançar a equidade em saúde e promover a igualdade racial”5. O racismo nestes espaços ocupa um dos pilares principais para não garantia da saúde da população negra no Sistema Único de Saúde, mesmo que o SUS apregoa e tem como um dos princípios fundamentais atender qualquer indivíduo sem qualquer tipo de discriminação seja de cor, raça, etnia ou gênero. A inserção do Serviço Social no PSF do Recôncavo, diante de uma realidade com suas particularidades, faz-se necessário para o desenvolvimento de ações de políticas transversais para o fortalecimento, sobretudo da Política Nacional de Saúde da População Negra, de 5 Ver Política de Saúde Nacional Integral da População Negra. 10 modo a proporcionar um atendimento voltado para os problemas de saúde de maior incidência na população negra, com o intuito de promover um atendimento mais equânime e livre de qualquer preconceito/discriminação. Tais ações reforçam os princípios contemplados na proposta do SUS e no Projeto Ético Político da profissão em que a defesa da equidade e dos direitos humanos constitui pilares fundamentais para uma intervenção profissional baseada na emancipação humana. É necessário desenvolver ações que sejam promotoras no combate as intolerâncias religiosas e discriminações presentes nestes espaços que reforçam e influenciam para não garantia da saúde a população negra. Por se tratar de uma região em que a maioria da população é negra e a preservação da cultura e dos saberes populares são mantidos até os dias atuais, é imprescindível que os profissionais de saúde promova o reconhecimento desses saberes e das práticas populares de saúde. 11 V. Considerações finais A atuação do assistente social torna-se imprescindível, uma vez que ainda no século XXI o Brasil ainda não tenha conseguido efetivar de forma concreta o que se propõe os dois artigos apresentados na Constituição Federal de 1988 e no artigo 196 e no caput do Artigo 3º da Lei 8.080/1990, dentre outras propostas no âmbito da saúde. A partir dessas reflexões percebemos a necessidade de investir em estudos, para não corremos o risco de termos reflexões imediatas sobre uma temática que requer uma reflexão aprofundada da realidade conforme apresentada pela região do Recôncavo da Bahia. Dessa forma a leitura qualitativa dos aspectos de alguns municípios do Recôncavo da Bahia, requer a apreensão da realidade construída socialmente por indivíduos no seu cotidiano, pois este será o objeto para o profissional assistente social analisar os fenômenos que a compõe, não apenas pela sua aparência imediata, mas apreendendo a realidade dada na sua concreticidade (KOSIK,1976.p.16) para realizar intervenções através do trabalho em equipes multiprofissionais, a compreender todos os complexos que compõem a totalidade dos locais em que estão inseridos os PSFs. O resultado dessa observação realizada fornece subsídios ainda que iniciais sobre a necessidade da intervenção do profissional de Serviço Social nos Programa de Saúde da Família, para melhores articulações com os NASFs, e com outros órgãos que atuam na prevenção e intervenção de questões sociais, além da necessidade em investir em estudos que analise as desigualdades existentes nos Sistema Único Saúde - SUS dentre outros aspectos que atinge (in)diretamente a saúde da população. Em suma a inserção dos assistentes sociais nos Programas de Saúde da Família do Recôncavo, faz- se necessário, por ser uma atuação profissional pautada na perspectiva da garantia do acesso a saúde e efetivação dos direitos sociais da população usuária dos serviços. 12 REFERÊNCIAS ALBUERQUERQUE, Claudia Lima de. OLIVEIRA, Ana Paula de. O Recôncavo Baiano. Um panorama do recôncavo baiano: sociedade, economia, e cultura. Disponível em: http://www.narradoresdoreconcavo.com.br/index/reconcavo. Acesso em 13/06/2012. 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A Cultura da Crise e Seguridade Social: um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo, Cortez, 1995. 13 PAIM, Jairnilson Silva. O QUE É SUS. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2009. 148 p. (Coleção Temas em Saúde). SEPPIR. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Brasília, 2007.