1 A hidroterapia atuando na qualidade de vida das pessoas com Parkinson Dominick Veras de Oliveira1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia2 Pós-graduação em Fisioterapia em Neurologia– Faculdade Ávila Resumo A doença de Parkinson é um distúrbio progressivo do Sistema Nervoso Central (SNC), também sendo caracterizado pela degeneração dos neurônios, levando a uma produção de dopamina na substância negra, causando despigmentação da mesma, levando a acreditarmos na aceleração do processo de envelhecimento cerebral. A literatura indica vários benefícios da hidroterapia, pois este é um programa completo de condicionamento físico e mental, que trabalha força, alongamento, flexibilidade e equilíbrio, ligado a uma considerável quantidade de exercícios potenciais que aplicam pequenos movimentos terapêuticos desenvolvidos para colaborar no tratamento de lesões. Dessa forma, esse estudo tem como objetivo ressaltar o benefício da hidroterapia no tratamento do paciente com Doença de Parkinson. Esta pesquisa se caracterizou por ser bibliográfica, onde foi desenvolvida a partir de material já elaborado e publicado, constituído principalmente de revistas especializadas em fisioterapia e artigos científicos. Concluímos que, em contraste com outras doenças, o Parkinson possui um curso vagaroso, sem mudanças drásticas. Nesses casos, a hidroterapia terá como objetivo conservar a atividade muscular e a flexibilidade articular, evitando a atrofia dos músculos. Com isso, a rigidez nos gestos se tornará menos evidente. Palavras-chave: Fisioterapia; Hidroterapia; Doença de Parkinson. 1. Introdução Segundo Lima et al. (2009) e Sant et al. (2007) a doença de Parkinson é um distúrbio progressivo do Sistema Nervoso Central (SNC), também sendo caracterizado pela degeneração dos neurônios, levando a uma produção de dopamina na substância negra, causando despigmentação da mesma, levando a acreditarmos na aceleração do processo de envelhecimento cerebral. Galhardo, Amaral e Vieira (2009) e Sant et al. (2007) informam que James Parkinson, médico inglês em 1817 foi o primeiro a descrever a doença como “Paralisia Aviatória”, porém, não apresentava nenhuma perda de intelecto. Como a dopamina é um neurotransmissor inibitório das vias diretas consequentemente córtico-estrial, faz com que haja uma liberação do tálamo, que por sua vez faz a excitabilidade do córtex cerebral. Nas vias indiretas faz com que haja a inibição do tálamo. Isso resulta que as vias diretas facilitem o movimento e as indiretas inibam os movimentos involuntários, porém com a diminuição da produção de dopamina, esse processo acontece de forma contrária, as vias diretas são inibidas e as vias indiretas são excitadas, causando assim uma desordem principalmente dos padrões motores (LIMA et al., 2009; VARA, MEDEIROS, STRIEBEL, 2011). 1 Pós-graduanda em Fisioterapia em Neurologia. Orientadora, Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito em Saúde. 2 2 Os exercícios aquáticos através da flutuabilidade ajudam no aumento da amplitude de movimento e no fortalecimento muscular. Concorda-se com os autores, pois com a realização de exercícios de flutuabilidade assistida e resistida houve ganhado de amplitude de movimento de joelho em 2 dos 3 casos e aumento da força muscular em todos os casos. Os exercícios aquáticos não podem modificar a deterioração articular, o calor da água ajuda no relaxamento da musculatura envolta da articulação e a flutuação diminui a tensão sobre a mesma promovendo alívio de dor. Na pesquisa houve diminuição da dor, resultado confirmado pela Escala Visual Analógica da Dor (CAMPION, 2000). Segundo Becker e Cole (2000), durante as caminhadas na água há a produção de menor pressão articular e uma diminuição da força de impacto, concordando com o autor, diferentes marchas foram utilizadas no protocolo e todas foram bem aceitas pelas pacientes por não sobrecarregarem a articulação afetada, notou-se ainda que a marcha fora da piscina tornassese menos dolorosa. O objetivo deste artigo é avaliar a aplicação da hidroterapia como recurso fisioterapêutico no tratamento e na melhora da qualidade de vida em pacientes com doença de Parkinson. 2. Doença de Parkinson A Doença de Parkinson (DP) é uma doença crônica e degenerativa do sistema nervoso central que resulta da morte de neurônios motores da substância negra, acarretando diminuição da dopamina na via negroestriatal1. Essa é uma doença de progressão lenta que afeta principalmente pessoas acima de 50 anos. Dado o crescente envelhecimento da população mundial, estima-se que, em 2020, mais de 40 milhões de pessoas no mundo terão desordens motoras secundárias à DP (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; CAMARGOS, 2004; HAASE, MACHADO, OLIVEIRA, 2008) De acordo com Santos et al. (2010) e Silva et al. (s.d.) a DP caracteriza-se por tremor, rigidez, bradicinesia e alterações da postura, do equilíbrio e da marcha . Além disso, os pacientes com DP podem apresentar alterações músculo-esqueléticas como fraqueza e encurtamento muscular, alterações neurocomportamentais como demência, depressão e tendência ao isolamento e comprometimento cardiorrespiratório o que interfere diretamente na performance funcional e independência destes indivíduos. Camargos (2004) pontua que frequentemente, os pacientes com DP são classificados de acordo com o estado geral de severidade da doença, sendo usado para isso a Escala de graus de Incapacidade de Hoehn e Yahr. Os pacientes classificados nos estágios I, II e III dessa escala apresentam incapacidade leve a moderada, enquanto que aqueles que estão nos estágios IV e V apresentam incapacidade mais grave. O estágio inicial é caracterizado por completa funcionalidade, podendo o paciente apresentar tremor e rigidez unilateral, sendo o tratamento basicamente preventivo. O estágio intermediário ou moderado é composto por sintomas bilaterais, incluindo bradicinesia, rigidez, alteração da postura e da marcha, devendo o programa de tratamento incluir exercícios corretivos. No estágio tardio ou grave, o paciente encontra-se intensamente comprometido e dependente nas atividades de vida diária sendo o tratamento nesta fase composto, principalmente, por cuidados com a pele, higiene e função pulmonar, além do tratamento farmacológico e, algumas vezes, cirúrgico (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; CAMARGOS, 2004; SILVA et al., s.d.). De acordo com Sant et al.(2007) e Lima et al. (2009) a etiologia da DP ainda é desconhecida, porém, atualmente diz-se que entre os fatores que contribuem para o aparecimento da doença são as neurotoxinas ambientais e os fatores genéticos. Em relação às neurotoxinas podemos citar o uso de heroína e a exposição a tóxicos agroindustriais. 3 Segundo Oliveira (2000) existe múltiplos fatores que se somam: fatores genéticos, ambientais e do envelhecimento. Dentre os vários mecanismos possivelmente implicados na degeneração celular da Doença de Parkinson, estudos destacam os seguintes: ação de neurotoxinas ambientais, produção de radicais livres, anormalidades mitocrondriais, predisposição genética e envelhecimento cerebral. A causa da DP é desconhecida, mas existem alguns tipos de parkinsonismo. Esses são o mais comum, que serão citados devido a sua classificação: A Doença de Parkinson é classificada por O’ Sullivan (1993) como: a) Parkinsonismo idiopático: este grupo inclui a Doença de Parkinson verdadeira, ou paralisia agitante, sendo a forma mais freqüente entre as pessoas de meia idade ou idosas. b) Parkinsonismo pós-infeccioso: este tipo de parkinsonismo, segundo se teoriza, é causado por encefalite vira, sendo atualmente pouco frequente. c) Parkinsonismo tóxico: sintomas parkinsonianos ocorrem em indivíduos expostos a alguns venenos industriais, agentes químicos e algumas drogas. d) Parkinsonismo arteriosclerótico: o envolvimento arteriosclerótico e o infarto o tronco cerebral envolvendo a substância negra, os tratos nigroestriais, ou gânglios de base, também podem gerar sintomas de parkinsonismo. e) Parkinsonismo atípico: este representa um grupo de varias patologias, onde é muito comum haver uma síndrome parkinsoniana associada a outras anormalidades neurológicas. Baseado nas estatísticas, estudos mostram que a preponderância da DP na população mundial é de 100 a 150 casos por 100 mil habitantes, sendo que surgem 20 novos casos a cada 100 mil habitantes por ano. Estima-se que a DP acomete cerca de 1% da população acima dos 50 anos, podendo chegar a 2,6% da população com 85 anos ou mais, podendo ainda surgir entre 58 e 60 anos que é a idade média para o surgimento da doença, entretanto, há uma pequena porcentagem de casos em que a doença possa surgir na faixa etária dos 40, até mesmo nos 30 anos. Os homens podem apresentar uma maior probabilidade de adquirir a doença quando comparados com a mulheres, numa proporção de 3 para 2. O número de pessoas com DP no Brasil chega em torno de 300 mil indivíduos (STEIDL, ZIEGLER, FERREIRA, 2007) . Conforme Santos et al. (2010) os sintomas da DP podem ser diferidos entre seus portadores, ou seja, não aparece os mesmos sinais e sintomas em todos os indivíduos que possuem a doença, sendo que a bradicinesia, a rigidez, o tremor de repouso e a instabilidade postural são considerados os principais sinais da doença. Conforme a sua progressão, outras complicações surgem decorrentes dos sintomas físicos e também de fatores psicossociais de cada indivíduo. Podemos citar outras complicações além das alterações na postura, as alterações na marcha que contribui para o risco de quedas, causando uma elevada redução no nível de atividade (gerando mais imobilidade). Episódios de freezing (hesitação no início da marcha) junto à hipocinesia (diminuição da mobilidade) ocasionam a perda da dependência funcional. Outros exemplos de complicações nos indivíduos parkinsonianos é a pobreza de movimentos chamada de oligocinesia; a dificuldade em iniciar os movimentos, ou acinesia; características faciais (face em máscara); marcha festinante (“em bloco”); alterações musculoesqueléticas (contraturas, fadiga...); distúrbios visuais, sensório-motores, da deglutição e comunicação além de alterações cardiopulmonares. Silva et al. (s.d) por ser uma patologia de evolução lenta, degenerativa e deteriorar os parâmetros físicos do indivíduo como força, equilíbrio, resistência, flexibilidade e coordenação acima citadas, podem ser encontrados outros tipos de sintomas além dos motores, exemplo: distúrbios comportamentais e cognitivos, alterações emocionais e sociais. Esses distúrbios associados aos sintomas motores levam os portadores da DP a uma tendência de isolamento, ansiedade, distúrbios de sono e até depressão. 4 Franco et al. (s.d.) e Vara, Medeiros, Striebel (2011) salientam que como o diagnóstico se baseia na história médica e no exame físico, o tratamento desses pacientes deve ser imediato e contínuo, envolvendo vários profissionais, tanto da equipe médica quanto da equipe de reabilitação. O tratamento baseia-se no uso de medicamentos que irão agir no desempenho motor, porém a terapia medicamentosa não pode abolir todos os sintomas, sendo nesse momento recomendada a fisioterapia. Outro tratamento importante a ser citado é a abordagem cirúrgica, que possui grande importância e é somente utilizada em casos onde o paciente já não responde ao uso do medicamento ou desenvolveu reações adversas. A fisioterapia tem um papel muito importante na reabilitação do paciente parkinsoniano, pois promove a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, gerando movimentos funcionais que envolvam diversos segmentos do corpo, promovendo exercícios que possam manter os músculos ativos, além de preservar a mobilidade, enfatizando nos movimentos abdutores, extensores e rotatórios. Considerando a necessidade que o indivíduo com DP apresenta frente as diversas complicações e distúrbios acarretados pela doença e em meio a variedade de tratamentos fisioterapêuticos (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; HAASE, MACHADO E OLIVEIRA, 2008). 3. Fisioterapia X Doença de Parkinson Exercícios com treinamento repetitivos, ao serem realizados na fase inicial da doença, permitem um controle motor mais próximo do fisiológico e adequado quando houver maior deterioração da atuação dos gânglios da base, na evolução natural da doença (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; HAASE, MACHADO, OLIVEIRA, 2008; SILVA et al.,s.d.) Entre os vários benefícios promovidos pelo treinamento, o aumento do tônus e força dos músculos envolvidos na marcha e também o equilíbrio promoveram ao indivíduo com DP melhora em suas passadas, ficando estas mais alargadas e com utilização dos membros superiores. Este estudo demonstrou melhora no alinhamento biomecânico da sua postura, diminuição do tempo de execução de suas tarefas, aumentou a capacidade respiratória e a força dos músculos pulmonares, consequentemente, houve melhora no desempenho das funções pulmonares (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; HAASE, MACHADO, OLIVEIRA, 2008; SANTOS et al., 2010) A fisioterapia é empregada como tratamento adjunto aos medicamentos ou a cirurgia utilizada na DP. Mesmo assim ainda existem dúvidas acerca deste tratamento coadjuvante. Seu valor subestimado talvez se deva à comparação com o tratamento medicamentoso. A reabilitação deve compreender exercícios motores, treinamento de marcha (sem e com estímulos externos), treinamento das atividades diárias, terapia de relaxamento e exercícios respiratórios. Outra meta é educar o paciente e a família sobre os benefícios da terapia por exercícios. Devem ser avaliados os sintomas neurológicos, a habilidade para andar, a atividade da vida diária (AVD), a qualidade de vida (QV) e a integração psíquica (SANT et al., 2007; SILVA et al.,s.d.; FRANCO et al., s.d.). No momento, já existem profissionais que visam o acompanhamento multidisciplinar, contando com neurologistas experientes, fisioterapeutas doutores na área de DP e educadores físicos, indicando abordagens de tratamento domiciliares com exercícios físicos baseados em movimentos de diversas modalidades, tais como tai chi, boxe, canoagem, pilates e hidroterapia. Este programa contempla a evolução da doença, com diferentes intensidades de exercícios, os quais são executados em um período de 60 minutos (SANT et al., 2007; SILVA et al.,s.d.; FRANCO et al., s.d.). 5 4. Hidroterapia Segundo Campion (2000), a água é um dos meios de cura, um veículo de calor ou frio para o corpo. Aplicada ao corpo, opera nele modificações que atingem em primeiro lugar, o sistema nervoso, o qual, por sua vez, age sobre o aparelho circulatório, produzindo efeitos sobre regularização do calor corporal. As reações da aplicação da água são, portanto, três: nervosa; circulatória e térmica. Bates e Hanson (1998) pontuam que o valor da água na vida é reconhecido praticamente por todas as culturas. Já os médicos egípcios - que eram também sacerdotes, astrônomos e artistas - atribuíam grande importância a diversas medidas de higiene relacionadas com a alimentação, vestuário, ginástica e aplicações hidroterápicas. A prática da hidroterapia (do grego hydor, "água" e therapeia, "cura"), também é indicada por vestígios de instalações de higiene proto-indianas (2500 a.C.) e dos banhos caldeus. De acordo com Koury (2000), a noção de que água integra a composição do corpo e do universo ocorre simultaneamente nas civilizações orientais da China e Índia. Segundo essas culturas, tudo o que existe resulta de uma relação entre os cinco elementos: água, ar, terra, fogo e éter (na Índia) ou madeira (na China). Os gregos reconheciam apenas quatro elementos (água, fogo, terra e ar). Becker e Coule (2000) assinalam que sítios arqueológicos gregos incluem locais de banhos e há numerosas referências às virtudes curativas da água. Nos cantos homéricos (1000 a.C.) fala-se de ritos de purificação com água, que precediam a entrada no templo de Esculápio (ou Asclépio), o deus grego da medicina. Por volta de 500 a.C., os templos de Asclépio situavamse perto de fontes e incluíam locais de banho. Píndaro (518-446 a.C.) dizia que "a água é o que de melhor existe". Pitágoras (530 a.C.) recomendava a seus discípulos os banhos frios e a dieta vegetariana (juntamente com algumas ervas medicinais e a ginástica). Hipócrates de Quíos (460-377 a.C.) fez amplo uso da hidroterapia, destacando o papel da pele para a desintoxicação do organismo. Muitos dos procedimentos hidroterápicos fundamentais (vapores, compressas úmidas com água doce ou salgada e mel ou azeite), ainda em uso, já eram utilizados por Hipócrates. Os mesmos autores ensinam ainda que as mulheres dos antigos macedônios banhavam-se com água fria, após o parto (norma higiênica e de prevenção de hemorragias pós-parto) Os escritos de Cícero, César Augusto, Horácio, Plínio o Velho e, sobretudo de Aulo Cornélio Celso e Galeno mostram como as práticas hidroterápicas (irrigações, ingestão, duchas, banhos), muitas vezes aprendidas dos médicos gregos, tornaram-se importantes para os romanos e se desenvolveram através da difusão das termas, os locais destinados aos banhos públicos, e de instalações balneárias. A medicina romana manteve o tratamento com água aquecida/resfriada, que passou a ter ampla utilização. Os banhos públicos podiam ter diversas finalidades, entre as quais a higiene corporal e a terapia pela água dotada de propriedades medicinais; em geral, as manhãs eram reservadas às mulheres, e as tardes destinadas aos homens. Com a decadência do Império Romano perderam-se os vestígios dessas práticas nos séculos seguintes (KOURY, 2000). Em 313 na cidade de Milão, Constantino, Imperador romano do Ocidente e Licínio, Imperador romano do Oriente preparam um documento (edito) enviado a todos os governadores das Províncias, onde se consagra o princípio da liberdade religiosa e/ou proibição do paganismo e segundo alguns autores inclusive dos banhos públicos ou termas (CAMPION, 2000). Conforme Koury (2000), a expressão termalismo também é utilizada para designar as diversas técnicas e práticas da hidroterapia, de acordo com Quintela os locais onde se praticam tais intervenções são designadas por Balneários, Termas, Casas de Banho, Estâncias Termais ou Hidrominerais e Caldas. Diversas cidades ao longo do século XIX e XX foram assim 6 designadas no processo, segundo a referida autora de legitimação dessa antiga prática da "medicina religiosa". 4.1 Água fria De acordo com Becker e Coule (2000), a água fria excita fortemente a sensibilidade periférica, e a excitação experimentada é levada, por via centrípeta, até os centros corticais, produzindo diversos reflexos, dos quais para nós os mais interessantes ocorrem na periferia, nos vasos superficiais e nos órgãos subjacentes, na pele. Para Koury (2000), o sistema nervoso sensitivo, excitado na totalidade das suas ramificações periféricas, é estimulado e melhorado nas suas funções, produzindo, no indivíduo, uma sensação de bem estar, e a pessoa se sente reanimada, alegre disposta para o trabalho. O sistema nervoso recupera o seu tom. Por isso se pode dizer que a água fria é um tônico para o sistema nervoso. A aplicação de água fria ao corpo ao mesmo tempo tônica e sedativa regulariza as funções nervosas e é indicada na luxação. 4.2 Água quente Há fortes indicações de que os asiáticos começaram e difundiram a prática em aproximadamente 2400 aC. O Ofurô é um tipo de banheira feita no Japão para o usuário tomar banho com temperatura da água entre os 36 e 40°C. Seu maior benefício é a limpeza de pele e descontração muscular (BATES E HANSON, 1998). Para Koury (2000), o banho quente seguido de água fria (contraste) está associado a efeitos vasculares e condicionamentos da hemodinâmica, segundo os naturopatas. Segundo Becker e Coule (2000), a hidroterapia é um recurso da fisioterapia que utiliza a piscina aquecida e os meios físicos da água para realização de exercícios terapêuticos, podendo ser iniciada antes da terapia de solo evitando atrofias musculares e tratando de forma completa o paciente com osteoporose. Para Candeloro e Caromano (2008), o calor da água ajuda a aliviar a dor, reduzir o espasmo muscular e induzir o relaxamento. À medida que a dor é aliviada, o paciente é capaz de mover-se com maior conforto, e amplitude de movimentação das articulações aumenta. Um objetivo essencial a ser alcançado na fase inicial do tratamento, é a restauração da biomecânica da marcha normal, e os padrões de movimento. Com o calor da água também dilata os vasos superficiais e aumenta o suprimento sanguíneo à pele, percebe-se a condição de melhora da mesma, particularmente em pacientes com má circulação periférica (BIASOLI, 2006). Efeitos semelhantes são produzidos pela aplicação de outras formas de calor, porém, a vantagem da piscina é que o calor é mantido durante todo o tempo do exercício. Assim sendo, os músculos tornam-se menos fadigados, embora a fadiga geral possa ser maior (MORINI et al., 2002). Segundo Candeloro e Silva (2003), combinada com os efeitos do calor, a flutuação possibilita o alcance de maior quantidade de movimentação. Um paciente pesado, difícil de mover-se em terra, pode mover-se, mas facilmente e com menos desconforto na piscina. Becker e Cole (2000) informam que o ambiente aquático proporciona a diminuição de edema, contribui na facilitação dos alongamentos, no fortalecimento muscular, diminuição de edema e promoções das reações de equilíbrio e retificação corporal. Não deixando de lado e não tão poucos diminuindo os valores de integração, socialização e de reforço moral do mesmo. Biasoli (2006) salienta que muitos efeitos terapêuticos benéficos obtidos com a imersão na água aquecida (como o relaxamento, a analgesia, a redução do impacto e da agressão sobre as 7 articulações) são associados aos efeitos possíveis de se obter com os exercícios realizados quando se explora as diferentes propriedades físicas da água. 4.3 Propriedades da água 4.3.1 Força de empuxo ou de flutuação É a força de sentido oposto ao da gravidade. Ou seja, ao inspirar, o indivíduo bóia e ao expirar ele afunda, pois com 5% da estrutura corporal acima da água, o corpo humano flutua. Essa propriedade é utilizada como resistência ao movimento, sobrecarga natural, estímulo à circulação periférica, fortalecimento da musculatura respiratória, facilitação do retorno venoso e participante do efeito massageado da água (FIGUEIREDO E DINIZ, 2012). 4.3.2 Pressão hidrostática De acordo com Gimenes, Farelo e Carvalho (2011), descobriu-se experimentalmente que os fluidos exercem pressão em todas as direções. Se o objeto estiver em repouso (relaxamento), a pressão exercida em todos os planos será igual. Se o objeto estiver em movimento e a água também, ver-se-á a pressão reduzida bem como o empuxo provocando certo afundamento que, se controlado, é parcial. Os mesmos autores informam ainda que esta é uma força que ajuda em casos de edema em região lesionada. Como a pressão aumenta com a profundidade, o edema de extremidade será reduzido mais facilmente, quanto mais abaixo da superfície da água forem ministrados os exercícios. Em relação ao corpo humano, a pressão da água é mais evidente no tórax, onde a pressão hidrostática resiste á expansão torácica. 4.3.3 Impacto Ao contrário dos exercícios no solo, os aquáticos são executados em baixa velocidade, diminuindo o impacto, o que faz diminuir também os problemas advindos de tal formação, quando em solo (FIGUEIREDO E DINIZ, 2012). 4.3.4 Imersão A resposta renal á imersão inclui aumento da diurese ( produção de urina aumentada) natriurese ( perda de sódio) e potassiurese (perda de potássio). A água fria potencializa a resposta. Os efeitos ocorrem com a imersão do corpo com a cabeça para fora, como durante natação e mergulho (FIGUEIREDO E DINIZ, 2012). 5. Metodologia Esta pesquisa se caracterizou por ser bibliográfica, onde foi desenvolvida a partir de material já elaborado e publicado, constituído principalmente de revistas especializadas em fisioterapia e artigos científicos. A revisão literária enquanto pesquisa bibliográfica tem por função justificar os objetivos e contribuir para própria pesquisa. E a pesquisa bibliográfica consiste no exame desse manancial, para levantamento e análise do que já produziu sobre determinado assunto que assumimos como tema de pesquisa cientifica 8 Utilizou-se a base de dados Medline, Pubmed, Scielo, Lilacs e Biblioteca Cochrane com artigos publicados no período de 1990 a 2012, no idioma português e inglês. Os descritores adotados foram: fisioterapia, hidroterapia e doença de Parkinson. A mesma busca ocorreu em livros da área. 6. Resultados e Discussão Foram pesquisados 41 artigos, dos quais 17 foram descartados por tratarem de maneira muito simplória a doença de parkinson, 13 por fazerem referência à hidroterapia apenas como um exercício de relaxamento e outros 10 por dissertarem bem pouco sobre a proposta do tema. Doença de Parkinson é uma doença neurológica, que afeta os movimentos do individuo. Não é uma doença fatal, nem contagiosa, não afeta a memória ou a capacidade intelectual do parkinsoniano. Ela foi descrita pela primeira vez por James Parkinson, em 1817; sua patologia foi definida cerca de cem anos depois, e o tratamento sofreu uma revolução nos anos 60, com a introdução do fármaco levodopa (ALMEIDA E FERRAZ, 2009; CAMARGOS, 2004; HAASE, MACHADO, OLIVEIRA, 2008). A Doença de Parkinson (DP), também conhecida por parkinsonismo primário ou paralisia agitante, é uma afecção crônica, progressiva e idiopática do sistema nervoso central, envolvendo os gânglios da base e resultando em perturbações no tônus, posturas anormais e movimentos involuntários (O’SULLIVAN, 1998). De acordo com Thomson, Skinner e Piercy (2000) esta patologia é uma doença de progressão lenta, que produz enfraquecimento gradual do movimento voluntario rigidez muscular e possivelmente tremor. De acordo com Santos et al. (2010), é importante que, inicialmente, seja realizada uma criteriosa avaliação do paciente, para que se determine o real nível de comprometimento, uma vez que, por esta ser uma patologia degenerativa e progressiva, o tratamento fisioterapêutico adequado é de suma importância para minimizar e retardar a evolução da patologia, proporcionando a este paciente uma maior qualidade de vida e funcionabilidade. Os sinais clínicos da Doença de Parkinson são constituídos, principalmente, pela tríade: tremor, rigidez e bradicinesia. Camargos (2004) salienta que os sintomas mais comuns são lentidão na marcha (conforme ilustra a figura 1), distúrbio do equilíbrio, com quedas ocasionais ou dificuldades nos movimentos finos de manipulação, como verstir-se ou barbear-se. Podem estar incluídos dificuldades com movimentos específicos como escrever, virar na cama ou levantar-se de uma cadeira baixa e incapacidade de elevar a voz ou de ter tosse produtiva. Os objetivos da fisioterapia na Doença de Parkinson serão basicamente; a manutenção ou restabelecimento de uma boa qualidade de vida; recuperação da capacidade funcional e a prevenção dos riscos que podem derivar do estado geral do paciente, ajudando assim os pacientes a adaptar-se em seu novo esquema corporal, a uma nova forma de viver e de relacionar-se com a sociedade, de modo que possa levar uma vida em melhores condições, dentro do nível da sua incapacidade (HAASE, MACHADO,OLIVEIRA, 2008). É de suma importância os fisioterapeutas reconhecerem a água como ferramenta terapêutica no tratamento da Doença de Parkinson, auxiliando na melhora da marcha, do equilíbrio, da mobilidade do tronco, na qualidade de vida desses indivíduos. Assim como a importância do trabalho em grupos terapêuticos em situações crônicas. A necessidade de aprofundar os estudos que envolvem tanto a hidroterapia quanto o atendimento em grupo nos indivíduos com Doença de Parkinson (MORRIS, 2000). Apesar de tais questionamentos é possível verificar benefícios da hidroterapia para pacientes parkinsonianos, pois há evidências para efeitos positivos da hidroterapia na dor (ALMEIDA E FERRAZ, 2009). 9 Fonte: Camargos, 2004. Figura 1: Paciente com parkinson e dificuldade na locomoção. De acordo com DeLisa et al. (2002), o parkinsonismo pode ser dividido em três categorias: primário ou idiopático, secundário ou sintomático (processos patológicos que afetam os núcleos da base) e Parkinson plus (sinais de parkinsonismo juntamente com outros déficits neurológicos). Candeloro e Silva (2003) afirmam que a Doença de Parkinson, doença progressiva e crônica do sistema nervoso, envolvendo os gânglios da base e resultando em perturbações no tônus, posturas anormais e movimentos involuntários. Clinicamente o paciente exibe regidez, bradicinesia e tremor. A idade média do surgimento da doença situa-se entre 58 e 60 anos. Conforme Morris (2000), a Hidroterapia é uma forma de tratamento ou exercício instruída por um Fisioterapeuta ou Instrutor qualificado, administrada em uma piscina aquecida, de acordo com a figura 2. . Fonte: Morris, 2000. Figura 2: Piscina de água aquecida. 10 Muitas abordagens de reabilitação aquática podem ser usadas no tratamento de pacientes com doença de Parkinson. Três abordagens especificas são mencionadas freqüentemente como sendo particularmente úteis para essa população. O WATSU (Water Shiatsu, shiatsu aquático) foi criado como uma técnica de bem estar e não visava necessariamente à recuperação de pacientes com lesão cerebral. Entretanto, os terapeutas de reabilitação que aplicaram a abordagem a pacientes com uma variedade de distúrbios físicos relataram sucesso clínico (MORRIS, 2000; CANDELORO E SILVA, 2003). Os pacientes com doença de Parkinson podem, de fato, beneficiar-se da terapia aquática em grupo, conforme ilustração 3 e 4. Fonte: Morris, 2000. Figura 3: Piscina de água aquecida. Fonte: Morris, 2000. Figura 4: Hidroterapia em grupo. 11 Para Candeloro e Silva (2003), a fisioterapia aquática deverá intervir na prevenção de deformidades decorrentes da Doença de Parkinson, mantendo os níveis funcionais pelo maior tempo possível, ajustando-se a cada fase da evolução da doença. 6. Conclusão O exercício terapêutico é uma das ferramentas-chave que um fisioterapeuta usa para restaurar e melhorar o bem-estar músculo-esquelético ou cardiopulmonar do paciente. Cada terapeuta precisa ter uma fundamentação em conhecimentos e habilidades que possam ser usados para manejar a maioria dos problemas vistos nos pacientes. Com o aumento da expectativa de vida, o número de idosos vem aumentando em todas as regiões geográficas e, com isso, também a prevalência da doença de parkinson. Esta, por sua vez, em função, principalmente da afetação no sistema nervoso central diminui criticamente a qualidade de vida. Sem uma intervenção de fisioterapia, a lesão neurológica, ainda que recuperada, não vai permitir que muitos dos idosos voltem a caminhar como anteriormente, provocando uma grande diminuição na sua autonomia e capacidade de auto-cuidado. Quando não existe este tipo de investimento, estas situações de dependência provocam grandes alterações na dinâmica das famílias e um sofrimento significativo do idoso, na alteração da sua imagem e conceito. Pacientes com Parkinson preferem um programa de exercícios aquáticos porque estes são considerados mais confortáveis de executar do que exercícios de fortalecimento em terra, especialmente para articulações que suportam o peso corporal. A capacidade funcional melhora quando os exercícios aquáticos ajudam a aperfeiçoar a função muscular, dando confiança ao paciente para realizar os mesmos exercícios em solo. Com a aplicação destes recursos hidroterapêutico na doença de Parkinson pode-se verificar que obtêm-se melhora no equilíbrio estático e dinâmico, o que melhora conseqüentemente a marcha. Verifica-se melhora na modulação do tono muscular, aumento nas amplitudes de movimento, ganho de força que otimizam a realização dos movimentos voluntários e das AVDs. Concluiu-se que o tratamento fisioterapêutico em meio aquático adotado para a doença de Parkinson apresenta-se eficiente se constituindo em fatos de melhora dos aspectos motores e psíquicos Referências ALMEIDA, C.M.A.; FERRAZ, F.T. Uma abordagem da aplicação do Método Pilates na melhoria da qualidade de vida do idoso acometido da doença de Parkinson. V Congresso Nacional de Excelência em Gestão, julho, 2009. BATES, A.; HANSON.N. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. São Paulo:Manole, 2001. BIASOLI, Maria Cristina. Hidroterapia: aplicabilidades clínicas RBM - REV. BRAS. MED. - VOL. 63 - Nº 5 MAIO – 2006. 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