| Açores magazine | | Açores magazine | CONSULTÓRIO CONSULTÓRIO DIABETES MELLITUS em Pequenos Animais Francisco Teves Médico veterinário A Diabetes mellitus é uma disfunção endócrina (hormonal) do organismo que é justificada pela falta de insulina que deveria ser produzida pelo pâncreas ou pela insuficiente ação da insulina que consegue ser produzida. Num animal diabético, o problema pode não ser propriamente da insulina mas sim da falta de moléculas compatíveis com esta nos locais onde ela deve executar a sua ação (no transporte de glicose - “açúcar”, para o interior das células). Esta patologia é caracterizada por altas concentrações de glicose no sangue e na urina como consequência da falta da insulina. Esta é uma patologia relativamente frequente em cães e gatos e quando diagnosticada tardiamente pode ter graves e irreversíveis consequências, como cegueira nos cães. A neuropatia dos membros (membros fracos por “intoxicação” do sistema nervoso causada pelo excesso de glicose) é também uma consequência da Diabetes nos gatos, mas com possibilidade de reverter. A insulina tem um papel essencial no equilíbrio do nível de glicose no sangue participando no mecanismo que faz entrar nas células a glicose (”açúcar”). A glicose tende a estar em excesso no sangue em certas alturas/fases do funcionamento do organismo (como por exemplo após as refeições). Como o papel da insulina é fazer entrar a glicose nas células do organismo (à exceção das células do sistema nervoso e do fígado) fornecendo a fonte de energia para o seu funcionamento, quando há diminuição da produção de insulina as células não recebem a glicose necessária ao seu funcionamento (apesar de no sangue haver imensa insulina em circulação) ficando “enfraquecidas” e desencadeando um stress metabólico com graves consequências no organismo. O animal ao sentir que as suas células não estão “alimentadas” desencadeia permanentemente uma vontade exagerada de comer só porque a glicose não consegue entrar nas células do organismo. Os sinais clínicos clássicos incluem o aumento da ingestão de água e consequentemente o aumento da micção (urina realizada por dia) e o emagrecimento progressivo apesar do animal ter muito apetite. Poderão também estar presentes outros sintomas que são avaliados pelo médicoveterinário em consulta e que ajudam na confirmação do diagnóstico, como o aumento do volume do fígado, aumento do nível de glicose sanguínea, presença de glicose na urina, desenvolvimento rápido de cataratas (oculares), desidratação, depressão significativa do animal e dor abdominal à palpação. Existem dois tipos de Diabetes mellitus, nomeadamente a de tipo I e a do tipo II, em que o tipo I é caracterizado pela dependência de insulina externa para normalizar (baixar) os valores sanguíneos de glicose e a do tipo II na qual os animais não são dependentes da administração de insulina para regularem o nível sanguíneo de glicose. A de tipo I é muito mais frequente nos cães ao passo que a de tipo II é mais frequente em gatos, o que faz com que a Diabetes nos cães seja muito exigente no acompanhamento do paciente pelo seu proprietário, sendo quase sempre necessário administrar insulina durante toda a vida do animal. À semelhança dos humanos, a administração de insulina aos animais implica uma monitorização muito frequente e minuciosa dos níveis de glicose no sangue em conjugação permanente com o acerto da dosagem de insulina a administrar periodicamente. Contudo é muito frequente conseguir o equilíbrio da dosagem de insulina necessária ao animal e proporcionar uma vida cheia de qualidade, quase que a de um animal normal (sem patologias). Para o sucesso do tratamento de qualquer um dos tipos de Diabetes mellitus, a cooperação e dedicação dos donos do animal à patologia através do cumprimento rigoroso da medicação prescrita, da adequação da alimentação (ração médica específica) e da realização de monitorizações frequentes da glicemia, são essenciais para a manutenção do equilíbrio saudável do animal de companhia diabético. Implementar um plano de atividade física e controlar doenças secundárias associadas à Diabetes são metas importantes no controlo da doença. Como causas, estarão envolvidos vários fatores como a predisposição genética, infeções associadas, a ação de determinados medicamentos, disfunção pancreática, a OBESIDADE (muito importante) e, inclusive, a fase de cio nas cadelas não castradas (por interferência hormonal). A prevenção da Diabetes pode não ser possível em situações em que a doença está marcada por um componente genético, congénito, mas pode sempre ser adiado o aparecimento dos sintomas através do fornecimento de uma boa alimentação e da prática frequente de exercício. 28 29 de maio de 1 de maio de 1