nubia mendes santos andréa terni comparação da capacidade vital

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NUBIA MENDES SANTOS
ANDRÉA TERNI
COMPARAÇÃO DA CAPACIDADE VITAL FORÇADA E DO PICO DE FLUXO
DE TOSSE SENTADO E SUPINO EM PACIENTES COM DISTROFIA
MUSCULAR DE DUCHENNE
Monografia apresentada à Universidade Federal de
São Paulo – Escola Paulista de Medicina para a
obtenção do Título de Especialista em Intervenções
Fisioterapêuticas em Doenças Neuromusculares
SÃO PAULO
2005
NUBIA MENDES SANTOS
ANDRÉA TERNI
COMPARAÇÃO DA CAPACIDADE VITAL FORÇADA E DO PICO DE FLUXO
DE TOSSE SENTADO E SUPINO EM PACIENTES COM DISTROFIA
MUSCULAR DE DUCHENNE
Monografia apresentada à Universidade Federal de
São Paulo – Escola Paulista de Medicina para a
obtenção do Título de Especialista em Intervenções
Fisioterapêuticas em Doenças Neuromusculares
Orientadora: Ms. Maria Clariane Berto
SÃO PAULO
2005
Santos, Nubia Mendes; Terni, Andréa
Comparação da capacidade vital forçada e do pico de fluxo de tosse sentado e
supino em pacientes com distrofia muscular de Duchenne / Nubia Mendes Santos e
Andréa Terni – São Paulo, 2005.
vii,17f.
Monografia (Especialização) – Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de
Medicina. Programa de Pós Graduação em Intervenções Fisioterapêuticas nas Doenças
Neuromusculares.
Título em inglês: Comparison of the forced vital capacity and peak cough expiratory flow
in seated and supine position in patients with Duchenne muscular dystrophy.
1. Distrofia muscular de Duchenne. 2. Capacidade vital forçada. 3. Pico de fluxo de
tosse. 4. Pressão inspiratória máxima. 5.Pressão expiratória máxima
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE NEUROLOGIA
Chefe do Departamento: Profª. Dra. Débora Amado Scerni
Coordenadores do Curso de Especialização em Intervenções Fisioterapêuticas
em Doenças Neuromusculares: Prof. Dr. Acary Souza Bulle Oliveira, Ms. Francis
Meire Fávero Ortensi, Sissy Veloso Fontes
NUBIA MENDES SANTOS
ANDRÉA TERNI
COMPARAÇÃO DA CAPACIDADE VITAL FORÇADA E DO PICO DE FLUXO
DE TOSSE SENTADO E SUPINO EM PACIENTES COM DISTROFIA
MUSCULAR DE DUCHENNE
Presidente da Banca: Profª. Ms. Maria Clariane Berto
Banca Examinadora: Prof. Dr. Acary de Souza Bulle de Oliveira
Profª. Dra. Sissy Veloso Fontes
Prof. Ms. Henrique Hortencio Neto
Aprovado em: ____/____/____
Dedicatória
Dedicamos este trabalho aos pacientes com distrofia muscular de Duchenne,
com o objetivo de ter maior conhecimento sofre esse tipo de desordem, e dessa forma,
melhorar sua qualidade de vida e o programa de tratamento, para melhor atendê-los.
Agradecimentos
Agradecemos aos pacientes com distrofia muscular de Duchenne da ABDIM que
contribuíram para a realização desse trabalho e seus responsáveis.
Aos nossos mestres que desde o inicio de nossa caminhada profissional que
contribuíram para nosso processo de formação e crescimento.
E aos nossos pais que possibilitaram a realização de um sonho de nos
tornarmos profissionais engajados na área da saúde e especialista no que admiramos.
Sumário
Dedicatória.......................................................................................................................iv
Agradecimentos................................................................................................................v
Listas...............................................................................................................................vii
Resumo............................................................................................................................ix
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1
1.1 Objetivos.....................................................................................................................3
2. MÉTODO......................................................................................................................4
3. RESULTADOS.............................................................................................................7
4. DISCUSSÃO.................................................................................................................8
5. CONCLUSÃO.............................................................................................................12
7. REFERÊNCIAS..........................................................................................................13
Abstract
Lista de Tabelas
Tabela 1. Correlação entre as variáveis...........................................................................7
Tabela 2. Média e diferença das variáveis.......................................................................7
Lista de Abreviaturas e Símbolos
ABDIM
Associação Brasileira de Distrofia Muscular
BIPAP
Pressão positiva em dois níveis
CPT
Capacidade pulmonar total
CV
Capacidade vital
CVF
Capacidade vital forçada
DMD
Distrofia muscular de Duchenne
PEmax
Pressão expiratória máxima
PFT
Pico de fluxo de tosse
PImax
Pressão inspiratória máxima
Resumo
Introdução: A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença hereditária
progressiva que causa deterioração músculo-esquelético. As alterações funcionais
iniciam-se por volta dos três anos de idade, com o enfraquecimento muscular gradual e
de forma ascendente, simétrica e bilateral, evoluindo para musculatura respiratória.
Objetivo: Analisar a diferença entre a capacidade vital forçada (CVF) e o pico de fluxo
de tosse (PFT) na posição sentada e supino; e observar a correlação entre a idade e
CVF sentado, CVF sentado e PFT sentado, CVF em supino e PFT em supino, PFT
sentado e pressão inspiratória máxima (PImax), CVF sentado e PImax e PFT sentado e
pressão expiratória máxima (PEmax),
nos pacientes com distrofia muscular de
Duchenne assistidos na Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM). Método:
Foram coletadas as medidas de CVF sentado e supino, PFT sentado e supino, PImax e
PEmax, dos prontuários de 49 pacientes de 9 a 25 anos com DMD da ABDIM.
Resultados: Os resultados mostraram correlação significante entre CVF e PFT
sentado e supino, PFT com PImax e PEmax e da CVF com PImax, mas sem
significância da idade com CVF. Conclusão: Concluiu-se que há uma queda da CVF e
do PFT na posição sentada para supino.
1. INTRODUÇÃO
A distrofia muscular de Duchenne é uma doença neuromuscular da infância que é
caracterizada pela deterioração da função músculo-esquelética1. As alterações
funcionais iniciam-se por volta dos três anos de idade, com enfraquecimento muscular,
que ocorre gradualmente e de forma ascendente, simétrica e bilateral, com início na
cintura pélvica e membros inferiores; progredindo para musculatura de tronco e para a
musculatura responsável pela sustentação da postura bípede, cintura escapular,
membros superiores, pescoço, músculos respiratórios e cardíacos. Á medida que a
doença evolui o paciente vai perdendo a capacidade de deambular, ficando confinado a
cadeira de rodas aproximadamente a partir dos 10 aos 13 anos de idade 2,3,4,5,6,7,8-12.
Com a evolução da doença um contínuo e progressivo comprometimento
pulmonar restritivo torna-se aparente a partir de 10 aos 12 anos de idade e resulta
numa insuficiência respiratória durante a segunda e terceira década de vida. Quando a
insuficiência respiratória surge, há dificuldades na ventilação, que associada com a
presença de microatelectasias e dificuldade de tossir e expectorar secreção ocasiona
infecções respiratórias de repetição
1,2
. Como a insuficiência respiratória nas doenças
neuromusculares normalmente é causada pela alteração da ventilação alveolar, a
mesma irá gerar um aumento do espaço morto (“shunt”) intrapulmonar e redução da
complacência pulmonar, com conseqüente presença de hipercapnia e possível
hipoxemia 13.
A capacidade pulmonar total (CPT) e a capacidade vital (CV) estão reduzidas
assim como o pico de fluxo de tosse (PFT) 5, PEmax (pressão expiratória máxima) e
eventualmente a PImax (pressão inspiratória máxima)
14
. Um declínio na CPT e CV
estão intimamente ligadas com o estágio de acometimento muscular, assim, a
diminuição da CV ocorrerá com a progressão da doença
1,13,14,15,16,17
. Um dos maiores
problemas enfrentados no dia a dia dos pacientes neuromusculares nos estágio
avançados da doença é a dificuldade da higienização de secreções pulmonares18
(realizar uma tosse eficaz), isso porque não há fluxo suficientemente necessárias para
tal. Justificando assim, a baixa capacidade vital e o baixo pico de fluxo expiratório
(PFE) 14,19.
Pode ser observada uma queda na CV entre a posição sentado e supino, essa
diferença pode ser útil para avaliar a fraqueza diafragmática e pode ser um indicador
sensível de fraqueza muscular respiratória 20.
Em pacientes com fraqueza neuromuscular crônica, a hipoventilação e
hipercapnia é primeiramente encontrada durante o sono, particularmente no sono REM
13,21
, onde há uma redução da atividade torácica, abdominal e de vias aéreas
superiores
15,22
,com exceção do diafragma 5. Porém, com a progressão da doença
esse quadro surge durante o dia.
Apesar do rápido avanço no conhecimento sobre genética na DMD, essa doença
ainda não possui cura. Os objetivos do tratamento são reduzir as incapacidades,
prevenir complicações, prolongar a mobilidade e melhorar a qualidade de vida 6.
O óbito ocorre por volta dos 18 aos 25 anos por comprometimento cardíaco ou
insuficiência respiratória 2,3,6,7,11,23-25.
1.1 Objetivos
O objetivo desse estudo foi analisar a diferença entre a capacidade vital forçada
(CVF) e o pico de fluxo de tosse (PFT) na posição sentada e supino; e observar a
correlação entre a idade e CVF sentado, CVF sentado e PFT sentado, CVF em supino
e PFT em supino, PFT sentado e pressão inspiratória máxima (PImax), PFT sentado e
pressão expiratória máxima (PEmax) e CVF sentado e PImax, nos pacientes com
distrofia muscular de Duchenne assistidos na Associação Brasileira de Distrofia
Muscular (ABDIM).
2. MÉTODO
Do presente estudo participaram, pelo período de março à setembro de 2005, 49
(quarenta e nove) pacientes do sexo masculino, de 9 (nove) a 25 (vinte e cinco) anos
de idade com diagnóstico de distrofia muscular de Duchenne, os quais encontravam-se
em acompanhamento na Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM). A
incorporação dos pacientes no estudo dependeu da autorização do responsável, que
foi expressa através do termo de consentimento livre e esclarecido.
Os pacientes inclusos no estudo deveriam encontrar-se em atendimento
fisioterapêutico na Associação Brasileira de Distrofia Muscular. Foram excluídos da
pesquisa os pacientes com idade inferior a 9 anos, com alterações cognitivas que
apresentavam dificuldade para compreender os comandos para realização da
avaliação respiratória, os sujeitos que faziam uso de pressão positiva na via aérea em
dois níveis (BIPAP) por 24 horas diariamente, indivíduos com infecção do trato
respiratório nas últimas 3 semanas e cardiopatas graves que apresentavam
desconforto na posição supino.
Para a realização dessa pesquisa foi feita a coleta dos dados de prontuários dos
49 pacientes, do período de junho à setembro de 2005. Os dados colhidos para o
estudo referem-se a: capacidade vital forçada (CVF) e pico de fluxo de tosse (PFT)
sentado e em supino, pressão inspiratória máxima (PImax) e pressão expiratória
máxima (PEmax).
A CVF foi medida através de um espirômetro (Marca Cosmed e Modelo Pony FX
– Desktop Spirometer), com um bocal de papelão cilíndrico (Modelo DMB 0004 – 30,5
ou DMB 00018, a escolha entre eles dependia do tamanho da abertura da boca do
paciente) e um clipe nasal para a vedação das narinas para que não houvesse escape
de ar. A medida foi realizada na posição sentado e supino. Para a avaliação foi
solicitado que o paciente realizasse duas respirações tranqüilas com o bucal na boca,
na terceira expiração o terapeuta pedia para esse inspirar profundamente até atingir
CPT (capacidade pulmonar total) e depois expirar todo o ar por aproximadamente 6
segundos. Foram realizadas no mínimo três curvas reprodutíveis. Para aceitação da
curva, o volume retro extrapolado não pode ser maior que 5% da CVF ou 150 ml (o que
for maior); manobras aceitáveis devem ter PFE dentro de 0,5 L/s do maior PFE obtido.
A espirometria seguiu o predito NHAMESIII.
O PFT foi mensurado em litros por minuto (lpm) através do “peak flow” (Marca
Ferraris Medical e Modelo Peak Flow Meter), com um bocal de papelão cilíndrico
(Modelo DMB 0004 – 30,5 ou DMB 00018. A escolha entre eles dependia do tamanho
de abertura da boca do paciente) e um clipe nasal para a vedação das narinas para
que não ocorresse o escape de ar. O teste foi realizado na posição sentada e em
supino. O paciente realizava duas respirações tranqüilas e na terceira expiração
solicita-se ao mesmo que inspire profundamente até atingir a CPT e em seguida realize
uma tosse. Foram realizadas no mínimo três medidas reprodutíveis levou-se em
consideração o maior pico de fluxo de tosse atingido, sendo que deveria haver uma
equivalência entre as medidas que era uma diferença de no máximo 20 lpm.
A pressão inspiratória máxima (PImax) e pressão expiratória máxima (PEmax)
foram medidas através de um manovacuômetro (Marca Instrumentation Indrustries com
um filtro marca Gibeck, modelo Isso-Gard Filter Vt 150-1000). Um bucal foi acoplado a
boca do paciente e um clipe nasal para vedar as narinas. O teste foi realizado na
posição sentada. Para a realização da PImax foi solicitado para o paciente realizar
duas
respirações tranqüilas e a partir da CRF (capacidade residual funcional), foi
pedido uma inspiração máxima sustentada para a mensuração da PImax; e para a
mensuração da PEmax uma expiração máxima e sustentada a partir da CRF. Foram
realizadas 5 medidas reprodutíveis para a PImax/ PEmax respectivamente e
considerada a melhor das 5 medidas, desde que a diferença entre elas não fosse maior
que 5%.
Os dados coletados nos prontuários foram colhidos pelo fisioterapeuta
responsável no setor de pneumofuncional da Associação Brasileira de Distrofia
Muscular.
Os dados colhidos foram armazenados em variáveis de um banco de dados com
auxílio de um computador e posteriormente analisados por um programa de estatística.
As variáveis CVF, PFT, PImax e PEmax foram testadas para correlação, aos pares,
pelo teste de correlação de Pearson 26.
As variáveis CVF sentado e CVF em supino e o par PFT sentado e PFT em
supino foram comparados com o teste ‘t’ de Student 26.
Considerou-se haver diferença estatisticamente significante quando o teste
apurasse um valor de p < 0,005(5%) 26.
3. RESULTADOS
A amostra estudada apresentou 49 pacientes de 9 a 25 anos, sendo 100% do
sexo masculino.
Após a coleta e análise dos dados, as variáveis obtidas forneceram informações
da presença ou não de correlação significante entre elas.
Levando em consideração as variáveis relacionadas, analisadas através do teste
“t” de Student, a correlação entre CVF sentado com CVF em supino e PFT sentado
com PFT em supino apresentaram um p< 0,001, mostrando que há uma correlação
estatística em ambos.
No entanto, as correlações com duas variáveis escalares realizadas no estudo,
analisadas através do teste de correlação de Pearson, encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Correlação entre as variáveis.
Valor de r
- 0,24
0,76
0,76
0,48
0,52
0,77
Idade X CVF sentado
CVF sentado X PFT sentado
CVF supino X PFT supino
PFT sentado X PEmax
PFT sentado X PImax
CVF sentado X PImax
Valor de p
0,099
< 0,001*
< 0,001*
< 0,001*
< 0,001*
< 0,001*
A média e a diferença entre as variáveis CVF sentado, CVF em supino, PFT
sentado, PFT em supino, PImax e PEmax, são observadas na Tabela 2.
Tabela 2. Média e diferença das variáveis.
Média
Diferença
Diferença %
CVF
sentado
(lpm)
1,85
CVF
supino
(lpm)
1,71
0,13
7,23
PFT
sentado
(lpm)
260
PFT
supino
(lpm)
247
13
5
PImax
PEmax
(cmH2O) (cmH2O)
48
36
11
23
4. DISCUSSÃO
Na DMD o enfraquecimento progressivo da musculatura dos membros é
acompanhado de fraqueza progressiva dos músculos respiratórios, tanto os
inspiratórios quanto os expiratórios
4,5
. A fraqueza muscular respiratória leva a uma
queda progressiva nos volumes pulmonares (como CVF, PFT, PImax e PEmax) a partir
de 7 a 12 anos de idade em diante, levando ao comprometimento pulmonar restritivo,
resultando em insuficiência respiratória entre a segunda e terceira década, podendo
ocorrer antes na vigência de infecção respiratória 1,13,15.
Alguns estudos mencionam a falta de correlação entre CVF e idade, pois há uma
variabilidade significante na evolução da função pulmonar em pacientes com DMD
27
.
Outros estudos afirmam que a porcentagem da CVF está envolvida com a idade do
paciente e o estágio da doença; diminuindo para 10% numa idade de 20.3 anos
16
. Em
outros estudos foi relatado que apenas índices muito baixos de CVF (menor que 1litro)
estavam associados com o prognóstico a respeito da expectativa de vida
27
. No
entanto, observou-se nesse estudo que a idade dos indivíduos não possuiu correlação
significante com a diminuição dos volumes pulmonares levando em consideração a
relação da idade com a CVF sentado, por mais que com o avanço da doença os
volumes pulmonares diminuem, não possuem significância científica. Isso poderia ser
explicado pela variedade de quadros clínicos apresentados pelos pacientes com DMD
e/ou pela doença acometer crianças e progredir para adolescentes, os quais se
encontram em fase de desenvolvimento, onde aumentam seus volumes e capacidades
pulmonares até certa idade, e depois entram em um declínio, dessa forma, nem
sempre os sujeitos apresentarão uma queda de sua função pulmonar desde o início do
tratamento, que pode ser precocemente, desde a primeira infância até seu óbito.
A CVF e outros volumes pulmonares mostram-se durante a vida num ciclo de:
progressão dos volumes (em DMD até os 10 anos), uma fase de estabilidade (platô) e
depois uma fase decrescente que acompanha o progresso da doença 1,13,14,15,17. Essa
fase decrescente é atribuída à perda da força muscular respiratória e também às
deformidades ortopédicas da coluna e tórax
13,14,16
. Um estudo recente mostrou que a
taxa de declínio em porcentagem da CVF está relacionada à fase de estabilização
desta. Pacientes com uma CVF maior que 2.5litros (em torno de 80%) têm uma média
de perda de 4.1% ao ano, enquanto que pacientes abaixo de 1.7litros (em torno de
50%) tem uma média de perda de 9.6% ao ano. Quanto maior for a fase de
estabilidade (platô) maior será a expectativa de vida 1. O nosso estudo apresentou uma
média da CVF sentado de 1,84 litros e em supino de 1,71. Assim o maior desafio do
tratamento dos pacientes neuromusculares é buscar a estabilidade da CVF 17.
Alguns autores citam uma queda na CVF entre as posições sentado e supino,
essa diferença pode ser útil para avaliar a fraqueza diafragmática e pode ser um
indicador sensível de fraqueza muscular respiratória
20
de 10%, alterando a posição de sentada para supino
20,28
. Normalmente há uma queda
. Com paralisia diafragmática
bilateral, a CVF pode estar reduzida mais de 30% na posição supina segundo Depalo e
MCCool
(20)
e em 25% segundo Fromageot el al.
(29)
. No entanto, as pesquisas citam
esse tipo de comprometimento apenas em algumas doenças neuromusculares como a
esclerose lateral amiotrófica, na DMD a literatura não afirma esse tipo de alteração, por
isso a necessidade de estudos para comprovar a presença ou não de paralisia
diafragmática em pacientes com DMD 20. No presente estudo, a CVF sentado com CVF
em supino, apresentou uma diferença de 7,23% entre uma posição e outra, com
correlação significante, porém a diferença não se aproximou dos 25 á 30%, como
mencionado na literatura que indica paralisia diafragmática, com isso, acredita-se que
na DMD pode não ocorrer paralisia diafragmática, isso pode ser observado no quadro
clinico dos indivíduos, afinal, normalmente pacientes com DMD não possuem
intolerância a posição supina mesmo em estágios avançados da doença. A diferença
entre sentado e em supino do PFT também foi analisada nessa pesquisa, a qual
apresentou uma diferença menor do que a da CVF, sendo de 5% de uma posição para
outra.
Em pessoas normais, o valor médio do PFT é maior que 300 lpm
30
. Na DMD,
quando o PFT está abaixo de 160 lpm, a tosse não é efetiva o suficiente para realizar
higienização mucociliar. O PFT deve ser maior que 160lpm para uma tosse efetiva
no mínimo 60% do CVF predito
6,30
,
30
. Quando pacientes que tem PFT menor que 270lpm
são infectados com vírus e a PFT pode diminuir para 160lpm. Crianças com menos que
270lpm têm maior risco de reterem secreções e devem ser ensinadas técnicas para
melhorar a higienização mucociliar, assim quando elas estiverem doentes poderão
usufruir dessas técnicas 30. Os pacientes com DMD da ABDIM possuem uma média de
260lpm na posição sentada do PFT e de 247lpm em supino, mostrando que 51% dos
pacientes possuem uma tosse efetiva, isso poderia ser justificado pela realização de
exercícios de reexpanção pulmonar, com uso de incentivadores respiratórios, para
pacientes com CVF maior que 70% e a manobra de air-stacking, feita com o ambu,
para indivíduos com CVF menor que 70% 18,31.
Nas distrofias musculares há acometimento da tosse com redução do PFT como
um resultado da fraqueza da musculatura inspiratória e expiratória 32,33.
A conseqüência de uma fraqueza muscular inspiratória é a perda da habilidade
para realizar uma inspiração profunda, o que é necessário para manter uma ventilação
periférica alveolar além de prejudicar a primeira etapa da tosse (inspiração profunda),
resultando assim em áreas de microatelectasias. A fraqueza dos músculos expiratórios
pode ser notada a partir de uma redução na pressão expiratória máxima, redução da
habilidade para tossir e expirar profundamente
13
. O estudo mostrou uma correlação
significante entre a CVFcom a PImax e do PFT sentado também com a PImax,
mostrando que a diminuição da PImax causa diminuição da sua CVF e do PFT,
dificultando a ventilação pulmonar e a capacidade de tossir, assim, observa-se que a
fraqueza da musculatura inspiratória compromete tanto a ventilação pulmonar como a
capacidade de tossir, dificultando ainda mais o quadro do paciente, ou seja, os
cuidados e a prevenção do acometimento da musculatura inspiratória devem ser
levados como um objetivo essencial no tratamento de pacientes com DMD.
É importante ressaltar que como a PEmax é medida a partir de alto volume
pulmonar, ou seja, após uma inspiração profunda, a redução na capacidade inspiratória
subestima a verdadeira força expiratória, pois estes músculos não podem se alongar
ao máximo, para provocar uma força máxima. Isso pôde ser observado no presente
estudo, pois tanto a pressão inspiratória quanto a expiratória tende a diminuir em uma
mesma progressão. A primeira implicação envolve uma baixa capacidade para
desenvolver força e velocidades necessárias para higiene brônquica com uma tosse
eficaz 14.
Segundo a Sociedade Torácica Americana (ATS), a habilidade para gerar um
fluxo adequado para realizar uma tosse eficaz está correlacionada com a PEmax de
60cmH2O e valores superiores a este. Foi mostrado na literatura que quando a PEmax
é abaixo de 45cmH2O o fluxo é inadequado para realizar uma tosse eficaz
34
. Quando
a PImax é igual a 30cmH2O, é comum encontrar medidas de PaCO2 elevadas durante
a vigília
14
. Os pacientes com DMD do estudo apresentaram uma média de 48 cmH2O
de PImax e de 37 cmH2O de PEmax, mostrando uma correlação significante entre
elas. A PEmax também está diretamente relacionada com o PFT, mostrando a ligação
direta entre ambos.
A principal causa de insuficiência respiratória nas doenças neuromusculares é
decorrente de hipoventilação e infecção respiratória, para isto faz-se necessário o uso
de ventilação não invasiva (VNI).
As indicações específicas para ventilação não-invasiva (VNI) vão depender
particularmente das queixas de cada paciente. Os critérios para iniciar a VNI são
variáveis, o que em parte está relacionado com a progressão primária da doença 4. A
privação do sono, um resultado de repetidos episódios de apnéia, pode contribuir para
uma redução de drive ventilatório
13
. O BIPAP (Bilevel Positive Airway Pressure) um
tipo de VNI, utilizado com máscara nasal pode ser usado com sucesso no tratamento
de
distúrbios
respiratórios
associados
com
doenças
neuromusculares
35
.
Anormalidades na troca gasosa durante o dia, pode ser um sinal de progressão da
doença. O Consenso Internacional de 1999 sugere que: PCO2 foi maior ou igual a
45mmHg, dessaturação de oxigênio anormal (maior ou igual a 88% por 5 minutos
consecutivos), PImax for menor que 60 cmH2O e CVF menor que 50% do predito são
indicadores de VNI
36
. Pacientes com 50% da CV podem não apresentar nenhum
sintoma de envolvimento respiratório 4.
5. CONCLUSÃO
A capacidade vital forçada e o pico de fluxo de tosse apresentam uma queda na
postura sentada para supino, comprovando a presença de maior comprometimento
respiratório na posição supino.
Em relação às outras variáveis ocorreu presença significante de correlações como
CVF com PFT e PImax; e PFT com PEmax e PImax. No entanto, a correlação entre
idade e CVF não obteve significância, devido provavelmente ás diferenças de quadros
clínicos na DMD, e por se tratar de uma doença que atinge crianças em fase de
desenvolvimento.
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Revisão. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, 1999;3(3):211-218.
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neuromusculares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. P.534-536.
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ABSTRACT
Introducion: Duchenne muscular dystrophy (DMD) is an inherited progressive disorder
that causes muscle-skeletal deterioration. The clinical manifestations begin in the third
year of life with progressive, ascendant, symmetric and bilateral muscle weakness. It
develops to respiratory muscles. Objective: Analyze the difference between forced
vital capacity (FVC) and peak cough expiratory flow (PCF) in seated and supine
position; and seek for a correlation between age and FCV seated, FCV seated and PCF
seated, FCV supine and PCF supine, PCF seated and maximal inspiratory pressure
(MIP), FVC seated and MIP and PCF seated and maximal expiratory pressure (MEP),
in patients with DMD attending the Brazilian Association of muscular dystrophy
(ABDIM). Methods: Dates were collected from 49 patients between 9 to 25 years with
DMD from ABDIM: FVC measures in seated and supine positions, PCF seated and
supine, MIP and MEP. Results: The results showed a significant correlation between
FVC and PCF in seated and supine positions, PCF with MIP and MEP and FVC with
MIP, but with no significant correlation between age and FVC. Conclusions: There is a
decrease of FVC and PCF from seated to supine position.
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