32 Original Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. Case series and follow-up of 1.639 cases of carpal tunnel syndrome operated on by open technique. Comparision of our results with those obtained by other techniques according to literature. Daniel de C. Kirchhoff 1 David Monducci2 Luiz Paulo Alves3 Lorenza Pereira3 Fábio A. F. Okuda3 Abel Mitsuo Takey3 Dierk F. B. Kirchhoff4 RESUMO Introdução: A síndrome do túnel do carpo é uma afecção muito frequente , acometendo até 10% da população mundial ao longo da vida e corresponde a aproximadamente 90% de todas as neuropatias periféricas compressivas. Como fatores de risco, alem do sexo feminino e as idades referidas, também são relatados na literatura o tabagismo, a obesidade, o uso de anticoncepcionais orais, de terapias para emagrecer, os transtornos digestivos e principalmente doenças concomitantes como a artrite reumatóide, a acromegalia, gota, tuberculose, insuficiência renal, hipotireoidismo, amiloidose e diabetes mellitus. Objetivo: Comparar a experiência de 1639 pacientes operados com técnica aberta em nosso serviço, com os resultados obtidos por outras técnicas cirúrgicas consagradas pela literatura mundial. Material e Métodos: Apresentamos 1639 casos de Síndrome do Túnel do carpo, todos conduzidos segundo mesmo protocolo: diagnóstico clínico associado a eletrofisiológico, tratamento cirúrgico em pacientes com quadro moderado a severo sem resposta ao tratamento clínico ou piora neurológica, sempre através da técnica aberta protocolada no serviço, com seguimento ambulatorial pós-cirúrgico quinzenal e posteriormente mensal por 6 a 12 meses. Resultados: Os resultados obtidos mostraram que 1490 pacientes (90,9%) apresentaram melhora imediata e significativa do quadro. Não houve nenhum caso de lesão cirúrgica do nervo mediano e nenhum dos pacientes apresentou déficit motor sequelar. Os resultados cirúrgicos diferiram da literatura, principalmente se comparados a resultados relatados por serviços que realizam técnicas cirúrgicas por vias endoscópicas. Conclusão: A técnica usada em nossos casos demonstra baixa incidência de complicações, comparada com outros métodos descritos na literatura, que apresentam complicações maiores, curva de aprendizado mais longa e ao nosso ver, o fato de os poucos casos bons publicados voltarem mais cedo ao trabalho, não justifica seu uso pela gravidade das complicações. Palavras-chave: síndrome do túnel do carpo, cirurgia endoscópica para síndrome do túnel do carpo. ABSTRACT Objective: The carpal tunnel syndrome is a very frequent disease in the world population, affecting up to 10% of population along lifetime9 and corresponding to approximately 90% of all compressive peripheral neuropathies. Besides female and age as risk factor, are also reported in literature, smoking, obesity, oral contraceptive use, therapy for weight loss, digestive disorders and principally concomitant disorders such as rheumatoid arthritis, acromegaly, gout, tuberculosis, renal failure, hipothyreoidism, amyloidosis and diabetes mellitus. Objective: To compare our series of 1639 patients operated on with the traditional open technique with the results obtained with other reported surgical techniques. Methods: We report on 1639 cases of carpal tunnel syndrome, all managed by the same protocol: clinical diagnosis associated with electrophysiological test, and surgical treatment in patients presenting with moderate to severe signs, with no response to clinical therapy or neurological worsening, always with the open technique protocolled on the service, with postoperative follow-up fortnightly and then monthly, for 6 to 12 months. Results: The results show that 1490 patients (90.9%) had immediate and significant improvement of the symptoms. There were no cases of surgical lesion of the median nerve and no patients presented with definitive motor deficit. Conclusion: The reported open technique used in our cases demonstrates minor complications, compared with other described techniques that have major complications, and longer learning curve: in our view, the fact that the few successful published cases show earlier return to work does not justify its use by the severity of the posible complications. Key words: carpal tunnel syndrome, carpal tunnel syndrome endoscopic surgery. 1 - Neurocirurgião e coordenador do serviço de residência médica em neurocirurgia da Assistência Neurológica de São Bernardo e coordenador do departamento de Neurologia/ Neurocirurgia do Hospital Cruz Azul de São Paulo - São Paulo / SP / Brazil. 2 - Neurocirurgião e preceptor do serviço de residência médica em neurocirurgia da Assistência Neurológica de São Bernardo - São Bernardo do Campo / SP / Brazil. 3 - Residente do serviço da Assistência Neurológica de São Bernardo - São Bernardo do Campo / SP / Brazil. 4 - Doutor em neurocirurgia e Chefe do serviço de neurocirurgia da Assistência Neurológica de São Bernardo e Chefe do departamento de Neurologia/Neurocirurgia do Hospital Cruz Azul de São Paulo - São Paulo / SP / Brazil. Recebido em 05 de outubro de 2011, aceito em 26 de novembro de 2011 Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 33 Original Introdução Anatomia Generalidades A síndrome do túnel do carpo ( STC ) é uma patologia muito freqüente na população mundial chegando a acometer 10% da população ao longo da vida9 e corresponde a aproximadamente 90% de todas as neuropatias periféricas compressivas2. Calcula-se que ocorram cerca de 3,4 casos novos a cada mil habitantes por ano36. Com a prevalência mundial de 0,5 a 5,8 % da população mundial5, sua incidência quadruplicou na ultima década. A síndrome acomete aproximadamente três vezes mais mulheres do que homens, sendo essa proporção muito variável na literatura, chegando até a referência de nove mulheres para cada homem acometido33. A idade prevalente varia da terceira à quinta década de vida nas mulheres e da segunda a oitava décadas nos homens33,38. Como fatores de risco além do sexo feminino e as idades referidas, também são relatados na literatura o tabagismo, a obesidade, o uso de anticoncepcionais orais, terapias para emagrecer, transtornos digestivos e principalmente doenças concomitantes como a artrite reumatóide, a acromegalia, gota, tuberculose, insuficiência renal, hipotireoidismo, amiloidose e diabetes mellitus8,38. A associação desta afecção com a realização de atividades repetitivas e o trabalho (LER) ainda é muito controversa na literatura, não havendo evidências significativas dessa correlação48,36. Histórico A porção do retináculo dos flexores denominada ligamento transverso do carpo compõe o túnel do carpo, que é uma estrutura de fibras transversas delimitado dorsal e lateralmente pelos ossos do carpo, estando fixado distalmente no hâmulo do osso hamato e no tubérculo do trapézio e na região proximal no osso pisiforme e no tubérculo do osso escafóide e ventralmente, pelo espesso ligamento transverso do carpo. Pelo seu interior passam, além do nervo mediano, mais nove tendões flexores (flexor digitorum superficialis I-IV, flexor digitorum profundus I-IV e flexor pollicis longus), deixando o espaço muito vulnerável a anormalidades inflamatórias desses últimos, ocasionando edema e aumento pressórico no túnel. Após passar pelo túnel, o nervo mediano divide-se em 5 ramos: 4 digitais sensitivos para parte anterior (palmar) do I dedo, II/III dedos e parte lateral do IV dedo e 1 recorrente motor para musculatura da região tenar mediano-dependente. As artérias radial e ulnar e os nervos ulnar e radial não passam pelo túnel3,24,27,45. O primeiro a descrever cientificamente a compressão do nervo mediano no nível do túnel do carpo foi James Paget em 1854. O mesmo relacionou tumores, traumas, sinovites crônicas e cistos sinoviais à diminuição do espaço dentro do canal carpiano42,19. A primeira recomendação de abertura do retináculo dos flexores para a descompressão do nervo mediano foi feita por Marie e Foix em 1913 e a partir de então diversas técnicas cirúrgicas e tipos e tamanhos de incisão vem sendo discutidos e descritos42,44. As manifestações da síndrome e seu respectivo tratamento cirúrgico foram bem relatados por Phalen em 1950 e posteriormente detalhados por Kremer27. Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 34 Original Fisiopatologia Depende de dois mecanismos: 1. Alteração reversível rápida das fibras nervosas, relacionado à isquemia, ou também chamado bloqueio agudo fisiológico rapidamente reversível : nessa fase o estudo da condução nervosa está normal devido à ausência de anormalidades estruturais no nervo. 2. Anormalidade estrutural que se desenvolve lentamente nas fibras nervosas como resultado da pressão abaixo do retináculo flexor (ligamento transverso do carpo) onde o estudo da condução nervosa revela lentificação focal por desmielinização segmentar localizada; secundariamente pode haver degeneração axonal, particularmente nos casos de compressão mais acentuada e por tempo mais prolongado38. Etiologia Pode ser dividida em 2 grupos: 1- redução da capacidade do canal (por espessamento do retináculo flexor decorrente de processos inflamatórios como artrite reumatóide e mixedema, redução do canal por desalinhamento ou calo ósseo associados a fraturas do radio e dos ossos do carpo, movimentos extremos do punho em flexão e acromegalia). 2 – aumento do volume do conteúdo intracanal (por condições inflamatórias e degenerativas como tenossinovite reumatóide, gota, gânglio sinovial e amiloidose, osteófitos ou cicatrizes pós-traumáticas, lesões neoplásicas e outros). Clínica O quadro clínico apresentado por portadores da síndrome do túnel do carpo permite dividi-los em três grupos24: 1. Sintomatologia leve intermitente: o paciente apresenta dor, dormência e formigamento na área de representação do nervo mediano, predominantemente noturno, acordando o paciente várias vezes (sinal de Flick) e sintomas diurnos posicionais como dirigir autos, segurar objetos na mesma posição ou fazer trabalhos manuais. Nesse grupo o retorno à normalidade habitualmente é alcançado rapidamente por mudança de postura ou movimentação das mãos e o exame neurológico do paciente está normal e os testes de Tinel e Phalen podem ou não estar positivos. O teste de Tinel é controverso, sendo positivo em 63% dos pacientes com STC e em 45% dos controles normais; o teste de Phalen é mais preciso para diagnóstico, sendo positivo em 66% dos pacientes com STC e em 20% dos controles normais44. O exame de condução nervosa pode estar normal (anormalidade isquêmica rapidamente reversível) ou revelar lentificação incipiente da condução do nervo mediano no carpo. 2. Sintomatologia persistente: o paciente já apresenta déficit sensitivo e perda da habilidade manual (déficit para pinçamento); dor tipo queimação, dormência mais acentuada, sensação de edema e congestão na mão. A melhora nesse grupo de pacientes é muito mais lenta mesmo com mudança de postura ou movimentação das mãos; o exame neurológico revela déficit sensitivo e motor, Tinel e Phalen positivos e eventualmente atrofia tênar: reconhecer que os achados clínicos não dependem do tempo de compressão e sim do grau de lesão ao nervo mediano. O exame de condução nervosa revela lentificação evidente do nervo mediano no carpo. 3. Sintomatologia grave. Acentuada perda sensitiva, inclusive discriminação de dois pontos, com déficit funcional grave e acentuada atrofia tenar e de pele. Nesse grupo o prognóstico é mais reservado mesmo após descompressão15. Diagnóstico O diagnóstico é clínico e determinado pela história e exame físico24. A história deve levar em consideração todas as características e informações já relacionadas acima e o exame físico inclui dois sinais principais: Tinel e Phalen. Além de outros, como o sinal de Mc Murphy, o teste de Durkan e outros como o sinal do punho cerrado, sinal do quadrado do punho, sinal do “chacoalhar”, teste do torniquete com sinal de compressão carpal e teste de isquemia (dor reproduzida por insuflar manguito de pressão arterial proximal ao pulso por 30 a 60 segundos). O sinal de Tinel é pesquisado com a percussão do punho, sendo positivo com dor ou formigamento no polegar e no indicador ou entre os dedos médios. O sinal de Phalen é pesquisado com a flexão a 90° do punho; se os sintomas forem reproduzidos em 60 segundos, é considerado positivo. Dentre os métodos complementares de diagnostico de maior confiabilidade estão as provas eletrofisiológicas de eletroneuromiografia e estudo de velocidade de condução. Através destes, consideramos confirmada a hipótese diagnostica de STC pacientes que apresentam latência sensorial absoluta maior que 3,7mseg, uma diferença maior que 0,4mseg entre os valores obtidos ao avaliarmos os nervos mediano, ulnar ou radial, latência motora maior que 4mseg e uma alteração maior que 0,4mseg em estudo seriado de sensibilidade palmar. A avaliação neurofisiológica é um método de diagnóstico muito sensível e muito utilizado para confirmar o diagnóstico clínico. Quando o diagnóstico clínico de STC é duvidoso, a eletroneuromiografia positiva confirma a suspeita clínica de STC, mas, se negativa, não a afasta por completo23,28. O diagnóstico por imagem na maioria dos casos é desnecessária, mas pode auxiliar nos casos duvidosos e, especialmente, nos sintomas recorrentes ou não aliviados após a liberação cirúrgica do túnel do carpo. As radiografias simples e a tomografia computadorizada representam valor diagnóstico para a avaliação da estenose óssea do carpo e calcificações de partes moles e a ultra-sonografia e a ressonância magnética permitem a visualização direta da compressão do nervo mediano e outras estruturas de partes moles do túnel do carpo33,49. Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 35 Original Tratamento O tratamento clínico conservador indicado para pacientes com STC leve e moderado baseia-se em repouso, anti-inflamatórios AINEs, imobilização em posição neutra e injeção de esteróides. O tratamento cirúrgico, indicado de acordo com a sintomatologia do paciente. Habitualmente, pacientes com quadro de STC severa tem uma maior proporção de indicação cirúrgica. O tratamento cirúrgico é baseado no objetivo básico de descompressão do Túnel do Carpo e pode ser realizado através do procedimento cirúrgico convencional aberto (com incisão longa ou curta) e por procedimento endoscópico. Objetivos Objetivamos através deste estudo, demonstrar com ampla casuística, a experiência da equipe em cirurgias de síndrome do túnel do carpo, os resultados positivos obtidos em pacientes com diagnóstico clínico e eletrofisiológico de STC severa decorrentes da utilização de técnica cirúrgica convencional. Também comparamos os resultados encontrados com a literatura, tanto em pacientes submetidos à técnica convencional quanto à endoscópica. A amostra envolve apenas os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico. A técnica cirúrgica protocolada no serviço e que foi realizada em ambos os 1639 casos foi a cirurgia aberta realizada pela técnica de pequena incisão, sob anestesia local. Foi utilizada incisão retilínea, mediana e longitudinal, iniciando-se na prega distal do punho e estendendo-se distalmente por quatro a cinco centímetros em direção ao dedo anelar. Dissecados Os planos profundos são dissecados com a máxima preservação dos tendões até a exposição do ligamento transverso do carpo que, sob visualização direta, é seccionado em toda sua extensão com o nervo sempre protegido sob tentacânula e com o auxílio do microscópio sempre que necessário. A verificação final da cirurgia é sempre realizada por leve inspeção digital dos limites do ligamento, após cuidados como a retirada cautelosa do talco das luvas. A ferida é fechada por meio de sutura com pontos simples na pele, suficientes para permitir rigorosa hemostasia. A sutura na pele é sempre realizada com a devida precaução para não permitir o fechamento de planos profundos. Metodologia Foi realizado um estudo retrospectivo do período de 1980 a 2011 que obteve uma amostra de 1639 casos, com diagnostico clinico e eletrofisiológico de STC, todos tratados segundo o mesmo protocolo: diagnóstico clinico associado a eletrofisiológico, tratamento clinico em pacientes com sintomatologia leve com repouso, antiinflamatórios e imobilização em posição neutra e tratamento cirúrgico em pacientes com quadro moderado a severo sem resposta ao tratamento clinico ou piora neurológica, comprometimento axonal ou presença de déficits sempre através da técnica aberta protocolada no serviço com seguimento ambulatorial pós-cirúrgico quinzenal e posteriormente mensal por 6 a 12 meses. O tratamento complementar com controle das doenças associadas e fisioterapia foi realizado sempre que necessário. 1 2 3 4 Figura 1. Demarcação da incisão punho-palmar. Figura 2. Ligamento transverso do carpo. Figura 3. Inserção da tentacãncula sob o ligamento transverso do carpo. Figura 4. Nervo mediano livre. Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 36 Original A partir dos resultados encontrados foi realizada avaliação clinico- epidemiológica com uma análise comparativa dos resultados obtidos no serviço com os relatados na literatura, desenvolvendo um paralelismo direto com outras técnicas, dando ênfase à comparação com os obtidos através de cirurgias por técnicas endoscópicas e da micro-incisão. Resultados Resultados da Assistência Neurológica Cerca de 50% das cirurgias foram realizadas em pacientes que já haviam tentado em outros serviços o tratamento clínico conservador com imobilização, AINES e infiltração de corticóides sem sucesso. O perfil da amostra analisado mostrou ser composta por 81,4% de mulheres (1334 pacientes) e 55% de pacientes com queixas bilaterais (901 pacientes). Os sintomas sensitivos predominantes eram dor neuropática (35%) e parestesia (65%) (Gráfico 1) Gráfico 1. Sintomas sensitivos predominantes. Os sintomas motores eram ausentes em 45% da amostra, 15% apresentavam atrofia tenar, 20% paresia da abdução do polegar e 20% diminuição da força de pinçamento (Gráfico 2). Dos pacientes com lesão bilateral, 96% foram operados em dois tempos com um intervalo médio de três meses entre as duas cirurgias, e 4% recusaram o tratamento cirúrgico contralateral por diversos motivos, como controle clínico dos sintomas contralaterais, troca de convênio, interesses trabalhistas e outros. Todos foram submetidos à técnica cirúrgica aberta convencional, com incisão longitudinal no punho que se inicia na prega proximal e adentra a região palmar, medindo entre 4,5 a 9,0 cm, incisando todas as camadas da pele, até a completa identificação do ligamento transverso do carpo, com abertura do mesmo orientado por tentacânula, descomprimindo o nervo mediano por visão direta e com auxílio do microscópio quando necessário. Os resultados obtidos mostraram que 1490 pacientes (90,9%) apresentaram melhora imediata e significativa do quadro. Oitenta e nove pacientes (5,43%) evoluíram com algum tipo de complicação pós cirúrgica como síndrome do complexo regional em 23 casos, fibrose hipertrófica pós-operatória em 28 casos, infecção de ferida operatória em 29 casos, abertura incompleta do ligamento carpal transverso em 8 casos e lesão cirúrgica do arco palmar em 1 paciente. Os pacientes com infecção da ferida operatória foram tratados com antibióticos via oral com excelente resolução do quadro infeccioso e nenhum necessitou de reabordagem cirúrgica. Os pacientes com as demais complicações foram submetidos a tratamentos clínicos adjuvantes como fisioterapia motora, analgésicos e anti-inflamatórios e também evoluíram com resultados satisfatórios: 8 pacientes com fibrose hipertrófica foram submetidos a novo procedimento cirúrgico e todos os 8 pacientes com abertura incompleta do ligamento , cujas cirurgias não estão incluídas na estatística apresentada. Não houve nenhum caso de lesão cirúrgica do nervo mediano e nenhum dos pacientes apresentou déficit motor seqüelar. Sessenta e cinco pacientes (4%) apresentaram melhora parcial decorrente principalmente de lesão axonal prévia instalada e sinais severos de desmielinização crônica previa à cirurgia, o que tornou a cirurgia de baixa resolutividade para esses pacientes por conseqüência do quadro avançado da afecção e pela busca tardia de resolução pelos próprios pacientes (Gráfico 3 e Tabela 1). Gráfico 2. Sintomas motores predominantes. Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 37 Original em média, melhora significativa em 50% dos casos, melhora pobre em 35% e falha terapêutica em cerca de 15% dos pacientes em até 6 meses de cirurgia. As estatísticas encontradas e apresentadas por serviços que realizam a técnica endoscópica variam muito, pois são altamente dependentes do volume e experiência do cirurgião, mas foram encontrados relatos de falha terapêutica por presença de dor severa persistente até 6 meses, manutenção dos déficits e piora dos mesmos por lesão vascular e tendinosa havendo relatos inclusive de lesão nervosa16,14. Chama a atenção a dificuldade de executar a técnica endoscópica, que submete o paciente à dependência da habilidade e experiência do cirurgião, com a possibilidade inclusive de lesão nervosa durante os procedimentos endoscópicos. As falhas terapêuticas descritas na literatura obtidas pela via aberta são decorrentes de fibrose hipertrófica pós-operatória, abertura incompleta do ligamento transverso do carpo , infecção, lesão do arco palmar arterial, síndrome da dor complexa regional. Na casuística do nosso serviço houve apenas uma lesão de arco palmar. Assim como na casuística do serviço, na literatura não há relato de lesão do nervo ou seqüelas motoras18,14. Outras diferenças e questionamentos são apontados na tabela 128,37. Gráfico 3. Resultados obtidos com técnica aberta pela Assistência Neurológica. Resultados Comparados à Literatura Os achados clínicos e epidemiológicos assemelham-se aos da literatura, com predominância do sexo feminino (81,4% do grupo amostral), predomínio da faixa etária entre 30 e 50 anos (65% da amostra), da dor neuropática (35%), do formigamento e dormência como principais sintomas sensitivos (65%) e paresia do polegar e diminuição da força de pinçamento como predominantes sintomas motores34,38,28,40. Também compatíveis com a literatura foram os resultados referentes ao tempo de desenvolvimento da doença, que atingiu grau severo em até 24 meses de sintomatologia em 65% da amostra27,8. Os resultados cirúrgicos, no entanto diferiram da literatura, principalmente se comparados a resultados relatados por serviços que realizam técnicas cirúrgicas por vias endoscópicas. A técnica aberta proporcionou a 90% dos nossos pacientes alívio imediato da dor, com persistência da dor em grau muito leve ou discreto por no máximo 15 dias, diferente da estatística de pacientes operados por técnica endoscópica que apresenta, Técnicas Cirurgicas Técnica Aberta (Assistência Neurológica) Técnica Aberta (Literatura) Técnica Aberta Microincisão (Literatura) Técnica Endoscópica (Literatura) Tempo Cirúrgico 10 a 20 minutos 15 a 20 minutos 7 a 20 minutos 20 a 40 minutos Abertura incompleta do ligamento 0,5% 5,5% Até 50% 0,4 a 16,6% Principal Complicação Transitória Rara cicatriz álgica Cicatriz álgica Parestesias Parestesias Volta a atividades 10 a 28 dias 14 a 28 dias 14 a 21 dias 14 dias - muito variável e questionável Lesão de tendão e vasos 0,06 % lesão do Arco Palmar 1 a 4% de lesão vascular e tendinosa 3,5% lesão arco palmar 5 a 24% de lesão – muito variável Lesão do Nervo Ausente Ausente Presente em algumas casuísticas Presente em grande parte das casuísticas Tabela 1. Comparação dos resultados obtidos com descritos na literatura. Kirchhoff DC, Monducci D, Alves LP, Pereira L, Okuda FAF, Takey AM, Kirchhoff DFB - Casuística e Follow Up de 1.639 casos de Síndrome do Túnel do Carpo operados por técnica aberta protocolada no serviço. Comparação dos nossos resultados com os obtidos por outras técnicas segundo a literatura. J Bras Neurocirurg 23 (1): 32-39, 2012 38 Original Conclusão Não encontramos diferenças significativas quanto ao perfil clinico- epidemiológico dos pacientes da casuística apresentada e da literatura, porém chamamos atenção para o fato das casuísticas da literatura serem pouco numerosas, em se tratando de uma afecção tão freqüente em nosso cotidiano. 8. Becker J, Nora DB, Gomes I, Stringari FF, Seitensus R, Panosso JS, et al. An evaluation of gender, obesity, age and diabetes mellitus as risk factors for carpal tunnel syndrome. Clin Neurophysiol 2002; 113: 1429-34. 9. Bezerra MJC, Leite JAD, Neto JE. Estudo da secção do ligamento carpal transverso comparando as técnicas endoscópica e convencional em cadáver humano. Acta Cir Bras. 2003; 18 (2): 116 - 24. Apesar de reconhecermos, utilizarmos e valorizarmos a cirurgia endoscópica para diversas doenças, consideramos que, com a experiência da equipe, podemos concluir que a técnica convencional utilizada é eficaz, segura e indicada para o tratamento as pacientes com diagnóstico clínico e eletrofisiológico de STC severa. 10. Boniface SJ, Morris I, Macleod A. How does neurophysiological assessment influence the management and outcome of patients with carpal tunnel syndrome ? Br J Rheumatol 1994; 33: 116970. 11. Buchberger W: Radiologic imaging of the carpal tunnel. Eur J Radiol 25: 112-7, 1997. Como se trata de uma das cirurgias mais simples realizadas na neurocirurgia e ser em sua grande maioria executadas por residentes assistidos pelo staff, os nossos resultados indicam que, mesmo com número elevado de intervenções realizadas, o fato de não se ter nenhuma lesão do nervo mostra que a indicação da nossa técnica é extremamente segura e recomendável. 12. Chapman CB, Ristic S, Rosenwasser MP: Complete median nerve transection as a complication of carpal tunnel release with a carpal tunnel tome. Am J Orthop 2001, 30 (8): 652-3. Referências 1. Abouzahr MK, Patsis MC, Chiu DT: Carpal tunnel release using limited direct vision. Plast Reconstr Surg 1995, 95 (3): 534-8. 2. Albertoni WM, Branco M A, Faloppa F, Fernades CH, Santos JBG, Santos LL, et al. Reavaliação a longo prazo do tratamento cirúrgico da síndrome do túnel do carpo por incisão palmar e utilização do instrumento de Paine®. Acta Ortop Bras. 2005. 13 (5): 225 – 28. 3. American Academy of Neurology (AAN), American Association of Electrodiagnostic Medicine (AAEM), American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation (AAPMR). Practice parameter for electrodiagnostic studies in carpal tunnel syndrome (summary statament). Neurology 1993; 43: 2404-5. 4. American Academy of Neurology (AAN). Practice parameter for carpal tunnel syndrome (summary statement). Neurology 1993; 43: 2406-9. 5. Arle JE, Zager EL, Surgical treatment of common entrapment neuropathies in the upper limbs. Muscle Nerve, 2000; 23 (8):1160-74. 6. Armstrong T, Buckle P, Fine L, Hagberg M, Sweeney MH, Kilbom A, et al . Can some upper extremity disorders be defined as work-related? J Hand Surg 1996; 21: 727-9. 7. Atcheson SG, Ward JR, Lowe W. Concurrent medical disease in work-related carpal tunnel syndrome. Arch Intern Med. 1998; 158: 1506-12. 13. Cellocco P, Rossi C, Bizzarri F, Patrizio L, Costanzo G. 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