Infecção urinária na adolescência

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ARTIGO ORIGINAL
Eloisa Grossman1
Mariana Malheiros Caroni2
41
Infecção urinária na adolescência
Urinary tract infections in adolescence
Resumo
A infecção do trato urinário (ITU) é uma importante causa de morbidade em adolescentes do sexo feminino. A identificação dos
fatores de risco associados a ela, bem como a orientação das medidas de prevenção, implica mudanças expressivas na incidência e
recorrência da doença. A associação de ITU e atividade sexual é significativa, o que torna prioritários esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento a esse respeito. As ITUs baixas são as mais frequentes em mulheres; a disúria, principal sintoma, pode também estar
associada a problemas ginecológicos, o que demanda atenção especial do profissional na anamnese e no exame físico para correto
diagnóstico. Nos adolescentes do sexo masculino, deve-se incluir a investigação de mal-formações renais e de vias urinárias, já no
primeiro episódio de ITU. Em algumas situações especiais a ITU pode assumir caráter de gravidade, especialmente em associação com
outras doenças crônicas e gravidez.
Unitermos
Adolescente; infecções urinárias; disúria; atividade sexual
Abstract
The prevalence of urinary tract infection (UTI) is high among female adolescents. Identifying predisposing factors associated to UTI and
encouraging preventive measures have great influence in the incidence and in the recurrence of the disease. UTI is frequently associated to
sexual debut, therefore sexual history demands special attention. Lower urinary tract infectios are the most common in female teenagers.
Dysuria, related to bladder infection, is the most frequent symptom at presentation. However, dysuria is also a symptom related to vaginitis
so it requires careful history and physical exam to ensure a correct diagnosis. In male adolescents, the first episode of UTI requires special
investigation with urinary tract imaging in order to search for structural abnormalities. Occasionally, UTI can be life-threatening, especially
when associated with chronic diseases and pregnancy.
Key words
Adolescent; urinary tract infections; dysuria; sexual behavior
Infecção do trato urinário (ITU) é um termo
geral que indica invasão do sistema urinário, previamente estéril, por bactérias. Alguns autores também
denominam ITU as infecções por fungos ou vírus(4).
Pode acometer os tratos urinários inferior (cistites e
uretrites) e superior, como os rins e a pelve renal (pielonefrites)(1).
O conceito de bacteriúria significativa sofreu
alterações ao longo dos anos. Inicialmente, considerava-se significativa a detecção de crescimento
bacteriano em cultura de urina igual ou superior a
105 colônias/ml. Recentemente, esse conceito foi
atualizado e redefinido com o objetivo de aumentar a sensibilidade e a especificidade dos exames
diagnósticos. Nas mulheres com sintomas de cistite
não-complicada, considera-se bacteriúria significativa toda amostra com crescimento bacteriano igual
ou superior a 102 colônias/ml, se associada a piúria.
Adolescência & Saúde
Nas mulheres com pielonefrite não-complicada e
nos homens com ITU, bacteriúria significativa é toda
amostra com crescimento bacteriano igual ou maior
a 104 colônias/ml associada a piúria. Nos pacientes
com ITU complicada associada a condições que aumentem o risco de infecção ou falência de tratamento, a bacteriúria é significativa quando há crescimento maior ou igual a 105 colônias/ml, associada ou não
a piúria(5, 12).
Define-se como bacteriúria assintomática a
presença de pelo menos duas culturas de urina com
crescimento de 105 colônias/ml ou mais, de uma
mesma bactéria, na ausência de sintomas(3).
Professora adjunta de Medicina de Adolescentes da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM/UERJ); doutora em Ciências pelo
Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/FIOCRUZ).
2
Médica do ambulatório de adolescentes do Núcleo de Estudos da Saúde do
Adolescente (NESA) da UERJ. 1
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Grossman & Caroni
Infecção urinária na adolescência
A ITU é a segunda infecção mais comum na
população geral(10), ocorrendo em todos os grupos
etários, desde o recém-nascido ao idoso. O padrão
de infecção difere entre homens e mulheres. Nos
homens, as ITUs são mais frequentes nas idades extremas (lactentes e idosos), enquanto nas mulheres
ocorre uma ascensão gradativa com o passar dos
anos(6) (Figura).
Em adolescentes e jovens, é uma importante
Prostatismo
Infância
0
Cistite da
"Lua de Mel"
Pré-escolar
5
10
15
20
Pielonetrite
da gravidez
Idade em anos
25
30
60
70
Figura
causa de morbidade no sexo feminino(6). Estudos
demonstram que pelo menos 5% das mulheres
entre 5 e 18 anos apresentaram uma ITU(8) e que
cerca de 20% das mulheres relatam pelo menos
um episódio de ITU durante seus períodos reprodutivos(6). Em algumas séries analisadas, 30% delas
sofrem recorrências de infecção(8). Na gravidez, as
ITUs são um problema frequente. A bacteriúria assintomática está associada a maior incidência de
hipertensão, anemia, retardo de crescimento fetal
e prematuridade(7).
Nas adolescentes, as alterações hormonais
favorecem a colonização vaginal por bactérias
nefrogênicas, que, migrando para a área periuretral, podem ascender pelo trato urinário, causando ITU(7). As infecções baixas são as mais frequentes(6). Com exceção dos abscessos perirrenais e
renais decorrentes de bacteremia, as infecções
urinárias altas são secundárias a cistites. A disseminação ascendente envolve diversos fatores:
urodinâmicos, de virulência, de suscetibilidade da
medula renal e obstrução/refluxo vesicoureteral(3).
Algumas condições clínicas estão associadas a
volume 6 ■ nº 4 ■ outubro 2009
alteração do fluxo sanguíneo medular, agravamento das pielonefrites e lesões renais permanentes.
São elas: diabetes mellitus (DM), doença falciforme
e traço falcêmico(3).
Merecem atenção os fatores de risco associados à infecção urinária nos adolescentes. Do
ponto de vista clínico, a identificação e a orientação a respeito de alguns deles implicam mudanças significativas na incidência e nas recidivas da
doença(8).
Fatores que contribuem para o risco de ITU
no sexo feminino:
• uretra curta;
• higiene perineal inadequada;
• início de atividade sexual ou novo parceiro sexual (cistite da “lua de mel”);
• vulvovaginites;
• contaminação da bexiga secundária a duchas
vaginais;
• gravidez;
• uso de diafragma com espermicida;
• retardo em urinar após relação sexual.
Fatores que contribuem para o risco de ITU
no sexo masculino:
• estenose uretral;
• válvula de uretra posterior;
• fimose;
• estenose meatal;
• higiene peniana inadequada, principalmente
em não-circuncidados;
• práticas sexuais que exponham a uretra à flora
fecal;
• parceira sexual com colonização vaginal por
uropatógenos.
Fatores que contribuem para o risco de ITU
em ambos os sexos:
• a lterações urológicas que acarretem estase ou
obstrução (bexiga disfuncional, ureter ectópico,
nefrolitíase);
• refluxo vesicoureteral (RVU);
• instrumentação uretral (cateteres, corpos estranhos);
• diminuição da resistência à infecção (uso de
imunossupressores, vírus da imunodeficiência
humana [HIV]).
Adolescência & Saúde
Grossman & Caroni Etiologia
Os agentes etiológicos usualmente envolvidos nos quadros de ITU em adolescentes do
sexo feminino são Escherichia coli, responsável por
80% a 90% dos casos; Staphylococcus saprophyticus; Klebsiella; Enterobacter; Citrobacter; Serratia e
Proteus. Em raros casos a ITU pode ser causada por
fungos, vírus, micobactérias e parasitas. Nos adolescentes do sexo masculino, os micro-organismos
envolvidos na gênese da ITU se assemelham ao padrão encontrado no sexo feminino, com predomínio de E. coli, seguida por Proteus mirabillis(1).
Nas ITUs adquiridas durante uma internação
podem ocorrer modificações na etiologia, de acordo com a flora hospitalar. Ainda assim, nota-se predomínio das enterobactérias(10).
As ITUs causadas pelo Mycobacterium tuberculosis, embora pouco prevalentes, devem ser
consideradas especialmente em situações de piúria
significativa e urinocultura persistentemente negativa. Além disso, o diagnóstico de tuberculose deve
ser cogitado em pacientes que não respondem ao
tratamento antibioticoterápico convencional(3).
Sinais e sintomas
Nos adolescentes, o quadro clínico das ITUs é
semelhante ao apresentado por adultos. As infecções baixas cursam com queixas de disúria, polaciúria, estrangúria, dor ou desconforto em região
hipogástrica, ocasionalmente febre baixa e hematúria macroscópica. Embora esses sintomas geralmente revelem uma ITU, é importante reconhecer
que outras condições podem estar associadas a essas queixas, como uretrites sexualmente transmitidas, vulvites (por cândida e herpes simples), lesões
vulvares, lesões anatômicas (prolapso e divertículo
de uretra) e nefrolitíases. No sexo masculino, as infecções baixas podem vir associadas a sintomas de
infecção de próstata, epidídimo e testículo(6, 10).
As infecções altas podem ocasionar dor lombar associada a punho-percussão muito dolorosa;
dor abdominal alta, algumas vezes com sinais sugestivos de irritação peritoneal; queda do estado
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geral; náuseas e vômitos; febre alta e, eventualmente, sinais de toxemia. Esses sintomas podem
vir ou não associados a sintomas de cistite(6, 7, 10).
Exames laboratoriais
A urinocultura positiva é o padrão-ouro para
o diagnóstico de ITU em um paciente sintomático com piúria (10 ou mais leucócitos/mm3 de urina)(9). Valores superiores a 105 colônias/ml correlacionam-se fortemente com ITU, entretanto uma
contagem de colônias/ml de urina inferior a 105,
quando acompanhada de sintomas característicos,
deve ser valorizada(6).
Do ponto de vista prático, o uso da fita urinária dipstick auxilia bastante no atendimento
ambulatorial. O teste de leucócito-esterase avalia,
indiretamente, a presença de leucócitos na urina,
mediante a detecção da esterase liberada dos leucócitos decompostos(6). O teste de nitrito detecta,
também de forma indireta, a presença de bactérias
urinárias que reduzem o nitrato urinário, originando nitrito, que, por sua vez, reage com a amina impregnada na fita. O resultado positivo demonstra a
presença de bacteriúria. Podem ocorrer casos falsonegativos quando a infecção urinária é causada por
micro-organismos que não reduzem nitrato (grampositivos ou Pseudomonas) ou quando, devido a
micções frequentes, haja um curto período de exposição do nitrato aos agentes bacterianos, impedindo a sua redução. O teste de nitrito acompanha
e complementa o teste de leucócito-esterase(1, 11).
O método de medida de piúria pela detecção
de leucócito-esterase indica piúria com sensibilidade entre 75% e 96%, e especificidade entre 94% e
98%(5, 11). Os resultados com teste de nitrito, quando correlacionados com urocultura com > 100 mil
colônias/ml, variaram sua sensibilidade de 16% a
72% e especificidade > 92%. Os dois testes, quando correlacionados com ITU com crescimento bacteriano menor que 100 mil colônias/ml, apresentam quedas significativas em suas sensibilidade e
especificidade(11).
Em resumo, a fita urinária dipstick pode ser usada como exame preliminar para a indicação de urinovolume 6 ■ nº 4 ■ outubro 2009
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Grossman & Caroni
Infecção urinária na adolescência
cultura em pacientes sintomáticos, quando o exame
microscópico da urina não estiver disponível(6).
O exame microscópico dos elementos anormais
e sedimentoscopia (EAS) deve buscar, além da existência de leucócitos em número elevado, a presença
de bactérias. Piúria está presente em quase todas as
ITUs sintomáticas, e a sua ausência sugere fortemente outro diagnóstico. Porém é necessário considerar
que a síndrome uretral aguda, resultante de doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs), também pode
cursar com piúria. Portanto, embora seja bastante
sugestiva de ITU, esse achado não pode ser considerado padrão-ouro no diagnóstico de ITU(1, 6).
A hematúria, macro ou microscópica, é comum nas ITUs, especialmente naquelas causadas
por S. saprophyticus. Por ser um achado infrequente na síndrome uretral aguda, a presença de hematúria favorece o diagnóstico de ITU com relação à
síndrome uretral. Porém é preciso considerar a hipótese de hipercalciúria, que também pode cursar
com hematúria e disúria(1).
A bacterioscopia urinária tem valor como avaliação inicial, pois 50% das ITUs baixas e 90% a 95%
das altas cursam com a presença de organismos
gram-negativos na amostra urinária. Entretanto, a
bacterioscopia não é um achado patognomônico de
ITU, pois também pode estar positiva em pacientes
com síndrome uretral aguda ocasionada por DSTs(1).
Em adolescentes do sexo feminino, o primeiro episódio de infecção urinária pode dispensar a
cultura de urina(10). O mesmo não se aplica às infecções que não respondem ao tratamento inicial
de escolha e à primeira infecção nos adolescentes
do sexo masculino, situações nas quais a realização
de urinocultura é essencial(6).
Para que o resultado da urinocultura seja confiável, é preciso que o adolescente seja orientado
quanto à maneira correta de coletar a amostra. É
preciso que a coleta seja feita com a bexiga cheia
e, preferencialmente, pela manhã, período no qual
contagens bacterianas baixas são menos prováveis de serem encontradas. A Tabela apresenta as
orientações que devem ser feitas ao ser solicitada
uma urinocultura(3).
Outros exames laboratoriais
Os quadros de pielonefrite aguda são acompanhados, em geral, de leucocitose, com ou sem
desvio, e aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS). A hemocultura não está indicada
nos quadros de cistite. Nos quadros de pielonefrite,
tem positividade que varia de 25% a 60% e pode
tornar-se valiosa, sobretudo nos casos em que a
Tabela
Coleta de espécime urinário para urinocultura
Sexo feminino
1. Lavar bem as mãos
2. Remover roupas íntimas e ficar de pé com as pernas abertas, próximo ao vaso sanitário
3. Separar os pequenos lábios com a mão esquerda (adolescentes destras) ou direita (adolescentes canhotas)
4. Com a outra mão, fazer a higiene da vulva, da frente para trás, com gaze estéril
5. Urinar no vaso sanitário com os lábios afastados até que a bexiga esteja parcialmente esvaziada
6. Sem interromper o fluxo urinário, coletar o jato médio no recipiente estéril
Sexo masculino
1. Lavar bem as mãos
2. Retrair o prepúcio com a mão esquerda (destros) ou direita (canhotos)
3. Com a outra mão, fazer a higiene da glande com gaze estéril
4. Urinar no vaso sanitário com o prepúcio retraído até que a bexiga esteja parcialmente esvaziada
5. Sem interromper o fluxo urinário, coletar o jato médio no recipiente estéril
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Adolescência & Saúde
Grossman & Caroni urinocultura não for suficiente para a identificação
do agente etiológico causador da infecção. Além
disso, a positividade da hemocultura aponta para
risco aumentado de sepse, o que sugere maior gravidade(10).
Exames de imagem
Os exames radiológicos são importantes para
evidenciar alterações estruturais. Nos quadros de ITU
recorrente em adolescentes do sexo feminino e na
primeira ITU em adolescentes do sexo masculino, a
investigação deve incluir, no mínimo, uma ultrassonografia (US) dos rins e das vias urinárias(6).
Nos quadros de pielonefrite, a US não está inicialmente indicada às pacientes do sexo feminino, mas
pode auxiliar no diagnóstico de abscesso renal se a febre persistir 72 horas após o início do tratamento com
antibióticos(6). A tomografia computadorizada (TC) e a
ressonância magnética (RM) são métodos de boa sensibilidade para diagnosticar e localizar abscessos renais
e perinefrogênicos. A TC tem se mostrado excelente
nas definições do comprometimento renal e da extensão do processo e para avaliar presença de gás ou
nível no interior. É ainda utilizada durante a aspiração
e a drenagem dessas coleções. Embora seja um exame
prático e de baixo custo, a US tem menor resolução
para diagnosticar abscessos renais e perinefrogênicos,
não devendo haver hesitação em se indicar a TC diante
dessa suspeita(2). A TC e a urografia excretora podem
ser necessárias se houver suspeita de cálculos que não
foram diagnosticados com a US(2, 8).
A uretrocistografia miccional é o melhor método para a visualização do trato urinário inferior,
podendo auxiliar na demonstração de alterações vesicais e da presença de RVU(8). O ideal é que, quando
indicada, seja feita de quatro a seis semanas depois
do tratamento da ITU aguda e de uma cultura de
urina negativa.
A cintilografia renal com ácido dimercaptossuccínico (DMSA) serve para o diagnóstico de pielonefrite aguda quando realizada durante o episódio de ITU
ou para a avaliação de formação de cicatrizes renais,
quando feita de três a seis meses após o episódio
agudo(8).
Adolescência & Saúde
Infecção urinária na adolescência
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Tratamento(5)
Para fins de escolha dos esquemas de tratamento, é fundamental definir, a priori, as nomenclaturas ITUs complicada e recorrente.
A ITU complicada é aquela associada a condições que aumentem o risco de infecção ou falência de tratamento; está habitualmente associada
a alterações anatômicas e/ou funcionais do trato
urinário ou, ainda, a doenças que interfiram nos
mecanismos de defesa do paciente.
A ITU recorrente é a que reaparece após a
cura aparente. É denominada recidiva quando causada pela mesma bactéria de um foco sequestrado,
geralmente do rim ou da próstata, pouco depois
de terminar o tratamento, isto é, em até uma a
duas semanas, significando que a bactéria não foi
totalmente erradicada. A reinfecção caracteriza a situação na qual as bactérias foram erradicadas, não
há foco sequestrado e novos micro-organismos, de
reservatório fecal, foram introduzidos. Ela ocorre,
em geral, depois de algumas semanas do final do
tratamento, especialmente em mulheres. Mais de
80% de todas as recorrências são por reinfecção(4).
Infecções urinárias agudas baixas em mulheres
a) Infecções não-complicadas
Tratamento oral por três dias com um dos seguintes esquemas:
• s ulfametoxazol-trimetoprim: 800 mg/160 mg a
cada 12 horas;
• nitrofurantoína: 100 mg a cada 6 horas (não
deve ser utilizada no final da gestação pelo risco de hiperbilirrubinemia neonatal por anemia
hemolítica).
Em adolescentes com mais de 16 anos, também poderão ser utilizadas as quinolonas:
• norfloxacino: 400 mg a cada 12 horas;
• ciprofloxacino: 250 mg a cada 12 horas;
• ofloxacino: 200 mg a cada 12 horas.
b) Em pacientes diabéticos, com anemia falciforme e história prévia de ITU ou sintomas por mais
de uma semana, utilizar uma das drogas descritas
anteriormente por sete dias.
c) Gravidez
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Tratamento oral por sete dias com um dos
seguintes esquemas:
• nitrofurantoína: 100 mg a cada 6 horas (não deve
ser utilizada no final da gestação pelo risco de hiperbilirrubinemia neonatal por anemia hemolítica);
• sulfametoxazol-trimetoprim: 800 mg/160 mg a
cada 12 horas – somente nos primeiro e segundo trimestres de gravidez (essa droga não deve
ser administrada no terceiro trimestre porque
interfere no metabolismo fetal da bilirrubina,
podendo ocasionar hiperbilirrubina neonatal e
kernicterus).
As quinolonas também são contraindicadas durante a gestação, pelo seu potencial teratogênico.
Pielonefrite aguda não complicada em
mulheres
Evitar amoxicilina e cefalosporinas de primeira geração, pois cerca de 25% a 30% dos agentes
causadores são resistentes.
a) Nos casos leves a moderados, sem vômitos, em
pacientes que adquiriram a doença na comunidade e sem sintomas sistêmicos de bacteremia, a
terapia pode ser oral, por 10 a 14 dias, com um
dos seguintes esquemas:
• sulfametoxazol-trimetoprim: 800 mg/160 mg
a cada 12 horas;
Em adolescentes com mais de 16 anos também poderão ser utilizadas as quinolonas:
• norfloxacino: 400 mg a cada 12 horas;
• ciprofloxacino: 500 mg a cada 12 horas;
• ofloxacino: 200-300 mg a cada 12 horas;
• levofloxacino: 500 mg uma vez ao dia.
b) Pielonefrite grave ou em pacientes com comorbidades (p. ex., diabetes, anemia falciforme,
imunodeficiências)
Nesses casos, o tratamento requer internação hospitalar e administração de antibióticos por
via parenteral, com um dos seguintes esquemas:
• sulfametoxazol-trimetoprim: 800 mg/160 mg
a cada 12 horas;
• ceftriaxona: 1 a 2 g/dia;
• ciprofloxacino: 200-400 mg a cada 12 horas;
• gentamicina: 1 mg/kg a cada 12 horas (associada ou não a ampicilina);
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Grossman & Caroni
• imipenem: 500 mg a cada 8 horas.
O uso de antibióticos por via parenteral deve
permanecer até que o paciente se encontre afebril
por pelo menos 48 horas e, em seguida, deve ser
feito tratamento por via oral (VO) durante 14 dias
com um dos seguintes esquemas (limitar o uso
de quinolonas em pacientes com menos de 16
anos):
• sulfametoxazol-trimetoprim: 800/160 mg a
cada 12 horas;
• norfloxacino: 400 mg a cada 12 horas;
• ciprofloxacino: 500 mg a cada 12 horas;
• ofloxacino: 200-300 mg a cada 12 horas.
c) Gravidez
A hospitalização é fortemente recomendada;
bem como o tratamento por via parenteral com
um dos seguintes esquemas:
• ceftriaxona: 1 a 2 g/dia;
• aztreonam: 1 g a cada 8 ou 12 horas;
• gentamicina: 1 mg/kg a cada 12 horas (utilizada com cautela pelo risco de toxicidade ao VIII
par craniano do feto em desenvolvimento).
O tratamento por via parenteral deve permanecer até que o paciente esteja afebril por pelo
menos 48 horas e, em seguida, deve ser feito tratamento por VO durante 14 dias com sulfametoxazol-trimetoprim: 800/160 mg a cada 12 horas.
Infecção recorrente
a) Tratamento não-medicamentoso (orientações):
• esvaziar a bexiga frequentemente;
• urinar após relação sexual;
• evitar o uso de diafragma;
• acidificar a urina.
b) Tratamento medicamentoso (uso de antimicrobianos profiláticos)
• P rofilaxia pós-coito – efetiva em pacientes cujas
ITUs recorrentes estão associadas à atividade
sexual. É feita com dose única de:
– nitrofurantoína: 50-100 mg;
– sulfametoxazol-trimetoprim: 200/40 mg;
– cefalexina: 250 mg.
• Profilaxia contínua – feita com dose diária de:
– nitrofurantoína: 50-100 mg;
Adolescência & Saúde
Grossman & Caroni – sulfametoxazol-trimetoprim: 200/ 40 mg;
– cefalexina: 250 mg;
– norfloxacino: 200 mg.
Infecções urinárias em homens
Não há muita informação a respeito de tratamento de curta duração ou com dose única em
homens. A terapêutica com antibióticos por VO,
em geral, deve ser feita por sete a 10 dias. Porém,
em pacientes com baixa adesão ao tratamento,
pode-se indicar sulfametoxazol-trimetoprim ou
um esquema com quinolonas (nos maiores de 16
anos) por três dias.
Acompanhamento dos pacientes
Nos pacientes com ITU complicada, o tratamento das alterações urológicas ou o controle
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das doenças associadas, sempre que possível,
são fundamentais para evitar recidivas ou novas
infecções. Deve ser feito controle com urinocultura alguns dias após o término do esquema
antibiótico(2).
Independentemente da presença de complicações, a equipe que presta assistência a
adolescentes, diante de um paciente com diagnóstico de ITU, deve, além de orientar sobre tratamento e prevenção de novos episódios, estar
atenta para questões relacionadas com a vida
sexual do adolescente. Infecção urinária nessa
faixa etária, sobretudo em adolescentes e jovens
do sexo feminino, está diretamente associada a
atividade sexual. Por isso, é importante aproveitar a oportunidade para orientar sobre o uso
de preservativo e outros métodos contraceptivos, estando aberta e disponível para esclarecer
quaisquer dúvidas.
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