China-Brazil Business Council (CBBC)

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Investment Opportunities and Partnerships in Infrastructure and Agribusiness in Brazil
November 8th, 2013 14 - Grand Millennium Hotel, Beijing (China)
Brasil e China, as perspectivas macroeconômicas de uma parceria
estratégica
Observações por
Luiz Awazu Pereira da Silva1
O Brasil e China já atuam juntos em várias esferas da economia global, em fóruns
importantes como o G20 e os BRICS. Temos interesses comuns na melhora da governança
macro financeira global, por exemplo no FMI e Banco Mundial. Temos sólidas instâncias de
diálogo bilateral como a COSBAN e este Conselho. E as perspectivas macroeconômicas de
nossa parceria estratégica são excelentes e promissoras. Eu gostaria de mostrar rapidamente
porque o Brasil é hoje uma excelente oportunidade de investimentos e negócios para a China,
especialmente nesse momento onde a recuperação das economias avançadas (EUA, Japão e
Zona do Euro) ainda é lenta e gradual.
Vou mencionar três, entre vários motivos, para se apostar no Brasil: (1) crescimento: ele está
aumentando e fortalecendo as suas bases/estruturas; as perspectivas no médio prazo
apontam para um crescimento com maiores investimentos em infraestrutura e ganhos de
produtividade; (2) estabilidade: esse crescimento se dá com manutenção da estabilidade
monetária e financeira; e (3) pragmatismo: temos sido capazes de reagir rapidamente à crise,
à volatilidade dos mercados, preservando nosso modelo de crescimento com inclusão social
e sustentabilidade ambiental.
(1) Sobre o nosso crescimento
O nosso crescimento tem se materializado de forma gradual desde o final de 2012. É preciso
destacar o desempenho da produção de bens de capital, ligados ao investimento e o próprio
sólido crescimento da formação bruta de capital fixo em ritmo anual de 6,5%. O primeiro
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Deputy Governor for Financial Regulation and International Affairs of the Central Bank of Brazil, these remarks are
personal and do not necessarily represent the opinions of the Central Bank of Brazil
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semestre de 2013 apresentou diversos aspectos positivos, com o produto interno bruto (PIB)
crescendo ao ritmo superior a 6%, em termos anualizados. A consolidação da trajetória
positiva da economia como um todo, e para o investimento em particular, passa pelo
fortalecimento da confiança das empresas e das famílias, que mostra recuperação no
período mais recente. Mas existem algumas ideias simplistas sobre o crescimento no Brasil,
assim como tenho certeza que existem muitas ideias simplistas sobre o crescimento chinês.
Vou dar dois exemplos:
(a) Primeiro exemplo, estaríamos em um típico “middle-income growth trap”, uma
armadilha aonde depois de chegar a um certo nível de renda per capita, o modelo de
crescimento encontra limites definitivos; não vejo isso para o Brasil, temos ao
contrário ainda um potencial enorme de incorporação de fatores de produção e de
aumento de produtividade total dos fatores (os chamados “low hanging fruits”), ou
seja com reformas de baixo custo, temos retornos potenciais elevados; o estoque de
capital em infraestruturas no Brasil ainda é baixo, o capital humano pode ser muito
mais produtivo através da educação; e/ou algumas simples interligações de redes de
infraestrutura em regime multimodal podem trazer enormes ganhos de custo para
nosso setor produtivo; sem falar no crescimento do nosso agronegócio; etc.
(b) Segundo exemplo, estaríamos a beira de uma crise de balanço de pagamentos;
faríamos parte dos “Fragile Five countries”, países com déficits insustentáveis de
conta corrente e moedas se desvalorizando; vou voltar aos efeitos das políticas do
FED sobre a economia global adiante mas não vejo isso tampouco; somos ao
contrário credores internacionais líquidos, com reservas de cerca de USD380 bilhões,
com razões de dívida externa/PIB (14%) e/ou serviço de dívida/exportações (27%)
muito baixas; com volumes regulares de entrada de investimento estrangeiro direto
(IED ou FDI) de cerca de USD50 a 60 bilhões cobrindo a quase integralidade de nossas
necessidades de financiamento externo; etc. É obvio que temos que estar atentos,
mais sem ceder ao excesso de pessimismo.
É interessante que obviamente mutatis mutandis, alguns desses cenários catastróficos são
histórias que lemos também sobre outros países (Índia, Turquia, Indonésia, África do Sul,
etc.). E até sobre a China, com o esgotamento do modelo de alto crescimento movido pelo
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setor exportador e de investimentos pesados e o risco de um “hard-landing” que traria crises
sociais e financeiras, etc.
A verdade é talvez mais simples ou menos “cinematográfica”. Todos os países emergentes no
pós-crise estão enfrentando uma certa desaceleração do seu crescimento em 2013-2014,
depois de termos sustentado o crescimento global com nossas políticas contracíclicas entre
2009 e 2012. Mas essa desaceleração se dá a partir de um patamar elevado e ainda com
grande potencial de TFP. E em alguns casos essa desaceleração se deve a ações de política,
para suavizar o nosso próprio ciclo de retomada pós-crise e evitar over-heating, o sobre
aquecimento de nossas economias. E claro que todos nós estamos refletindo também sobre
nossos respectivos modelos socioeconômicos, cada qual com suas idiossincrasias, porque
cada um de nós tem uma political economy diferente, recursos naturais diferentes, regimes
macroeconômicos diferentes e necessidades de reformas estruturais diferentes.
No Brasil, estamos precisamente num processo de reformas realizadas pelo Governo para
ampliar a produtividade e a competitividade da economia brasileira, o amplo programa de
investimento em logística, com concessões de aeroportos, rodovias, portos e ferrovias, bem
como as oportunidades no âmbito da exploração do pré-sal. Em relação a esse último ponto,
já foi mencionado o sucesso do leilão do campo de Libra. Na minha avaliação todas essas
iniciativas
criam
condições
para
a
expansão
dos
investimentos
no
Brasil
e,
consequentemente, do produto interno bruto (PIB) potencial nos próximos anos.
(2) Sobre a manutenção da estabilidade monetária e financeira
O crescimento necessita que os espíritos animais dos empreendedores possam se
desenvolver em um ambiente de previsibilidade e confiança na estabilidade dos parâmetros
macroeconômicos que guiam a suas decisões. O Brasil soube atravessar a crise mantendo
essa estabilidade, usando políticas contra-cíclicas adequadas.
Um elemento importante para o nosso sucesso foi a solidez de nosso sistema financeiro.
Temos bancos sólidos, bem capitalizados, bem provisionados e com uma regulação e
supervisão forte e conservadora. Acabamos assim como a China de concluir a
implementação das novas regras de regulação prudencial chamadas de Basiléia III.
Cinco anos depois de Lehman, estamos agora na fase de saída dessa crise. E no Brasil, assim
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como na China, sabíamos que o processo de saída da crise global nas economias avançadas
não seria trivial. Estamos hoje em terreno mais firme nos EUA, mas sabemos que a remoção
das políticas monetárias não-convencionais pelo FED é um desafio, inclusive na sua
comunicação. Sabemos que isso iria afetar a precificação de todos os ativos de todos os
países emergentes inclusive o de suas moedas. Sabíamos que os agentes de mercado iriam
antecipar os movimentos futuros de juros. É o que aconteceu e está acontecendo. Mas
penso que, no conjunto, trata-se afinal de contas de um elemento positivo, o começo da
recuperação da maior economia com efeitos positivos para todos no médio prazo.
Por esse motivo, o Brasil se preparou para lidar com essas circunstâncias com cuidado e
serenidade. Temos um regime flexível de câmbio que é a nossa primeira linha de defesa. E
acumulamos reservas internacionais. Como também é importante evitar uma volatilidade
financeira excessiva que pode afetar negativamente a estabilidade financeira, lançamos o
nosso programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de
recompra; trata-se de um programa totalizando cerca do equivalente de USD100 bilhões; o
programa tem sido bem sucedido e contribuído para conferir previsibilidade na oferta de
proteção cambial aos agentes econômicos durante esse período de transição da economia
internacional.
E last but not the least, nesse ambiente de volatilidade das variáveis financeiras e com
pressões domésticas sobre preços, sempre reafirmamos que a política monetária no Brasil
deve se manter especialmente vigilante, de modo a mitigar riscos à frente e contribuir para o
declino da inflação no horizonte relevante do regime de metas.
Finalmente, nos dois países, os respectivos bancos centrais concluíram com sucesso a
assinatura de um instrumento de swap cambial em moeda local, que permitirá em caso de
situação emergencial da liquidez internacional em moedas conversíveis, dar continuidade ao
nosso relacionamento comercial. E também estamos refletindo sobre outros temas mais
complexos e ambiciosos como expandir as possibilidades de realizar o nosso comércio em
moeda local, a construção de uma instituição de financiamento internacional como o “banco
de desenvolvimento” dos BRICS, etc.
E continuamos sempre atuando conjuntamente para dar mais voz e representatividade para
os países emergentes, e especialmente China e Brasil, nos fóruns de governança financeira
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internacional como o G20, o FMI, o Banco Mundial, o FSB, etc.
(3) Sobre o nosso pragmatismo
Em conclusão, ambos os países Brasil e China estão de maneira bastante pragmática,
empenhados em se transformar e melhorar os seus respectivos modelos mantendo a
estabilidade macro, financeira e social. O Brasil conseguiu crescer com inclusão social,
reduzindo drasticamente seus índices de pobreza e desigualdade e criando uma nova classe
média de cerca de 40 a 50 milhões.
O Brasil está agora focado em dar uma maior ênfase ao aumento do estoque de capital,
especialmente em infraestrutura; e sabemos pela experiência asiática o quanto isso traz de
potencial de produtividade total dos fatores e de externalidades positivas para a economia.
Soubemos endereçar os desafios passados e atuais da crise financeira global; estamos
implementando políticas adequadas para atravessar este final de crise e direcionar o nosso
modelo para um crescimento sustentável do ponto de vista macro, financeiro, social e
ambiental. Contamos para isso com a cooperação internacional, especialmente com a
parceria estratégica que temos com a China.
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