O que vem a ser filosofia

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O que vem a ser filosofia??
Bom, a filosofia surgiu há muitos séculos atrás...
Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia por volta do século VI (ou
VII) a.C. Por meio de longo processo histórico, surge promovendo a passagem do saber
mítico ao pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente como todos os
conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos
compartilhavam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento
racional que caracterizaria a filosofia.
Se considerarmos filosofia a atividade racional voltada à discussão e à explicação
intelectualizada das coisas que nos circundam, tem-se o século VI como a data mais
provável da origem da filosofia. Nessa época temos a instituição da moeda, do calendário e
da escrita alfabética, a florescente navegação, que favoreceu o intenso contato com outras
culturas, esses acontecimentos propiciaram o processo de desdobramento do pensamento
poético em filosófico.
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como
período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas
desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).
Já datamos o início da filosofia, mas o que é filosofia?
A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. A filosofia não é um
conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é,
antes de mais nada, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além de
sua pura aparência. Assim ,ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência,
seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode
pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Até mesmo uma história em quadrinhos ou
uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica.
A filosofia parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a
porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a
vida.
A filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo.
Questiona as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não
há área onde ela não se meta, não indague. E, nesse sentido, a filosofia é "perigosa",
"subversiva", pois vira a ordem estabelecida de cabeça para baixo.
Talvez a divulgação da imagem do filósofo como sendo uma pessoa "desligada" do mundo
seja exatamente a defesa da sociedade contra o "perigo" que ela representa.
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, re-descobrindo
seus significados mais profundos.
Filósofos diferentes têm posturas diversas com relação a imagem institucional de sabedoria
e compreensão.Embora com motivações diferentes, deram a sua importante contribuição
para o alargamento das fronteiras.
A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber
como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite
juízos de valor ao julgar cada fato, cada ação em relação ao todo. Assim, filosofar é uma
prática que parte da teoria e resulta em outras teorias.
Desse modo, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas,
dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o
processo do filosofar será sempre marcado pela reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
O conceito de filosofia foi muito bem definido por Gerd A. Bornheim no livro "Os filósofos
Pré-socráticos": "...Se compreendermos a Filosofia em um sentido amplo - como concepção
da vida e do mundo - , poderemos dizer que sempre houve filosofia. De fato, ela responde a
uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vive a
necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de
sua existência..."
Será que a explicação correspondeu aos seus pensamentos ?
Espero que tenha esclarecido, ou pelo menos, expandido suas idéias...
Profª Cristina G. Machado de Oliveira
Filosofia Antiga
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Os Sofistas e o período Socrático – maiêutica e ironia
Cristina G. M. de Oliveira.
O período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa
investigação tinha um sentido cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo
manifestada na procura de um princípio primordial (arché) para todas as coisas existentes.
Seguiu-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio
homem e nas relações do homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada, no início, pelos
sofistas.
Etimologicamente, o termo sofista significa sábio. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou
o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos
práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de
eloqüência e sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios
públicos e privados.
O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de
atividade praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões
nas assembléias democráticas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de
aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias, fazerem
prevalecer seus interesses individuais e de classe.
As lições sofísticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da
habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam todo um jogo
de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas,
driblando as teses dos adversários.
Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao
homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias.
Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório
da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados présocráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates não deixou nada escrito,
e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus
adversários.
O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos sofistas, embora não vendesse seus
ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens,
sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o
saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral.
O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti
mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus
discípulos.
Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. “Só sei
que nada sei” é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa
verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em idéias pré-concebidas.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos
podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo
ignorar) e a maiêutica (de maieutiké, relativo ao parto).
Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria.
Mas não é esse o sentido de ironia socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates
interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a
justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele.
Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos
problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o
orgulho, a ignorância e a presunção do saber.
A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a
confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas
e clarividências.
Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho
da reconstrução das próprias idéias.
Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem
suas próprias idéias. Essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era
chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz.
A doutrina socrática identifica o sábio e o homem virtuoso. Derivam daí diversas conseqüências
para a educação, como: o conhecimento tem por fim tornar possível a vida moral, o processo
para adquirir o saber é o diálogo, nenhum conhecimento pode ser dogmaticamente, mas como
condição para desenvolver a capacidade de pensar, toda a educação é essencialmente ativa, e
por ser auto-educação leva ao conhecimento de si mesmo, a análise radical do conteúdo das
discussões, retirado do cotidiano, leva ao questionamento do modo de vida de cada um e, em
última instância, da própria cidade.
Interessado somente na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores
dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses
da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta
(veneno).
A história de sua acusação, defesa e execução é contada nos belos diálogos de Platão, Apologia
de Sócrates e Fédon.
Diferenças ente Sócrates e os sofistas:
- o sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos de sua cidade.
- O sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua vida e essa confunde-se com a vida filosófica: “
Filosofar não é profissão, é atividade do homem livre”
- O sofista “sabe tudo”, e transmite um saber pronto, sem crítica ( que Platão identifica com
uma mercadoria, que o sofista exibe e vende). Sócrates diz nada saber e, colocando-se no nível
de seu interlocutor, dirige uma aventura dialética em busca da verdade, que está no interior de
cada um
- O sofista faz retórica. Sócrates faz dialética. Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada
de palavras que, se adequadamente compostas, persuadem sem transmitir conhecimento
algum. Na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e
não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás.
O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma
de sua ignorância
Referência bibliográfica:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo:
Ed. Moderna, 1992.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1995.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Ed.Saraiva, 1997.
O que é mito?
O pensamento mítico teve início na Grécia, do séc. XXI ao VI a.c.. Nasceu do desejo de
dominação do mundo, para afugentar o medo e a insegurança. A verdade do mito não
obedece a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída,
que não necessita de provas para ser aceita. É portanto uma intuição compreensiva da
realidade, é uma forma espontânea do homem situar-se no mundo.
Normalmente, associa-se, erroneamente, o conceito de mito a: mentira, ilusão, ídolo e
lenda. O mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem vive. A narração de
determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a
afetividade e a imaginação exercem grande papel.
Como exemplo temos o mito de Pandora, que, enviada aos homens, abre por curiosidade a
caixa onde saem todos os males. Pandora consegue fechá-la a tempo de reter a esperança,
única forma do homem não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida. Assim, essa
narração mítica explica a origem do males, sendo esta a única maneira de compreender tal
realidade.
Não podemos afirmar também que o mito é uma ilusão, pois sua história tem uma
racionalidade, mesmo que não tenha uma lógica, por trabalhar com a fantasia. Devemos
diferenciar mito e ídolo, pois mesmo existindo uma relação entre eles, o mito é muito
"maior" que o ídolo ( objeto de paixão, veneração).
Como exemplo temos a história do Super-Homem. Ele representa um ídolo, pois é
venerado. Porém, sua história é mítica, devido ao fato de representar todos os momentos
de fracassos do ser humano na pele de Clark Kent, e por outro lado, como Super-Homem
assume a capacidade de ter sucesso pleno em todas as áreas. Assim, o Super-Homem é um
ídolo, porém sua história é mítica, sendo a única forma de representar a incapacidade do
pleno sucesso humano, sem frustrações; pois o único que conseguiria tal feito seria um
super herói, e já que esse não existe, os seres humanos ficam mais conformados com suas
limitações. E "criam" o mito do Super- Homem para poderem "falsamente" confortar-se com
sua realidade.
O mito é muito confundido com o conceito de lenda, porém esta não tem compromisso
nenhum com a realidade, são meras histórias sobrenaturais, como é o caso da mula sem
cabeça e do saci pererê. O mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações
nascentes, mas existe em todos os tempos e culturas como componente indissociável da
maneira humana de compreender a realidade.
O mito hoje
Mas, e quanto aos nossos dias, os mitos são diferentes?
O homem moderno, tanto quanto o antigo, não é só razão, mas também afetividade e
emoção. Hoje em dia, os meios de comunicação de massa trabalham em cima dos desejos e
anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. O mito recuperado do
cotidiano do homem contemporâneo, não se apresenta com a abrangência que se fazia
sentir no homem primitivo. Os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real
como ocorria nos mitos gregos, romanos ou indígenas. Podemos escolher um mito da
sensualidade, outro da maternidade, sem que tenham de ser coerentes entre si. Os superheróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, bem como os personagens de filmes (
Rambo e outros), passam a encarnar o Bem e a Justiça, assumindo a nossa proteção
imaginária.
A própria ciência pode virar um mito, quando somos levados a acreditar que ela é feita à
margem da sociedade e de seus interesses, que mantém total objetividade e que é neutra.
A nossa forma de compreensão do mundo dessacraliza o pensamento e a ação ( isto é,
retira dele o caráter de sobrenaturalidade), fazendo surgir a filosofia, a ciência e a religião.
Como mito e razão habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns
mitos, principalmente os que vinculam valores destrutivos ou que levam à desumanização
da sociedade. Cabe a cada um de nós escolher quais serão nossos modelos de vida.
A ruptura com a mitologia – cosmologia
A filosofia retomando as questões postas pelo mito, é uma explicação racional da origem e
da ordem do mundo. A filosofia nasce como racionalização e laicização (influências
religiosas) da narrativa mítica, superando-a e deixando-a como passado poético e
imaginário. A origem e a ordem do mundo são, doravante, naturais. Aquilo que, no mito,
eram seres divinos (Urano, Gaia, Ponto) tornam-se realidades concretas e naturais: céu,
terra, mar. Aquilo que no mito, aparecia como geração divina do tempo primordial surge, na
filosofia, como geração natural dos elementos naturais. No início da filosofia, tais elementos
ainda são forças divinas. Não são antropomórficas, mas são divinas, isto é, superiores à
natureza gerada por eles e superiores aos homens que os conhecem pela razão; divinas
porque eternas ou imortais, porque dotadas do poder absoluto de criação e porque
reguladoras de toda a Natureza.
Podemos, dentro de tal contexto, distinguir, teogonia, cosmogonia e cosmologia.
A teogonia narra, por meio das relações sexuais entre os deuses, o nascimento de todos os
deuses, titãs, heróis, homens e coisas do mundo natural.
A cosmogonia narra a geração da ordem do mundo pela ação e pelas relações sexuais entre
forças vitais que são entidades concretas e divinas. Ambas, teogonia e cosmogonia, são
genealogias, são gênesis, nascimento, descendência, reunião de todos os seres criados,
ligados por laços de parentescos.
A cosmologia – forma inicial da filosofia nascente - é a explicação da ordem do mundo, do
universo, pela determinação de um princípio originário e racional que é a origem e causa
das coisas e de sua ordenação.
A filosofia, ao nascer como cosmologia, procura ser a palavra racional, a explicação racional,
a fundamentação pelo discurso e pelo pensamento da origem e ordem do mundo, isto é, do
todo da realidade, do ser.
Os primeiros filósofos não pretenderam explicar apenas a origem das coisas e da ordem do
mundo, mas também e sobretudo as causas das mudanças e repetições, das diferenças e
semelhanças entre as coisas, seu surgimento, suas modificações e transformações e seu
desaparecimento ou corrupção e morte.
De modo sumário, podemos apresentar os traços principais da atitude filosófica nascente:
1) tendência a racionalidade: a razão é tomada como critério de verdade, acima das
limitações da experiência imediata e da fantasia mítica
2) busca de respostas concludentes: colocado um problema, sua solução é sempre
subentendida à discussão e à análise crítica, o discurso deve comprovar , demonstrar e
garantir o que é dito
3) ausência de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de investigação para
responder os problemas
4) tendência à generalização, isto é, oferecer explicações de alcance geral percebendo, sob
a variação e multiplicidade as coisas e fatos singulares.
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