interferência de plantas daninhas na cultura da soja transgênica

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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)
INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA
TRANSGÊNICA
Fábio Kempim Pittelkow1*; Adriano Jakelaitis2; Lenita Aparecida Conus3; Abdias Alves de
Oliveira4; Jorge de Oliveira Gil4; Francieli Caroline de Assis1; Lucas Borchartt5
Resumo: Objetivou-se com neste trabalho avaliar os efeitos da interferência de plantas
daninhas em diferentes níveis de infestação sobre as características agronômicas e a
produtividade de soja transgênica geneticamente modificada (variedade TMG106RR) e
determinar o período anterior à interferência. Dois ensaios foram conduzidos simultaneamente
em condições de alta e baixa infestação de plantas daninhas, em delineamento de blocos ao
acaso com quatro repetições. Os tratamentos, em cada ensaio, constaram da convivência das
plantas daninhas com a soja transgênica, caracterizada por períodos crescentes de convivência
que variaram de 0, 5, 10, 14, 21, 28, 35, 42, 49 até 106 dias após a emergência da cultura. As
plantas daninhas interferiram negativamente na formação dos trifólios e no acúmulo de massa
seca da soja transgênica, sendo a interferência expressiva sob alta de infestação de plantas
daninhas. Nesta condição, o número de vagens por plantas, a massa dos grãos e o rendimento
da cultura da soja foram reduzidos. Baixas infestações de plantas daninhas afetaram somente
o rendimento de grãos da soja, não afetando outros caracteres agronômicos. O período
anterior à interferência foi estimado em 22 e 33 dias após a emergência da soja, para os níveis
de alta e baixa infestação, respectivamente.
Palavras-chave: competição, rendimento de grãos, período de convivência.
WEED INFLUENCE ON TRANSGENIC SOYBEAN
Abstract: The objective of this study was to evaluate the effects of the interference of weeds
in different levels of infestation on the yield of the transgenic soybean (variety TMG106RR),
determining also the weeds previous period to the interference in the soybean crop. Two
experiments were carried out simultaneously in the place with high and low weeds infestation.
The experiments were arranged in a randomized block design, with four replications. In each
experiment, the treatments consisted of the coexistence between weeds and transgenic
soybean, characterized for periods initiate increasing of living together of 0, 5, 10, 14, 21, 28,
35, up to 106 42, 49 days after the emergency of the soybean. The weeds interfered in the rate
of trifoliolate leaves formation and with the accumulation of dry mass of the transgenic
soybean, and expressive interference in the greater infestation. In high infestations the weeds
were affected the number of pods for plants, the grain mass and the grain yield. Low
infestations of weeds affected only the grain yield. For the conditions of high and low
infestation, the previous periods to the interference was of 22 and 33 days after the emergency
of the soybean, respectively.
Key-words: competition, yield grain, coexistence period.
1
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. CEP:
78060-900. Cuiabá (MT). *Email: [email protected]. Autor para correspondência.
2
Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí - Rodovia Geraldo Silva Nascimento Km 2,5. CEP 75790-000 - Urutaí (GO).
*
Email: [email protected]. Autor para correspondência.
3
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Rua João Rosa Goes, nº 1761, Vila Progresso. Caixa Postal 322. CEP:
79.825-070. Dourados (MS).
4
Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Av. Presidente Dutra, 2965 – Centro. CEP 78900-500. Porto Velho (RO).
5
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Cidade Universitária. CEP - 58059-900. João Pessoa (PB).
Recebido em: 19/08/2009. Aprovado em: 25/11/2009.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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F. K. Pittelkow et al.
INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max (L.) Merrill) é
considerada cultura de grande importância
para a economia mundial. O Brasil é o
segundo maior produtor com cerca de 57,1
milhões de toneladas produzidas em 21,7
milhões de hectares na safra 2008/2009
(CONAB, 2009). De notável relevância, a
soja é utilizada como matéria-prima para uma
infinidade de produtos industrializados,
abrangendo expressivo contingente de
pessoas e investimentos para sua produção
(MOTTA et al., 2002). A área semeada em
Rondônia com a cultura da soja é de
aproximadamente 106 mil hectares, com
produtividade média de 3.080 kg ha-1,
situando-se pouco acima da média nacional
que é de 2.627 kg ha-1(CONAB, 2009).
Apesar deste cenário, a cultura não atinge seu
máximo potencial produtivo em decorrência
de determinados fatores externos como
estresses abióticos que ocorrem no período
crítico da cultura e da incidência de pragas,
plantas daninhas e doenças.
A cultura da soja mostra-se sensível à
interferência das plantas daninhas, que são
consideradas de grande importância durante o
desenvolvimento da cultura. Plantas daninhas
além de competirem por recursos do
ambiente
e
liberarem
substâncias
alelopáticas, interferem no processo de
colheita e são hospedeiras de diversos
insetos-pragas, nematóides, e vários agentes
patogênicos causadores de doenças (SILVA
et al., 2007). Em determinadas regiões de
cultivo as perdas na soja devido às plantas
daninhas,
quando
não
manejadas
adequadamente, podem chegar a 80%
(GAZZIERO et al., 2004).
A capacidade de utilização de
recursos por plantas daninhas também é
importante no processo de competição.
Procópio et al. (2004) estudando aspectos
fisiológicos da soja e de três espécies de
plantas daninhas (Bidens pilosa, Desmodium
tortuosum e Euphorbia heterophylla),
observaram que apesar dessas plantas
produzirem menor massa seca e menor
enfolhamento do que a cultura, elas foram
mais eficientes na utilização da luz por
unidade de área foliar, e na utilização da
água, ou seja, com uma menor quantidade de
recursos conseguiram sobressair sobre a soja,
apresentando maior potencial competitivo.
Além
das
características
da
comunidade infestante, a intensidade de
interferência também está ligada às
características da cultura cultivada, como a
espécie utilizada e a cultivar, além do manejo
adotado, como espaçamento, população de
plantas e sistemas de cultivo (SILVA et al.,
2007). Como exemplo, a soja que apresenta
rápida emergência e boa cobertura do solo
durante a fase vegetativa aumenta sua
capacidade competitiva com plantas daninhas
(PROCÓPIO et al., 2004).
A intensidade da interferência entre
plantas daninhas e cultivadas é determinada à
medida que se observa o decréscimo da
produção da cultura quando exposta a
competição, dependendo da época e da
duração da convivência (PITELLI, 1985). A
redução na produção ocorre à medida que se
aumenta o período de convivência. A
competição se dá em determinado estádio
fenológico de desenvolvimento da cultura.
Para que esse período seja determinado são
necessários estudos de períodos de
convivência de plantas daninhas com a
cultura estabelecida. Esse período vai
depender das condições climáticas de cada
região, características das plantas daninhas,
densidade, e condições fitotécnicas da cultura
utilizada (PITELLI, 1980). Segundo Silva et
al. (2007), três períodos são considerados
importantes nos estudos de interferência:
período anterior à interferência (PAI),
período total de prevenção a interferência
(PTPI) e o período crítico de prevenção a
interferência (PCPI).
O PAI corresponde ao período em que
no início do ciclo de desenvolvimento a
cultura e a comunidade infestante podem
conviver por determinado período, sem que
ocorram
efeitos
danosos
sobre
a
produtividade da espécie cultivada. De
acordo com Meschede et al. (2004),
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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Interferência de plantas...
considerando o manejo de plantas daninhas, o
PAI torna-se o período de maior importância
do ciclo cultural, a partir do qual o
rendimento é significativamente afetado. A
determinação
desse
período
torna-se
importante no planejamento de medidas
eficientes de manejo e pode-se diminuir o
custo no controle de plantas daninhas, não
ocasionando
perdas
significativas
na
produção. Vários autores apontam que na
cultura da soja o PAI situa-se entre os 10 aos
33 dias após a emergência da soja
(MESCHEDE et al., 2002; CONSTATIN et
al., 2007; NEPOMUCENO et al., 2007;
SILVA et al., 2009).
A partir da introdução, na agricultura
brasileira, de variedades de soja transgênica,
geneticamente, modificadas para resistência
ao glyphosate, a utilização desse herbicida
tem aumentado, significativamente, podendo
selecionar espécies que apresentam certo grau
de tolerância ou resistência ao herbicida,
como
a
trapoeraba
(Commelina
benghalensis), a erva-de-touro (Tridax
procumbens), corda-de-viola (Ipomoea spp),
erva-quente (Spermacoce latifolia), a buva
(Conyza
bonariensis),
entre
outras
(EMBRAPA, 2008). Desta forma, objetivouse nesta pesquisa avaliar níveis de infestação
de plantas daninhas sobre características
agronômicas e do rendimento da soja
(variedade TMG106RR) determinando-se o
período anterior à interferência de plantas
daninhas na cultura da soja geneticamente
modificada.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois ensaios com a cultura da soja
transgênica foram conduzidos em campo
sobre Latossolo Amarelo de textura arenoargilosa, na Estação Experimental da
Universidade Federal de Rondônia, Rolim de
Moura, RO (277 m acima do nível do mar,
em latitude 11º34’57” S e longitude
61°46’18” W), no período de dezembro de
2006 a maio de 2007. O clima da região,
segundo a classificação de Köppen é o
Tropical Quente e Úmido, com estação seca
bem definida (junho a setembro), com
temperatura média do ar em torno de 26°C,
precipitação média anual de 2.250mm e
umidade relativa do ar elevada, oscilando em
torno de 85% (MARIALVA, 1999).
Na
área
experimental
foram
selecionadas duas subáreas, uma com alta e
outra com baixa infestação de plantas
daninhas, onde foram alocados os
tratamentos. As espécies dominantes na
comunidade infestante predominante antes da
instalação
dos
ensaios
foram
monocotiledôneas Digitaria horizontalis
(espécie dominante) e Cyperus spp. Em
menor frequência Eleusine indica, Brachiaria
brizantha, Echinochloa spp. e Commelina
benghalensis. As dicotiledôneas carrapichão
(Triunfetta bartramia) espécie frequente na
região e Chamaesyce spp., e em menores
infestações Amaranthus spp, Sida spp,
Ipomoea spp, Richardia brasiliensis e
Euphorbia heterophylla. Vinte dias antes da
semeadura da soja, a vegetação foi dessecada
com glyphosate na dose de 1.500 g e. a. ha-1.
O solo na camada de 0 a 20 cm de
profundidade apresentava pH em água de 6,0;
H+Al, Ca, Mg, CTC(T) e K de 3,9; 1,9; 0,5,
6,5 e 0,18 cmolc dm-3, respectivamente, P de
5,4 mg dm-3, e matéria orgânica de 2,10 dag
kg-1, respectivamente.
Nos ensaios as sementes do cultivar
de soja TMG106RR, previamente, inoculadas
com Bradyrhizobium japonicum foram
tratadas com os fungicidas carboxin + thiran
e semeadas no espaçamento de 0,50m
entrelinhas à profundidade de 4 cm. Foram
depositadas vinte sementes por metro linear
de sulco. A semeadura foi realizada em
18/01/2007 no sistema de semeadura direta
sobre a palha remanescente da comunidade
infestante dessecada e a adubação utilizada
no sulco de semeadura foi de 350 kg ha-1 da
formulação 4-30-16 (N-P2O5-K2O). O
controle de insetos-pragas foi realizado com
duas aplicações – durante a fase de
enchimento de vagens do inseticida
parathion-methyl (800 g ha-1), visando o
controle de percevejos. Foi realizada ainda
uma aplicação de azoxistrobina (50 g ha-1) no
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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F. K. Pittelkow et al.
início do florescimento de forma preventiva
contra patógenos causadores de doenças
foliares.
Adotou-se
o
delineamento
experimental em blocos completos ao acaso,
com quatro repetições. Cada unidade
experimental possuiu 25m-2 (5x5m). Os
tratamentos em cada ensaio constaram da
convivência das plantas daninhas com a soja
transgênica, caracterizada por períodos
inicias crescentes de convivência de 0, 5, 10,
14, 21, 28, 35, 42, 49 e 106 dias após a
emergência
(DAE)
da
cultura.
O
encerramento do convívio e a manutenção
das parcelas sem interferência das plantas
daninhas até a colheita da soja foi realizado
com aplicações de glyphosate, sempre que
necessárias na dose de 150 g e. a. ha-1. Ao
final do período de convivência que define
cada tratamento, foram efetuadas as
avaliações da comunidade infestante por
meio da coleta das plantas daninhas em cinco
amostras em cada unidade experimental. Em
cada amostra, em área de 0,25 m², as plantas
foram coletadas, separadas por espécie,
contadas e, depois, secas em estufa de
renovação de ar, a 65 ºC ± 5 ºC, até massa
constante, sendo em seguida, pesadas em
balança de precisão. Posteriormente, foram
coletadas
quinze
plantas
de
soja
aleatoriamente
em
cada
unidade
experimental, as quais foram separadas as
folhas, os caules, as flores e as vagens. Nas
plantas de soja, foram mensuradas a altura da
planta (da superfície do solo até a inserção da
última folha expandida), o número de
trifólios, a massa seca de caules, folhas e
vagens, incluindo flores.
Por ocasião da colheita da soja
realizada em 06/05/2007, foram avaliados o
número de plantas e o rendimento de grãos
em oito metros quadrados na parcela. Das
plantas da área útil foram escolhidas quinze
plantas representativas, as quais foram
medidas as alturas das plantas e inserção da
primeira vagem e o número total de vagens
por planta. Destas plantas foram selecionadas
200
vagens
coletadas
aleatoriamente
determinando-se o número de grãos por
vagem e a massa de cem grãos, feito em
duplicata. Os valores do rendimento de grãos
e da massa de cem grãos foram corrigidos
para 13% de umidade.
Os dados referentes à comunidade
infestante foram submetidos à análise
descritiva. Os dados referentes à soja foram
submetidos à análise de variância pelo teste
F, e quando significativos à análise de
regressão. A evolução da altura de plantas, do
número de folhas trifolioladas e do acúmulo
total de massa seca das plantas de soja ao
longo do ciclo foram analisadas por modelos
não-lineares. Resultados referentes aos
componentes
de
rendimento
foram
explicados por modelos lineares simples. As
análises de produtividade foram submetidas à
análise de regressão pelo modelo sigmoidal
de
Boltzmann
{ Yˆ = A2 + [( A1 − A2 ) /(1 + exp( X − X 0 ) / dx)] },
em que, Yˆ é a produtividade estimada; X é o
limite superior do período de convivência
considerado; A1 é a produtividade máxima
estimada, obtida nas parcelas mantida sem
interferência durante todo o ciclo da cultura;
A2, a produtividade mínima estimada
decorrente das parcelas mantidas infestadas
durante todo ciclo; X0, o período superior do
período de convivência que corresponde ao
valor intermediário entre as produções
máxima e mínima; e dx, parâmetro que indica
a velocidade de perda de produção. Neste
modelo, a determinação do período anterior à
interferência foi realizada, aceitando-se
perdas de 5% em relação à produtividade da
testemunha sem interferência de plantas
daninhas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comunidade de plantas daninhas em
ambos os ensaios foi composta por
aproximadamente 37 espécies de plantas
daninhas, dos quais 73% foram classificadas
como
dicotiledôneas
e
27%
de
monocotiledôneas. Dentre elas, destacaramse
as
monocotiledôneas
Digitaria
horizontalis (capim-colchão) que foi a
espécie daninha dominante, Cyperus spp.
(tiririca), as dicotiledôneas Triunfetta
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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Interferência de plantas...
bartramia (carapichão), Phyllanthus tenellus
(quebra-pedra) e Chamaescy hirta (erva-desanta-luzia). As demais espécies que
ocorreram em menor densidade e frequência
foram Amaranthus retroflexus (carurugigante), Amaranthus deflexus (carururasteiro), Amaranthus hybridus (caruru-roxo),
Sida rhombifolia (guanxuma), Euphorbia
heterophylla (leiteiro), Eleusine indica
(capim-pé-de-galinha), Solanum americanum
(maria-pretinha),
Richardia
brasiliensis
(poaia-branca), Sorgum arundinaceum (falsomassambará), Senna obtusifolia (fedegoso),
Desmodium tortuosum (desmódio), Ipomoea
quamoclit (jetirana), Brachiaria decumbens
(capim-braquiária),
Physalis
angulata
(camapu), Echnochloa crusgali (capimarroz), Emilia sonchifolia (falsa-serralha),
Rumex
obtusifolius
(língua-de-vaca),
Spermacoce latifolia (erva-quente), Hyptus
lophanta (fazendeiro), Nicandra physaloides
(joá-de-capote), Talinum paniculatum (mariagorda), Cleone affinis (sojinha), Brachiaria
brizantha (capim-marandú), Commelina
benghalensis
(trapoeraba),
Murdania
nudiflora
(trapoerabinha),
Galinsoga
parviflora (botão-de-ouro), Oryza sativa
(arroz), Ludwigia spp (cruz-de-malta),
Hyptus suaveolens (cheirosa), Porophyllum
ruderalle (arnica), Eclipia alba (erva-botão) e
Cynodon dactylon (grama-bermuda). Os
dados referentes à comunidade infestante em
função dos períodos de convivência para os
diferentes ensaios de infestação encontram-se
na Figura 1A.
Maiores densidades de plantas
daninhas ocorreram nas primeiras semanas
após a emergência da soja e à medida que a
cultura da soja foi se estabelecendo houve
redução da população infestante em todos os
ensaios, as quais tiveram menores densidades
até a colheita da cultura. Este comportamento
deveu-se ao fechamento do dossel pela soja,
o qual restringiu por meio do sombreamento
a germinação e estabelecimento das plantas
daninhas, exercendo assim o controle
cultural. Entretanto, com maior densidade e
desenvolvimento das plantas daninhas
principalmente aquelas que germinaram e
emergiram no inicio do ciclo da soja,
estabeleceu-se a competição intra-específica,
nas quais as plantas mais desenvolvidas
suprimiram a germinação de novos fluxos.
Silva et al. (2008) avaliando os efeitos de
diferentes densidades de plantas daninhas na
soja, verificaram em condições de baixa
infestação comportamento semelhante, em
que a densidade máxima de 238 plantas m-2
foi alcançada aos 49 DAE da cultura da soja.
Comportamento
semelhante
à
densidade de plantas daninhas nos dois
ensaios foi observado também para a massa
seca da parte aérea acumulada pela
comunidade infestante (Figura 1B). O
acúmulo máximo de massa seca ocorreu entre
a quinta e a sexta semana de convivência com
a soja, com decréscimo a partir desta fase até
a colheita da cultura. Estes resultados
corroboram com as pesquisas de Spadotto et
al. (1994), Martins e Pitelli (1994) e
Meschede et al. (2002).
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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F. K. Pittelkow et al.
Figura 1. Densidade de plantas daninhas m-2 (A) e massa seca (g m-2) (B) de plantas daninhas
nos diferentes períodos de convivência com a cultura da soja em condições de alta e
baixa infestação.
Segundo Meschede et al. (2004), a
massa seca acumulada de plantas daninhas
denota ser uma variável mais importante do
que a própria densidade de indivíduos no que
se refere ao grau de interferência imposto à
soja, apresentando correlação inversamente
proporcional aos componentes
do
rendimento e fenológicos da cultura. A
comunidade
infestante
interferiu
negativamente
nos
parâmetros
de
crescimento da soja, afetando diretamente o
incremento em altura de plantas, o número de
trifólios e acúmulo de massa seca das plantas
de soja ao longo do ciclo, sendo a redução
proporcional ao incremento da infestação
(Fig. 2B). A altura de plantas de soja nos
ensaios apresentou início de crescimento
exponencial a partir da segunda semana após
a emergência, perdurando até a sétima
semana, onde o crescimento em altura se
estabilizou. Todavia, não ocorreu diferença
significativa pelo teste F, em plantas
mensuradas por ocasião da colheita da soja,
em função dos períodos de convivência
(Tabela 1).
Figura 2. Evolução da altura de plantas (A) e do número de folhas trifoliadas de soja (B) em
função dos períodos de convivência com plantas daninhas em condição de alta e
baixa infestação.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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Interferência de plantas...
A formação dos trifólios na soja
apresentou para todos os níveis de infestação
de
plantas
daninhas,
comportamento
semelhante do início do ciclo aos 21DAE da
soja, não sendo observados efeitos da
competição neste intervalo (Figura 2B). Dos
28 aos 49 DAE, verificaram-se diferenças na
formação de trifólios em razão dos níveis de
infestação, com menor formação de folhas
em condições de alta infestação. Nesta
condição, aos 49 DAE havia em média 18,96
folhas trifolioladas por planta, que
correspondeu a um decréscimo de 25,2%,
quando comparada as plantas crescidas em
condição de baixa infestação.
A formação de folhas define a
habilidade do dossel em interceptar a
radiação fotossinteticamente ativa, sendo
considerado fator determinante no acúmulo
de massa seca pelas plantas (SILVA et al.,
2004). Assim, plantas de soja que
conviveram em condição de alta infestação
de
plantas
daninhas
apresentaram
significativa redução no acúmulo de folhas e
caules, bem como na formação de vagens
devido aos efeitos da interferência (Figura 3).
Observou-se aos 49 DAE, para a massa seca
de folhas redução nos ganhos em 14,09% em
condições de alta infestação em relação à
baixa infestação. Já, por ocasião da colheita
da soja, a redução na massa seca de hastes foi
de 21,28% e de vagens de 7,6% na condição
de alta infestação de plantas daninhas em
relação à condição de baixa infestação
(Figura 3).
Figura 3. Acúmulo de massa seca da parte aérea de plantas de soja em função dos períodos
de convivência com plantas daninhas em condições de alta (A) e baixa (B)
infestação.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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F. K. Pittelkow et al.
Tabela 1. Efeitos da convivência de plantas daninhas em condição de alta e baixa infestação
sobre altura de plantas e da inserção da primeira vagem, população de plantas,
vagens por planta, grãos por vagem e massa de cem grãos de soja transgênica.
r²
------
Altura da primeira vagem (cm)
Alta infestação
Equação
ˆ
Y = Y = 66,06
Yˆ = Y = 17,21
Plantas por metro linear
Yˆ = Y = 16,33
------
Características
Avaliadas
Altura de plantas (cm)
Vagens por planta*
Grãos por vagem
Massa de cem grãos (g)*
Yˆ = 51,5929 − 0,0782 x
Yˆ = Y = 2,31
Yˆ = 14,7640 − 0,0136 x
------
Baixa infestação
Equação
r²
ˆ
-----Y = Y = 65,13
-----Yˆ = Y = 17,12
-----Yˆ = Y = 16,37
------
------
Yˆ = Y = 54,34
Yˆ = Y = 2,41
0,7341
Yˆ = Y = 14,59
------
0,8165
------
*Referem-se às equações das figuras 4A e 4B, respectivamente.
Para as condições de alta infestação,
observa-se que não houve diferença para as
variáveis alturas de plantas e de inserção da
primeira vagem, população de plantas de soja
e número de grãos por vagem, não havendo,
desta forma, influência da convivência de
plantas daninhas (Tabela 1). O número de
vagens por plantas, a massa de cem grãos e o
rendimento de grãos foram afetados pela
convivência com alta população de plantas
daninhas (Figuras 4 e 5). Nesta situação, os
períodos de convivência da cultura com
plantas daninhas afetaram o número de
vagens por planta e a massa de cem grãos
A
quando
comparado
à
ausência
de
convivência,
interferindo
assim
no
rendimento de grãos de soja. De acordo com
a regressão ajustada para a condição de alta
infestação, os rendimentos máximos e
mínimos oscilaram entre 3156,01 e 2460,70
kg ha-1 de grãos, respectivamente, sendo que
o período em que a cultura e a comunidade
infestante podem conviver sem que ocorram
efeitos danosos sobre a produtividade é de até
22 dias após a emergência da soja (Figura
5A) nas condições experimentais acima
citadas.
B
Figura 4. Número de vagens por planta (A) e massa de cem grãos de soja (B) em função dos
períodos de convivência de plantas daninhas em condição de alta infestação.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
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Interferência de plantas...
Em condições de baixa infestação de
plantas daninhas, verificou-se que somente o
rendimento de grãos foi afetado pela
interferência com a comunidade infestante
(Figura 5B). Pela análise de regressão
estimada na Figura 5B, os rendimentos
máximos e mínimos situaram-se entre
3212,14 e 2760,63 kg ha-1 de grãos,
respectivamente, com período anterior a
interferência de 33 dias após a emergência da
soja. Diversos autores têm determinado os
períodos anteriores à interferência da
comunidade infestante em soja no país, e
tem-se observado diversidade nos valores
encontrados. Meschede et al. (2002),
avaliando os períodos de competição de
Euphorbia heterophylla na soja, observaram
que o período anterior à interferência foi de
17 dias.
Figura 5. Rendimento de grãos de soja em função dos períodos de convivência com plantas
daninhas em condições de alta (A) e baixa (B) infestação.
Em outra pesquisa conduzida pelos
mesmos autores, utilizando a técnica de
testemunhas duplas os mesmos observaram
11 dias de período em que a cultura da soja
suporta a convivência com plantas daninhas
sem prejuízos no rendimento de grãos. Este
comportamento ocorre porque as condições
de desenvolvimento das pesquisas são
diferentes, assim como as variedades usadas,
a composição das comunidades infestantes e
as práticas culturais adotadas. Como
exemplo, Mello et al. (2001), pesquisando
períodos de interferência de espécies
daninhas em soja cultivada sobre dois
espaçamentos, verificaram que o período
anterior a interferência foi de 7 e 18 dias para
a soja espaçada de 30 e 60 cm entrelinhas,
respectivamente. Nepomuceno et al. (2007)
determinaram 33 e 34 dias para o período
anterior a interferência de plantas daninhas na
soja cultivada, respectivamente, em sistemas
de semeadura direta e convencional. Em
trabalhos com diferentes níveis de infestação
de plantas daninhas na cultura da soja, Silva
et al. (2009), encontraram o PAI de 17 e 11
DAE da soja para os níveis de baixa e alta
infestação
de
plantas
daninhas,
respectivamente, o que acarretou redução no
rendimento de grãos da soja, em média, de
73% (área de baixa infestação) e 92,5% em
área de alta infestação.
Gl. Sci. Technol., v. 02, n. 03, p.38 - 48, set/dez. 2009.
47
F. K. Pittelkow et al.
CONCLUSÕES
•
•
•
•
A presença de plantas daninhas
reduziu a formação dos trifólios e o
acúmulo de massa seca ao longo do
ciclo da soja transgênica, sendo
maiores os danos conforme se
aumentaram os níveis de infestação de
plantas daninhas;
Altas infestações de plantas daninhas
afetaram o número de vagens por
plantas, a massa dos grãos e o
rendimento de grãos de forma
diferenciada de acordo com o período
de convivência;
Baixas infestações também afetaram o
rendimento de grãos de soja;
Os períodos anteriores à interferência
foram de 22 e 33 dias após a
emergência da soja para as condições
de
alta
e
baixa
infestação,
respectivamente.
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