preparo para a alta hospitalar do paciente acometido por

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PREPARO PARA A ALTA HOSPITALAR DO PACIENTE ACOMETIDO POR
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: VISÃO DO CUIDADOR FAMILIAR
PREPARATION FOR DISCHARGE OF PATIENT AFFECTED BY STROKE:
VISON OF FAMILY CAREGIVER
Alisson Mateus Freitas dos Reis
Enfermeiro. Graduado pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Ricardo Alexandre da Silva Cobucci
Enfermeiro. Especialista em Docência do Ensino Superior, docente do Centro Universitário do
Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected]
RESUMO
O acidente vascular encefálico está entre as principais causas de morbidade e mortalidade em
todo o mundo. As incapacidades impostas geram alterações funcionais e cognitivas, alteram a
personalidade, o comportamento e as atividades fisiológicas, surgindo assim a necessidade do
cuidador familiar, que, muitas vezes, está despreparado para assumir a responsabilidade de
cuidar, carecendo de orientação na condução dessa atividade. Sendo assim, a assistência de
enfermagem, durante o preparo para alta hospitalar, é o principal enfoque desta pesquisa, que
teve como objetivo investigar se os cuidadores domiciliares das vítimas de acidente vascular
encefálico são assistidos pela enfermagem no preparo para a alta. O estudo apresentado é de
natureza qualitativa com uma abordagem descritiva em que se delimitou uma amostra de oito
cuidadores, colhendo os dados através de uma entrevista, que seguiu um roteiro criado pelo
próprio pesquisador. As informações retiradas dos relatos foram confrontadas com a literatura,
evidenciando o estresse físico e emocional que a responsabilidade de ser cuidador pode gerar,
como a orientação para os cuidados no lar podem ser impactantes, contribuindo para minimizar
o medo e a ansiedade que a alta pode causar. Contudo, observou-se que, os cuidadores estão
deixando a unidade hospitalar inseguros, pois, as informações recebidas foram pouco
elucidativas e generalizadas em relação às necessidades dos cuidados domiciliares, dessa
forma ressalta-se a necessidade de novos estudos sobre o assunto.
PALAVRAS-CHAVE: Acidente cerebral vascular. Relações familiares. Alta do paciente.
Enfermagem.
ABSTRACT
Stroke is among the leading causes of morbidity and mortality worldwide. The disabilities
imposed generate functional and cognitive changes, in personality, behavior and physiological
activities, thus resulting in the need of caregivers, who of ten are unprepared to assume
responsibility of caring, larking gwdanee in conducting activity. Thus, nurse care during the
preparation for discharge, is the main focus of this research, which aims to investigate whether
the home caregivers of stroke victims are assisted by nursing in preparation for discharge. The
present study is qualitative with a decretive approach in which a sample was limited to eight
careers, collecting data though an interview, which followed a script created by the researchers.
Information from the reporters were compared with literature highlighting the physical and
emotional stress that the responsibility of being a caregivers can generate as guidance for care
at home can be impact feel, helping reduce the fear and anxiety that can discharge cause.
However, it was noted that the caregivers are leaving the hospital unsafe, because the
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information received were less conclusive and generalized for the needs of home care so it
emphasizes the need for further studies on the subject
KEY WORDS: Stroke. Family relations. Patient discharge. Nursing.
INTRODUÇÃO
O acidente vascular encefálico (AVE) é a patologia neurológica aguda
mais frequente de natureza não traumática e constitui a terceira causa de
óbitos em países desenvolvidos, sendo precedida somente pelas doenças
cardiovasculares e pelo câncer (BRITO; RABINOVICH, 2008). Pittella et al.
(2006) e Shawn (2005) afirmam que o “derrame”, como é conhecido
popularmente, pode ser classificado como acidente vascular encefálico ou
“ataque cerebral” que caracteriza uma deficiência na irrigação sanguínea para
o cérebro.
O comprometimento encefálico originado na deficiência de irrigação é
uma patologia geradora de mudanças funcionais e cognitivas, alterando a
personalidade, o comportamento e as atividades fisiológicas (ZIRIN, 2005).
Essas sequelas promovem incapacidades, não somente no paciente, mas na
família e na sociedade em que ele está inserido, uma vez que neste momento,
os papéis do doente e da família mudam, fazendo com que o doente passe por
um período de ajustamento, que pode durar dias ou provocar um intenso
esforço de adaptação, muitas vezes não recuperável (BRITO; RABINOVICH,
2008; FONSECA; PENNA, 2008).
Durante a assistência hospitalar, a equipe de saúde, em especial, o
enfermeiro, pela sua característica profissional, deve programar um plano de
cuidados que contemple todas as necessidades apresentadas pelo paciente,
favorecendo sua recuperação (BOCCHI, 2004). E é de extrema importância
que se planeje uma assistência voltada não somente para o paciente, mas
também visando ao seu círculo familiar, pois o envolvimento das pessoas em
casa no processo de recuperação pode interferir positivamente na saúde do
paciente (SHAWN, 2005).
A alta hospitalar adiantada é um processo muito usado nas unidades de
internação, seja por motivos de redução de custos, grande demanda de leitos
ou exposição aos riscos, que o tempo prolongado no ambiente hospitalar pode
causar. Logo que o paciente possa se estabilizar por conta própria e a fase
aguda tenha sido superada, ele recebe alta e é encaminhado para o lar. O
retorno precoce para a comunidade pode gerar alguns conflitos, ou seja, ao
mesmo tempo em que a família se sente feliz e aliviada por ver seu ente
voltando para casa, sente medo e insegurança (CESAR; SANTOS, 2005).
Dessa forma, um programa de alta hospitalar pode contribuir para que a família
seja mais confiante e capaz de dar continuidade aos cuidados iniciados no
hospital, criando independência para as atividades de vida diária (AVDs) e
mantendo o estado de saúde do paciente (CESAR; SANTOS, 2005; POMPEO
et al., 2007).
O enfermeiro, juntamente com sua equipe, é o profissional mais habilitado
para realizar a orientação da família e do doente, seja pelo fato de estar mais
presente durante a assistência ou pelo caráter holístico da enfermagem,
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possuindo assim, neste momento, uma oportunidade de desenvolver sua
função de educador, estabelecendo uma relação de confiança e parceria
(BOCCHI, 2004; SPECHT, 2007).
Conforme Britto e Rabinovich (2008), a doença cérebro vascular é um
acontecimento estressante que produz efeito no doente e na família,
provocando, inicialmente, um desequilíbrio em sua capacidade de exercer
atividades cotidianas, o que pode gerar alterações que envolvem o afeto, as
finanças e as relações de poder e autoridade do núcleo familiar, deixando o
indivíduo mais vulnerável. Bocchi (2004) acrescenta que a assistência ao
cuidador familiar pode diminuir parte desse estresse, sendo o enfermeiro
fomentador dessa função. Essa assistência se inicia ainda em âmbito
hospitalar com orientações visando ao preparo para alta. Mediante as
inferências citadas, a pesquisa baseou-se na seguinte questão: A equipe de
enfermagem presta assistência ao cuidador do paciente com AVE no preparo
para alta hospitalar?
O presente trabalho é importante, uma vez que conhecer como a equipe
de enfermagem procede junto aos pacientes e cuidadores familiares no
momento da alta hospitalar, e, como esta prática interfere nos cuidados
domiciliares, podendo contribuir para a melhoria das ações desses
procedimentos, bem como para propor uma assistência de enfermagem que as
contemplem, quando não forem ministradas.
Por outro lado, ao investigar como a equipe de enfermagem trabalha as
orientações e o preparo para a alta hospitalar dos pacientes vítimas de AVE,
principalmente, com o foco nos cuidadores domiciliares, pode-se assim
compreender melhor como os cuidados são realizados e, da mesma forma, se
os cuidadores se encontram aptos a desenvolverem as atividades com o
paciente.
Na ótica de que o enfermeiro deve traçar um plano de cuidados visando
às atividades no domicílio, dando continuidade nas desenvolvidas no ambiente
hospitalar, a pesquisa teve como objetivo investigar se os cuidadores
domiciliares das vítimas de AVE são assistidos pela enfermagem no preparo
para a alta, almejando averiguar se os mesmos receberam algum tipo de
orientação para o cuidado domiciliar, identificando de qual profissional da
equipe de enfermagem foram recebidas essas informações e como o preparo
para alta influenciou os cuidados domiciliares.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo com característica descritiva, realizado
no mês de junho de 2010, na cidade de Coronel Fabriciano, na área de
abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Santa Terezinha II.
Após a autorização do secretário de Saúde do município, procedeu-se à
investigação nos prontuários e nos documentos de agendamento de visitas
domiciliares da Unidade de Saúde, identificando os pacientes e selecionando,
posteriormente, os cuidadores familiares que se enquadravam no objetivo da
pesquisa.
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Da população alvo, foram selecionados 16 pacientes vítimas de AVE, e
após visita prévia identificou-se a figura do cuidador, obtendo a autorização
para participar da pesquisa, com a assinatura do termo de consentimento livre
e esclarecido, de acordo com a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde, que regulamenta as pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL,
1996), delimitando uma amostra de oito cuidadores.
Excluíram-se oito cuidadores, desses: seis não acompanharam o paciente
no momento da alta hospitalar e dois não foram localizados no período da
investigação. Participaram da pesquisa somente os cuidadores cujos pacientes
tiveram a ocorrência do AVE em no máximo de 5 anos, ou seja, casos mais
recentes, e com nota inferior a 99 na Escala de Avaliação Funcional, Índice de
Barthel Modificado (BRASIL, 2009), nota que representa dependência para
alguma AVD.
Esta escala permite inferir a necessidade de cuidado para as atividades
cotidianas e, segundo Brito e Rabinovich (2008), é um método de fácil
realização e tem reconhecimento mundial. Os escores da escala são
classificados em: 100 pontos, totalmente independente; de 91 a 99 pontos,
pouca dependência; de 61 a 90 pontos, dependência moderada e de 21 a 60
pontos, dependência severa para AVDs.
Após a seleção e autorização para a pesquisa, foi realizada a entrevista
no domicílio do paciente, com data e horário previamente agendados, de
comum acordo entre as partes, respeitando a privacidade da família. A coleta
de dados foi gravada e seguiu um roteiro de entrevista, onde o tempo médio de
duração foi de 15 minutos. Durante a entrevista objetivou-se identificar se os
cuidadores receberam alguma informação referente ao cuidado no domicílio
pela equipe de enfermagem hospitalar, como essas foram repassadas e o
impacto das mesmas sobre o cuidado gerado no lar. Os dados foram gravados
através de um dispositivo eletrônico.
Os relatos colhidos foram transcritos, lidos e interpretados, sendo
apresentados em forma de texto, através de trechos das falas dos
entrevistados, respeitando os preceitos da Resolução 196/96 (BRASIL, 1996).
Foi utilizado como método para identificação o código (E) de entrevistado e os
números de 1 a 8, que representaram os participantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados todos os pacientes cuidados pelos entrevistados através
da Escala de Avaliação Funcional (BRASIL, 2009), sendo encontrados cinco
pacientes com dependência moderada e três com dependência severa para
AVDs, sendo que, em alguns casos, o pesquisador observou ainda, a
existência de comprometimento nas funções cognitivas e comportamentais, em
que o comprometimento gerado pelo AVE afetou a realização de algumas
práticas, como, a tomada de decisão e o raciocínio para aprendizado das
novas atividades que devem ser exercidas para a adaptação das funções
comprometidas pela doença.
Esse fato revela a necessidade de uma preparação para o cuidador
familiar, pois é ele que deverá dar continuidade às atividades realizadas
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anteriormente no ambiente hospitalar, com total responsabilidade de conduzir o
tratamento no domicílio, melhorando o estado de saúde do seu familiar e
prevenindo possíveis complicações.
As condições detectadas também encontradas nos estudos de Brito e
Rabinovich (2008), que indicam o déficit neurológico resultante do AVE, como
comprometedor da independência do paciente, surgindo assim, a necessidade
da presença do cuidador familiar. Pompeo et al. (2007) afirmam que os
cuidadores dos pacientes acometidos por AVE têm grande influencia na sua
recuperação, e, se não receberem suporte no preparo para alta hospitalar, as
complicações e reinternações continuarão ocorrendo, seja por falta de adesão
ao tratamento ou escassez de informações.
O perfil dos cuidadores familiares foi representado, em sua maioria, por
mulheres casadas e sem ocupação fora do ambiente familiar. Euzébio e
Rabinovich (2006) apontam a importância do papel feminino no ambiente
familiar, afirmando que esse gênero é responsável pela atenção com a casa,
com os filhos e com os entes doentes, prestando o cuidado com maior presteza
e zelo. O homem, por sua vez, participa de forma indireta, sendo
responsabilizado em prover financeiramente, no que for preciso.
Das mulheres entrevistadas, em sua maioria, esposas e filhas dos
pacientes, demonstrou estar adaptada e movida por sentimentos morais e
valores culturais, segundo Fonseca e Penna (2008), na visão dos cônjuges, é
expresso pela obrigação matrimonial, enquanto, na ótica dos filhos, por valores
culturais, em que cuidar dos mais velhos é uma obrigação histórica.
Fonseca, Penna e Soares (2008) e Cardoso (2002) afirmam que ser
cuidador familiar é um exercício diário, desgastante física e emocionalmente, e
demanda sensibilidade e companherismo. Verificou-se através da entrevista,
como os cuidadores se sentem ao cuidar de pessoas que apresentam
complicações do AVE. Estas sensações podem ser percebidas nas verbalizações que seguem:
Antes eu achava difícil, mais hoje eu vejo que não é. É muito
cansativo, uma batalha diária [...]. (E1)
É, cuidar de gente doente é muito difícil. Quando a gente “ta” doente
fica cansado, estressado e enjoado, tem que ter muita paciência. Mas
hoje eu digo que ele não “ta” doente mais, a gente já sabe tudo que
tem que fazer para ele, o único problema é que é um serviço que não
acaba nunca. (E5)
É uma atividade muito cansativa e estressante. Eu falo que, qualquer
dia desses eu vou fugir de casa e viajar para praia, só de brincadeira
com ele. Mas a gente vai levando, tem dia que estamos tristes, tem
dia que estamos todos rindo, e vamos levando. (E8)
Dentre as respostas obtidas, nota-se que a realização dos cuidados não é
uma atividade complexa, mas sim, cansativa e que exige treinamento
adequado para uma realização correta e eficaz. Nesse sentido, observa-se a
necessidade de treinamento teórico e prático, pois mesmo sendo uma função
que não demande conhecimentos complexos, deve-se estar preparado para
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evitar o desgaste emocional e físico que geralmente ocorre com os familiares
dos pacientes com AVE.
Mendonça, Garanhani e Martins (2008) destacam o valor significativo que
os sentimentos de cuidar têm sobre o cuidador, salientando a necessidade de
práticas educativas em saúde, que possam contribuir para diminuição do
cansaço físico e a carga emocional que este ente carrega.
Segundo Ganzella e Zago (2008), a ação que trará resolutividade entre a
lacuna presente no cuidado profissional e o domiciliar deve ser a orientação
para alta hospitalar. As informações recebidas foram pouco elucidativas em
relação às necessidades dos cuidados domiciliares, sendo, na maioria das
vezes, generalizadas, conforme relatos:
Sobre a doença, a doença sim, mas como tratar, só sobre
alimentação e que ele não andaria mais sozinho e eu teria que ajudalo [...]. (E1)
O médico sempre me explicava como ele ia ficar, “né”, com
dificuldade de andar. As enfermeiras falavam pra tomar cuidado com
o braço e a perna paralisada para evitar que ela machucasse eles.
(E4)
[...] não; me falaram só que era para procurar a unidade de saúde,
para o acompanhamento do caso dele em casa, e que ele ia precisar
de fisioterapia. (E8)
Foi observada uma carência de atividades assistenciais que visem a
preparação para alta hospitalar, munindo os cuidadores de informações que
possam contribuir para os cuidados domiciliares. Pompeo et al. (2007)
reafirmam esse fato em sua pesquisa, em que é descrita como principal
interferência na orientação para alta a falta de um programa multidisciplinar e
planejado. César e Santos (2005) apontam que, para haver uma maior eficácia
na preparação da alta hospitalar, é necessário programar atividades de troca
de experiências com outros cuidadores, bem como informações sobre a
doença e treinamento sobre os cuidados, sempre acompanhados pelos
profissionais de saúde, realizando atividades teóricas e dinâmicas com os
familiares.
De acordo com a realização das orientações, vê-se o profissional de
enfermagem como o mais indicado para ministrá-las, seja pelo fato de estar
presente em todo momento da assistência ou pelo seu caráter holístico. A
enfermagem pode ter participação significativa na orientação do cuidador. Para
tanto, investigou se os cuidadores foram assistidos pela enfermagem no
preparo para alta hospitalar. As respostas obtidas indicam uma participação
significativa da enfermagem.
Dos cinco cuidadores que informaram ter recebido algum tipo de
orientação relacionada a alta hospitalar, quatro relacionaram o enfermeiro,
cinco relacionaram os médicos e um relacionou outro profissional. Esses dados
demonstram boa participação da equipe de enfermagem em relação aos outros
profissionais da equipe hospitalar. No entanto alguns cuidadores estão
deixando a unidade de internação sem ser orientados, ou quando orientados,
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recebem informações generalizadas e pouco elucidativas, elucidadas conforme
Bocchi (2004).
Os dados colhidos demonstraram boa participação da equipe de
enfermagem, sendo que dos cinco pacientes que receberam orientações para
alta, em quatro delas houve participação ativa da equipe. No entanto, as
orientações fornecidas são pouco elucidativas e generalizadas conforme
destacado por Bocchi (2004), onde ele acrescenta outro aspecto percebido na
participação da enfermagem nas ações de educação para saúde, a falta de
identificação da equipe como educadores em saúde, que nesse sentido é
suposto pela não assimilação dessa função como eficaz e resolutiva. Casate e
Corrêa (2005) destacam alguns fatores que dificultam a realização do trabalho
pelos pro-fissionais da enfermagem no meio hospitalar, como: a falta de tempo
hábil para a prática de atividades educativas, a característica curativa e
emergencial do profissional e a sobrecarga de atividades burocráticas
atribuídas ao enfermeiro.
Em função da multiplicidade de profissionais que assistem aos pacientes
no hospital e da importância de investigar se o enfermeiro está efetivamente
inserido no preparo para alta, investigou-se com os cuidadores, de qual
profissional foram recebidas as informações, na tentativa de identificar se o
enfermeiro realiza a função de educador ou se ele delega essa atribuição para
sua equipe. Destacaram-se os relatos:
Você quer saber, eu não sei. A menina era nova, ela não era enfermeira chefe não, mas eu não tenho certeza. (E1)
[...] das meninas, eu acho que elas eram técnicas. (E2)
[...] De todos, da enfermeira chefe e das outras meninas. (E4)
[...] dos enfermeiros [...]. (E7)
Foi observado que os entrevistados não souberam identificar quem era
enfermeiro ou outro membro da equipe de enfermagem, generalizando todos
como sendo enfermeiros. Stacciarini et al. (1999) também destacaram essa
particularidade, em que os profissionais da enfermagem, muitas vezes, não são
identificados, como os médicos ou algum outro membro da equipe
multiprofissional, e quando é reconhecido como membro da equipe de
enfermagem é generalizado, sem saber das suas categorias: auxiliar, técnico e
enfermeiro.
A orientação aos cuidadores se presta para prepará-los para os cuidados
domiciliares, e deve ser realizada de forma continuada durante todo o período
da assistência (CHAGAS; MONTEIRO, 2004). Assim, foi questionado como o
processo de orientação que receberam para a continuação dos cuidados em
domicílio foi repassado, percebido nos seguintes relatos:
[...] enquanto ela olhava meu marido, ia me falando sobre essas
coisas [...]. (E1)
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É que a gente agora pode ficar no hospital o tempo todo “né”, então
ajudava “né”. Elas iam explicando enquanto acompanhava ele [...].
(E2)
[...] a, eu ia perguntando e eles iam me falando. (E4)
Tinham palestras, tinham reuniões com os cuidadores e tinha
também nas atividades, incluíam a gente para participar. (E7)
Os discursos demonstram que quando ocorreram, não foram realizados
somente no momento exato da alta, sendo gerados no decorrer da internação,
evitando descarregar uma série de informações e preocupações no familiar
emocionalmente desestabilizado, por sentimento de contentamento e
consternação que a esperança de ir para casa poderia causar.
Essa forma de orientação é a melhor maneira de preparo, pois evita o
período de estresse que a alta hospitalar pode gerar, combinando sentimentos
de alegria, por ver a volta do ente e a insegurança, que envolve o cuidador, por
não estar mais apoiado pelo profissional que lhe deu atenção no ambiente
hospitalar (CESAR; SANTOS, 2005). De acordo com Fonseca, Penna e
Soares, (2008) esses sentimentos podem interferir no entendimento e
aceitação das informações fornecidas. Pompeo et al. (2007) afirmam que, para
realizar uma instrução de qualidade aos cuidadores devem-se evitar os
momentos em que essas emoções estão presentes.
O processo de orientação dos cuidadores mais utilizado foi a orientação
verbal. Para tal, os profissionais fizeram orientação individual. Palestras e
orientações dinâmicas, em que o orientando visualiza o cuidado a ser gerado e
questiona caso encontre alguma dúvida, foi observada somente em uma das
falas dos entrevistados, em que o paciente estava internado em um hospital
especializado em reabilitação. César e Santos (2005) acrescentam que para a
utilização de qualquer método pedagógico devem-se pressupor os saberes que
o indivíduo traz consigo, sendo esses, conhecimentos populares, científicos ou
crenças, que darão ao educador, condições de direcionar ações individuais ou
coletivas.
De acordo com Chagas e Monteiro (2004) e Bocchi (2004), a escolaridade
pode influenciar no entendimento do cuidador perante os cuidados a serem
reproduzidos. Dessa forma, quando levada em conta, e sendo utilizada para
repassar as orientações de maneira mais facilitada, pode-se melhorar o
cuidado gerado no domicílio. Apesar de não ter sido o objetivo dessa pesquisa,
não foi observado este fato, mesmo porque, dos entrevistados, todos eram
alfabetizados, e tinham capacidade de ler e não necessitavam receber
informações apenas de forma verbal, podendo ser orientados de forma escrita,
através de folderes e encartes, dinamizando assim as orientações para alta e o
tempo do profissional.
Bocchi (2004) acredita que a escolaridade dos cuidadores na maioria das
vezes não é utilizada, mesmo sendo importante para o seu entendimento
mediante as orientações prestadas. Pompeo et al. (2007) afirmam que a
preparação para alta é um feito reconhecidamente de grande relevância para o
cuidado de enfermagem, mas que ainda não é completamente eficiente,
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principalmente a respeito da comunicação entre enfermeiro, paciente e
cuidador.
O envolvimento do cuidador e a provisão de informações sobre a
realização dos cuidados ao paciente com AVE são de grande importância para
a condução das atividades desenvolvidas no domicílio (BRITO; RABINOVICH,
2008). Diante desta questão, foi investigado se as informações recebidas
contribuíram para realização dos cuidados no domicílio, sendo relatadas as
seguintes respostas:
Ah sim! Foi muito bom, principalmente sobre a comida, mesmo dando
os alimentos amassados e bem cozidos ele ainda engasgava,
imagina se eu não soubesse disso, podia até prejudicar a melhora
dele. Foi sim, o pessoal do hospital foi muito legal.(E1)
Nosso Deus, tem. Apesar da gente cuidar de um doente assim. Que a
gente sabe que não recupera muito mais, toda informação é boa, a
gente tem que “ta” sempre bem informado.(E2)
Sim, com certeza, ajudou muito. Antes eu não sabia como fazer nada,
agora as coisas estão mais fáceis[...]. (E4)
Todo valor, porque através dali que eu me libertei que não era pra
fazer para ele, que era pra deixar ele fazer.
Que até então, eu achava que eu que tinha que fazer para ele.
E não é assim não, tem que estimular ele a fazer sozinho.(E7)
As respostas obtidas demonstraram que todos os entrevistados
utilizaram das informações recebidas para a realização do cuidado no
domicílio, deixando transparecer como a orientação ao cuidador pode ser
impactante na realização dos cuidados ao paciente, pois é através dessas
informações que ele gerenciará as atividades no lar. Segundo Brito e
Rabinovich (2008) o apoio de um profissional preparado, melhora o exercício
do cuidado familiar, aumentando o sentimento de satisfação e enriquecendo a
comunicação e as relações sociais e psicológicas ocorridas dentro do domicílio.
Bocchi (2004) afirma que mesmo os cuidadores que recebem apoio dos
serviços de orientação para realização do cuidado, continuam cercados de
incertezas e medos, por isso é salientada em sua pesquisa, a importância de
serviços de saúde comunitários voltados ao suporte após a alta hospitalar,
dando um acompanhamento mais próximo e contínuo.
Durante a coleta de dados, observou-se que, em algumas narrativas,
transparece a presença de apoio comunitário, representado pela unidade
básica de saúde (UBS) inserida na região. Destacando-se nos seguintes
relatos:
Não, não. E agente tem ajuda também das meninas do postinho “né”,
traz as gazes pra fazer o curativo, da os remédios tudo [...]. (E2)
[...] aos poucos nós fomos descobrindo e algumas coisas o pessoal
do posto ajuda, quando eles vêm fazer a consulta aqui em casa.
O pessoal é muito bom, a gente vai lá e pede pra eles vim ver o Pai, e
assim que podem eles aparecem. (E8)
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O apoio dos profissionais no ambiente familiar tem grande valor no
norteamento dos exercícios do cuidar, pois é através desse auxílio que o
cuidador cria estratégias de reorganização para prática das atividades no
domicílio. Brito e Rabinovich (2008) acrescentam ainda que, a saúde do
cuidador vai se deteriorando com a sobrecarga emocional e física causada pela
realização do cuidado, apontando a necessidade de um plano de atenção para
esses indivíduos, podendo ser representado pelo apoio de um profissional
preparado.
Pesquisou-se também com os cuidadores que afirmaram não ter
recebido orientações no momento da alta hospitalar, como adquiriram os
conhecimentos necessários para a condução do cuidado. Os relatos dos
entrevistados demonstram a utilização de algum apoio social:
A gente ia perguntando os médicos quando ele consultava e as
enfermeiras que vinham aqui ver ele. Algumas coisas nós que
inventamos, a bengala mesmo foi eu que achei que era bom e dei
para ele. (E5)
Vendo outras pessoas mesmo. Como elas (...) “né”? Fazendo, tratando o paciente como se ele não tivesse doente, respeitando a debilidade dele, mas tratando como uma pessoa normal. É assim que a
gente faz. (E6)
Esses dados consolidam a necessidade e a importância de uma rede de
apoio para os familiares dos pacientes com AVE, pois é através dela que os
cuidadores poderão obter a ajuda necessária para realizar os cuidados no
domicílio. Estas informações são congruentes com as afirmações de Brito e
Rabinovich (2008) e Bocchi (2004), em que eles afirmam a importância de uma
rede de amparo aos cuidadores dos pacientes acometidos por AVE, com o
objetivo de prepará-los para o enfrentamento que essa doença pode gerar em
seu familiar, produzindo reflexos em toda a família e, principalmente, no
cuidador principal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os indivíduos que adotam a responsabilidade de cuidar não relataram
estar insatisfeitos, mas sim, cansados, pois afirmam que essa atividade é árdua
e limitante. Percebe-se, também, que os cuidadores estão deixando a unidade
hospitalar inseguros, com dificuldade em dar sequência ao tratamento,
relatando que as informações recebidas durante a alta foram pouco
elucidativas em relação às necessidades dos cuidados domiciliares, sendo, na
maioria das vezes, generalizadas. Entretanto, mesmo com a deficiência na
orientação para alta hospitalar, todos os entrevistados que relataram receber
alguma informação, utilizando-se dela para condução do cuidado em domicílio,
revelaram como a orientação ao cuidador pode ser positivamente impactante
na realização dos cuidados com o paciente.
O tempo de convivência que é criado durante a assistência promove
uma oportunidade para que o enfermeiro possa traçar condutas que visem ao
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aumento da autonomia do cuidador, desenvolvendo habilidades e
competências de que estes indivíduos necessitarão. Contudo, pode-se
perceber que a assistência no preparo da alta hospitalar traz mais tranqüilidade
e segurança para o cuidador.
Diante do exposto, ressalta-se que o enfermeiro deve ostentar a sua
postura de educador, mantendo-se como participante ativo e influente na
preparação do paciente para alta, entendendo as necessidades, medos e
expectativas do cuidador, direcionando uma assistência de enfermagem mais
direta e individualizada. Sendo assim, esta pesquisa indica a necessidade de
novos estudos, visando aos relatos de algumas experiências e medidas
adotadas que tenham conseguido resultados satisfatórios, além de novas
práticas educativas e estratégias para amparar, não somente o paciente, mas
sim, todo o seu núcleo familiar.
REFERÊNCIAS
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cuidadores familiares de pessoas com AVC. Rev. Brasileira de Enfermagem,
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