perfil epidemiológico e obstétrico das puérperas com

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Artigo Original
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E OBSTÉTRICO DAS PUÉRPERAS COM
SÍNDROMES HIPERTENSIVAS ESPECÍFICAS DA GRAVIDEZ
Chardsonclesia Maria Correia da Silva Melo 1
José Flávio de Lima Castro 2
Niedja Thaisa Rodrigues Leite 3
Odival Alves da Silva Júnior 4
1
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Centro
Acadêmico de Vitória (CAV). E-mail para contato: [email protected]
2
Enfermeiro, mestre em Hebiatria, especialista em Enfermagem Obstétrica, docente do núcleo
de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Centro Acadêmico de
Vitória (CAV). E-mail para contato: [email protected]
3
Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família (ESF). E-mail para contato:
[email protected]
4
Enfermeiro, coordenador de enfermagem do Hospital da Mirueira. E-mail para contato:
[email protected]
RESUMO
Introdução: Após a confirmação da gravidez, a mulher dar início ao pré-natal, sendo solicitado
diversos exames para avaliar sua saúde e a saúde do concepto. É estabelecido um número
mínimo de 6 consultas de pré-natal, um procedimento comum durante essas consultas é a
verificação da pressão arterial. Um aumento dos níveis pressóricos para igual ou maior que
140/90 mmHg pode levar a mãe a complicações gestacionais. Essa mudança na pressão arterial
poderá desencadear a síndrome hipertensiva específica da gestação (SHEG), que se subdividem
em hipertensão crônica ou gestacional, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, hipertensão arterial crônica
sobreposta por pré-eclâmpsia e síndrome HELLP. Objetivo: verificar o perfil epidemiológico
e obstétrico das puérperas com síndromes hipertensivas específicas da gravidez. Métodos:
estudo descritivo, retrospectivo, transversal e de abordagem quantitativa, tendo como amostra
2
204 puérperas, em uma maternidade de alto risco no município de Caruaru- PE. A coleta de
dados foi realizada através de um questionário estruturado para captação das informações nos
prontuários, no período de Abril a Maio de 2014, no qual se analisou os prontuários com o
diagnóstico das Síndromes Hipertensivas Específicas da Gravidez de Janeiro a Abril de 2013.
Para análise dos dados, utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for Social
Sciences SPSS v. 16.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário do
Vale do Ipojuca, protocolo nº003/2014. Resultados: quanto ao perfil gineco-obstétrico, a
maioria foi primigesta, tiveram a gestação interrompida entre 36 e 42 semanas e 3 dias, não
apresentaram abortos prévios, realizaram parto cesáreo. Em relação às complicações na
gestação anterior, não se verificou complicações, mas quando observado na gestação atual, a
pré-eclâmpsia prevaleceu entre as puérperas. O intervalo de tempo médio de permanência
hospitalar foi menos de 5 dias, no qual grande parte das pacientes receberam alta. Conclusão:
identificou-se que as variáveis clínicas e epidemiológicas das puérperas foram semelhantes aos
achados em outros estudos brasileiros, tendo a pré-eclâmpsia como a síndrome mais prevalente,
necessitando assim de cuidados intensivos. Apesar da grande prevalência da doença, houve
ausência de mortalidade materna possivelmente pela a assistência prestada.
Descritores: Pré-Eclâmpsia; Período pós-parto; Perfil de Saúde.
INTRODUÇÃO
No decorrer da vida a mulher passa por diversas fases, sendo uma delas a concepção, 1
ocorrendo de forma fisiológica o processo da gravidez, sendo que no decorrer das semanas
gestacionais pode ocorrer o aparecimento de alterações patológicas, normalmente no período
final da gestação, que venham a prejudicar tanto a vida da mãe como a do feto, por isso da
necessidade de captação precoce para o início do pré-natal.2
A mulher quando procura o serviço de saúde apresentando sinais e sintomas que
presuma uma possível gravidez, o Sistema Único de Saúde (SUS), disponibiliza através do
Rede Cegonha, um teste rápido de gravidez, que é realizado pelo próprio enfermeiro durante a
consulta, caso confirme a gestação, ocorrerá à captação imediata para dar início ao pré-natal,
sendo solicitado os diversos exames para avaliar a saúde desta mulher e do seu concepto nesse
início de período gestacional.3
É estabelecido um mínimo de seis consultas de pré-natais para as gestantes, contendo
nestas, a verificação da pressão arterial.3 Um aumento dos seus níveis pressóricos para igual ou
3
maior que 140/90 mmHg pode levar a mãe a complicações gestacionais.4 A elevação da pressão
arterial é o aumento da força que o sangue exerce na parede do vaso para que haja passagem
sanguínea, esta mudança na pressão arterial poderá desencadear um processo patológico na
gestação, chamado de síndrome hipertensiva específica da gestação (SHEG), 5 como
consequência a paciente é encaminhada para realização do pré-natal de alto risco, no qual o
médico obstetra será o responsável pela condução de sua assistência pré-natal, devido ao risco
de mortalidade materna e fetal diante do aparecimento da SHEG, 3 sendo um assunto de
destaque na obstetrícia, por ser a maior causa de complicações na gestação. 6
Pode-se destacar as SHEG como emergências obstétricas6 e se subdividem em:7
- Hipertensão Crônica: que é o aumento da pressão arterial antes da 20° semana de gestação. 7
A paciente poderá apresentar hipertensão antes da gestação, fazendo com que haja um risco de
4 vezes maior de apresentar complicações; 5
- Hipertensão Gestacional: o aumento da pressão arterial após a 20° semana de gestação, sem a
presença de proteinúria.8
- Pré-eclâmpsia: diagnosticada após 20 semanas gestacionais, na qual o aumento dos níveis
pressóricos é acompanhado pela presença de proteinúria, essa patologia possui maior destaque,
pois é a de maior prevalência no Brasil, sendo a causadora o maior número de óbitos maternos
e fetais, podendo ainda ser caracterizada como precoce ou tardia e leve ou grave; 7, 9-10
- Eclâmpsia: sua principal característica é ser uma complicação da pré-eclâmpsia e poderá
ocorrer em fases distintas da mulher como o período gravídico, parto e puerpério imediato, na
qual a convulsão tônico-clônica estará presente como sua característica definidora; 11-12
- Hipertensão arterial crônica sobreposta por pré-eclâmpsia: é uma patologia que destaca- se
por apresentar principalmente a presença de proteinúria após a 20° semana de gestação; 8
- Síndrome HELLP: é a forma mais grave da doença, sendo diagnosticada laboratorialmente
pela presença da hemólise, plaquetopenia e alterações nas transaminases, sendo uma
complicação grave da pré-eclâmpsia;7
Apesar de não possuir causas bem estabelecidas, sabe-se que é uma doença sistêmica
que está amplamente ligada a intensas respostas inflamatórias, alterando as citocinas e
quimiocinas e levando a lesão endotelial, ativação do sistema de coagulação e aumento da
resistência vascular. Estas ocorrências podem estar relacionadas à placentação deficiente, pois
a partir do momento em que ocorre a quebra da tolerância materno-placentária é gerada uma
inadequada produção de leucócitos deciduais comprometendo o desenvolvimento normal da
gravidez com a elevação da pressão arterial.13
4
Quanto aos fatores de risco, se percebe que quando presentes aumentam as chances da
aquisição das SHEG, são eles: falta de exercício físico, sobrepeso no período gestacional, uso
de fumo e bebida alcoólica, ingestão inadequada de sódio. 7 Renda familiar desfavorável, cor
afrodescente, extremo de idade, histórico familiar de diabetes mellitus e hipertensão arterial
sistêmica, drogas ilícitas, não realização de pré-natal e partos anteriores.9,11
A identificação dos fatores de risco é muito importante, devido a facilitar a compreensão
da quantidade de riscos que as gestantes estão expostas, pois as SHEG são as maiores causas
de morbimortalidade entre o binômio mãe-feto, muitos estudiosos foram na busca de traçar o
perfil socioeconômico e se observou no estudo realizado em Fortaleza com adolescentes, no
qual 50% das usuárias eram consideradas pardas, 52% multíparas, 100% possuíam baixo nível
socioeconômico e baixa escolaridade, demonstrando não haver diferença significativa nos tipos
de perfil em estudos fora da região nordeste, se comparado ao estudo realizado no Paraná, no
qual a maior parte das mulheres também possuía baixo nível socioeconômico e baixa
escolaridade, demonstrando ser uma patologia mais prevalente nas mulheres menos
esclarecidas, porém ainda não se tem a certeza da etiologia da SHEG, mas caso se desenvolva
é muito importante a realização do tratamento precoce.12,14
O controle da hipertensão arterial na gestação divide-se em não farmacológicos, no qual
é realizada a abolição do consumo de álcool e cigarro, restrição da ingesta de cafeína e sal,
redução das atividades físicas. Já o tratamento farmacológico emergencial, utilizado na UTI
obstétrica, destaca-se as drogas anti-hipertensivas, como a hidralazina e os anticonvulsivantes,
como o sulfato de magnésio. Entretanto, tais medicações oferecem riscos ao feto, pois possuem
efeitos deletérios sobre o fluxo uteroplacentário, exigindo assim uma avaliação rigorosa da
equipe multidisciplinar para sua indicação, já que o objetivo do tratamento é proteger o binômio
(mãe-feto) dos riscos e lesões irreversíveis durante ou após a gestação. 8
Dentro da equipe multidisciplinar se encontra o enfermeiro, que possui papel importante
na assistência dessa paciente, pois será acompanhada por um profissional capacitado e
habilitado, no qual seus cuidados serão baseados na sistematização da assistência de
enfermagem (SAE), buscando a prioridade no cuidado a mulher com SHEG de forma
humanizada e qualificada, minimizando os malefícios da doença. 9
São inúmeros os malefícios que as SHEG acarretam, na mãe pode levar ao descolamento
prematuro das membranas, doença renal, edema pulmonar, crescimento intrauterino restrito,
insuficiência cardíaca congestiva e óbito materno. Já ao feto pode desencadear a prematuridade,
provocar a síndrome do desconforto respiratório, hipóxia, infecção neonatal e em casos mais
graves levar ao óbito fetal.5,15
5
Todas as complicações citadas vão repercutir na necessidade de uma assistência
especializada ao binômio, através do internamento nas unidades de terapia intensiva (UTI). Esta
necessidade clínica da UTI obstétrica esta relatada no estudo realizado na Índia, o qual
demonstrou que nos países em desenvolvimento a indicação para as UTI obstétricas ainda não
é um consenso, pois se observou que estavam associadas a numerosos fatores, como os fatores
econômicos (baixa escolaridade, baixa renda, escassez de transporte), culturais (superstições) e
de saúde (baixa adesão ao pré-natal, profissionais imperitos, déficit de conhecimento acerca dos
riscos da gestação), levando a crescente taxa de morbimortalidade perinatal. 16
Entretanto, para evitar resultados desfavoráveis, é importante o diagnóstico precoce
ainda no pré-natal, visando um melhor planejamento e cuidado individualizado, levando assim,
a tomada de decisões frente às situações de alto risco, minimizando as complicações sistêmicas.
Para a prevenção e o rastreio da SHEG, é importante um acompanhamento minucioso durante
a gestação, com a equipe de saúde, no entanto é notório o desconhecimento da população a
respeito da patologia e as complicações que a mesma pode acarretar. 5,12
A realização deste estudo se justifica, pois as síndromes hipertensivas na gestação
constituem a complicação mais comum durante o período gravídico-puerperal, sendo a
principal causa de morte materna e perinatal, sendo um grave problema de saúde pública,
portanto a identificação do perfil epidemiológico e obstétrico subsidiará os profissionais prénatalistas a entenderem o que possivelmente podem estar levando estas gestantes a necessitarem
de um internamento na gestação, durante o parto e puerpério.
OBJETIVO
Verificar o perfil epidemiológico e obstétrico das puérperas com síndromes
hipertensivas específicas da gravidez.
MÉTODOS
O estudo foi do tipo descritivo, retrospectivo, transversal e de abordagem quantitativa,
realizado em uma maternidade de alto risco, referência do município de Caruaru em
Pernambuco, no período de Abril a Maio de 2014.
6
A população-alvo abrangeu todos os prontuários no período de Janeiro a Abril de 2013,
os quais apresentaram como critério de inclusão, serem pacientes que foram admitidas com
diagnóstico de Síndromes Hipertensivas Específicas da Gravidez (SHEG) e que os prontuários
estivessem completos e que possuíssem letras legíveis, totalizando 2.200 prontuários.
O objetivo da seleção da amostra foi dar representatividade à população alvo. A
amostra foi aleatória simples, na qual se estipulou a captação de 10% do quantitativo da
amostra, devido à grande prevalência de mulheres com a patologia estudada, não houve a
necessidade de captação de maior número de prontuário, totalizando 220, desses foram
excluídos 16 prontuários por não possuir letras legíveis e/ou incompletos, totalizando a amostra
final com 204 prontuários.
Os pesquisadores passaram antes da coleta de dados por uma calibração, e após foi
iniciada a coleta com o questionário aplicado de forma manual, contendo perguntas fechadas e
abertas com informações sobre questões sócio- demográficas, relacionado ao perfil
epidemiológico e obstétrico das puérperas com SHEG.
Após a coleta, os dados foram processados no programa Microsoft Excel, através de
digitação dupla e analisados utilizando o programa Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), versão 16 (SPSS Inc., Chicago, IL, Estados Unidos da América, Release 16.0.2, 2008),
sendo empregada a estatística descritiva para as variáveis categóricas, a partir da distribuição
de frequência (relativa e absoluta).
Todos os procedimentos desta pesquisa foram pautados segundo a resolução n. 466/12
do Conselho Nacional da Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário do Vale do Ipojuca- UNIFAVIP/DeVry com o número do protocolo:
0003/2014.
RESULTADOS
A amostra foi composta de 204 prontuários. Os dados referentes à caracterização sóciodemográficas, podem ser vistos na tabela 1.
Tabela 1. Perfil sócio-demográficas das puérperas. Caruaru-PE, 2014.
Variáveis
N
%
7
Faixa etária (anos)
≤ 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
Total
Cor
Parda
Branca
Negra
Ignorado
Total
Estado Civil
Solteira
Casada
União Estável
Divorciada
Ignorado
Total
Procedência
Zona Urbana
Zona Rural
Total
Grau de Instrução
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior Incompleto
Ignorado
Total
Ocupação
Agricultora
Do Lar
Estudante
Costureira
Doméstica
Outras
Ignoradas
Total
35
95
65
9
204
17,1
46,6
31,9
4,4
100,0
85
53
10
56
204
41,7
26,0
4,9
27,4
100,0
120
64
18
1
1
204
58,8
31,4
8,8
0,5
0,5
100,0
134
70
204
65,7
34,3
100,0
47
30
7
120
204
23,0
14,7
3,5
58,8
100,0
94
35
21
16
10
26
2
204
46,1
17,2
10,3
7,8
4,9
12,7
1,0
100,0
O perfil gineco-obstétrico das puérperas está disposto na tabela 2. É válido enfatizar que
a idade gestacional na interrupção da gravidez foi entre 36 e 42 semanas e 3 dias (90,7%), na
qual grande parte dos fetos nasceu pré-termo, sendo um risco de morte materno-fetal.
8
Tabela 2. Perfil gineco-obstétrico das puérperas. Caruaru-PE, 2014.
Variáveis
Idade Gestacional na Interrupção
32s - 35s6d
36s - 42s3d
Ignorado
Total
Último Parto (anos)
Primigesta
≤2
3a5
≥6
Ignorado
Total
Número de Gestações
1a3
4a7
≥8
Total
Número de Partos
1a3
4a7
Total
Número de Abortos
0
1
2
Total
Via do Parto
Parto Vaginal
Parto Cesariana
Ignorado
Total
N
%
14
185
5
204
6,9
90,7
2,4
100,0
96
2
13
7
86
204
47,0
1,0
6,4
3,4
42,2
100,0
176
27
1
204
86,3
13,2
0,5
100,0
182
22
204
89,2
10,8
100,0
174
26
4
204
85,3
12,7
2,0
100,0
44
159
1
204
21,6
77,9
0,5
100,0
O gráfico 1 mostra a distribuição das puérperas segundo as complicações nas gestações
anteriores. Nesse gráfico se verifica que mesmo as puérperas tendo apresentado as SHEG,
grande parte não apresentou outras complicações nas gestações anteriores.
9
Série1; Gastrite;
0,5
Série1; Diabetes
Mellitus; 0,5
Série1; ITU; 3,4
Série1;
Hipertensão
Arterial ; 7,8
Série1; Sem
complicações;
87,8
Gráfico 1. Percentual de puérperas segundo complicações na gestação anterior. Caruaru-PE,
2014.
A distribuição das puérperas segundo as complicações na gestação atual está disposta
na tabela 3.
Tabela 3. Distribuição das puérperas segundo complicações na gestação atual. Caruaru-PE,
2014.
Complicações na Gestação Atual
Pré-eclâmpsia
Sim
Não
Total
Hipertensão arterial
Sim
Não
Total
Doença hipertensiva especifica da gestação
Sim
Não
Total
Gestação pré-termo
Sim
Não
Total
Sofrimento fetal
N
%
109
95
204
53,4
46,6
100,0
64
140
204
31,4
68,6
100,0
20
184
204
9,8
90,2
100,0
7
197
204
3,4
96,6
100,0
10
Sim
Não
Total
Rompimento prematuro da membrana
Sim
Não
Total
Iterativa
Sim
Não
Total
Amniorrexe
Sim
Não
Total
Distócia
Sim
Não
Total
Diabetes mellitus
Sim
Não
Total
Macrossomia fetal
Sim
Não
Total
6
198
204
2,9
97,1
100,0
4
200
204
2,0
98,0
100,0
4
200
204
2,0
98,0
100,0
3
201
204
1,5
98,5
100,0
3
201
204
1,5
98,5
100,0
2
202
204
1,0
99,0
100,0
2
202
204
1,0
99,0
100,0
Na tabela 4 está a distribuição das puérperas segundo tempo de internação na instituição
hospitalar e o desfecho do caso.
Tabela 4. Distribuição das puérperas segundo tempo de internação no HJN e desfecho do caso.
Caruaru-PE, 2014.
Variáveis
Tempo de internamento no HJN (dias)
<5
5 a 10
11 a 15
≥ 16
Total
Desfecho do Caso
Alta
N
%
176
24
3
1
204
86,3
11,7
1,5
0,5
100,0
200
98,0
11
Transferência
Ignorado
Total
2
2
204
1,0
1,0
100,0
DISCUSSÃO
Os resultados pode demonstrar que a faixa etária mais prevalente ficou entre 20 a 29
anos, sendo semelhante ao estudo realizado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o qual
encontrou uma faixa etária de 20 a 30 anos, tal achado vem corroborar com o do presente
estudo.17 Outros autores complementam referindo que o fator idade possivelmente determinará
problemas durante o período gravídico, principalmente se a gestante é muito jovem com menos
de 15 anos ou de idade avançada com mais de 35 anos, pois as gestações hoje estão ocorrendo
nesses dois extremos de idade no qual o risco aumenta para pré-eclâmpsia.18
Quanto a cor, verificou-se que a parda teve a maior incidência, indo de encontro ao
estudo realizado em Fortaleza no Ceará, o qual demonstrou que a cor parda foi a mais prevalente
com 61,5%.19 Outro estudo refere que existe maior probabilidade da pré-eclâmpsia em mulheres
afrodescendentes.20
No que concerne ao estado civil, foi verificado que a maioria das mulheres eram
solteiras, na qual tal característica também foi encontrada com prevalência alta no estudo
realizado em Fortaleza, no Ceará, o qual verificou que possivelmente isto ocorre, devido as
mulheres estarem em uma faixa etária muito jovem, entre 14 anos, não apresentando
experiência de vida, o que desencadeia a aquisição da gravidez sem planejamento, sendo estas
características relevantes para o abandono do parceiro na descoberta do estado gestacional.21
Quanto ao local de procedência verificou-se que grande parte das estudadas residiam na
zona urbana corroborando com os estudos realizados em Porto Alegre e no Ceará, 17,19 os quais
também encontraram maiores prevalências nas zonas urbanas, esse dado se justifica
possivelmente, pelo processo de migração das mulheres de áreas mais distantes para áreas mais
próximas na busca de um atendimento no serviço de referência de alto risco.
Um fator de risco para gravidez é o nível de escolaridade baixo, relatando que a pouca
ou a total falta de informação impossibilita uma procura aos serviços de saúde deixando de
obter um diagnóstico precoce e tratamento eficaz. 22 Esse dado vem sedimentar os valores
encontrados em outros estudos realizados nos estados brasileiros, pois verificou-se que no
estudo realizado em Patos, na Paraíba demonstrou-se que as mulheres relataram possuir um
12
grau de escolaridade baixo com prevalência de 77,5%. 23 Já o estudo realizado em Fortaleza, no
Ceará, mostra que a baixa escolaridade vem sendo relatada nos estudos como um fator de risco
para o desenvolvimento das SHEG, devido o desconhecimento e a desinformação com os
assuntos ligados a sua saúde, favorecendo um déficit do autocuidado. 9
No tocante a profissão das pesquisadas, verifica-se que a maior prevalência está
relacionada às mulheres agricultoras e em segundo lugar estão às mulheres que não trabalham
fora de casa, tal achado também foi encontrado no estudo realizado na UTI obstétrica da
Maternidade pública de Patos- PB que demonstrou que as maiores prevalências também foram
de mulheres do lar e agricultoras, corroborando com o achado do presente estudo. 23
A prematuridade foi a variável mais prevalente no presente estudo. Esse achado é
preocupante devido ao prognóstico negativo para o binômio mãe-feto. O nascimento de recém
nascidos prematuros também foram prevalentes em dois estudos realizados no Brasil, o
primeiro foi realizado no Rio de Janeiro, o qual demonstrou que a prematuridade apresentou
uma prevalência de 16,7% de recém- nascidos24 e o segundo realizado em Natal, no Rio Grande
do Norte, o qual mostrou a correlação entre o aumento dos partos pré-termos com o aumento
dos internamentos nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), esses resultados vão
refletir no grau de ansiedade e medo da genitora, devido ao risco de morte do seu filho, podendo
desencadear um déficit do autocuidado no período puerperal, potencializando o risco de
complicações. 15
A primípara possui uma probabilidade de 6 a 8 vezes de desenvolver pré-eclâmpsia e
eclâmpsia, quando comparada com as multíparas, uma vez que a primeira gestação sendo
norteada sem problemas hipertensivos, acaba servindo como um fator protetor quando
comparado com as próximas gestações, ocorrendo assim, a prevenção da mulher de desenvolver
a pré-eclâmpsia.20
Estudo realizado em uma UTI obstétrica na cidade do Recife, mostra que em 2006, as
pacientes encontravam- se entre dois ou mais partos, porém no ano de 2008 a realidade inverteuse na mesma UTI, houve uma mudança na taxa de paridade, pois a mais prevalente ficou com
as primíparas, destacando-se que, possivelmente, as mulheres no Brasil estão diminuindo a taxa
de natalidade.25
No que concerne ao número de abortos, observou-se no presente estudo uma prevalência
considerável, tal achado também foi encontrado no estudo realizado em Fortaleza no Ceará,
com a prevalência semelhante de abortamentos em pacientes hipertensas. 21
No tocante a via de parto, observou-se um alto índice de cesariana no presente estudo,
sendo este achado preocupante quando comparado com a prevalência aceitável pela
13
Organização Mundial de Saúde (OMS) de 15% (OMS, 1996)26, tal achado está em contraponto
com as discussões e evidências científicas publicadas nos últimos anos. 26-27
No Brasil ainda não está claro a real indicação do parto cesáreo, sendo estas mulheres,
muitas vezes, cirurgiadas sem uma indicação adequada, levando-as a riscos cirúrgicos
desnecessários, sendo assim um fator de risco para o binômio quando não indicado
corretamente.15 Alguns autores completam afirmando que quando a cesariana é indicada
corretamente, leva a um prognóstico positivo para os neonatos em grande maioria prematuros. 28
O presente estudo relata um alto índice de puérperas que não apresentaram complicações
nas gestações prévias, porém o estudo, realizado em Fortaleza, contradiz com os achados nesse
estudo, pois as pacientes multigestas apresentaram em seu histórico pessoal, doenças como a
hipertensão crônica, nefropatia e diabetes, sendo assim as patologias citadas anteriormente,
foram fatores importantes que possivelmente, favoreceram o aparecimento dos problemas
hipertensivos durante o período gravídico.18
O tempo médio para alta hospitalar variou entre menor de 5 a 10 dias e essa variação
pode estar relacionada a heterogeneidade das usuárias, pois pacientes com grandes alterações
tensionais só recebem alta após o controle hemodinâmico a níveis seguros e controlados,
normalmente com a ajuda dos anti-hipertensivos, levando a longo período de internamento. Tal
achado se explica, possivelmente, pois a maior parte das puérperas que desenvolveram a préeclâmpsia e as formas agravadas da doença hipertensiva, ficaram internadas por um período
semelhante ao achado no presente estudo, devido a necessidade de uma vigilância intensa para
o controle e estabilidade hemodinâmico, visando prevenir possíveis danos. 27
Em relação ao desfecho dos casos, obtiveram-se resultados favoráveis, pois não foi
observado durante o período de tempo estudado, óbitos maternos, entrando em conflito com
literaturas brasileiras, é importante salientar que no Paraná possui o pior índice de razão de
mortalidade materna (RMM), destacando problemas hipertensivos como a maior causa de
morte obstétrica,29 já em outro estudo no estudo não se observou morte materna no período
estudado.18
Tal acontecimento se deve possivelmente aos cuidados intensivos de qualidade
prestados as mesmas, considerando que as pacientes a partir do momento da admissão
possivelmente receberam cuidados intensivos não medicamentosos e medicamentosos como
drogas anti-hipertensivas e profilaxia anticonvulsivante com o Sulfato de magnésio até a
estabilidade do quadro, tendo esses fatores contribuídos para ausência de morte no período
estudado.27
14
CONCLUSÃO
O perfil epidemiológico e obstétrico das puérperas com SHEG internadas foi traçado,
concluindo-se que a maioria delas apresentava idade entre 20 e 29 anos, eram da raça parda,
solteiras, eram procedentes da zona urbana, possuíam o ensino fundamental e exerciam a
profissão de agricultoras, seguida da atividade de dona de casa. Verificou-se que a maioria
evoluiu para partos entre 36 semanas e 42 semanas e 3 dias de gestação, destacando-se a
prevalência para os partos cesarianos.
Quanto ao número de gestações observou-se que as entrevistadas estavam entre a
primeira e terceira gestação, sendo a maioria primigesta e apesar de grande parte delas não
apresentar história de abortamento, ainda sim verificou- se uma prevalência que precisa ser
evidenciado de um a dois abortos prévios, concluindo-se que tal fenômeno pode constituir como
possível fator de risco para a existência da patologia.
Em relação às complicações nas gestações anteriores pôde-se observar que não houve
complicações anteriores prevalentes. Dentre as principais patologias na gestação atual destacase a Pré-eclâmpsia, sendo também a principal forma da doença.
Quanto ao período de internação, os números demonstraram que eles estavam dentro do
que se espera para as pacientes com complicações hipertensivas, visto que a maioria das
usuárias por desenvolveram alguma forma agravada da doença necessitaram de maior tempo
em unidade hospitalar para estabilização dos níveis tensionais e prevenção de danos
relacionados a patologia.
Quanto ao desfecho dos casos, observou- se que mesmo com uma grande prevalência
das SHEG, o resultado do presente estudo se mostrou positivo, pois não foi verificado óbito
materno, nem neonatal, sendo possível concluir que a assistência hospitalar prestada foi
possivelmente efetiva na instituição estudada.
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