PERFIL DO USO DE MEDICAMENTOS DURANTE A GESTAÇÃO DE PUÉRPERAS INTERNADAS NO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, TUBARÃO, SC Rosiane de Bona Schraiber1; Samuel da Silva Lunardi2; Dra. Dayani Galato (orientadora)3 INTRODUÇÃO O uso de medicamentos durante a gestação é uma prática frequente1,2 sejam eles determinados pela necessidade de amenizar os sintomas comuns da gravidez, no tratamento de doenças crônicas ou intercorrências obstétricas, assim como na profilaxia de anemia e malformação do tubo neural, utilizando-se nutrientes especiais (ferro e folatos)2. No entanto, apesar dos benefícios provenientes da farmacoterapia, essa prática deve ser realizada com muita cautela, uma vez que pode causar riscos ao concepto3. Com o objetivo de minimizar os efeitos indesejáveis do medicamento na gestação e auxiliar o prescritor na melhor escolha da terapia medicamentosa, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) classificou os medicamentos em cinco categorias, conforme o seu risco/benefício na gravidez4. As categorias são A, B, C, D e X, sendo que os medicamentos pertencentes à classe D e X devem ser evitados durante o período gestacional devido o seu potencial risco teratogênico3. Considerando a insegurança inerente à utilização de alguns medicamentos durante a gestação, estudos realizados mostram que um grande percentual de mulheres estão expostas à fármacos prejudiciais ao feto1, 5, 6, 7. Tendo em vista o risco em relação a essa exposição, a promoção do uso racional de medicamentos torna-se imprescindível na tentativa de evitar os efeitos indesejáveis de cada fármaco2. Palavras-chave: Uso de medicamentos. Gestação. Teratogenicidade. OBJETIVO O presente trabalho teve por objetivo identificar o perfil de uso de medicamentos utilizados durante a gestação de puérperas internadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição da cidade de Tubarão, Santa Catarina. MÉTODOS _____________________ 1 Acadêmica de Farmácia. Bolsista do PIBIC. E-mail: [email protected] Acadêmico de medicina. Colaborador no projeto. E-mail: [email protected] 3 Professora vinculada ao curso de Farmácia e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul. Núcleo de Pesquisa em Atenção Farmacêutica e Estudos de Utilização de Medicamentos (NAFEUM). E-mail: [email protected] 2 A população deste estudo foi representada por 244 mulheres que deram a luz no Hospital Nossa Senhora da Conceição, Tubarão, no período de outubro de 2011 a março de 2012. Participaram as puérperas que estavam internadas no Hospital no momento da coleta de dados e que aceitaram participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Mulheres menores de dezoito anos e aquelas cujos filhos foram a óbito antes da coleta de dados foram excluídas do estudo. Os dados foram coletados através de entrevistas com as puérperas. Esta se constituiu de questionário estruturado, previamente testado – piloto, o qual nos possibilitou obter informações a respeito do seu perfil (idade, escolaridade, estado conjugal, renda familiar, numero de filhos), das condições de saúde, bem como os medicamentos utilizados durante a gestação e no momento do diagnóstico da mesma (número de medicamentos utilizados, fonte de indicação, motivo pelo uso, período gestacional). Todos os fármacos relatados foram classificados adotando-se o critério de risco para a gestação da Food and Drug Administration – FDA e distribuídos segundo a Classificação Anatomic Therapeutic Chemical – ATC. Os dados foram armazenados em um banco de dados no programa EpiData e analisados com o auxílio do programa SPSS 19.0. As variáveis numéricas foram apresentadas em medidas de tendência central e de dispersão, as variáveis nominais em números absolutos e proporções. Para identificar os determinantes para o uso de medicamentos prejudiciais ao feto (desfecho) e as demais variáveis (exposição) foi adotado o teste de qui-quadrado, adotando-se como significante p<0,05. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina sob protocolo nº 11.230.4.01.III. RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente estudo compreendeu puérperas predominantemente jovens (26,6 ± 6,2), em união estável (92,6%) e com alguma fonte de renda (69,3%). O grau de escolaridade referido variou entre zero e 17 anos de estudo concluído (9,1 ± 3,0) e 54,9% das entrevistadas afirmaram não ter planejado a gestação. Quando indagadas a respeito do uso de medicamentos, 98,4% das entrevistadas relataram ter utilizado pelo menos uma substância em algum momento da gestação e 45,5% delas afirmaram estar fazendo uso de algum fármaco no momento do diagnóstico da gravidez. Em relação às classes dos medicamentos utilizados durante a gestação, segundo a ATC, as mais citadas foram: B (33,7%); A (28,0%), N (21,4%) e J (7,5%) e para os medicamentos utilizados no momento do diagnósticos prevaleceram as classes N (29,7%), G (20,3%), A (12,5%), J (11,5%) e B (8,9%). Quando ao risco dos medicamentos estabelecidos pela Food and Drug Administration, observou-se que 79,7% pertenciam às classes A ou B, 15,0% a classe C e 1,3% a classe D e X para os medicamentos utilizados durante o período do prénatal. Já no momento do diagnóstico, os medicamentos referidos pertenciam à classe A ou B (33,7%), 29,4% a classe C e 28,9% da classe D e X. Esse dado evidencia a exposição do feto aos medicamentos prejudiciais. O não planejamento ou desconhecimento da gravidez pode explicar a maior prevalência desses medicamentos no momento do diagnóstico6. No presente estudo, o perfil do uso de medicamento D e X teve relação estatisticamente significativa com o não planejamento da gravidez (p< 0,001). As demais variáveis não demonstraram associação significativa com o uso de medicamentos prejudiciais ao feto. Observou-se que 27,0% das puérperas foram expostas ao uso de chás durante a gravidez. CONCLUSÕES Gestantes estão, frequentemente, expostas ao uso de medicamentos, em especial para o manejo de sintomas comuns da gravidez. As puérperas investigadas utilizaram medicamento de risco (D e X), sendo a maior proporção destes produtos em uso no momento do diagnóstico da gravidez. As mulheres em idade fértil devem receber atenção especial por parte dos profissionais da saúde, pois estes devem estar atentos à uma possível gravidez não planejada, evitando, dessa forma, o uso indevido de medicamentos, bem como de álcool. REFERÊNCIAS 1. Daw JR, Hanley GE, Devon LG, Steven GM. Prescription drug use during pregnancy in developed countries: a systematic review. Pharmacoepidemiology and Drug Safety, v. 20, n. 9, p. 895-902, 2011. 2. Brum LFS, Pereira P, Felicetti LL, Silveira RD. Utilização de medicamentos por gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde no município de Santa Rosa (RS, Brasil). Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 5, p. 2435-2442, 2011. 3. Crespin S et al. Drug Prescribing Before and During Pregnancy in South West France A Retrolective Study. Drug Saf. v. 34, n. 7, p. 595-604, 2011. 4. Food Drug and Administration. FDA Pregnancy Categories. Disponível em: http://depts.washington.edu/druginfo/Formulary/Pregnancy.pdf. Acesso em: 21 de julho de 2011. 5. Marín GH, Cañas M, Homar C, Corina Aimetta C, Orchuela J. Uso de fármacos durante el período de gestación en embarazadas de Buenos Aires, Argentina. Revista de Salud Pública, v. 12, n. 5, p. 722-731, 2010. 6. Cleary BJ, Butt H, Strawbridge JD M, Gallagher PJ, Fahey T, Murphy DJ. Medication use in early pregnancy-prevalence and determinants of use in a prospective cohort of women. Pharmacoepidemiology and drug safety, v. 19, n. 4, p. 408-417, 2010. 7. Geib LTC, Filho EFV, Geib D, Mesquita DI, Nunes ML. Prevalência e determinantes maternos do consumo de medicamentos na gestação por classe de risco em mães de nascidos vivos. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, p. 2351-2362, 2007. FOMENTO: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).