DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO, RELAÇÕES DE GÊNERO E IMPLICAÇÕES AO PROCESSO DE SUBALTERNIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO Janaíra de Sousa Ferreira1 Universidade Estadual da Paraíba [email protected] RESUMO O presente artigo tem por objetivo discutir alguns aspectos relacionados à divisão sexual do trabalho entendida por uma definição e adequação às capacidades físicas e aos níveis inatos de produtividade, de acordo com o sexo das pessoas que as realizam, colocando as mulheres em alguns determinados empregos e estabelecendo seus salários abaixo do nível básico de subsistência, bem como, debater a relação com o processo de subalternização do Serviço Social, haja vista tratar-se de uma profissão predominantemente feminina em sua raiz, por apresentar características histórica e culturalmente atribuídas ao âmbito feminino ao evidenciar tarefas educativas, caridosas, íntegras, de devotamento e sentimento de amor ao próximo, tidas como vocação natural da mulher. Para tanto, analisarei a trajetória sócio-histórica do Serviço Social brasileiro, com base nas problematizações apresentadas pela epistemologia feminista no que concerne as relações de gênero no mundo do trabalho. Palavras-chave: gênero, divisão sexual do trabalho, Serviço Social. INTRODUÇÃO Proponho iniciar a escrita deste artigo destacando a estreita relação entre gênero, divisão sexual do trabalho e o Serviço Social, que se caracterizou por uma explícita marca feminina na profissão. Essa predominância que a acompanha historicamente é fruto das relações sociais apropriadas através da sociedade capitalista patriarcal. 1 Graduanda do 4º ano do curso de Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba. 2 Entendermos criticamente as implicações que muitas vezes se expressam através dessa divisão sexual do trabalho - o que agrega a condição de subalternidade para as mulheres e todas as categorias profissionais do “universo feminino” -, é imprescindível para se compreender a história das mulheres que sofrem as disparidades concernentes deste modelo de sociedade. Quando categorizamos o Serviço Social como uma profissão predominantemente feminina, destaco que estamos nos referindo a um sujeito que sofre, resiste e luta contra as mais variadas formas de opressão que historicamente lhe são direcionadas. A expectativa é promover debates para discussão sobre a temática, em especial para o Serviço Social, tendo em vista a intensa contribuição das mulheres para com a profissão, que pretende, em seu caráter interventivo, romper com a herança do patriarcado. Seguindo este viés, busco neste artigo, por meio de sua estruturação e pesquisa bibliográfica: situar a definição do sistema patriarcado; pontuar a relação entre gênero e Serviço Social; discutir aspectos sobre a divisão sexual do trabalho; e, por fim, analisar a trajetória sócio-histórica do Serviço Social, tomando por base as problematizações apresentadas pela epistemologia feminina acerca do assunto temático. O sistema patriarcado O termo patriarcado tem origem na palavra grega pater e o significado refere-se a um território governado por um patriarca. A primeira menção ao termo foi utilizada pelos hebreus para simbolizar a supremacia do líder, homem, nas relações sociais da sociedade judaica. Mas o território grego helenístico2 também usava o termo ao descrever a mulher como objeto de satisfação masculina, portanto, passível de qualquer dominação e subjugação de inferioridade. O modelo de sistema patriarcado é um sistema social em que o homem é a figura principal da organização, o que lhe confere direitos e autoridades sobre as mulheres, os filhos, os bens materiais e culturais. 2 O grego helenístico foi um período considerado como marco entre o império grego e o surgimento da civilização romana. Este período sinaliza a ascensão da ciência e do conhecimento e a cultura originalmente grega se expande e domina o Egito, a Síria e a Macedônia. 3 A ideologia patriarcal tem nascimento na era primitiva, quando foi descoberto pelo homem que o seu sêmen poderia gerar a vida, posicionando a mulher como um mero instrumento de depósito para desenvolver o nascimento de uma criança. Desde essa descoberta a submissão da mulher se tornou cada vez mais forte. Ao homem foi associado o símbolo do poder, em especial ao seu falo (pênis). A partir disso, a veneração do órgão sexual masculino tomou dimensão universal. Dentro desta perspectiva, a representação sexual símbolo é atribuída ao deus grego Priapo3, exibindo seu avantajado e cobiçado órgão. Na Antiguidade, o pater famílias (algo como pai da família) também exercia poderes sobre a vida e morte do cônjuge, seus descendentes e seus escravos. Vem desta época o poder da linhagem masculina do: Pai, Patrão, Pastor, Patrono unidos em um espaço denominado de Pátria (terra dos pais) e não Mátria (terra das Mães) (ALVES, 2011). Nesse sistema a autonomia feminina é praticamente nula, pois quando casadas, as mulheres seguiam os maridos e passaram a ter obrigações perante ele, rompendo os seus laços com a família. A segregação cada vez maior culmina no controle igualmente maior acerca da vida da mulher e dos filhos. A própria religião cristã teve um importante papel na reprodução desse sistema. Inúmeras passagens bíblicas evidenciam a submissão da mulher diante do homem. Como referência inicial, temos o mito de Adão e Eva. Adão, o homem, foi feito por Deus de acordo com sua imagem e semelhança. Eva, a mulher, foi feita a partir do homem. Fica evidente aqui que a mulher não é proveniente do divino. Sob esta lógica, justifica-se a dominação do homem/marido sobre a mulher, uma vez que a mesma só pôde existir através do próprio homem. Na perspectiva do patriarcado, todas as relações humanas são hierarquizadas. O patriarca, o homem, é o representante máximo de autoridade. A economia era baseada numa rígida e fixa divisão sexual do trabalho: as mulheres eram confinadas aos padrões domésticos e os homens dominavam o mundo público. As raízes desse modelo estão na Grécia Antiga e permaneceu inquestionável durante muitos séculos. Somente com a Revolução Francesa4 que, ao trazer em seu 3 Priapo era o deus grego da fertilidade, filho de Afrodite e Dionísio. Sua imagem é exibida como um homem idoso, mostrando um grande e ereto órgão sexual masculino. 4 A Revolução Francesa foi um importante marco na História Moderna. Essa revolução significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza. Isso resultou na maior autonomia para o povo e respeito aos seus direitos sociais. 4 movimento os princípios de luta e ideais de liberdade e igualdade, possibilitou questionamentos e críticas diante desse sistema de sociedade. Séculos de sua hegemonia tornaram profundas as raízes do patriarcado. Na atualidade, apesar dos progressos culturais, políticos e econômicos que permitam avançar para uma sociedade justa e igualitária - em que o sexo não seja determinante - o sistema patriarcal ainda se manifesta e encontra-se presente no mundo, mesmo que através de outras nomenclaturas. Relação entre gênero e Serviço Social Realizar a análise existente entre gênero e o Serviço Social é importante, pois, ela se constitui em uma das suas dimensões mais basilares. De início, o termo gênero foi criado socialmente para fazer compreender os papéis dos homens e das mulheres na cultura, na sociedade e na relação humana. Embora os conceitos de gênero e sexo sejam usados como sinônimos, nas Ciências Sociais e na Psicologia, gênero refere-se às diferenças sociais e enfatizam a distinção entre a estruturação biológica determinante do sexo e todas as construções sociais que delimitam as relações entre gêneros. Os estudos de gênero são caracterizados como um campo multidisciplinar de pesquisa acadêmica, com o objetivo de compreender as relações de gênero - masculino e feminino - e suas implicações na sociedade. Este campo de estudo teve seu início nos EUA como resultado dos estudos feministas e pós-estruturalistas dos anos de 1960, com influência de Judith Butler e Michael Foucault. Após a década de 1980, os estudos de gênero passaram a contemplar elementos além do estudo da mulher, como também a identidade LGBT. O estudo de gênero no Brasil é iniciado após a década de 1990, por intermédio de iniciativas nas áreas de História e Sociologia. Neste período, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) cria o Grupo de Estudos de Gênero Pagu, sob a liderança de Margareth Rago, Adriana Piscitelli, Elisabeth Lobo e Mariza Corrêa. O grupo foi responsável pelo lançamento do periódico chamado Cadernos Pagu, considerado um referencial da área até a atualidade. Inicio a escrita acerca da relação de gênero e Serviço Social com a definição bem assinalada por Mirla Cisne, quando a mesma afirma que A perspectiva de análise de gênero possibilita perceber que a subalternidade conferida às mulheres é resultado de uma construção social, portanto, histórica, e não de uma essência natural feminina. Dessa forma, não é por ser 5 exercida em sua maioria por mulheres que a profissão carrega um estatuto de subalternidade, mas pelas construções sócio-históricas de uma sociedade patriarcal em torno do feminino (CISNE, 2012, p. 22). Como propôs Cisne, perceber as especificidades da marca feminina é fundamental tanto para subsidiar produções literárias acerca da temática - considerada escassa -, quanto para fortalecer o enfrentamento ao desprestígio social, discrepância salarial, submissão empregatícia, entre outros, características bem delineadas para as profissões tidas como femininas. Esse processo contribui para a renovação do Serviço Social. Desde a sua origem, a predominância do feminino no Serviço Social brasileiro está ligada às raízes culturais. Como destaca Iamamoto e Carvalho, temos como exemplo as primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil5, que aceitavam seus candidatos(as) mediante a inserção em alguns critérios como: A Assistente Social deveria, assim: ser uma pessoa da mais íntegra formação moral, que a um sólido preparo técnico alie o desinteresse pessoal, uma grande capacidade de devotamento e sentimento de amor ao próximo: deve ser realmente solicitado pela situação penosa de seus irmãos, pelas injustiças sociais, pela ignorância, pela miséria, e a esta solicitação deve, corresponder às qualidades pessoais de inteligência e vontade. Deve ser dotada de outras tantas qualidades inatas, cuja enumeração é bastante longa: devotamento, critério, senso prático, desprendimento, modéstia, simplificando, comunicatividade, bom humor, calma, sociabilidade, trato fácil e espontâneo, saber conquistar a simpatia, saber influenciar e convencer, etc. Será, portanto, indispensável para o recrutamento dos futuros assistentes sociais, critérios bem definidos (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 221). Com a leitura da citação acima é possível vislumbrar o rigor altamente conservador que exigiam na época a sociedade e as Escolas de Serviço Social. Sob esses “moldes”, desde sua gênese o Serviço Social terminou configurandose como espaços sócios ocupacionais destinados às mulheres que se encaixavam nas normas exigidas ao que compete o cotidiano de um(a) Assistente Social. E afinal, o que é divisão sexual do trabalho? Essa definição foi inicialmente utilizada por etnólogos para determinar/diferenciar as tarefas imputadas para o homem e para a mulher nas sociedades em que eles estavam estudando. Ela é a diferenciação social proveniente das relações sociais do sexo. Porém, foram as antropólogas feministas que atribuíram ao 5 A Primeira Escola de Serviço Social do Brasil foi criada em 1936, em São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 6 termo uma nova definição. A divisão social do trabalho passou a ser entendida como a relação de poder dos homens sobre as mulheres. Ela parte da definição de prioridades que destina os homens para as tarefas produtivas e as mulheres para as tarefas reprodutivas. Mostra a separação entre o trabalho e o lar, em que aos homens fica claro o direito do trabalho e as mulheres deveriam dominar o ambiente do lar e suas implicações. Segundo Daniele Kergoat, a divisão sexual do trabalho tem dois princípios para sua organização, denominados de princípio da separação e princípio da hierarquização. O primeiro é caracterizado pela separação de trabalhos para homens e trabalhos para mulheres; o segundo parte da atribuição de valor (aqui, enquanto prestígio) ao trabalho do homem em detrimento do trabalho da mulher, ou seja, o trabalho masculino vale mais que o feminino. No mercado de trabalho, propriamente dito, a associação da mão de obra barata ao trabalho feminino teve sua formalização ao longo do século XIX e se tornou um fator natural. Esses fatores se tornaram visíveis quando “sublinhavam os efeitos causais da separação entre lar e trabalho, por teorias de economistas políticos e por preferências de contratação dos empregadores que criavam uma força de trabalho claramente segregada pelo sexo” (SCOTT, 1991, p. 455). Os discursos pelos quais se constituíram as divisões sexuais do trabalho encontraram na economia política um campo fértil para seu desenvolvimento. Como destaca Joan Scott, embora fossem notadas algumas diferenças (como a diferença nacional, diferenças das escolas de economia política) entre a classe dos economistas políticos do século XIX, outros aspectos eram: o salário do homem deveria ser suficiente para sua sobrevivência e para prover sua família. Portanto, Os salários dos homens incluíam custos de subsistência e de reprodução, enquanto os salários das mulheres necessitavam de suplementos familiares, mesmo para a sua subsistência individual. Além do mais, os salários dos homens deveriam proporcionar o suporte econômico que mantinha uma família e que possibilitava que os filhos fossem alimentados e se tornassem adultos trabalhadores. Os homens, eram, por outras palavras, responsáveis pela produção (SCOTT, 1991, p. 456). Segundo o economista político francês Jean Baptiste Say, essa discrepância e linear questão salarial da mulher - sempre aplicada abaixo do nível de subsistência eram justificadas pelo apoio familiar recebido por algumas mulheres e que, através desse apoio, não necessitavam sobreviver do seu próprio salário (que eram complementares), pois aos homens era dada a tarefa da manutenção do lar. 7 Todo o discurso econômico político acerca da divisão sexual do trabalho serviu para afirmar a lógica imposta, desviar discursos que viriam a se tornar contrários à referida lógica, e principalmente, para disseminar a ideia da naturalização e aceitação do papel da mulher no mercado de trabalho como trabalhadoras de segundo plano, onde as suas capacidades de produção as classificariam como incapazes para atividades que lhes trouxessem prestígio, reconhecimento social e econômico. A divisão sexual do trabalho é uma das formas mais evidentes para exploração do capital e forma de hierarquizar os trabalhos, quando se atribui a condição de subalternidade natural para com o feminino - sabemos que essa “naturalização” é socialmente construída. Movimento feminista e a trajetória sócio histórica do Serviço Social O movimento feminista, dotado de organização e conceitos, tem seus primeiros sinais no mundo no Ocidente no século XIX. Na história é possível perceber anteriormente ações contra a opressão feminina, mas essas ações eram pontuais e descontínuas. Manifestações estruturadas, buscando visibilidade feminina deram-se pelo “sufragismo” (considerada a primeira onda do feminismo) e tinha por objetivo a extensão do direito ao voto para as mulheres. Suas ideias tomaram grandes proporções e o movimento foi aderido em vários países do Ocidente, embora que nesses países as ideias alcançaram pesos desiguais. Inicialmente, o movimento sufragista estava voltado para atender os interesses das mulheres brancas da classe média e “seus resultados foi seguido de uma certa acomodação no movimento” (LOURO, 1997, p. 15). No entanto, é na chamada “segunda onda do feminismo”, datada da década de 1960, que o movimento feminista contempla as questões políticas, sociais e, em especial, as construções teóricas como base para suas ações. Importante aqui citar o ano de 1968 como marco para contestação e referência à um processo que estava se constituindo e iria continuar, permitindo o desenvolvimento dos posteriores movimentos bem específicos. Este período foi marcado por intensas inquietações dos mais diversos grupos (negros, estudantes, mulheres, etc.) que se colocaram contrários aos panoramas sociais e políticos da época, que culminaram na segregação, silenciamento e escassez literária 8 diante das minorias. Destaco Alemanha, EUA, Inglaterra e França como os primeiros países a explicitarem esse descontentamento. E, conforme nos traz Guacira Lopes Louro, É, portanto, nesse contexto de efervescência social e política de contestação e de transformação, que o movimento feminista contemporâneo ressurge, expressando-se não apenas através de grupos de conscientização, marchas e protestos públicos, mas também através de livros, jornais e revistas. (...) Militantes feministas vão trazer para o interior das universidades e escolas questões que as mobilizavam, impregnando e “contaminando” o seu fazer intelectual - como estudiosas, docentes, pesquisadoras - com a paixão política. Surgem os estudos da mulher (LOURO, 1997, p. 16) No âmbito do Serviço Social, ele, enquanto profissão é resultado de um contexto sócio-histórico e essa trajetória não é linear, muito pelo contrário, ele se molda de acordo com a conjuntura política, social, cultural e econômica presente na realidade ao qual está inserido. O contexto ao qual emergiu o Serviço Social brasileiro, na década de 1930, foi caracterizado pela transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, que objetivava o lucro do capital através da organização dos monopólios e controles dos mercados. Visando o aumento e expansão do capital, o Estado passa a intervir nas expressões da questão social por intermédio das políticas sociais. O que culminou na participação direta dos(as) Assistentes Sociais para executar tais políticas. Quando o grande capital associa o trabalho da mulher como mão de obra barata, as habilidades tidas como características femininas são apropriadas e não valorizados, “pois essas habilidades, por serem da essência feminina, são entendidas como dons, e não trabalhos” (CISNE, 2012, p. 114). Essa interpretação do capital é totalmente funcional ao sistema, pois resulta diretamente na ampliação dos lucros e na considerável diminuição do custo de produção. O Serviço Social tem por direção a teoria crítica de Marx, teoria esta que possibilita a análise na perspectiva de totalidade sobre as relações sociais. Essa perspectiva busca revelar a realidade, para além do aparente, do fato social, incluindo a essência dos fenômenos sociais e suas consequências. Sob essa dimensão, o movimento feminista e os estudos de gênero encontraram na teoria marxista um alicerce para sua instrumentalização e arcabouço teórico-crítico para o embate da relação de opressão às mulheres. A teoria tornou-se uma grande aliada, pois, ao expor os mecanismos de subordinação do feminino, ela permite desenvolver ações críticas no intuito de 9 transformar esse cenário, buscando um sentido de igualdade, uma vez que a teoria marxista vai no “foco das desigualdades sociais, analisando dentro de uma dimensão materialista e a perspectiva de totalidade a opressão e a exploração da mulher” (CISNE, 2012, p. 95). Nesse sentido, é importante e necessário que o feminismo possa pautar-se no Serviço Social, como também a recíproca deve ser verdadeira. Este movimento vai permitir e subsidiar o processo de renovação do Serviço Social e, consequentemente, a valorização da profissão. Por fim, o Serviço Social ao incorporar em sua dimensão teórico-política a percepção das implicações de gênero, movimento feminista e suas conquistas, a profissão procura realizar, de fato, o seu compromisso ético-político que busca a igualdade, a emancipação humana e o fim de qualquer tipo de opressão, conforme preconiza o Código de Ética dos(as) Assistentes Sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na exposição do artigo podemos notar que as profissões caracterizadas como femininas são resultados de um processo das relações sociais que atendem aos interesses do sistema capitalista patriarcal, em que determina através da divisão sexual do trabalho, uma grande expressão de desigualdade. Nesta perspectiva, a divisão sexual do trabalho se dá de forma hierarquizada, conferindo um maior valor às profissões masculinas e, por consequência, uma desvalorização às profissões femininas. Através dessa visão sexista é reproduzida a naturalização que confere ao gênero feminino as atividades “inatas” como qualidades e habilidades - o que não as configura como trabalho. A sombra do patriarcado, embora não explicitamente, ainda é percebida nas relações trabalhistas e nas outras esferas da sociedade contemporânea. Um exemplo é a desconfiança lançada sobre a competência de uma mulher que exerce um papel de liderança. Entender os movimentos do capitalismo que engendram e propagam a naturalização da subordinação da mulher, bem como, a flexibilização do trabalho; a disparidade salarial; precarização dos direitos trabalhistas; desprestígio social e desvalorização profissional, demanda para o Serviço Social a indispensável noção de organização e articulação das lutas das mulheres, na intencionalidade de romper com esse paradigma instaurado e todas as suas consequências. 10 Promover discussões, possibilitar estudos, subsidiar pesquisas que dizem respeito ao gênero e Serviço Social, se constituem em novas demandas, necessidades, percepções e desafios para a profissão e para o movimento de renovação da profissão. É, aqui, imprescindível destacar o compromisso do Serviço Social, que por seu caráter interventivo, utiliza-se do seu tripé basilar teórico-metodológico, técnicooperativo e ético-político para viabilizar uma sociedade justa, igualitária, livre de qualquer expressão de subalternidade, e emancipada. Uma sociedade plena, em sua real determinação. REFERÊNCIAS ALVES, José Eustáquio Diniz. O patriarcado. O Pensador Selvagem. 2011. Disponível em <http://opensadorselvagem.org/ciencia-e-humanidades/demografia/opatriarcado> Último acesso em 17/09/2013. CISNE, Mirla. Gênero, Divisão Sexual do Trabalho e Serviço Social. 1. ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012. CRAVEIRO, Adriéli; MACHADO, Jéssca Gomes do Vale Cabrerisso. A predominância do sexo feminino na profissão do Serviço Social: uma discussão em torno desta questão. UEL. 2011. http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/jessica.pdf>. Disponível Último em < acesso em 22/10/2013. KERGOAT, Daniele. 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