0 Uni- ANHANGUERA - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS CURSO DE AGRONOMIA A CULTURA DO NIM PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA GOIÂNIA Maio/2013 1 PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA A CULTURA DO NIM Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Agronomia do Centro Universitário de Goiás, Uni-ANHANGUERA, sob orientação da Profª Ms. Leandra Regina Semensato, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Agronomia. GOIÂNIA Maio/2013 2 TERMO DE APROVAÇÃO PAULO AUGUSTO NICÉAS ROSA A CULTURA DO NIM Trabalho de conclusão de curso apresentado à banca examinadora como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Agronomia do Centro Universitário de Goiás - Uni-ANHANGÜERA, defendido e aprovado em 27 de maio de 2013 pela banca examinadora constituída por: ___________________________________ Prof.ª Ms. Leandra Regina Semensato Orientadora ______________________________________ Prof.ª Dr.ª Sara Lane Sousa Gonçalves (Membro) _________________________________ Prof.º Dr. Lino Carlos Borges (Membro) 3 DEDICATÓRIA Aos meus familiares e amigos desta longa jornada, que sempre estiveram ao meu lado, auxiliando e apoiando meus estudos. Aos meus Mestres, que deram tudo de si para me propiciar sabedoria e conhecimento profissional na área da Agronomia. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, familiares e amigos que me acompanharam em todos os momentos, sempre me incentivando e apoiando. Aos professores, que se dedicaram a me orientar, me entusiasmando e despertando meu interesse pelos estudos. 5 RESUMO O Nim (Azadirachta indica A. Juss), é uma árvore originária das regiões tropicais do continente Asiático, pertencente à família Meliaceae. Por possuir uma ampla gama de compostos bioativos, há muito tempo vem sendo utilizada não só na medicina e cosmética, mas também na agricultura como fonte de princípios ativos de efeitos inseticida, tendo como principal composto a azadiractina. A cultura do nim também pode ser explorada com objetivo de produção de madeira de excelentes qualidades físico-químicas, tanto para serrarias quanto para fins energéticos. Devido a sua boa adaptação aos solos e condições climáticas brasileiras, a árvore de nim pode ser cultivada com sucesso em diversas regiões. O cultivo da árvore nim no Brasil está em rápido crescimento, e várias empresas já se encontram no mercado cultivando, extraindo os princípios ativos e comercializando produtos derivados no nim. A presente revisão bibliográfica tem como objetivo trazer as principais informações sobre as inúmeras qualidades e potencial de utilização do nim, apontar práticas de cultivo e fundamentos técnicos de sua cadeia produtiva, fundamentada na análise crítica da literatura científica. PALAVRAS-CHAVE: Nim, Neem, Azadirachta indica A. Juss, Silvicultura. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Inflorescência da árvore do nim Figura 2. Frutos do nim Figura 3. Mudas produzidas em tubetes e em sacos plásticos Figura 4. Enxertia de nim em mudas de cinamomo Figura 5. Rastelamento dos frutos Figura 6. Eliminação de terra e folhas 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 10 2.1 Botânica e Ecologia 10 2.2 Propagação 12 2.2.1 Seleção de mudas e rustificação 14 2.3 Manejo Agronômico 14 2.3.1 Preparo do solo 14 2.3.2 Espaçamento 15 2.3.3 Plantio 15 2.3.4 Tratos culturais 16 2.3.5 Colheita 16 2.4 Propriedades químicas 18 2.5 Características da madeira 19 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 20 REFERÊNCIAS 21 8 1 INTRODUÇÃO A planta de nome científico Azadirachta indica A. Juss, é uma árvore de múltiplos usos, nativa nas florestas da Índia, Paquistão, Sri Lanka, Malásia, Indonésia, Tailândia e Burma (LEALI et al., 2000), é popularmente conhecida por nim (“neem” nos países de língua inglesa e margosa ou nimba regionalmente). Foi antigamente conhecida como Melia azadirachta L. e tem sido frequentemente confundida com a Melia azedarach L., que é a Cereja-chinesa ou o Lilás da Pérsia. O nim é uma árvore da família Meliaceae, a qual também pertencem o cedro, o cedro-rosa e a árvore nativa do Brasil chamada santa bárbara (SANTOS; ANDRADE, 2000). O nim foi introduzido inicialmente no Brasil por meio de sementes originárias das Filipinas pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, no ano de 1986 com o objetivo de pesquisar a ação inseticida desta planta (MARTINEZ, 2008). Suas propriedades há muito tempo são utilizadas não só em medicina e cosmética, mas também na agricultura, neste último caso como praguicida. Apresenta efeito em mais de 200 espécies de organismos, incluindo ácaros, carrapatos, aranhas, nematóides, fungos, bactérias e mesmo alguns fitovírus. Os efeitos observados, provavelmente são resultados da presença de várias substâncias, tais como azadirachtina, nimbina, salannina, nimbidina, kaempferol, thionemone, quercetina entre outras (BEVILACQUA et al., 2008), sendo que a azadiractina é considerada o composto mais potente da árvore de Nim. Segundo Vendramim; Castiglioni (2000), as vantagens do nim em relação a outras plantas inseticidas são a atividade sistêmica, a eficiência em baixas concentrações, a baixa toxicidade a mamíferos e a menor probabilidade de desenvolvimento de resistência pela ocorrência de um complexo de princípios ativos. Por ser uma árvore rústica e robusta, podendo atingir 30 metros de altura, é ideal para programas de reflorestamento e para recuperação de áreas degradadas, áridas ou costeiras. Em sistemas agroflorestais, o nim é usado como quebra-ventos, protegendo as culturas da ação dos ventos e do ressecamento, colaborando para o incremento da produtividade das lavouras, além do fornecimento constante de matéria orgânica (via folhas que caem no solo) e da reserva de madeira para o futuro. A madeira apresenta uma coloração avermelhada, dura e resistente ao apodrecimento, raramente sendo atacada por cupins (NEVES; NOGUEIRA, 1996). Apesar do nim ser utilizado e estudado em todo o mundo, muitos agricultores brasileiros, talvez devido a falsas promessas da revolução verde, ainda duvidam de suas qualidades, propriedades e uso, ou aceitam-nas com moderação, desejando testa-las antes 9 (ARAUJO et al, 2000). Como consequência, o cultivo do nim é alardeado ou realizado com práticas muito variadas e com base técnica escassa; o aprimoramento das técnicas de cultivo se faz necessário para se evitar o sub-aproveitamento da espécie e a frustração por parte dos produtores (CARPANEZZI; NEVES, 2010). A presente revisão busca trazer as principais informações sobre as inúmeras qualidades e potencial de utilização do nim, apontar práticas de cultivo e fundamentos técnicos de sua cadeia produtiva, baseando-se na conjunção de análise crítica da literatura científica. 10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Botânica e ecologia O nim (Azadirachta indica A. Juss) é uma árvore de copa frondosa pertencente a família botânica Meliaceae, a qual também pertencem o cedro, mogno e a santa bárbara. A árvore pode atingir cerca de 30 metros de altura, apresenta tronco curto, geralmente em linha reta e moderadamente grosso, de 30 a 80 cm de diâmetro sendo a casca fortemente sulcada. Segundo Soares et al. (s/d), as flores pequenas e hermafroditas possuem coloração branca e são aromáticas, estando reunidas em inflorescências densas podendo atingir cerca de 25 cm de comprimento. São bastante procuradas pelas abelhas, que desempenham importante papel na sua polinização, se não prejudicadas nessa atividade. Figura 1. Inflorescência da árvore do nim Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) As árvores apresentam folhagem verde do tipo imparipenadas, alternadas, com aglomeração na extremidade dos ramos simples, com os folíolos de coloração verde-claro em abundância, exceto em períodos de seca prolongada. 11 O sistema radicular da planta é composto por uma raiz pivotante, sendo sua principal sustentação, possibilitando a retirada de água e nutrientes de grandes profundidades, apresentando também raízes laterais auxiliares, e quando sofrem algum tipo de dano produzem brotações (MOSSINI; KEMMELMEIER, 2005). O fruto é uma baga ovalada de 1,5 a 2,0 cm de comprimento, quando em sua maturação completa (máximo conteúdo de matéria seca e acentuada redução no teor de água), apresenta polpa amarelada e casca branca, contendo óleo marrom no interior da semente. A árvore começa sua produção de frutos entre o 3º e 5º ano do plantio, podendo variar de 30 a 50 Kg/planta (RODRIGUES, 2011). A produção de frutos ocorre entre julho e setembro, podendo ocorrer uma segunda florada entre novembro e janeiro. Figura 2. Frutos do nim Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) Proveniente de regiões de clima tropical o nim desenvolve-se bem em temperaturas acima de 20ºC, em altitudes acima de 700 metros e com precipitação pluviométrica anual entre 400 a 800 mm (SOARES et al.,s/d). 12 De acordo com Mossini e Kemmelmeier (2005), apesar de suas propriedades inseticidas, podem ocorrer ataques de insetos que danificam a planta como percevejos, cochonilhas e formigas cortadeiras que causam desfolhas. No Brasil, doenças podem acorrer esporadicamente, não ocasionando danos significativos a cultura para caracteriza-las como pragas do nim. 2.2 Propagação O nim é uma planta de fácil propagação, seja sexual ou vegetativa. Podem ser utilizados como material propagativo tanto as sementes, brotos, rebentos ou até mesmo cultura de tecidos. As mudas obtidas a partir do método de estaquia não apresentam bom desenvolvimento do sistema radicular, tornando a árvore suscetível ao tombamento ocasionado por ventos fortes (CIOCIOLA; MARTINEZ, 2002). Se o método de propagação for feito por meio de sementes, estas devem ser plantadas o mais rápido possível, visto que o poder germinativo, de cerca de 90%, pode ser reduzido a quase zero em cerca de dois meses. As mudas podem ser produzidas tanto em tubetes cônicos com 5,1 cm de diâmetro e 13,3 cm de comprimento, quanto em sacos plásticos perfurados de 11 x 20 cm, mantendo-se boa irrigação durante seu desenvolvimento. Após um período de três meses as mudas, com cerca de 50 cm, podem ser transplantadas para o campo (MARTINEZ, 2008). Figura 3. Mudas produzidas em tubetes e em sacos plásticos Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) 13 Dependendo das condições climáticas da região, quantidade disponível de sementes e disponibilidade de mão-de-obra, a produção das mudas podem ser realizadas em canteiros para posterior repicagem. Se o objetivo é a produção em ampla escala, as mudas devem ser produzidas preferencialmente em tubetes, pois permitem melhor manuseio e transporte a longas distâncias. De acordo com Soares et al. (s/d), a produção de mudas através da utilização de técnicas de cultura de tecidos, como a micropropagação, não é muito utilizada, porém é considerada uma promissora alternativa devido a obtenção de grande número de plantas num curto período de tempo, em um pequeno espaço e com maior garantia fitossanitária. O método de enxertia pode ser aplicado com sucesso utilizando-se como porta-enxerto o cinamomo (Melia azedarach), que é nativa do Brasil podendo ser considerada uma espécie invasora e pertence a mesma família botânica do nim, embora pertença a gêneros diferentes. A enxertia visa superar problemas de baixa produtividade e produção tardia dos frutos (LEALIN et al., 2000). Foi realizado um experimento em 1999 através do método de garfagem em fenda cheia, com excelentes resultados. Foram retirados ramos de três árvores de nim em diferentes posições da copa (terço superior, médio e inferior) e enxertados em mudas de Cinamomo. Os resultados indicaram não haver diferença na taxa de pegamento dos enxertos quando os ramos cavaleiros foram retirados de diferentes indivíduos ou posição na copa. A percentagem de sucesso foi de 70% em média geral, demonstrando a viabilidade da enxertia de nim em mudas de cinamomo (LEALIN et al., 2000). Figura 4. Enxertia de nim em mudas de cinamomo Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) 14 2.2.1 Seleção de mudas e rustificação A seleção das mudas a serem plantadas é uma atividade determinante para o sucesso do cultivo do nim. Há casos brasileiros comprovados de plantações de nim que fracassaram devido ao uso de mudas com má formação do sistema radicular. Esse problema ocorre, frequentemente, em mudas produzidas em sacos plásticos; tais mudas devem ser descartadas ou, mediante orientação técnica, serem podadas na copa e na raiz, sendo transformadas em mudas de toco. Após sofrerem seleção as mudas devem passar pelo processo de rustificação por ao menos 20 dias. Essa adaptação deve ser feita em local aberto, arejado e com boa incidência de luz; irrigação e fertilização devem ser restringidas nesta fase. Tal processo contribuirá para se obter índice baixo de mortalidade de plantas e diminuir o número de mudas necessárias ao replantio (CARPANEZZI; NEVES, 2008). 2.3 Manejo agronômico 2.3.1 Preparo do solo A árvore de nim, apesar de ser considerada rústica, é bastante responsiva a um bom preparo de solo, já que uma boa formação do sistema radicular proporciona melhor vigor às plantas, permitindo maiores produtividades. Segundo Carpanezzi; Neves (2008), o nim deve ser plantado em áreas com solos de textura leve ou média (até 35 % de argila) e profundos, próprios de relevos plano ou suave ondulado; solos em relevo que apresentam tendência ao acúmulo de água e com textura muito argilosa (> 60 % em fração argila) ou compactados devem ser evitados, visto que influenciam negativamente no crescimento e na taxa de sobrevivência. As operações de preparo do solo devem ser, sempre que possível, mecanizadas. Podem ser realizadas por meio de aração e gradagem, como também uma gradagem pesada seguida de uma gradagem leve, com o objetivo de homogeneizar e desterroar o solo. (SOARES et al., s/d). É imprescindível que amostras de solo da camada 0-20 cm sejam coletadas; os resultados da sua análise orientam as necessidades de calagem e de aplicação de fertilizantes. A calagem deve ser feita pelo menos 30 a 45 dias antes do plantio. É recomendável o uso de calcário dolomítico, que fornece ao solo cálcio e magnésio. Quando possível, o calcário deve ser aplicado metade antes da aração e metade após, incorporado com a gradagem. O cálculo 15 da necessidade de calagem deve ser feito buscando elevar a saturação por bases a 50 % ou mais (CARPANEZZI; NEVES, 2008). 2.3.2 Espaçamento O processo de escolha do espaçamento é muito importante para um bom estabelecimento da cultura. Pode-se observar na literatura muita divergência sobre qual o espaçamento ideal, mas os autores, em sua maioria, justificam a adoção de acordo com a finalidade a que o plantio se destina, como também as características de clima e solo da região. De acordo com Neves; Nogueira (1996), deve-se adotar espaçamentos menores, como 2 x 2m ou 3 x 3m para plantios no qual o objetivo é a produção de madeira fina em ciclo curto. No entanto, quando o produto for destinado para fins industriais, farmacológicos, produção de inseticidas ou para a produção de sementes, deve-se optar pelo espaçamento 4 x 4m e realizar desbaste alternado das plantas a partir do terceiro ano, quando iniciam o processo de competição ente plantas, deixando o plantio com espaçamento de 8 x 8 m. 2.3.3 Plantio Quando o preparo do solo for realizado mecanicamente, pode-se proceder a abertura dos sulcos com a utilização do sulcador ou até mesmo com o arado de aiveca. Os sulcos devem ser orientados de acordo com o espaçamento adotado e seguindo a declividade do terreno em curva de nível. No caso da abertura das covas ser realizado manualmente, estas devem ser de 40 x 40 x 40 cm, as quais devem receber 3Kg de esterco de gado bem curtido (SOARES et al., s/d) ou podem ser do tamanho usual na silvicultura lenhosa comercial, em forma de cubo de 23 cm de lado (12 milímetros cúbicos de solo), apenas com adubação mineral (CARPANEZZI; NEVES, 2008). O sucesso do plantio das mudas está diretamente relacionado à coincidência do início da estação chuvosa. A muda deve ser colocada no interior da cova ou sulco e coberta com terra, de forma que o torrão não fique exposto e a parte do caule não seja recoberta. Deve-se realizar uma pequena compactação do solo em torno da muda, para fornecer maior firmeza à planta. Ao completar um mês de plantio, deve-se percorrer toda a área para avaliar a porcentagem de falhas, através de contagem. Caso essa contagem seja superior a 5%, procede-se o replantio em todas as falhas. Para aumentar a resistência da planta e evitar 16 possíveis quebras ocasionadas por ventos, recomenda-se manter o nim em haste única, com galhos de forma alternada (SOARES et al., s/d). 2.3.4 Tratos culturais Desde os primeiros momentos do estabelecimento da cultura no campo, deve-se ter em mente a necessidade manter a área livre de plantas invasoras e de proceder o combate às formigas cortadeiras (Acromyrmex ssp.) e saúvas (Atta ssp.), cujos danos são um dos fatores limitantes do sucesso das plantações de nim, como também de outras culturas frutíferas e silvícolas. Outro manejo bastante recomendado é a realização da decepa apical, que consiste em cortar o tronco principal a 2-3 metros do solo, na tentativa de reduzir a altura da árvore e aumentar o diâmetro da copa. A decepa apical procura favorecer a produção de frutos em detrimento da formação de madeira. Ela é feita, comumente, dentro do segundo ou terceiro ano de vida da plantação. Sua eficácia duradoura depende de que os espaçamentos sejam suficientemente largos (CARPANEZZI; NEVES, 2008). 2.3.5 Colheita No Brasil, a frutificação do nim geralmente ocorre a partir do terceiro ano, podendo ocorrer duas vezes ao ano (julho – setembro e novembro - janeiro), se as condições de fertilidade do solo e o clima forem favoráveis, principalmente da temperatura, que deve estar em torno de 30ºC e baixos índices pluviométricos (SOARES et al., s/d). Normalmente, os frutos tornam-se aptos para colheita (mudança da cor verde para a amarela) dentro de 75 dias após a abertura das flores. Em consequência, as árvores apresentam, ao mesmo tempo, flores e frutos em diferentes estágios de desenvolvimento. Os frutos maduros permanecem pouco tempo ligados à árvore. Caso não sejam colhidos, os frutos presentes no chão (pequena amêndoa) não se decompõe com facilidade, permanecendo íntegra embora murcha (CARPANEZZI; NEVES, 2008). As sementes de melhor qualidade são obtidas quando coletadas diretamente das ramas. Outra forma de coleta pode ser por meio de lonas colocadas sob as árvores para que as sementes que caiam naturalmente sejam coletadas sem que os frutos entrem em contato com a umidade do solo, reduzindo assim a possibilidade do aparecimento de fungos (NEVES; OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2003). 17 As coletas podem ser feitas a cada quinzena, a cada mês ou mais espaçadamente, dependendo de fatores locais, como disponibilidade de mão-de-obra e a própria marcha da frutificação. A colheita dos frutos caídos ao solo assemelha-se muito com a feita nos cafezais. A primeira etapa da colheita propriamente dita consiste no rastelamento, o qual amontoa frutos, folhas e um pouco de terra ou pedras, fazendo-se necessário o uso de peneira para separar as sementes das folhas e da terra que estão misturadas. Em seguida, as sementes devem ser secas em local sombreado e ventilado por dois ou três dias e, então, acondicionadas em sacos que permitam aeração, mantidos em ambiente fresco e seco (CARPANEZZI; NEVES, 2008). Figura 5. Rastelamento dos frutos Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) Figura 6. Eliminação de terra e folhas Fonte: Centro de produções técnicas (CTP) 18 2.4 Propriedades químicas Os métodos químicos no controle de pragas tem sido amplamente utilizados na agricultura e pecuária, porém os efeitos adversos do uso de inseticidas têm provocado o surgimento de biótipos resistentes, fazendo-se necessário a utilização de dosagens cada vez maiores para obter resultado satisfatório. Produtos naturais podem ser uma alternativa viável de controle, minimizando os impactos ao meio ambiente. Neste contexto insere-se a necessidade da utilização de extratos de plantas que possuam compostos de natureza inseticida, bem como o estudo de seus componentes ativos. Acredita-se que o emprego de métodos alternativos de controle pode ser uma ferramenta importante no manejo integrado de pragas (LIMA; CHAABAN, 2011). Segundo Santos; Andrade (2000), diversos compostos químicos biologicamente ativos podem ser extraídos das diferentes partes da árvore do nim, incluindo triterpenóides, compostos fenólicos, carotenóides, esteróides e cetonas. Através de diferentes processos podem ser extraídos por volta de 24 compostos com atividades biológicas, porém apenas quatro desses compostos apresentam alta eficiência como pesticidas, sendo eles: azadiractina, salanina, melantriol e nimbina. Dentre esses compostos, o limonóide ou tetranortriterpenóide azadiractina é o mais estudado e mais potente. Apesar de os compostos bioativos presentes no Nim serem encontrados em toda a planta, aqueles presentes primeiramente nas sementes e folhas são os que possuem compostos mais concentrados e acessíveis, facilmente obtidos por meio de processos de extração em água e solventes orgânicos como hidrocarbonetos, álcoois, cetonas ou éteres (MOSSINI; KEMMELMEIER, 2005). De modo geral a azadiractina afeta o desenvolvimento dos insetos de diferentes modos. Pela sua semelhança com os hormônios da ecdise (processo de troca do esqueleto externo), ele perturba essa transformação e, em altas concentrações pode impedi-la, causando a morte da larva ou da pupa. Por essa razão, as formas jovens de insetos são mais fáceis de controlar. Não causa a morte do inseto imediatamente, dado o seu efeito fisiológico, porém, além de afetar a ecdise, reduz o consumo de alimento, retarda o desenvolvimento, repele os adultos e reduz a oviposição nas áreas tratadas. Também tem maior ação por ingestão, de modo que os insetos mastigadores são mais facilmente afetados (MARTINEZ, 2008). De acordo com Mossini e Kemmelmeier (2005), os efeitos de produtos à base de Nim podem também influenciar outros organismos como os nematóides (uma das pragas mais devastadoras na agricultura), caramujos (especialmente Biomphalaria glabrata, auxiliando no 19 controle da esquistossomose), crustáceos (que prejudicam culturas de arroz por utilizarem as mesmas fontes de nitrogênio), viroses de plantas e fungos. 2.5 Características da madeira A madeira do nim, por ser dura e relativamente pesada, pode ser utilizada tanto como combustível quanto para a fabricação de móveis e construção civil. Por ser também uma madeira resistente ao ataque de insetos pode ser utilizada como postes de rede elétrica, vigas para a construção civil e na confecção de carretas, ferramentas e implementos agrícolas (RODRIGUES,2011). No Brasil, estudo realizado por Araújo et al. (2000), evidencia que a madeira do nim indiano apresentou um poder calorífico de 4.088,5 kcal/kg, rendimento em carvão de 38,20 %, e porcentagem de carbono fixo de 81,82 %. Nos valores encontrados para a porcentagem de lignina 23.52%, porcentagem de materiais voláteis 15.72% e teores de cinzas 2.11%, caracterizam a madeira de nim como produtora de carvão de boa qualidade para fins siderúrgicos. O valor de densidade básica encontrado para o nim foi de 0,54 g/cm3, esse valor pode variar de acordo com a idade do povoamento florestal. Assim, povoamentos mais maduros produzirão madeiras mais densas e com melhores características para fins energéticos (RODRIGUES,2011). Para uma melhor compreensão do potencial madeireiro do nim no Brasil, devemos observa que as árvores comerciais adultas dificilmente passarão de 40 cm de DAP com casca e 18 m de altura total; árvores bem conduzidas para madeira de processamento mecânico terão fustes de até 6 m e os maiores valores de incremento médio anual em volume sólido, em talhões conduzidos especificamente para finalidade madeireira, alcançam 21 metros cúbicos por hectare. A potencialidade técnica para processamento mecânico (madeira serrada e madeira laminada) não foi apreciada ainda no Brasil, embora seja um argumento forte de muitas empresas dedicadas ao fomento do nim (CARPANEZZI; NEVES, 2008). 20 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No Brasil, o cultivo da árvore nim está em rápido crescimento, objetivando tanto a exploração da madeira para fins energéticos e de serraria, como também para a produção de folhas e frutos, de onde se retira a matéria prima para produtos inseticidas, graças aos já comprovados efeitos de seus compostos fitoquímicos. O cultivo e exploração do nim apresentam-se como uma alternativa viável para a minimização da utilização de produtos químicos sintéticos nocivos ao meio ambiente, como alternativa de controle na agricultura e pecuária orgânica e também como fonte alternativa de diversificação na silvicultura lenhosa devido às diversas características e utilizações de sua madeira. Várias empresas se encontram no mercado cultivando e extraindo os princípios ativos e comercializando produtos derivados no nim, no entanto as potencialidades técnica para exploração de sua madeira não foram apreciada ainda no Brasil. O nim, em virtude de suas possíveis aplicações, é uma planta extraordinária, considerada por muitos a árvore da vida. Representa uma alternativa potencial a ser explorada pelos agricultores, agregando mais qualidade de vida às pessoas que vivem no campo e constituindo-se em mais uma fonte de renda. 21 REFERÊNCIAS ABREU, J. H. Praticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura. São Paulo: EMOPI, 1998. ARAÚJO, L. C. V.; RODRIGUEZ, L. E. C.; PAES. J. B. Características físico-quimicas e energéticas da madeira de nim indiano. Scientia Forestalis, Piracicaba, n.57, 2000. BEVILACQUA, A.H.V.; SULFREDINE, I.B.; BERNARDI, M.M. Toxicidade de nem, Azadirachta indica A. 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Santa Maria: UFSM/CCR/DFS, 2000. 23 DECLARAÇÃO E AUTORIZAÇÃO Eu, Paulo Augusto Nicéas Rosa, endereço eletrônico [email protected], declaro, para os devidos fins e sob pena da lei, que o Trabalho de Conclusão de Curso: A Cultura do Nim, é de minha exclusiva autoria. Autorizo o Centro Universitário de Goiás, Uni- ANHANGUERA a disponibilização do texto integral deste trabalho na biblioteca (consulta e divulgação pela Internet, estando vedada apenas a reprodução parcial ou total, sob pena de ressarcimento dos direitos autorais e penas cominadas na lei. (Paulo Augusto Nicéas Rosa) Goiânia (GO), 27 de maio de 2013