Filogeografia comparada entre populações de Mata

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Filogeografia comparada entre populações de Mata Atlântica de Thamnophilus
ambiguus e Pyriglena leucoptera (Passeriformes: Thamnophilidae).
Lacerda, DR1, Marini, MÂ2, Santos, FR1. 1Laboratório de Biodiversidade e Evolução
Molecular, Depto. Biologia Geral, ICB, UFMG, Belo Horizonte, MG. 2Departamento de
Zoologia, UnB, Brasília, DF.
[email protected]
A região Neotropical, a despeito de sua riquíssima diversidade de avifauna, ainda é foco de
poucos estudos genéticos e evolutivos em espécies de aves, estando os poucos trabalhos
amplamente concentrados na região amazônica. A Mata Atlântica, além de ser considerada
entre os cinco biomas mundiais prioritários para conservação, está entre as quatro regiões
mais importantes dos neotrópicos em termos de diversidade de aves ameaçadas,
evidenciando a importância e a urgência de estudos ecológicos, genéticos e evolutivos na
avifauna deste bioma. O acúmulo gradativo de informações nestas áreas deverá contribuir
não apenas para uma melhor compreensão das condições que levaram à grande
diversificação das Aves nos Neotrópicos, como também dos principais fatores envolvidos
na preservação destas espécies em seus hábitats continuamente ameaçados. O presente
estudo baseou-se na análise de seqüências de região controle do DNA mitocondrial de duas
espécies de Thamnophilidae (Passeriformes), a fim de estabelecer e comparar parâmetros
filogeográficos de populações da Mata Atlântica de Minas Gerais.
Em Thamnophilus ambiguus, as três regiões geográficas estudadas (Centro-Norte, CN,
Nordeste, NE, e Sudeste, SE, de Minas Gerais), se mostraram significativamente
divergentes. Embora haja compartilhamento de um haplótipo entre as regiões CN e NE, a
análise de variância molecular (AMOVA), indicou que mais de 67% (P<0,001) da variação
genética total poderia ser explicada por diferenças entre as três regiões. A divergência
(calculada como p-distance) observada entre NE e CN foi cerca de 0,6%, enquanto os
valores observados entre SE e NE, e SE e CN foram o dobro disso. O teste exato de
diferenciação também apontou uma divergência significativa entre populações de diferentes
regiões, mas não entre populações da mesma região. O teste de Mantel corrobora este
resultado indicando haver uma correlação alta e significativa (R2=71%, P<0,05) entre
distâncias genética e geográfica.
Pyriglena leucoptera, por outro lado, não demonstrou separação evidente de haplótipos
entre as três regiões geográficas, embora a rede filogeográfica construída (Median-joining)
tenha revelado uma tendência à separação dos haplótipos do NE dos demais. Ainda assim,
uma das populações do SE apresentou haplótipos próximos daqueles encontrados tanto no
NE quanto no SE. Diferente do observado em T. ambiguus, houve compartilhamento de um
haplótipo entre as regiões CN e SE e um haplótipo entre as regiões NE e SE. Nenhum
agrupamento de populações revelou divergência significativa genética entre grupos e a
AMOVA indicou que cerca de 60% da variação genética total poderia ser atribuída às
diferenças entre indivíduos dentro de populações. A p-distance observada entre as três
regiões geográficas manteve-se entre 0,4% e 0,6%.
Algumas diferenças entre estas duas espécies podem explicar suas filogeografias
distintas. Primeiramente, as duas espécies apresentam diferentes distribuições geográficas o
que pode estar associado à diferentes histórias evolutivas. Além disso, embora P.
leucoptera seja considerada menos tolerante a áreas abertas do que T. ambiguus, a primeira
já foi descrita ocorrendo em plantações de eucalipto com sub-bosque de plantas nativas. O
presente estudo sugere padrões diferentes de fluxo gênico nestas duas espécies, com a
provável existência de uma boa capacidade de P. leucoptera de se locomover entre
fragmentos de mata utilizando como corredor algumas áreas florestais cultivadas.
Finalmente, embora em escalas diferentes, ambas espécies apresentaram uma diferenciação
entre haplótipos do NE e SE de Minas Gerais. A amostragem de populações intermediárias
entre estas duas regiões poderá ajudar a esclarecer como está estruturada a variabilidade
genética ao longo da distribuição geográfica: se é contínua, como parece ser o caso de P.
leucoptera, ou se há uma sutil descontinuidade genética como parecer ser o caso de T.
ambiguus. Apoio financeiro: CNPq, PELD/CNPq, Fundação “O Boticário de Proteção à
Natureza”, FAPEMIG.
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