Artigo Original A importância para a Implantodontia da avaliação de osteoporose em mulheres diabéticas tipo II em pós-menopausa The importance for dental implant of the evaluation of osteoporosis women with type II diabetes mellitus after-menopause RESUMO Introdução: O aumento da expectativa de vida da população mundial, acompanhado por hábitos sedentários e prejudiciais à saúde, tende a levar a uma presença crescente de doenças típicas de idades avançadas, como a osteoporose e o diabetes mellitus tipo 2, importantes problemas de saúde pública mundiais, sobretudo em mulheres pós-menopausa. Objetivo: Estudar a prevalência de osteoporose em mulheres com diabetes mellitus tipo 2 de acordo com a idade, índice de massa corpórea (IMC) e tempo de menopausa das mulheres avaliadas, bem como estudar os efeitos negativos dessas doenças na reabilitação oral com implantes osseointegrados. Métodos: De um total de 22.902 mulheres pós-menopausa que passaram pelo exame de densitometria óssea, 3446 apresentavam diabetes mellitus tipo 2 e, dessas, 686 eram também portadoras de osteoporose. Resultados: A prevalência de osteoporose em diabéticas tipo 2 é maior dos 60 aos 80 anos de vida, com a chance de se ter osteoporose aumentando em 7,9% a cada ano. Quanto ao tempo de menopausa, indivíduos com 20 a 29 anos de menopausa apresentaram uma maior prevalência de ocorrência de osteoporose e indivíduos com IMC entre 25 e 29,9 foram os mais acometidos pelas duas doenças de forma concomitante, com a chance para a presença de osteoporose reduzindo em 6% para cada unidade aumentada no IMC. Conclusão: Entre as mulheres idosas diabéticas tipo II, a osteoporose prevalece na sétima e oitava décadas de vida, com tempo de menopausa de 22,4 anos, com IMC médio abaixo de 27,7, constituindo-se em grupo de risco para a implantodontia. A investigação médica prévia e o tratamento de diabetes mellitus e de osteoporose são obrigatórios para que haja uma maior previsibilidade no tratamento com implantes osseointegrados. Paschoal Pippa Neto1 Josias de Andrade Sobrinho2 Abrão Rapoport3 ABSTRACT Introduction: The life expectancy raise, combined with a harmful and sedentary lifestyle, takes to an increase in the presence of some specific diseases, such as osteoporosis and type 2 diabetes mellitus, which are typical of elderly people, and major health problems worldwide. Objective: To study the prevalence of osteoporosis in women with type 2 diabetes, according to age, Body Mass Index (BMI) and the time from menopause as well as the negative effects of these diseases in a treatment using dental implants. Methods: A total of 22,902 women underwent bone densitometry evaluation; 3,446 had type 2 diabetes, and 686 had also osteoporosis. Results: The prevalence of osteoporosis in type 2 diabetic women is higher from 60 to 80 years, with a 7.9% increase chance of having osteoporosis each year. Individuals with 20 to 29 years passed from the event of menopause showed a higher chance of having both diseases, and women with BMI between 20 and 29.9 had the higher chance of having type 2 diabetes and osteoporosis concomitantly with this chance falling 6% for each unit of raise in BMI. Conclusions: Among elderly women with type 2 diabetes, osteoporosis is more frequent between 60 and 80 years, with 22.4 years from the event of menopause and average BMI of 27.7 constituting also a risk group for implant surgery. Previous medical investigation and treatment for diabetes and osteoporosis are essential for a better outcome in treatment with dental implants. Key words: Osteoporosis. Bone Density. Diabetes Mellitus, Type 2. Dental Implants. Dental Implantation, Endosseous. Descritores: Osteoporose. Densidade Óssea. Diabetes Mellitus Ti p o 2 . I m p l a n t e s D e n t á r i o s . I m p l a n t e D e n t á r i o Endoósseo.Hiperfosfatemia. INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida da população mundial constitui uma realidade cada vez mais presente. Consequentemente, a ocorrência de distúrbios associados ao envelhecimento tem sido observada e morbidades associadas a idades mais avançadas tornam-se mais prevalentes. Entre as várias alterações associadas à menopausa e à senectude, a osteoporose tem sido objeto de várias pesquisas. Por conta da sua alta morbimortalidade associada às fraturas ósseas, particularmente as fraturas de quadril, a osteoporose pode ser considerada um dos principais problemas de saúde pública mundial. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 1) Mestrando pelo Curso de Pós-graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis, HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. 2) Doutor em Medicina pelo Curso de Pós-graduação em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Docente do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis, HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. 3) Docente Livre pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador do Curso de Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. Instituição: Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. Correspondência: Rua Cônego Xavier, 276 – 10º andar – 04231-030 São Paulo/SP, Brasil. E mail: [email protected] Recebido em: 02/02/2009; aceito para publicação em: 22/07/2009; publicado online em: 15/08/2009. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 171 - 176, julho / agosto /setembro 2009 171 considera idosa a pessoa com 60 anos ou mais, mesmo limite de idade utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os países em desenvolvimento. No Brasil, os idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas, o que representa quase um décimo da população do País (IBGE, Censo 2000). Em uma década, o número de idosos no Brasil cresceu 17%. Até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, segundo dados da OMS. De acordo com os dados do último censo do IBGE, existem 5,5 milhões de brasileiros com osteoporose. A utilização de recursos e custos em osteoporose em 100 mulheres pós-menopausa, acompanhadas no Sistema Público de Saúde (SUS) observou que os custos médios totais anuais foram de R$ 908,18/ paciente/ano, onde 82% do valor foram gastos com recursos médicohospitalares e 18% com recursos não médico-hospitalares1. Dados mais recentes fornecidos pelo Ministério da Saúde descrevem que, no ano de 2004, foram gastos com fraturas de quadril secundários a osteoporose, a quantia de 28 milhões de reais. Outros autores2, através de um estudo por meio de questionário estruturado aplicado a 2.320 indivíduos acima de 40 anos e moradores de 150 municípios brasileiros, relataram história de fratura por osteoporose em 25% da população entrevistada. O edentulismo é prevalente em idosos de várias partes do mundo, com percentuais de 11% a 44%, que crescem de forma inversamente proporcional à condição sócio-econômica. O perfil de saúde bucal dos brasileiros avaliado em uma pesquisa coordenada pela OMS, em 2006, mostra os índices da população sem dentição completa. Segundo o estudo, cerca de 14,4% perderam todos os dentes. Destes, 2,3% entre 18 a 34 anos; 8,2% entre 35 a 49 anos; e 37,8% com idade maior ou igual há 50 anos. Além da perda da integridade funcional e estrutural do sistema mastigatório, a perda de um elemento dentário ocasiona, muitas vezes, desarmonia do ponto de vista estético, o que ocasiona prejuízo da autoestima. O histórico médico mais comumente encontrado em pacientes com edentulismo é a presença de diabetes mellitus (19,2%), seguido por hipertensão (13,2%)3. Independente do mecanismo responsável pela alteração da densidade mineral óssea nos pacientes diabéticos, o resultado final é o aumento do risco de fraturas de quadril (mais prevalente no DM1). Quanto à incidência de fraturas vertebrais e não vertebrais, a literatura necessita de dados mais consistentes. O grande desafio não consiste em identificá-las, mas sim, encontrar os possíveis fatores associados à sua preservação e utilizá-los como uma ferramenta para prevenção ou até tratamento da osteoporose4,5. A avaliação da densidade mineral óssea (DMO) representa um exame auxiliar confiável e amplamente utilizada durante a avaliação da qualidade óssea6. Diante do aumento da expectativa de vida, o crescimento da prevalência do diabetes mellitus e suas alterações ósseas associadas a possíveis complicações em procedimentos cirúrgicos odontológicos, tornaram-se uma realidade nas ultimas décadas. A literatura é vasta em relação aos diferentes métodos de densitometria e suas aplicações na medicina durante o diagnóstico tratamento e prevenção da osteoporose, entretanto, em odontologia, os exames auxiliares para avaliação da densidade mineral óssea passaram a ser solicitados somente após o advento da Implantodontia6. A instituição de novas terapias, a importância da prevenção e tratamento da perda de massa óssea direciona para um diferente momento. O avanço tecnológico na área odontológica, resultando em importante recuperação da saúde bucal, constitui, sem dúvida, uma nova ferramenta na manutenção e melhora da qualidade de vida desses pacientes, sendo uma delas os implantes osseointegrados. O sucesso de um implante odontológico implica a ocorrência do processo denominado osseointegração, que é a íntima relação entre o implante de titânio e o osso que se formará ao 172 seu redor. Múltiplos fatores, como a resistência dessa união e a qualidade e intimidade da superfície de contato, devem ser avaliados no resultado desse evento. A densidade mineral óssea é o parâmetro mais importante para a fixação inicial do implante e ausência de movimento durante o primeiro estágio de cicatrização cirúrgica7,8, determinando os valores quantitativos para a densidade mineral óssea em unidades Hounsfield (H.U), para quatro regiões diferentes dos maxilares (+ de 850 H.U) mandíbula anterior, (+500 até +800) para mandíbula posterior e maxila anterior e de (0 até + 500) maxila posterior. Para determinar esses valores, tomografias computadorizadas foram avaliadas e considerou-se um método apurado para avaliação da densidade óssea periimplante. Sabe-se que tanto fatores que envolvam a técnica cirúrgica (mínimo de trauma, biossegurança adequada), como fatores relacionados ao tratamento e qualidade do implante, têm influência no tempo recomendado e necessário para que ocorra a osseointegração. Além disso, fatores inerentes ao paciente, como qualidade óssea, estado local e geral de saúde também devem ser considerados e vêm sendo estudados9. A osseointegração e o tempo necessário para que ela ocorra têm relação direta com a capacidade de cicatrização óssea do paciente, o que novamente coloca em pauta a necessidade de avaliarem-se as condições do controle metabólico equilibrado em pacientes diabéticos antes de realizarem-se atos cirúrgicos9. Essas evidências, ou seja, aumento da expectativa de vida e a busca por uma qualidade de vida melhor desses pacientes associados a um grande aumento da prática da implantodontia, nessa faixa etária da população, motivaram-nos a realizar esse estudo, visando classificar possíveis grupos de risco principalmente em mulheres diabéticas tipo 2 em pósmenopausa. Assim, esperamos que os resultados possam ser aplicados para medidas preventivas que devam ser tomadas contra a perda de massa óssea, seu diagnóstico precoce e correções prévias dessas doenças por profissionais que cuidem especificamente da área. Pretendemos evitar a perda dos implantes dentários pelo prejuízo da osseointegração devido a alterações metabólicas e falta de controle em pacientes diabéticos10. Assim, procuramos avaliar a frequência de osteoporose por meio de densitometria óssea e da densidade mineral óssea em mulheres na pós-menopausa portadoras de diabetes mellitus tipo II com relação à idade, índice de massa corpórea (IMC) e tempo de menopausa em décadas. MÉTODOS Essa pesquisa foi desenvolvida pelo Centro Paulista de Investigação Clínica, em conjunto com o Serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis na cidade de São Paulo. As voluntárias eram procedentes da Unidade de Densitometria do Ambulatório Regional de Especialidades (ARE) Heliópolis, São Paulo. As informações foram obtidas a partir do banco de dados pertencente ao Centro de Estudos de Doenças Osteometabólicas, parte integrante do Serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. Um total de 22.902 mulheres realizou exame de densitometria óssea no período de setembro de 2005 a janeiro de 2008. Desse grupo, 19.381 mulheres (84,6%) não eram portadoras de diabetes mellitus, enquanto que 3.521 eram portadoras dessa enfermidade (15,3%). Entre as portadoras de diabetes mellitus, 3.446 apresentavam DM tipo 2 (97,8%) e apenas 75 portadoras de diabetes mellitus tipo 1(2,2%). Observamos diferente prevalência de osteoporose entre os grupos supracitados. Todas as pacientes cadastradas nesse banco de dados forneceram a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), antes da realização de qualquer procedimento. Foram avaliadas as voluntárias na pós-menopausa que realizaram exame de densitometria óssea no período de Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 171 - 176, julho / agosto / setembro 2009 setembro de 2005 a janeiro de 2008. Foram critérios de inclusão: mulheres diabéticas tipo 2 com diagnóstico de osteoporose de acordo com os critérios da OMS (T- score ≤ -2.5 DP) totalizando 686 pessoas; história de menopausa há pelo menos 1 ano; e diagnóstico de diabetes mellitus, a presença de menopausa e a história de fratura atraumática, fizeram parte dos quesitos de questionário de saúde presentes no banco de dados utilizado. Densitometria óssea. A densidade mineral óssea da coluna lombar (L1-L4), colo do fêmur e fêmur total foram realizadas em um densitômetro de dupla emissão de raios-X, modelo DPX IQ (LUNAR Corp, Madison, WI®, Estados Unidos). Mensalmente foi realizado um controle de calibração de funcionamento do aparelho utilizando um modelo de alumínio fornecido pelo próprio fabricante. Este apresenta um valor nominal de densidade de 1, 215 g/cm2. O coeficiente de variação das medidas densitométricas na Unidade de Densitometria do Ambulatório Regional de Especialidades (ARE) Heliópolis, São Paulo, foi inferior a 1% para a região da coluna lombar e do corpo inteiro, e menor do que 2% para a região proximal do fêmur. Medidas antropométricas. A aferição do peso foi feita utilizando balança de consultório (Filizola) e da altura por um estadiômetro (Seca). O peso foi medido em quilos (kg) com aproximação de 100g e a altura em centímetros com aproximação de 1cm. Todas as medidas foram realizadas seguindo o mesmo padrão. O índice de massa corporal foi calculado pela razão do peso em kilogramas (kg) e o quadrado da altura (m2). Foram variáveis do estudo: - Variáveis dependentes: Densidade mineral óssea de coluna lombar (DMOCL); Densidade mineral óssea de colo do fêmur (DMOCF); Densidade mineral óssea de fêmur total (DMOFT) - Variáveis independentes: Idade: expressa em anos; Raça: branca e não branca; medidas antropométricas: peso (kg), altura (cm), índice de massa corpórea (IMC), expresso em kg/cm2; tempo de menopausa: expresso em anos; hábitos: fumo, álcool; comorbidades: hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças coronarianas, dislipidemias, insuficiência renal, insuficiência vascular periférica, doenças pulmonares, tonturas, hipertireoidismo, depressão, hepatite, câncer. Método estatístico. Inicialmente, as variáveis foram analisadas de forma descritiva, utilizando médias, desvios padrão, mediana e valores mínimos e máximos. Foi avaliada a diferença de médias de idade, idade de menarca, idade de menopausa, peso, índice de massa corpórea e altura entre as mulheres com diabete mellitus 2 portadoras de osteoporose (com e sem fratura clinica não vertebral), utilizando o teste tStudent. A associação entre cada covariável e a variável resposta binária foi avaliada segundo método de regressão logística binária univariada. Em seguida, foi determinado um modelo de regressão logística binária múltipla, utilizando-se procedimento stepwise para seleção das variáveis. As variáveis que apresentaram probabilidade de significância (valor-p) menores que 0,25 na análise univariada foram consideradas no modelo de regressão múltipla. Esse critério de entrada na análise multivariada é apropriado para controlar efeitos de confusão. A adequação do modelo de regressão múltipla foi avaliada segundo estatística Hosmer-Lemeshow cujo valor-p maior que 0,05 indica bom ajuste. A suposição de linearidade de covariaveis contínuas na escala logit foi testada utilizando-se análise polinomial fracional. Odd ratios e seus respectivos intervalos de confiança 95% foram estimados pela regressão logística. Todas as probabilidades de significância (valores de p) apresentadas são do tipo bilateral e valores menores que 0.05 considerados estatisticamente significantes. A realização da analise estatística utilizou o software SAS 9.1.3 (Statistical Analysis System, Cary, NC, USA®). RESULTADOS Com referência à idade, encontramos que a prevalência de osteoporose foi da sexta e sétimas décadas sendo que este efeito mostrou-se significativo, e para esta co-variável a chance de ocorrência de osteoporose aumentou em 7.9%, de acordo com cada incremento de um ano na idade – Tabela 1. Tabela 1 – Distribuição das pacientes diabéticas tipo 2 quanto à presença de osteoporose, segundo a faixa etária subdivididas em décadas Idade 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 a 89 anos 90 a 99 anos Total Número de Porcentagem mulheres 72 10,64 295 43.0 242 35,3 72 10,5 5 0,7 686 100 Com referência ao tempo de menopausa indivíduos na terceira década (20 a 29 anos de menopausa) apresentaram uma chance de ocorrência de osteoporose 1.69 vezes maior quando comparados aos indivíduos com tempo de menopausa na primeira década (valores entre 1 e 9 anos de menopausa). Indivíduos com tempo de menopausa na quarta década (30 a 39 anos de menopausa) apresentaram uma chance de osteoporose 3.35 vezes maior quando comparados aos indivíduos com tempo de menopausa na primeira década (valores entre 1 e 9 anos de menopausa) – Tabela 2. Tabela 2 – Distribuição das mulheres com seu respectivo tempo de menopausa divididos em décadas Tempo de Número de Porcentagem menopausa mulheres 1 a 9 anos 61 8,9 10 a 19 anos 212 31.0 20 a 29 anos 240 35,1 30 a 39 anos 141 20,6 40 a 49 anos 24 3,5 50 a 59 anos 5 0,7 Total 683 100 Com referência ao IMC (índice de massa corpórea), a chance de ocorrência de osteoporose foi reduzida em 6% para cada incremento de 1 unidade de IMC – Tabela 3. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 171 - 176, julho / agosto /setembro 2009 173 Tabela 3 – Distribuição das mulheres com seu respectivo índice de massa corpórea divididos em décadas Valor de IMC < 18,5 Número de Porcentagem mulheres 10 1,5 18,5 a 24,9 180 27,6 25,0 a 29,9 266 40,9 30,0 a 34,9 149 22,9 35,0 a 39,9 33 5,1 13 10 651 2 1,5 100 > 40,0 < 18,5 Total DISCUSSÃO Nossos resultados sugerem cifras razoavelmente elevadas de diabetes mellitus em mulheres na pós-menopausa. Observese ainda que os resultados do censo de 2006 incluíram homens e mulheres, com idade ≥30 anos, portanto, uma amostra de paciente muito mais abrangente. O diabetes mellitus, desordem crônica onde existe um desequilíbrio hormonal entre a secreção de insulina pelo pâncreas e utilização de glicose pelas células do corpo, está aumentando de forma exponencial, adquirindo características epidêmicas em vários países, inclusive naqueles em desenvolvimento. Esse fato deve-se ao aumento da expectativa de vida e da adoção de maus hábitos como a má alimentação e o sedentarismo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a prevalência do diabetes deva alcançar 370 milhões em 2030. O número de pessoas com diabetes no Brasil vai mais do que dobrar até 2030, chegando a 11,3 milhões, segundo estimativas divulgadas (OMS, 2008). Embora a frequência das complicações crônicas da densidade mineral varie de acordo com as populações estudadas, os eventos cardiovasculares são responsáveis pela maior morbimortalidade desses pacientes11. A instituição de novas terapias em pacientes diabéticos tem aumentado de forma significativa a expectativa de vida nos portadores desta enfermidade. Por outro lado, o aumento da longevidade associa-se com envelhecimento ósseo, perda de massa óssea e aumento da prevalência de osteoporose. Em nosso estudo, com relação à osteoporose, o efeito da idade mostrou-se significativo, e para esta covariavel a chance de ocorrência de osteoporose aumentou em 7.9%, de acordo com cada incremento de um ano na idade (Tabela 1). Observamos que a prevalência de osteoporose nas pacientes com diabetes mellitus 2 foi maior nas sétima e oitava décadas, ou seja, 60 a 80 anos. Esses dados mostram que, em diabéticos, o aparecimento da osteoporose também apresenta uma estreita associação com idades mais avançadas. Em nosso estudo, a análise de regressão logística sugere que as variáveis idade, índice de massa corpórea e tempo de menopausa apresentam uma correlação significante com o binômio osteoporose-diabetes mellitus 2 (Tabela 1). A falência da produção hormonal ovariana e a diminuição progressiva dos níveis de estrógeno, com o avanço da idade, resultam em um aumento contínuo da remodelação óssea12,13 e consequente perda de massa óssea12. A deficiência estrogênica característica na pós menopausa, permite maior liberação de interleucina I e interleucina 6, potentes estimuladores do 174 recrutamento e da atividade dos osteoclastos13. A maior prevalência do diabetes e o aumento da longevidade parecem compartilhar complicações semelhantes, ou seja, a osteoporose é mais prevalente com o aumento da idade14, estando em concordância com nossos achados. Passada a fase de perda óssea acelerada típica da menopausa, tem início uma fase de perda mais lenta relacionada à idade caracterizada por uma baixa remodelação. O osteoblasto trabalha de forma lenta e não consegue preencher eficazmente as lacunas produzidas pelos osteoclastos. Outro fator que contribui para o aparecimento da osteoporose senil é a deficiência da ação da vitamina D. Essa deficiência consiste na queda da hidroxilação renal da vitamina D, que resulta em diminuição da absorção intestinal de cálcio e redução de sua reabsorção renal, promovendo, assim, um aumento dos níveis e da ação do paratormônio (PTH). Esse leve hiperparatireoidismo secundário causa um incremento da reabsorção óssea, com a perda da massa óssea progressiva15. Acrescenta-se ainda, que o prejuízo da saúde bucal incluindo perdas dentárias tem sido observado de forma relativamente frequente nessas populações mais idosas14. De forma geral, o estrogênio está relacionado à produção de colágeno, particularmente do colágeno tipo I, que está presente nos ossos, músculos, pele, vasos e mucosas. O hipoestrogenismo prolongado pode acabar por predispor ao aparecimento de osteopenia/osteoporose16, o que está de acordo com nossos achados na referida Tabela 1, onde se nota claramente maior prevalência de osteoporose em relação ao avanço da idade. Em relação ao binômio tempo de menopausa/osteoporose, constatamos que indivíduos com tempo de menopausa na terceira década (22 a 29 anos de menopausa) apresentaram uma chance de ocorrência de osteoporose 1.69 vezes maior quando comparados aos indivíduos na primeira década (Tabela 2). Indivíduos com tempo de menopausa na quarta década (valores ≥30 anos) apresentaram uma chance de osteoporose 3.35 vezes maior quando comparados aos indivíduos com tempo de menopausa na primeira década (valores ≤15 anos) – Tabela 2. De acordo com os resultados obtidos, compreendendo tempo de menopausa e prevalência de osteoporose, observamos que, quanto maior o tempo de menopausa, maior a prevalência e chance de aparecimento da osteoporose estando pois em concordância com a literatura12,13,15,16. De uma forma geral, a maior parte dos estudos descreve densidade mineral óssea normal ou mesmo elevada em pacientes portadores de diabetes mellitus 2 quando comparados a pacientes não diabéticos17,18. Em nosso estudo, a variável IMC mostrou-se significativa, onde a chance de ocorrência de osteoporose foi reduzida em 6% para cada incremento de 1 unidade de índice de massa corpórea – Tabela 3. Sabendo-se que o diabetes mellitus 2 habitualmente está associado a maiores valores de IMC e obesidade e que a obesidade funciona como um sítio produtor de estrógeno, hormônio protetor da densidade mineral óssea, é compreensível encontrarmos tais valores de massa óssea em pacientes com DM2. Acredita-se também, que na diabetes mellitus metabolicamente bem compensado, o turn over ósseo seja normal ou mesmo inferior aos indivíduos não diabéticos19, um motivo a mais para uma maior preservação da massa óssea. Nossos resultados da análise de regressão logística confirmam a importância da relação IMC sobre a densidade mineral óssea, suportando a teoria de que menores valores de índice de massa corpórea influenciam de forma negativa em relação à manutenção da massa óssea, portanto, favorecem a ocorrência da osteoporose (Tabela 3). Em recente estudo20, descreveu-se uma relação da prevalência do diabetes mellitus com o IMC > 25 kg/m2, representado por cerca de 66% da população, particularmente do gênero Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 3, p. 171 - 176, julho / agosto / setembro 2009 masculino. É provável que os maiores valores de índice de massa corpórea encontrados na nossa população (média de 27,7Kg/m2) guardem uma relação com a maior prevalência observada no nosso estudo. Outro estudo retrospectivo21 confirmou que a relação peso e IMC, estão associadas com baixa ou alta densidade mineral óssea. Em mulheres com idade entre 40 a 59 anos, baixo peso e IMC baixo são fatores preditivos de osteoporose e existe risco aumentado de fraturas. IMC de 25Kg/m2 foi identificado como um valor de referência, abaixo da qual o risco para qualquer fratura osteoporótica aumenta. Admite-se que o indivíduo obeso tenha maior proteção contra osteoporose, já que o IMC está diretamente relacionado à densidade mineral óssea. Peso corporal é importante na aquisição e perda de massa óssea, além de influenciar a relação da densidade mineral óssea/idade22. Baixo peso e índice de massa corpórea em um ponto especifico de 70Kg ou 26Kg/m2 predizem osteoporose com grande sensibilidade21. Sabe-se que o cálcio e a vitamina D são considerados elementos de grande importância na saúde óssea. Os diversos estudos publicados têm sido unânimes em confirmar a importância deste íon no tecido ósseo, em todas as faixas etárias23. Na infância e adolescência, o cálcio influência positivamente o pico de massa óssea, e nas idades mais avançadas auxilia na redução da perda da massa óssea, particularmente nas mulheres cuja ingestão diária é inferior a 400mg/dia. O aumento da prevalência do diabetes mellitus associado a alterações da saúde oral tem sido observado nas últimas décadas. Esse fato tem contribuído para o prejuízo da arcada dentária, cujo desfecho final pode muitas vezes ser marcado pelo edentulismo. Em indivíduos saudáveis, os implantes dentários são às vezes antecedidos por enxertos ósseos e têm sido utilizados de forma habitual nos consultórios odontológicos, com altos índices de sucesso terapêutico. No entanto, em pacientes com diabetes mellitus não controlado, a utilização desses implantes e desses enxertos não se constitui em uma prática rotineira, visto que alterações na cicatrização óssea e de tecidos de recobrimento peri-implante tem sido relatados, sendo muitas vezes contra-indicada24,25. A osseointegração que se processa de forma habitual em implantes dentários parece estar alterada na vigência da osteoporose. Em contrapartida, a osteoporose associada ao diabetes mellitus tem apresentado um aumento da sua prevalência nas ultimas décadas, particularmente nas mulheres pós-menopausa26. Baseado neste contexto, é de esperar que a cicatrização dos implantes endoósseos em diabéticos não controlados e portadores de osteoporose possa estar prejudicada, inclusive nos casos em que o implantodontista, em grandes reabilitações orais obrigatoriamente tem que lançar mão de enxertos ósseos em bloco para aumento da espessura óssea ou que envolvam cirurgias reabilitadoras. Tais cirurgias de aposição óssea requerem um leito receptor de qualidade, com suas funções metabólicas equilibradas e tecidos de recobrimento saudáveis para que haja, no decorrer do processo de reabilitação oral, a conclusão do trabalho inicialmente proposto ao paciente. Acreditamos ser de suma importância determinar grupos de risco para a prática da Implantodontia, visto que muitos tratamentos e/ou planejamentos podem, muitas vezes, demandar vários meses para sua conclusão. Torna-se então imprescindível que se tenha, mesmo respeitando os princípios básicos da biomecânica em relação a tamanho e espessura dos implantes e quantidade óssea, previsibilidade quanto à conclusão do trabalho no individuo em que o mesmo será realizado. Diante de tantas variáveis favoráveis ou não em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 e, principalmente, em pós-menopausa torna-se imprescindível uma anamnese mais cuidadosa em pacientes que se submeterão a cirurgias para instalação de implantes, que vise à inter-relação entre osteoporose, diabetes mellitus tipo 2 e fatores hereditários. Acreditamos que a não observação desses fatores, principalmente diante do crescente aumento de expectativa de vida de nossa população e sua busca por uma qualidade de vida melhor, poderá traduzir-se em insucessos na pratica da Implantodontia. CONCLUSÕES Entre as mulheres idosas diabéticas tipo II, a osteoporose prevalece nas décadas de vida de 60 a 80 anos, com tempo de menopausa de 22,4 anos, com índice de massa corpórea médio abaixo de 27.7, constituindo-se em grupo de risco para a implantodontia. A investigação médica prévia e o tratamento de diabetes mellitus e de osteoporose são obrigatórios para que haja uma maior previsibilidade de sucesso no tratamento com implantes osseointegrados. REFERÊNCIAS 1. Kowalski SC, Sjezfeld VL, Ferraz MB. Utilização de recursos e custos em osteoporose / Resource utilization and costs in osteoporosis. Rev Assoc Med Bras. 2001;47(4):352-7. 2. Pinheiro MM, Castro CM, Szejnfeld VL. Low femoral bone mineral density and quantitative ultrasound are risk factors for new osteoporotic fracture and total and cardiovascular mortality: a 5-year populationbased study of Brazilian elderly women. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006;61(2):196-203. 3. Al-Shammari KF, Al-Ansari JM, Moussa NM, Ben-Nakhi A, Al-Arouj M, Wang HL. Association of periodontal disease severity with diabetes duration and diabetic complications in patients with type 1 diabetes mellitus. J Int Acad Periodontol. 2006;8(4):109-14. 4. Felson DT, Zhang Y, Hannan MT, Anderson JJ. 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